Gilberto Maringoni
BOLSONARO INVESTIRÁ CONTRA A GLOBO?
Se Jair Bolsonaro investir de fato contra o Bônus de Volume (BV), na distribuição da publicidade estatal, assestará tiro certeiro no monopólio da Rede Globo e tomará iniciativa que jamais o PT cogitou fazer. Os motivos do governo do capitão não se destinam exatamente a democratizar as comunicações. Visam eliminar um inimigo de momento. Mas o efeito é positivo, deve-se reconhecer.
O BV é uma comissão paga pelas grandes empresas de comunicação às agências de publicidade, para que essas descarreguem publicidade em seus veículos. Em português claro, uma gorda gorjeta. Se escrevêssemos em espanhol, uma boa propina. Seu resultado é fortalecer os mais fortes e inflar os monopólios, numa prática abertamente anticoncorrencial.
A PRÁTICA EXISTE há mais de seis décadas no mercado publicitário, mas só foi regulamentada em lei no governo Lula (Lei 12.232, de 29.04.2010). Assim, a Globo se consolidou como destinatária de cerca de 60% da publicidade estatal. O pretexto, para consumo externo, é que seu alcance é maior do que o de qualquer outra rede.
O fim do BV e a pulverização das verbas publicitárias é antiga bandeira dos movimentos pela democratização da comunicação.
A alegação de que os governos petistas não teriam força para promover uma democratização desse tipo absolutamente não procede.
Em 14 dezembro de 2009, Lula fez o discurso de abertura da I Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), encontro que juntou movimentos sociais, governos e empresários. O inédito processo mobilizou cerca de 60 mil pessoas em diversos estados e mostrou que a demanda antimonopólio da mídia tinha sólida base organizada.
O CENÁRIO POLÍTICO era amplamente favorável. No processo da Confecom, as empresas de telecomunicações e telefonia se colocaram contra o monopólio da Globo, com vistas á implantação da TV digital. Juntaram-se a essas, a Band, a Rede TV e a Record. Do outro lado, com a empresa dos Marinho ficaram os jornais Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo. Para coroar o vento a favor, o ex-presidente tinha 87% de popularidade à época.
O discurso de Lula na abertura foi anódino, recuado e repleto de platitudes. A maior parte dos grupos ligados ao PT operou para que nada de muito avançado fosse aprovado. Em 2013, revelou-se que a publicidade do governo federal irrigara a Globo com mais de R$ 10 bilhões, entre 2003-13.
Bolsonaro quer resolver uma pendenga imediata. Mas pode atirar no que vê e acertar no que não vê.
Quanto ao PT, ninguém sério pode se comover quando o partido acusa a Globo de lhe atacar seguidamente. E sequer o benefício da dúvida lhe pode ser concedido. A Globo já era a Globo quando se iniciaram os governos lulistas, que optaram por não deixar que nenhuma medida contra suas práticas prosperasse.

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