quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

O Capetão continua no palanque

A Possessão 
E o capitão não desceu do palanque
Bernardo Mello Franco

Ao discursar no Congresso, Jair Bolsonaro falou em “unir o povo”, “preservar nossa democracia” e governar “sem discriminação ou divisão”. A promessa de moderação durou pouco. Duas horas depois, ele já retomava o tom agressivo que marcou a sua escalada até o Planalto.

Com a faixa no peito, o novo presidente voltou a se pintar para a guerra. Bradou contra o fantasma do socialismo e descreveu seus rivais políticos como inimigos da pátria, da ordem e da família. Em seguida, prometeu “acabar com a ideologia que defende bandidos”, sugerindo que fará vista grossa para a violência policial.

Finalmente, insinuou que recorreria às armas para impedir que a esquerda volte a disputar o poder. “Essa é a nossa bandeira, que jamais será vermelha. Só será vermelha se for preciso o nosso sangue para mantê-la verde e amarela”, radicalizou. Faltou pouco para repetir as ameaças de “fuzilar a petralhada” e mandar os adversários para a “ponta da praia”.

Num momento que pedia distensionamento, Bolsonaro insistiu na tática da divisão. Confundiu o parlatório, onde presidentes falam à nação, com o palanque, onde candidatos atiçam seus seguidores. Adotou um tom eficiente para manter a tropa mobilizada, mas impróprio para quem terá que governar para todos os brasileiros.

O discurso bélico sugere que a promessa de costurar um “pacto nacional”, recitada no Congresso, não passou de um palavrório sem substância. Só pode falar em pacto quem está disposto a negociar. E só pode negociar quem está disposto a fazer concessões.

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