segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

O que fará agora Sérgio Moro?

Claudio Guedes

Destinos

Muitos estão esperando a reação do ex-juiz Sérgio Moro às revelações sobre a família Bolsonaro.

Acho que o ministro da Justiça vai aguardar. Mesmo porque, no momento, não tem muito o que fazer.

A situação pode se complicar, na medida que a imprensa aprofundar o assunto Queiroz/filha do Queiroz e Flávio Bolsonaro. Ao que tudo indica - e a Wal do Açai e Nathalia Queiroz são fortes indícios - a prática de se apropriar de recursos do Estado via contratação simulada de funcionários era um modo de operação da família e não apenas do filho deputado no Rio de Janeiro.

O que dá sentido à reportagem da Folha de S. Paulo, de 07/01/2018, que mostrou o patrimônio imobiliário de R$ 15 milhões que então detinham os Bolsonaro, sem que explicações razoáveis para a aquisição de tantos imóveis tenham sido dadas pelo clã.

Enriquecimento ilícito e indício de lavagem de dinheiro? Muito provável.

E aí reside o problema de Sérgio Moro. As investigações podem mostrar o envolvimento do ex-deputado e atual presidente da República na mesma prática, já quase provada, do seu filho.

Se isso acontecer, não vai adiantar sua excelência fazer cara de paisagem, ou ensaiar explicações rasas. Estará numa sinuca.

Acho que Sérgio Moro, que nos últimos anos foi mais político do que juiz de direito, se precipitou ao aceitar o convite de Jair Bolsonaro.

Juiz calculista, ganhou destaque no combate à corrupção na Petrobras. Mas, ao se deixar levar pela glória e pelos holofotes, passou a ser um instrumento de luta pelo poder político a partir da perseguição que moveu ao PT e ao ex-presidente Lula. Com intensa cobertura e proteção da mídia ganhou apoio nas instâncias superiores do poder judiciário e teve o seu trabalho facilitado.

Entretanto, quem leu as suas sentenças e acompanhou suas entrevistas a TVs e jornais, sabia que se tratava de uma pessoa com limitações intelectuais. Nunca me pareceu um homem inteligente. Antes, medíocre, um tanto simplório, não uma estrela do judiciário, mas um juiz de piso endeusado.

Na hora que precisou de um pouco mais de inteligência, para fugir da armadilha que Bolsonaro lhe armou, ao lhe convidar para assumir o ministério da Justiça, forçando-o a abandonar a magistratura ainda na 1° Instância, ele tornou evidente todas as suas limitações.

Claro que ele, Moro, com o capital que acumulou junto à opinião pública e às forças conservadoras do país, deveria, sob a ótica do interesse das forças de direita, buscar se preservar para um segundo momento, na hipótese - que sempre foi e continua sendo a mais provável - de Jair Bolsonaro fracassar em conduzir o projeto liberal conservador para o país.

Se Michel Temer, um político habilidoso e com ampla base parlamentar, não conseguiu viabilizar reformas liberais significativas, nem montar um governo minimamente aceito pelas mídias e opinião pública, quais as chances de um governo dirigido por um parlamentar de 2° categoria, com um passado político medíocre, mal preparado e com uma base difusa e confusa, implementar reformas e conquistar apoios relevantes e duradouros? Achava antes e continuo achando que são poucas.

Mas Sérgio Moro avaliou de forma contrária. Por quê? Porque pensou como oportunista, como juiz-político que se acostumou à vida fácil do poder sem limites que a direção da Lava-Jato lhe concedeu.

O que fará agora Sérgio Moro?

Vai provavelmente procurar, na medida do possível, se distanciar da família Bolsonaro. Quando as coisas se agravarem, vai fazer o discurso que seu compromisso é com o país. Mas o estrago foi feito.

Grande parte do capital que acumulou junto à opinião publica terá virado pó. E um ministro sem partido, como é o caso dele, é apenas dependente do presidente da República.

Qual o destino de Sérgio Moro?

Morrerá abraçado ao atual presidente ou será o seu Brutus?

Como disse, ao pontuar a escolha brasileira nas urnas de outubro de 2018, viveremos dias difíceis, mas de tédio não morreremos.

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