Pobreza & mortes
O verão do nosso máximo descontentamento, este que ora vivemos.
O país entregue a uma família desqualificada, pequenos corruptos, políticos de uma pobreza intelectual assustadora, associados ao que de pior a sociedade brasileira produziu após a redemocratização do país.
Como se isso fosse pouco, um verão marcado por mortes, muitas mortes.
Tragédias? Sim.
Acontecimentos dolorosos, com muitas vítimas. Mas não acidentes. De forma alguma podem ser classificados como acidentes o rompimento da barragem da mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho, e o incêndio no CT do Clube de Regatas do Flamengo, no Rio de Janeiro.
Ouvimos dia sim, outro também, com pequenas variações de tom, de ênfase, os dirigentes da Vale, companhia proprietária da mina/barragem, e do Flamengo, expressarem suas condolências às famílias das vítimas, pedidos de desculpa e disposição para indenizá-los.
Tudo bem? Claro que não.
Desculpas, condolências e indenizações. Mas quem trará os filhos das famílias atingidas de volta? Ninguém. Não voltarão. Soterrados sob camadas de lama e rejeitos de minérios e carbonizados enquanto dormiam.
Importa, e muito, encontrar os culpados que, por desleixo ou pressão indevida, se prestaram a participar de ações que não impediram as tragédias, que, ao contrário, facilitaram o desfecho fatídico. Mas isto é apenas parte do problema - e sequer a parte mais importante.
Por que tantos mortos?
Por que um empresa bilionária, com resultados extraordinários ano a ano, pagando milhões de dividendos a seus felizes acionistas, permite controles frouxos sobre barragens de rejeitos? Por que esta empresa tão bem sucedida permitiu a construção de um Centro Administrativo (CA), com refeitório para empregados, bem abaixo da área de deslizamento de uma enorme e saturada barragem de rejeitos? Por que, quando a barragem alcançou o tamanho que acabou por ter, o CA e as áreas de apoio não foram deslocadas por 100 ou 150 metros à esquerda ou direita do eixo de um possível derrame caso a barragem se rompesse? Por que, quando os primeiros indícios de que água em quantidade preocupante foi encontrada no interior da barragem, não foram tomadas medidas básicas de segurança como esvaziar o CA e instalar mais alguns alarmes para prevenir os habitantes à jusante da barragem de um possível, ainda que de difícil previsão, rompimento?
Por que providências tão simples nunca foram tomadas?
Por que um clube de futebol, dos maiores do país, com orçamento milionário, mantinha em seu CT alojamento para jogadores da base, jovens adolescentes, construídos de forma tão precária, sem Alvará da Prefeitura, sem Certificado de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB)? Por que algo semelhante a containers, estruturas originalmente concebidas para transportes de cargas marítimas, e re-projetados para moradia humana, como puxadinhos e com instalações elétricas precárias?
Por que os jovens adolescentes talentosos, jovens com futuros promissores, foram, são e continuam a ser alojados desta forma, ou muito pior, em dezenas de clubes de futebol profissional do país?
As providências nunca foram tomadas pela Vale e o Flamengo alojou seu plantel de jovens craques em condições inadequadas de conforto e segurança porque o que importou, em um caso e no outro, foram os recursos poupados.
A conta é feita pelos que vivem confortavelmente no "andar de cima". E para estes, e seus gerentes "cabeças de planilha", pouco importam as pessoas, o meio ambiente, os terceiros que podem eventualmente ser atingidos por suas decisões pseudo-racionais.
É a grana que comanda. A máxima lucratividade é o objetivo, seja na mineração, seja na formação de talentos do futebol.
As pessoas? O meio ambiente? A qualidade de vida? São descartáveis. Além do mais as vítimas são, em geral, pessoas pobres. Muitos negros. Pobres e negros eram quase todos os mortos no CT do Flamengo. E todos sabem como pobres e negros são tratados no país. Mesmo quando exibem um talento muito acima da média, em centros de excelência de formação de craques, têm direito apenas a uma "senzala" moderna: um container de aço, com ar condicionado, com energia puxada de uma gambiarra, e três beliches em um quarto de 15 m2.
Muitos, envergonhados, dizem: somos todos culpados. Para estes a culpa é da sociedade brasileira. Uma idiotice. Uma defesa esperta dos que são os verdadeiros culpados pelas tragédias. E estes são os que defendem o modelo de desenvolvimento que concentra renda, que atacam os controles legais e sociais sobre os empreendimentos, que vociferam contra as leis de proteção ambiental e que desprezam as normas modernas de segurança no trabalho.
Os culpados são os que tentam transformar em inimigos da nação todos aqueles que lutam - com suas limitações, erros e dificuldades - por um país mais justo socialmente, mais verdadeiro no respeito aos direitos civis e mais dedicado à valorização da vida.
O país entregue a uma família desqualificada, pequenos corruptos, políticos de uma pobreza intelectual assustadora, associados ao que de pior a sociedade brasileira produziu após a redemocratização do país.
Como se isso fosse pouco, um verão marcado por mortes, muitas mortes.
Tragédias? Sim.
Acontecimentos dolorosos, com muitas vítimas. Mas não acidentes. De forma alguma podem ser classificados como acidentes o rompimento da barragem da mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho, e o incêndio no CT do Clube de Regatas do Flamengo, no Rio de Janeiro.
Ouvimos dia sim, outro também, com pequenas variações de tom, de ênfase, os dirigentes da Vale, companhia proprietária da mina/barragem, e do Flamengo, expressarem suas condolências às famílias das vítimas, pedidos de desculpa e disposição para indenizá-los.
Tudo bem? Claro que não.
Desculpas, condolências e indenizações. Mas quem trará os filhos das famílias atingidas de volta? Ninguém. Não voltarão. Soterrados sob camadas de lama e rejeitos de minérios e carbonizados enquanto dormiam.
Importa, e muito, encontrar os culpados que, por desleixo ou pressão indevida, se prestaram a participar de ações que não impediram as tragédias, que, ao contrário, facilitaram o desfecho fatídico. Mas isto é apenas parte do problema - e sequer a parte mais importante.
Por que tantos mortos?
Por que um empresa bilionária, com resultados extraordinários ano a ano, pagando milhões de dividendos a seus felizes acionistas, permite controles frouxos sobre barragens de rejeitos? Por que esta empresa tão bem sucedida permitiu a construção de um Centro Administrativo (CA), com refeitório para empregados, bem abaixo da área de deslizamento de uma enorme e saturada barragem de rejeitos? Por que, quando a barragem alcançou o tamanho que acabou por ter, o CA e as áreas de apoio não foram deslocadas por 100 ou 150 metros à esquerda ou direita do eixo de um possível derrame caso a barragem se rompesse? Por que, quando os primeiros indícios de que água em quantidade preocupante foi encontrada no interior da barragem, não foram tomadas medidas básicas de segurança como esvaziar o CA e instalar mais alguns alarmes para prevenir os habitantes à jusante da barragem de um possível, ainda que de difícil previsão, rompimento?
Por que providências tão simples nunca foram tomadas?
Por que um clube de futebol, dos maiores do país, com orçamento milionário, mantinha em seu CT alojamento para jogadores da base, jovens adolescentes, construídos de forma tão precária, sem Alvará da Prefeitura, sem Certificado de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB)? Por que algo semelhante a containers, estruturas originalmente concebidas para transportes de cargas marítimas, e re-projetados para moradia humana, como puxadinhos e com instalações elétricas precárias?
Por que os jovens adolescentes talentosos, jovens com futuros promissores, foram, são e continuam a ser alojados desta forma, ou muito pior, em dezenas de clubes de futebol profissional do país?
As providências nunca foram tomadas pela Vale e o Flamengo alojou seu plantel de jovens craques em condições inadequadas de conforto e segurança porque o que importou, em um caso e no outro, foram os recursos poupados.
A conta é feita pelos que vivem confortavelmente no "andar de cima". E para estes, e seus gerentes "cabeças de planilha", pouco importam as pessoas, o meio ambiente, os terceiros que podem eventualmente ser atingidos por suas decisões pseudo-racionais.
É a grana que comanda. A máxima lucratividade é o objetivo, seja na mineração, seja na formação de talentos do futebol.
As pessoas? O meio ambiente? A qualidade de vida? São descartáveis. Além do mais as vítimas são, em geral, pessoas pobres. Muitos negros. Pobres e negros eram quase todos os mortos no CT do Flamengo. E todos sabem como pobres e negros são tratados no país. Mesmo quando exibem um talento muito acima da média, em centros de excelência de formação de craques, têm direito apenas a uma "senzala" moderna: um container de aço, com ar condicionado, com energia puxada de uma gambiarra, e três beliches em um quarto de 15 m2.
Muitos, envergonhados, dizem: somos todos culpados. Para estes a culpa é da sociedade brasileira. Uma idiotice. Uma defesa esperta dos que são os verdadeiros culpados pelas tragédias. E estes são os que defendem o modelo de desenvolvimento que concentra renda, que atacam os controles legais e sociais sobre os empreendimentos, que vociferam contra as leis de proteção ambiental e que desprezam as normas modernas de segurança no trabalho.
Os culpados são os que tentam transformar em inimigos da nação todos aqueles que lutam - com suas limitações, erros e dificuldades - por um país mais justo socialmente, mais verdadeiro no respeito aos direitos civis e mais dedicado à valorização da vida.
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