quinta-feira, 31 de dezembro de 2020
Conversa com Bia e Mau - MENSAGEM DE FINAL DE ANO 2020
Doria corta investimentos em Ciência e aumenta em publicidade
A propaganda, a ciência, o imbróglio e o ano novo
Fapesp corre o risco de perder 30% de sua verba e Bandeirantes aumenta a de publicidade em 70%
No gran finale de 2020, o governo paulista deu um jeito de aumentar os recursos para fazer propaganda de si mesmo e, na outra ponta, deu outro jeito para, em plena pandemia, ameaçar o orçamento da ciência. O ano que começou mal termina muito pior.
Nos derradeiros ajustes da Lei Orçamentária Anual (LOA), na Assembleia Legislativa, o Palácio dos Bandeirantes conseguiu incluir uma elevação de 69% na sua verba publicitária (como noticiou este jornal na primeira página, dia 20, com reportagem de Brenda Zacharias). O montante, que ficou na casa dos R$ 90,7 milhões em 2020, saltará para R$ 153,2 milhões no exercício de 2021.
Na mesma LOA aparece um corte de 30% na receita da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). A entidade tradicionalmente conta com 1% da receita tributária do Estado. Em 2021 poderá ficar com apenas 0,7%. Traduzindo em graúdos, estamos falando de meio bilhão de reais a menos.
Por enquanto, dinheiro ainda não foi retirado, de fato, mas a Fapesp corre o risco de perdê-lo. O corte aparece no texto final da LOA (publicado no Diário Oficial de ontem), com todos os números e vírgulas, mas talvez não venha a ser efetivado. Mas como assim?, há de se perguntar o improvável leitor. Se a lei manda cortar, como é que podemos ter a expectativa de que o corte talvez não se consume?
Para entender o capcioso imbróglio, pelo qual o malfeito se insinua enquanto finge não ser o que é, precisamos conhecer um pouco mais desse novo gênero artístico-orçamentário de dissimulação, tão em voga na política: a técnica legislativa de ordenar uma coisa e, ato contínuo, ordenar o seu contrário.
A mesma LOA que corta “descorta”. Numa das inumeráveis tabelas que a acompanham, consta um valor para o orçamento da Fapesp que equivale claramente à redução de 30% de suas receitas. Para isso a LOA se apoia lógica que prevaleceu nas emendas à Constituição federal que preveem a Desvinculação de Receitas da União (conhecida pela sigla de DRU) e a Desvinculação de Receitas de Estados e Municípios (Drem). Essas desvinculações constitucionais permitiram que as chamadas “receitas vinculadas”, tanto na União como nos Estados e nos municípios, fossem diminuídas. Logo, se a Drem valer para a Fapesp, ela perderá um terço do tamanho que tem hoje.
Acontece que o destino ainda não está selado, pois, como já foi dito, a mesma LOA que corta “descorta”. Em seu artigo 11, ela manda cumprir o que está escrito no artigo 271 da Constituição estadual de São Paulo – e esse artigo, o 271, determina de forma expressa, inequívoca, a destinação de 1% da receita tributária do Estado à Fapesp.
Em resumo, a LOA paulista para o ano de 2021 é uma contradição em termos, um oxímoro legislativo. Em suas previsões numéricas, impõe o corte da Fapesp. Em seu artigo 11, impede o corte da Fapesp.
O que vai acontecer? As apreensões estão lançadas. Há juristas que entendem que o orçamento da Fapesp não provém de uma receita “vinculada”, como as outras, e, portanto, a Drem não se aplica a ela. Mas há os que dizem que a Drem, um dispositivo da Constituição federal, deve prevalecer sobre as Constituições estaduais.
Não vai ser fácil. Só o que se sabe até agora, com segurança, é que o futuro da ciência paulista, que já era ruim, piorou um pouco mais. É a primeira vez que um ataque tão frontal contra os recursos da Fapesp ganha forma de lei. As forças tecnocráticas que, no curso de vários governos tucanos paulistas, vêm se articulando contra a pesquisa e contra a universidade pública marcaram seu tento, desfecharam sua pirraça e instalaram no horizonte próximo essa incerteza cabulosa.
A integridade da Fapesp nunca esteve tão vulnerável. Para o ano que vem, a manutenção de seu orçamento normal vai depender da assinatura do governador do Estado, a quem cabe expedir, por decreto, os termos da execução orçamentária. Quando for pagar as pesquisas que financia, muitas delas sobre tratamentos contra a covid-19, no Instituto Butantan e em outras instituições, precisará contar com a boa vontade do chefe do Executivo – que assegurou, publicamente, mais de uma vez, que não implementará corte algum.
Podemos acreditar nele? Em nota divulgada agora em dezembro, a instituição diz que sim: “A Drem não será aplicada à Fapesp em 2021 e há um compromisso claro do Governador João Doria e do Vice-governador Rodrigo Garcia, que também não será aplicada nos próximos anos”. Ao que se sabe, essa confiança na palavra do político em questão não tem bases científicas, mas é o que temos para o réveillon. Se cortes vierem, só vai restar aos dirigentes da Fapesp entrar na Justiça, o que trará mais desgastes e mais incertezas.
De sua parte, o mesmo Palácio dos Bandeirantes, que alega falta de recursos para fragilizar o financiamento da ciência e do conhecimento, não vê obstáculos para majorar em 70% a sua verba publicitária. É que estamos em tempos de pandemia e, você sabe, o poder acredita que a propaganda salvará vidas – de governantes.
Feliz ano novo.
*Jornalista, é professor da ECA-USP
O lixo no poder
O TÍPICO LÚMPEN ENDINHEIRADO
Neymar promove festas de arromba em Mangaratiba (RJ), em pleno recrudescimento da pandemia. Hoje, esse jogador de futebol se constitui em um típico lúmpen endinheirado, categoria social que mais cresce no Brasil do tenente.
Em “O Dezoito Brumário de Luis Bonaparte” (1852), Marx refere-se ao “lumpemproletariado” como uma massa desintegrada, que reunia indivíduos arruinados e aventureiros oriundos da burguesia, vagabundos, soldados desmobilizados, batedores de carteira, mendigos e o rebotalho social ocupado em atividades criminosas etc., nos quais Luís Bonaparte apoiou-se em sua gana pelo poder (conforme Tom Bottomore).
Como se vê, o Brasil está contribuindo para a classificação de novas categorias sociais, neste caso, um segmento que oscila entre o crime e a boçalidade.
quarta-feira, 30 de dezembro de 2020
Com brasileiro, não há quem possa!
Bolsonaro é escolhido Pessoa do Ano do Crime Organizado e da Corrupção
Jair Bolsonaro foi eleito como "Pessoa do ano" na promoção do crime organização e da corrupção pelo Organized Crime and Corruption Reporting Project (Projeto de Reportagem de Crime Organizado e Corrupção, na sigla em inglês), por ter se "cercado de figuras corruptas, usado propaganda para promover sua agenda populista, minado o sistema de Justiça e travado uma guerra destrutiva contra a região da Amazônia, o que enriqueceu alguns dos piores proprietários de terras do país".
O Organized Crime and Corruption Reporting Project é um dos maiores consórcios de jornalistas investigativos do mundo, criado na Europa e que publica dezenas de reportagens investigativas por ano.
O presidente brasileiro concorria com nomes como Donald Trump e o presidente turco Recep Erdogan.
(Por Guilherme Amado e Naomi Matsui)
Os grandes destaques de 2020
Vai, menino Ney!
Neymar não vale a grama que o Bolsonaro comeu na Vila Belmiro
O cerumano só é infalível em duas coisas:
- Falhar
- Apontar a falha do outro
Todo mundo já pegou para si a maior fatia do bolo. Todo mundo já pisou na bola com alguém. Todo mundo já flertou com alguém que não deveria flertar. Todo mundo já justificou uma merda que fez com o clássico “foram só 5 minutos”. Todo mundo já desfez amizade porque o amigo vacilou. E todo mundo já acobertou o vacilo do amigo, em nome da amizade.
Essa contradição ganhou tons escandalosos na pandemia. É a combinação do isolamento –em seus variados graus, a gosto do freguês– e os julgamentos sumários das redes sociais, após imprudente exposição do delito, lá mesmo.
O Felipe Neto foi bater bola com os amigos. O Zé das Couves não aguentou a saudade do boteco. A Dona Marocas retomou as sessões de massagem. O João e a Maria se conheceram no Insta, a conversa engatou, então, pá!, ambos tiraram o atraso sexual numa furtiva noite de terça-feira.
Felipe, Zé, Marocas, João e Maria usam máscara, passam álcool em gel, fazem compras online, defendem a ciência e xingaram o Neymar por causa da festa de Réveillon para 150 pessoas em Mangaratiba.
Será que Felipe, Zé, Marocas, João e Maria não são iguais ao Neymar? Não seríamos, todos nós, o Neymar na festa de Réveillon? Apenas um pouco mais hipócritas?
Não.
Faz parte do jogo falhar, pisar na bola, vacilar de vez em quando e digerir esses erros, procurando sempre agir melhor. O aprendizado se dá assim, com algumas notas vermelhas ao longo do percurso.
Neymar parece ser incapaz de entender essa dinâmica. Criado numa redoma, o menino mimado não tem um pingo de traquejo social, de senso comunitário. Reparem nessas palavras: “social”, “comunitário”. Lembram “socialismo” e “comunismo”, não?
É o pensamento vicioso que as bestas hidrófobas da extrema direita incutiram em todos os tios de churrasco do Brasil: qualquer ato ou discurso em defesa do bem coletivo é coisa de marxista, de bolchevique. Do Diabo, em suma. E ninguém que um dia falhou pode criticar quem falha por gosto e vocação.
A sociedade, ops, o mundo ideal dessas pessoas é um pega-pra-capar em que cada um tem um fuzil para proteger os filhos e a comida.
Neymar é fruto dessa visão sórdida de mundo. Ele acha OK fazer chover dinheiro e bancar uns desqualificados para limpar a lambança que ele fez.
Neymar está cagando para todos nós.
Neymar não vale a grama que o Bolsonaro comeu na Vila Belmiro.
Bolsonaro emporcalha a Presidência até durante as férias
Bruno Boghossian
Provocações hediondas e exaltação da tortura são incompatíveis com o exercício da política
Jair Bolsonaro já era um político indigno do cargo que ocupava em 1999, quando dava entrevistas para defender atrocidades como assassinatos políticos e agressões a prisioneiros. "Eu sou favorável à tortura, tu sabe disso", declarou o então deputado ao programa Câmera Aberta, da TV Bandeirantes.
A propaganda continuou nas duas décadas seguintes. O parlamentar ganhava projeção ao glorificar o regime militar e recomendar a execução de rivais. "O erro da ditadura foi torturar e não matar", repetiu, dois anos antes de ser eleito presidente.
O país escolheu um apologista da tortura para comandar o Palácio do Planalto. Depois de fazer fama com aquelas declarações, ele passou a emporcalhar a Presidência da República com um repertório atualizado de barbaridades –até durante as férias.
Antes de embarcar para o Guarujá (SP), na segunda (28), Bolsonaro lançou dúvidas sobre a tortura que a ex-presidente Dilma Rousseff sofreu na ditadura. "Dizem que a Dilma foi torturada e fraturaram a mandíbula dela", disse. "Não sou médico, mas até hoje estou aguardando o raio-X."
Além de repugnante, a ofensa é covarde e desprovida de lógica. Bolsonaro costuma tratar torturadores como exemplos de heroísmo e explora a selvageria praticada nos porões como arma política. Em 2016, ele mesmo citou o chefe do DOI-Codi como "o pavor de Dilma Rousseff"; agora, debocha dos atos que exaltou.
Não é preciso dizer que o presidente tem o direito de discordar de seus opositores em quase tudo. As provocações hediondas que ele escolhe fazer para alimentar esses confrontos, no entanto, só reforçam que seu comportamento é incompatível com o exercício da política.
Essa é a essência de Bolsonaro. No início de maio, enquanto trabalhava em período integral para atrapalhar os esforços de contenção da pandemia do coronavírus, o presidente ainda abriu um espaço na agenda para receber o Major Curió, símbolo da repressão da ditadura. O Planalto divulgou o encontro e chamou o militar reformado de herói.
E o JusPorn Awards 2020 vai para...
Conrado Hübner Mendes
A fraternidade precisa de você, magistocrata, nessa luta por distinção e luxúria
A abertura do JusPorn Awards 2020 assanhou as salas de Justiça do país. Magistocratas esquecidos na lista inicial de indicados correram para entrar na disputa. Houve também reação de leitores diante de prêmio tão indecoroso.
Um disse que enxergo o “copo meio vazio”, não o “copo meio cheio”. Para funcionar, a metáfora pede que o copo tenha líquido perto da metade. O otimismo pode ajudar a viver, mas não é virtude analítica. Chico Buarque consola: “É sempre bom lembrar que um copo vazio está cheio de ar”. O copo da magistocracia está cheio de férias e auxílio-autoestima também.
Outro leitor, mais aborrecido, perguntou por que nunca trato da “magistériocracia”. Foi um revés inesperado e desconcertante. Os manuais de interpretação do Brasil ainda se omitem sobre esse ator influente nos conflitos distributivos do país, o “professor”. Nada como um vigilante da magistocracia para jogar luz nas surpresas sociológicas do país.
A hora esperada chegou. O TJ-SP, pelo conjunto da obra, estava com as mãos na taça. Teve desembargador descamisado violando a lei em francês, outro negando habeas corpus a presidiários para “prender o vírus”, teve juiz punido por viés ideológico e juiz “nem aí com a Lei Maria da Penha”. Mas não foi dessa vez. Ao solicitarem vacina express, STF e STJ chutaram a porta para mostrar quem manda nessa esbórnia pandêmica.
A Fiocruz rejeitou o pedido, mas a cúpula da Justiça ainda inventará outra saída. Luiz Fux explicou, “com ética e delicadeza”, que a “preocupação com a sociedade já foi demonstrada em 8.000 ações”. Queira saber o que há entre essas 8.000 ações. Foi um sopro de hálito magistocrático: continuarão “trabalhando em prol da sociedade” se vacinados antes da sociedade. “Sou contra privilégios”, Fux disse depois. Sua biografia confirma a autenticidade.
Fux é uma espécie de Romero Britto dos tribunais. Só não tem a capacidade de pintar um retrato alegre e multicolorido de Bia e João Doria em Miami. Lembra um Rolando Lero, mas lhe falta a consciência do tanto que ignora. Rolando Lero não se levava a sério. Dotado de noção do ridículo, sua pompa exalava autoironia. A pompa de Fux é sincera. Se você disser que "pompa sincera" não existe, recomendo uma tarde de TV Justiça.
Um tal de Drummond convidou Fux a recomeçar: “Você é o que você fizer de você. Busque um lugar calmo e leve a Deus uma prece. Recomeçar é só uma questão de querer”. Não confessou em que anais da poesia nacional encontrou esse furo literário. E agora, Luiz?
Alô, alô, juiz, promotor e procurador honesto e trabalhador que não participa da pornografia mas se deixou enfezar pelo JusPorn Awards: o prêmio não é sobre você. Essa identificação carnal com a instituição é sintoma do que essa corporação pode fazer contigo. Moralmente e cognitivamente. Abraçar e defender a magistocracia é parte opção, parte resignação, parte sacanagem.
Resistir à tentação magistocrática tem custos e benefícios. Se os custos lhe parecem maiores que os benefícios, bem-vindo à confraria, você tem espinha e musculatura ética para o trabalho. A fraternidade precisa de você nessa luta por distinção e luxúria. Fique a postos para furar a fila do pão ou de qualquer outro bem coletivo. Aos poucos você vai assimilando esse currículo oculto. Logo receberá sua primeira comenda por bom comportamento.
A dedicação do indivíduo ético a uma instituição corrupta e autoritária é problema filosófico incontornável dos séculos 20 e 21. Não se sai eticamente ileso após carreira profissional em instituição tão estragada.
Assim como nenhum cidadão privilegiado sai eticamente ileso de uma sociedade tão desigual e brutalizada como a brasileira. Em parte, estamos no mesmo barco da responsabilidade.
Mas tome cuidado, magistocrata, para não anestesiar a consciência. Não é tudo a mesma coisa. Dentro dessa sociedade desigual e brutalizada, as instituições de Justiça operam a máquina mais voluptuosa de reprodução de privilégio e violência. E operam nos porões como ninguém. A face “hardcore-plus” da pornografia brasileira está nos espaços que a magistocracia governa. Uma aberração específica pede tratamento específico.
O JusPorn Awards tem grandes expectativas para 2021, ano com potencial juspornográfico incomum. O pecado mora ao lado da toga. Anote: “Nenhuma nudez judicial será castigada. Toda desfaçatez magistocrática será premiada”.
Bolsonarismo é um método de fracasso, na economia de Guedes ou na vacina
Congresso evitou fracasso final do bolsonarismo na economia, mas não na vacina
terça-feira, 29 de dezembro de 2020
O preço de nossa displicência histórica
Já derrotado, mas ainda solto, Crivella correu para inaugurar um inacabado Memorial do Holocausto no Rio de Janeiro. Eu fiquei sabendo do memorial umas semanas antes, graças a um anúncio de página inteira na Folha de S. Paulo, patrocinado por uma empreiteira.
Ninguém pode negar que o holocausto e suas vítimas devem ser lembrados. Mas é de se perguntar o porquê de empresas decidirem bancar a construção do memorial e do bispo Crivella ter se apressado a inaugurá-lo, ladeado por Fabio Wajngarten, o secretário de comunicação de Bolsonaro, que aproveitou a ocasião para alardear a proximidade entre o governo genocida ao qual serve e o Estado genocida de Israel.
Em um belo livro intitulado Le passé, modes d’emploi, Enzo Traverso observa que o holocausto é usado como uma ferramenta para fazer a apologia da ordem atual do mundo, apresentando o nazismo como “legitimação pelo negativo” do Ocidente liberal. Para isso, é preciso convenientemente esquecer como o colonialismo dos europeus, fruto legítimo deste mesmo Ocidente liberal, forneceu aos nazistas boa parte do seu repertório de morte e opressão.
(O mesmo Traverso, aliás, descreve com detalhes essa história, em outro belo livro, La violence nazie. Anterior à decantada obra de Losurdo sobre o liberalismo, mostra como é possível trata do tema com rigor e sem simplismos.)
Não é por acaso, portanto, que a contraface da memória do holocausto, retomado como Outro absoluto que só fala a nós pelo antagonismo, seja o esquecimento do passado colonial. Que se traduz também, nos Estados Unidos, como observa Traverso, pela conspícua ausência de locais de memória dedicados à escravidão.
Traverso fala dos Estados Unidos, mas é fácil pensar no Brasil. A memória da escravidão é apagada no país; os pequenos espaços dedicados a ela são absolutamente incompatíveis com sua importância, seu custo em sofrimento, seu significado para nosso passado e nosso presente – quando não eivados de ambiguidades, como é o caso do “Museu da Escravidão e da Liberdade”, de doce acrônimo MEL, também na cidade do Rio de Janeiro.
A outra ausência, ao lado da escravidão, é a ditadura. Como é sabido, o governo Temer iniciou e o governo Bolsonaro dá seguimento à ofensiva para inviabilizar a criação do Memorial da Anistia na UFMG, iniciativa tardia dos governos petistas que seria o marco da memória histórica daquele período.
Mas não se trata apenas, ou principalmente, de um museu. Um dos vários triunfos que a ditadura obteve no momento em que saía de cena foi bloquear o debate sobre si mesma, na sociedade brasileira que, dizia-se, caminhava então para o restabelecimento da democracia. O pouco que conseguimos fazer – como o trabalho da Comissão da Verdade – foi arrancado a muito custo, em meio a um cenário de hostilidade de uns e indiferença de outros.
O Brasil escolheu o caminho da “transição amnésica”, para usar a expressão que Traverso dedica à Espanha. É de se espantar, então, que tenhamos uma besta fascista ocupando a presidência? E que essa besta solte impunemente as atrocidades que falou em relação à presidente Dilma Rousseff?
O fato é que os militares que deixaram o poder em 1985, tão autoritários e antipovo como aqueles que o empalmaram em 1964, deram à impunidade e ao esquecimento de seus crimes uma alta prioridade – e os democratas, por cálculo míope ou simples comodismo, julgaram que não podiam ou deviam enfrentar a questão.
Maria Rita Kehl apresenta um veredito demolidor, no capítulo que assina na coletânea O que resta da ditadura: “Foi espantosa a displicência, diria mesmo a frivolidade, que caracterizou a maior parte do ambiente critico dos anos 1980: como se a ditadura por aqui tivesse terminado não com um estrondo, mas com um suspiro – já que os estrondos foram inaudíveis para os ouvidos dos que nada queriam escutar. Como se pudéssemos conviver tranquilamente com o esquecimento dos desaparecidos. Como se nosso conceito de humanidade pudesse incluir tranquilamente o corpo torturado do outro, tornado – a partir de uma radical desidentificação – nosso dessemelhante absoluto”.
Dez anos se passaram desde que estas palavras foram publicadas. E hoje o preço que pagamos por essa “displicência histórica”, como diz Kehl, está à vista de todos.
Covid: Brasil registra 1.111 novas mortes em 24h, maior número desde setembro
Colaboração para o UOL, em São Paulo
O Brasil voltou a registrar mais de mil mortes por covid-19 em um intervalo de 24 horas. De acordo com dados divulgados hoje pelo Ministério da Saúde, o país confirmou 1.111 novas mortes provocadas pela doença nas últimas 24 horas. Desde o início da pandemia, 192.681 pessoas morreram.
Esta é a maior marca desde 15 de setembro, quando o Ministério divulgou 1.113 novos óbitos de um dia para o outro. É a segunda vez neste mês que o Brasil apresenta mais de mil mortes por covid-19 em 24 horas. Antes, em 17 de dezembro, foram 1.092 óbito registrados.
De ontem para hoje, foram registrados 58.718 diagnósticos positivos para o novo coronavírus no Brasil. O número de infectados subiu para 7.563.551 desde o começo da pandemia.
A pasta também informou que 6.647.538 pessoas se recuperaram da doença, com outras 723.332 em acompanhamento.
Vale ressaltar, no entanto, que os registros de mortes nos fins de semana e feriados tendem a ser menores devido à redução de equipes nas secretarias de saúde, o que tende a represar dados que são inseridos à contagem pelos estados nos dias subsequentes.
Covid deve baixar expectativa de vida no país em até 2 anos
O ano marcado pela pandemia e o confinamento chega ao fim com a esperança da vacina. Mas os impactos da covid-19 se farão sentir por muito tempo e poderão ser ainda mais profundos do que se imaginava. A expectativa de vida do brasileiro ao nascer deve cair em até dois anos por causa das mais de 190 mil mortes pela doença. Será a primeira queda desse indicador registrada no País desde 1940, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Especialistas da FGV (Fundação Getulio Vargas) e do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) estimam que a pandemia vai reverter a tendência observada nas últimas décadas. O brasileiro perderá pelo menos um ano de expectativa de vida, podendo chegar a até dois anos. Dependendo da capacidade do governo de vacinar a população em 2021, essa queda pode ainda se prolongar por mais um ano.
Em 1940, a expectativa de vida do brasileiro ao nascer era muito baixa, de 45,5 anos. Com a redução da mortalidade infantil e os avanços na Medicina, o número vem crescendo consistentemente. Em 1980 chegou a 62,5 e, em 2000, a 69,8. Nos últimos 20 anos, os ganhos foram um pouco mais lentos, mas, mesmo assim, nunca se registrou um decréscimo.
Conforme os últimos dados divulgados pelo IBGE, em novembro, a expectativa de vida do brasileiro ao nascer era de 76,6 anos. E poderia ser ainda mais alta se não fosse a violência urbana, que costuma vitimar homens jovens. Tanto que a expectativa de vida das mulheres era de 80,1 anos, ante 73,1 anos dos homens.
O voto do brasileiro e a importância das redes sociais
A pessoa vota porque o pastor mandou, o youtuber fez campanha, a atriz indicou, a influencer influenciou e o cantor sertanejo apoiou. E tem gente que acha que é possível mudar a opinião da pessoa, “catequizando” pelas redes sociais...
O mundo todo enfrentou a mesma pandemia, mas não a mesma tragédia
"Feliz Ano Velho"
A retrospectiva de 2020 pode ser escrita com as aspas expelidas de uma boca hedionda. O poder do vírus estava "superdimensionado", sem motivo para "histeria', "comoção" ou "pânico". Tudo poderia ser resolvido com um "dia de jejum" do povo brasileiro. Se fosse contaminado, por seu "histórico de atleta", o profeta da escuridão teria apenas um "resfriadinho" e seria curado por uma poção mágica, a cloroquina.
O vírus produziu um oceano de lágrimas, e o cronista do abismo arremessou palavras como pedras sobre a dor dos brasileiros: "Não sou coveiro", "E daí?", "Eu sou Messias, mas não faço milagre". Incentivou aglomerações e a contaminação porque o vírus é como uma "chuva", "vai atingir você" e "todos nós iremos morrer um dia". "Tem que deixar de ser um país de maricas".
Sob seu comando, o Ministério da Saúde foi incapaz de planejar ações preventivas ou campanhas educativas e alertar para a gravidade da doença. Desprezou o uso de máscara, não investiu na testagem em massa, fracassou na logística (quase 7 milhões de testes perderam a validade), sabotou os imensos esforços de cientistas, médicos e todos os profissionais de saúde, professores, mídia e autoridades locais para promover quarentenas que poderiam reduzir as infecções.
Não antecipou a compra de vacinas e fez vaticínios estapafúrdios sobre seus efeitos colaterais. Arrotou tanta ignorância que quase um quarto da população não quer se vacinar. Vamos fechar o ano perto dos 200 mil mortos, podendo ser até 230 mil, considerando a subnotificação.
O mundo todo enfrentou a mesma pandemia, mas não a mesma tragédia. A diferença está em como os governos lidaram com os instrumentos disponíveis para conter o vírus. Mas o semeador do caos e da desesperança não dá "bola" e nos arrasta para os confins da escala civilizatória. Nada indica que 2021 será diferente. Peço licença ao escritor Marcelo Rubens Paiva para receber o novo ano com a expressão pungente do título de um livro seu: "Feliz Ano Velho".
segunda-feira, 28 de dezembro de 2020
2020 parte 2
PAREM DE MENSAGENS POSITIVAS PRA 2021
Não vamos começar melhores. Não teremos vacina tão cedo. Estaremos no pico da pandemia. Não tem essa de “novo ano”. É o 2020 parte 2.
Não tem good vibes. A gente vai virar o ano sem perspectiva de vacina e volta da vida normal. Com um presidente antivacina e negacionista que não faz nenhum esforço pro pais sair dessa.
Quem tem a chance de sair daqui tem que vazar logo, rs. Vai só piorar.
Nossas vidas nunca mais serão as mesmas
Por que o neoliberalismo só pode ser implantado por ditaduras?
Quer entender o que é o neoliberalismo de um país periférico? Explicar eu não sei, mas posso apontar um caminho para entender.
Em plena ressaca de feriado, a Ibovespa mal abriu e às 10h30 já disparou 0.57%. A razão de tamanha pauderescência é a aprovação do pacote fiscal assinado por Trump que libera 900 bilhões de dólares para recuperar a economia americana pós-pandemia. Trump, inclusive, se aliou aos democratas para aumentar o "bolsa família" e dar auxílio de dois mil dólares por adulto em necessidades.
Nada mais natural que, diante dessa perspectiva de crescimento na Economia da corte, a bolsa da periferia tenha uma ereção.
Acontece que a mesma Ibovespa broxa vergonhosamente sempre que, em Pinochetguedeslândia, se falava em prorrogar auxílio emergencial ou lançar o Renda Brasil ou qualquer coisa que pudesse furar o santo graal do teto de gastos da PEC da morte, instaurado pelo golpe neoliberal de 2016.
Ué, mas então o governo americano impulsionar a Economia local pode, mas o governo brasileiro impulsionar a sua Economia local não pode?
Parece contraditório, mas não é. É a essência da coisa. É para isso que precisaram dar um golpe para implantar à força o neoliberalismo aqui. Por que a Economia local que deve ser forte é a de lá. A de cá, que fique a serviço deles.
Foi pra isso a Lava-Jato. Foi pra isso o impeachment. Foi pra isso o antipetismo. Para nos transformar num país de 200 milhões de entregadores do iFood.
Imperdoável
domingo, 27 de dezembro de 2020
"Feliz Ano-Novo", que perigo
Preferimos insuflar uma guerra civil a combater a desigualdade que o racismo sustenta
Temos no Brasil uma legião de insepultos lutando por uma fantasia de atraso
Durante muito tempo achei que o Brasil fosse a cópia escarrada do Sul dos Estados Unidos, sem a Guerra de Secessão ou antes dela. Aqui se defende o indefensável. Preferimos insuflar uma guerra civil a combater a desigualdade e abrir mão de privilégios que o racismo sustenta. Com o estranho agravante de que aqui os negros são maioria.
Durante muito tempo identifiquei o Brasil com o anacronismo dos estados sulistas confederados. Somos capazes de eleger um presidente e um governo que trabalham abertamente contra os direitos civis, a diversidade e as ações afirmativas, para dizer as coisas em termos eufemísticos e publicáveis. Os confederados daqui estão no poder.
Gente que sabe que, na prática, matar negros é crime inimputável, se não direito garantido por “excludentes de ilicitude”. Ou já saberíamos quem mandou matar Marielle Franco.
Os anos Trump deixaram claro, para quem ainda não tinha entendido, que a Guerra de Secessão não acabou. E que não há anacronismo nenhum. Os confederados lutaram para manter a escravidão. E o motivo da guerra continua a assombrar e dividir o país.
É a tese de Michael Gorra em “The Saddest Words” (as palavras mais tristes, ed. Liveright, 2020), sobre William Faulkner e a Guerra Civil americana. Não faltariam motivos para quem hoje quisesse cancelar o maior romancista americano do século 20 com base em suas declarações infames, incoerentes e nem sempre sóbrias.
Além de alguns dos romances mais geniais da história da literatura de todos os tempos, Faulkner também foi autor de cartas e frases que atestam posições contraditórias e muitas vezes indefensáveis sobre negros e a escravidão, a exemplo de quando equiparou supremacistas brancos à Associação Nacional para o Progresso das Pessoas de Cor, como duas formas igualmente condenáveis de extremismo (vimos algo semelhante por aqui, recentemente, e conhecemos as consequências).
Nem por isso o escritor deixou de receber ameaças de morte por parte de seus conterrâneos brancos. Os romances são a chave. E é pelos romances que Michael Gorra o defende.
O problema de muita gente disposta a cancelar o autor de uma frase é a incapacidade de ler o parágrafo inteiro, para não dizer o livro. Gorra nos explica como funciona a literatura e por que Faulkner é o autor indicado para quem quer entender o fantasma do racismo nos Estados Unidos.
Seus romances são a expressão da Guerra Civil incorporada por uma subjetividade atormentada pelo estigma da raça (que pode até não ser visível, mas está no sangue), pela miscigenação, pelo estupro e pelo incesto.
Faulkner condenava a escravidão sem poder desvencilhar-se do mundo que ela criou, que é o mundo de seus livros, onde a honra é também ignomínia. Cancelá-lo só nos torna ainda mais cegos e vulneráveis ao que desejamos combater, ao que não podemos suportar no presente.
Quando, nos anos 1950, Faulkner pediu calma (“go slow”) aos advogados do processo de dessegregação do Sul dos Estados Unidos, o destemido James Baldwin não hesitou em denunciar a desonestidade da proposta depois de mais de 200 anos de escravidão e 90 de semiliberdade para os negros. “Eles nunca admitiram seriamente a insanidade de sua estrutura social”, Baldwin retrucou, definindo por tabela a tragédia dos personagens de Faulkner.
A “palavra mais triste” é o verbo reiteradamente conjugado no passado. É a fantasia acintosa de “E o Vento Levou”. O que Faulkner dramatiza, ao contrário, é a consciência inexorável dessa impostura e dessa violência, a fantasmagoria de um mundo obsceno, convertido em negação repetida, idealização de um paraíso perdido, ruína e mito.
O passado com o qual toda uma sociedade se recusa a acertar as contas volta como maldição, trauma de um fracasso reincidente, o indefensável enterrado em cova rasa.
Não é preciso nenhuma pirueta intelectual para entender que, no Brasil, é à negação perpetrada pelos que já não tinham caráter nem coragem para assumir suas responsabilidades no passado, e aos quais agora faltam dignidade e competência para assumir suas responsabilidades no presente, que melhor corresponde a farsa de homogeneidade à qual os espectros de Faulkner tentam se agarrar, em vão, contra a força da modernidade e as evidências históricas.
Temos no Brasil uma legião de confederados escarrados, insepultos, lutando por uma fantasia de atraso, agarrados ao poder pela mentira. Faulkner é uma força da modernidade irrompendo das entranhas do racismo. Seus livros são uma enorme pedra de contradição no caminho dessa gente.
sábado, 26 de dezembro de 2020
O tsunami de burrice da esquerda antipetista
Tá ficando cada vez mais difícil pensar em perspectivas de país e em sair desse atoleiro imundo protofascista que nos metemos, por causa da forma imbecil e sem foco como os debates tem sido conduzidos.
Tá todo mundo achando que o Brasil virou Estados Unidos. A direita quer que o Brasil vire o paraíso do consumo, e a esquerda quer que vire o paraíso dos costumes e militância.
Só na semana de Natal, dois tipos de vilania indigestas e inaceitáveis ocorreram aqui na Banânia e praticamente passaram batido:
1 - Doria e Bruno Pé na Covas cancelaram, no meio da maior recessão e pior paridade de poder de compra recente, a gratuidade para pessoas com mais de 60 anos. Com milhões de idosos vivendo com apenas 1 salário mínimo, ter que pagar para se deslocar impacta profundamente no seu poder de compra e qualidade de vida.
2- Partido NOVO comemora que conseguiu anular a obrigatoriedade das empresas contratantes de entregadores disponibilizar ÁGUA, álcool gel e produtos de limpeza básicos para os funcionários terceirizados. Isso no meio de um pandemia.
Tirando meia dúzia, a grande parte dos influenciadores da esquerda e da lacrolândia macunaímica, tudo tuiteiro vadio, passaram os dias PORRANDO O PT, por conta da sua polêmica com a Folha de São Paulo.
Segundo essas pessoas, na semana onde o NOVO fudeu com o precarizado e o PSDB fudeu com os idosos pobres de SP, a preocupação maior era fazer correção histórica com o PT.
O PT virou simplesmente um partido racista na cabeça dessas pessoas. Acusaram o partido de "isabelismo" porque o Tarso Genro disse que foi o PT quem institucionalizou a política de cotas.
Desse fio acusatório realizado por retardados, comparando um presidente retirante, nordestino e operário, e uma presidenta torturada, com uma porra de uma Orleans e Bragança, surge outro fio:
A acusação de que o partido foi culpado pelo encarceramento em massa e acelerou o "genocídio" do povo negro.
Oras, o PT é diretamente ligado aos movimentos sociais, inclusive a miríade de movimentos negros, que obviamente foram fundamentais para a política de cotas.
Mas na ânsia de se descolonizarem, mergulham de cabeça na colonialidade estadunidense, só falta a orelha do Mickey. Oras, uma construção que vincula partido e movimento social não é importante e uma forma sofisticada e democrática de fazer política partidária?
Outra, se o PT não tem protagonismo na política de cotas, porque é seu protagonismo então o tal "encarceramento em massa", que veio direto do judiciário? Judiciário este que passou 13 anos em pé de guerra com o PT.
É prerrogativa do poder executivo encarcerar ou não? Se acham que sim, estudem mais.
E lembrem também que o PT não caiu e foi superado pelo PSTU, PCB ou PSOL. Foi superado pelo bolsonarismo. Pelo visto, o PT foi alvo de ódio e golpe também porque no senso comum "encarcerou de menos" e foi "leniente com a bandidagem e a violêcia urbana".
Mas eu sei, eu sei que isso não lhes importa. Afinal, se começar a encarar um determinado problema como adultos, como fica a lacração? Não pode, pô. Lacrar é preciso, é o objetivo.
E incluo nesse espiral lacratório grande parte dos marxistas também.
E o PT por sua vez entrou em crise de identidade e parece ter dificuldade se sair. Está se deixando ser espancado por este tipo de discurso.
Está deixando criarem a narrativa de que o partido foi "racista" mesmo. Aí depois que essa mentira repetida mil vezes virar verdade, quero ver como vai se livrar dessa pecha.
"Ahhh Vinícius, o que você faria?"
Denunciação caluniosa e falsa comunicação de crime, é crime, artigo 339 do código penal. Eu processaria um por um. Acabou.
Outra coisa foi essa "aliança" com o Maia para a eleição do congresso. Só o PT, mais uma vez, está apanhando por isso.
O PT não aprende? Oras, a narrativa (assim como foi com o Boulos pós-derrota) já está pronta. Em 2022, o PT vai ficar como fisiológico porque apoiou o Maia. Mesmo que isso seja descontextualizado, que a ideia é isolamento do bolsonarismo, que será muito ruim se o Bolsonaro conseguir eleger o presidente da câmara, que é importante negociar mesas e etc.
Foda-se tudo isso. Ninguém liga.
PT tinha que lançar seu candidato próprio. Mesmo sem chance nenhuma de vitória. Só pra perder bonito com seus 60 votos e acabou. Foda-se se o Bolsonaro ganhar no congresso e CURRAR todo mundo.
O PT tem que aprender a voltar a "lacrar" também. Afinal, é só isso que importa hoje em dia. Grandes e lindas derrotas, coloridas, com Odara de Caetano ao fundo.
E em 2022 possa estufar o peito e recitar "perdemos, mas detestaria estar no lugar de quem nos venceu", e aí, obviamente, retiramos também narrativa do PSOL, de que eles são limpos e impolutos e nós sujismundos.