Biógrafo oficial do gângster Marinho |
Finalmente assisti a Democracia em Vertigem - Netflix, de Petra Costa. Escreverei sobre o documentário, mesmo com atraso, mas o que quero comentar agora são as declarações de Pedro Bial sobre ela e o filme.
Em primeiro lugar, Bial diz que Democracia em Vertigem é uma obra de ficção. Desafio o jornalista a explicitar quais seriam as tais "mentiras" do filme. Não estou falando sobre suas INTERPRETAÇÕES do que é relatado, mas dos fatos em si. A única "mentira" - com boa vontade - é a foto dos revolucionários mortos pela ditadura, que apagou armas que apareciam na imagem original. Armas que, como se descobriu depois, haviam sido PLANTADAS pelos militares.
Ou seja: a foto alterada reflete mais a verdade que a original.
Aliás, até por precaução, fui buscar artigos que afirmavam apontar as "mentiras" do documentário: "LISTAMOS X MENTIRAS DE DEMOCRACIA EM VERTIGEM", afirmavam. E aí você vai ler e são itens como "a eleição do PT representava a esperança do povo mais humilde - MENTIRA".
Nesse nível.
O simples fato de Democracia em Vertigem ter sido distribuído (e contado com dinheiro da Netflix) é algo cujas implicações Bial ignora. Em produções do tipo, a exigência na checagem de fatos é gigante - até por autoproteção legal. A Netflix é uma empresa de capital aberto que deve satisfações aos acionistas - e um processo originado por uma produção mentirosa é a última coisa que seus diretores desejariam. E isso é um fator que diferencia um "Democracia em Vertigem" de um "1964: O Brasil Entre Armas e Livros", que, feito por um think tank (ou "think"), não tem a obrigação de se apegar a esse detalhe bobo que é a tal VERACIDADE FACTUAL.
Outro fator é a ética dos cineastas, claro.
Mas o que mais me incomodou - aliás, revoltou - foi Bial dizer que "é uma menina querendo dizer para a mamãe dela que ela fez tudo direitinho, que ela está ali cumprindo as ordens de mamãe, a inspiração de mamãe".
Isso, além de estúpido, é de um sexismo colossal. Eu DUVIDO que se o filme tivesse sido dirigido por um homem, Bial tentaria atacar o realizador dessa maneira. Ele usa dois clichês misóginos ao mesmo tempo: o de que as mulheres não são capazes de pensar por conta própria e o de que precisam da aprovação alheia.É um ataque feio feito por um jornalista que há muito se tornou defensor ferrenho dos interesses dos patrões e, no processo, se esqueceu de uma lição fundamental de sua profissão: a de que os FATOS devem sempre falar mais alto do que as opiniões pessoais. É um vexame, sua fala. Ele devia olhar em torno de si mesmo, para seu camarim na Rede Globo, antes de acusar quem quer que seja de desrespeitar a verdade.
Para encerrar - e a propósito de nada -, me ocorreu lembrar que Pedro Bial escreveu a biografia oficial de Roberto Marinho. Talvez alguém pudesse dizer, sobre a biografia de um bilionário escrita por um funcionário de sua empresa: "é um menino querendo dizer para o papai dele que ele fez tudo direitinho, que ele está ali cumprindo as ordens do papai".
Em primeiro lugar, Bial diz que Democracia em Vertigem é uma obra de ficção. Desafio o jornalista a explicitar quais seriam as tais "mentiras" do filme. Não estou falando sobre suas INTERPRETAÇÕES do que é relatado, mas dos fatos em si. A única "mentira" - com boa vontade - é a foto dos revolucionários mortos pela ditadura, que apagou armas que apareciam na imagem original. Armas que, como se descobriu depois, haviam sido PLANTADAS pelos militares.
Ou seja: a foto alterada reflete mais a verdade que a original.
Aliás, até por precaução, fui buscar artigos que afirmavam apontar as "mentiras" do documentário: "LISTAMOS X MENTIRAS DE DEMOCRACIA EM VERTIGEM", afirmavam. E aí você vai ler e são itens como "a eleição do PT representava a esperança do povo mais humilde - MENTIRA".
Nesse nível.
O simples fato de Democracia em Vertigem ter sido distribuído (e contado com dinheiro da Netflix) é algo cujas implicações Bial ignora. Em produções do tipo, a exigência na checagem de fatos é gigante - até por autoproteção legal. A Netflix é uma empresa de capital aberto que deve satisfações aos acionistas - e um processo originado por uma produção mentirosa é a última coisa que seus diretores desejariam. E isso é um fator que diferencia um "Democracia em Vertigem" de um "1964: O Brasil Entre Armas e Livros", que, feito por um think tank (ou "think"), não tem a obrigação de se apegar a esse detalhe bobo que é a tal VERACIDADE FACTUAL.
Outro fator é a ética dos cineastas, claro.
Mas o que mais me incomodou - aliás, revoltou - foi Bial dizer que "é uma menina querendo dizer para a mamãe dela que ela fez tudo direitinho, que ela está ali cumprindo as ordens de mamãe, a inspiração de mamãe".
Isso, além de estúpido, é de um sexismo colossal. Eu DUVIDO que se o filme tivesse sido dirigido por um homem, Bial tentaria atacar o realizador dessa maneira. Ele usa dois clichês misóginos ao mesmo tempo: o de que as mulheres não são capazes de pensar por conta própria e o de que precisam da aprovação alheia.É um ataque feio feito por um jornalista que há muito se tornou defensor ferrenho dos interesses dos patrões e, no processo, se esqueceu de uma lição fundamental de sua profissão: a de que os FATOS devem sempre falar mais alto do que as opiniões pessoais. É um vexame, sua fala. Ele devia olhar em torno de si mesmo, para seu camarim na Rede Globo, antes de acusar quem quer que seja de desrespeitar a verdade.
Para encerrar - e a propósito de nada -, me ocorreu lembrar que Pedro Bial escreveu a biografia oficial de Roberto Marinho. Talvez alguém pudesse dizer, sobre a biografia de um bilionário escrita por um funcionário de sua empresa: "é um menino querendo dizer para o papai dele que ele fez tudo direitinho, que ele está ali cumprindo as ordens do papai".
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