Dólar tem maior alta porcentual desde delação de Joesley
Redação, O Estado de S.Paulo
Apesar de o dólar ter
chegado à máxima nominal histórica em R$ 5,0690 durante as negociações nesta
segunda-feira, 16, esse foi o primeiro dia útil desde 3 de março em que o Banco
Central não realizou nenhuma intervenção no mercado de câmbio com
oferta de recursos novos na moeda norte-americana. Sem leilões do BC, o dólar
subiu 4,90% e fechou o dia em R$ 5,0523, novo recorde. A alta porcentual
registrada nesta segunda-feira foi a mais alta desde a delação de Joesley
Batista, em 17 de maio de 2017.
Nas duas primeiras semanas de março, a autoridade monetária
injetou US$ 15,245 bilhões em recursos novos no mercado do câmbio. Foram US$
7,245 bilhões em leilões de dólares à vista, US$ 6 bilhões em novas operações
de swap cambial, e ainda US$ 2 bilhões em leilões de linha com recompra.
A Bolsa
de Valores de São Paulo, a B3, voltou a operar após abrir em forte queda e o
"circuit breaker" ser acionado pela quinta vez em duas semanas.
Depois de reduzir o ritmo de perdas, o Ibovespa voltou a registrar quedas mais
relevantes. O índice fechou em queda de 13,92%, aos 71.168,05 pontos
Nesta segunda-feira, 16, foi acionado, pela quinta vez em
duas semanas, o "circuit breaker", quando as negociações
são paralisadas no mercado. A pausa aconteceu ao atingir 12,53% de queda em
relação ao fechamento da última sexta-feira, 13. O patamar voltou a ficar
abaixo dos 75 mil pontos - 72.321,99. Quando as negociações foram retomadas,
pós pausa de cerca de 30 minutos, o Ibovespa chegou a cair mais de 14%, mas
depois reduziu o ritmo de perdas.
Os investidores avaliam as medidas anunciadas mais cedo pelo
Conselho Monetário Nacional (CMN) para minimizar os efeitos da pandemia de
coronavírus sobre a economia e à espera por um corte extraordinário de juros no
Brasil. Às 13h17, o Ibovespa caía 10,35%, aos 74.124,32 pontos, nível
observado no segundo semestre de 2018.
"Eventualmente, pode ocorrer [um novo circuit breaker],
ter uma volatilidade grande, mas para perder esses 70 mil pontos precisa de ter
algo ainda mais catastrófico. Só neste mês, o Ibovespa perdeu quase 30%
[-28,28% até o momento]", avalia Rafael Ribeiro, analista da Clear.
"Óbvio que ninguém sabe o impacto real do coronavírus, mas isso já vem
sendo falado há algum tempo. Precisa ter alguma evidência de que o sistema
financeiro quebrará para acentuar as perdas", observa, citando que há
grande expectativa por um corte extra da Selic antes do Comitê de Política
Monetária (Copom), que ocorre entre amanhã e quarta-feira.
O dólar, depois de ter fechado na sexta-feira, 13, com
o maior valor nominal da história (R$ 4,81) - descontada a inflação -, iniciou
as negociações desta segunda-feira, 16, cotado a R$ 4,97, alta superior a 3%,
subindo ainda mais, para R$ 5,0445 batendo a máxima histórica intraday da moeda
americana desde o Plano Real, que é R$ 5,02, alcançado na
quinta-feira, 12. Nas casas de câmbio, de acordo com levantamento realizado
pelo Estadão/Broadcast, o dólar turismo é negociado acima de R$ 5,
variando entre R$ 5,07 e R$ 5,21. Às 13h16, o dólar subia 3,31%, cotado a
R$ 4,9755.
Na Bolsa brasileira, quando as negociações atingem queda de
10%, o primeiro "cricuit breaker" é acionado por 30 minutos. Após o
retorno do mercado, caso seja atingido 15% de recuo, uma pausa é realizada
novamente, mas, desta vez, de uma hora. Passado esse período, se a queda
ultrapassar 20%, uma nova parada é acionada. Neste caso, o tempo não é
pré-determinado, e a própria B3 informa por quanto tempo as negociações
ficarão suspensas.
Apenas na semana passada, o sistema foi acionado por quatro
vezes. Uma na segunda-feira, 9, um vez na quarta-feira, 11, e duas na
quinta-feira, 12. Terça-feira, 10, e sexta-feira, 13, foram dias de recuperação
nos mercados mundiais. As Bolsas ao redor do mundo têm sofrido com essa
volatilidade, em um efeito sobe e desce nos últimos dias.
Nova York aciona 'circuit breaker'
As negociações dos três principais índices acionários de
Nova York (Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq) foram suspensas instantes após a
abertura do mercado, por meio do mecanismo conhecido como circuit breaker,
depois das perdas superarem o limite de 7%. As operações são retomadas após 15
minutos.
Mercados internacionais
Os mercados globais estão em clima de tensão nesta
segunda. Após o fechamento dos mercados no oriente, a maior queda na Ásia foi
na Bolsa de Taiwan, com o índice TWI. Por lá, a baixa foi de
4,06% em relação ao fechamento anterior. A segunda maior foi em Hong Kong,
com (-4,03%), seguido de China,
(-3,40), Coreia do Sul (-3,19%) e Japão (-2,46%).
No continente asiático, o único mercado a fechar em alta, mesmo que de forma
muito tímida, foi o da Tailândia,
com 0,06%. Na Oceania,
a Austrália teve o pior resultado do oriente do
mundo, despencando 9,52%.
Na Europa,
o cenário é ainda mais caótico, com recuos próximos da faixa dos 10%. Na
sexta-feira, 13, a Organização Mundial de Saúde (OMS), declarou que
o velho continente é o novo epicentro da doença,
causada pelo novo coronavírus, iniciada na China, na cidade de Wuhan,
província de Hubei.
As Bolsas da Europa ampliaram perdas, com quedas
ultrapassando os 10%, após as Bolsas de Nova York acionarem o circuit breaker
logo após a abertura, em meio ao estresse pelo coronavírus. Às 10h42, o índice
Stoxx 600 caia 10,19%, a 268,96 pontos, com Londres perdendo 8,57%, Frankfurt
cedendo 10,15% e Parius despencando 11,32%. Já Madri desabava 11,96%, Lisboa
caia 7,45% e Milão registrava baixa de 11,22%.
Neste momento, há uma ação coordenada dos bancos centrais de
todo o mundo para tentar diminuir os impactos da Covid-19. O Federal Reserve
(Fed, o banco central dos Estados Unidos), o Banco Central Europeu (BCE), o
Banco do Canadá, o Banco do Japão e o Banco Nacional da Suíça divulgaram
comunicado conjunto sobre a operação, que será feita por meio de um arranjo via
programa de swaps. Porém, essa atuação, com estímulos monetários, não está
sendo suficiente para impedir o pânico dos mercados.
Petróleo
O petróleo, que desde o começo da semana passada vem
sofrendo quedas nos valores após uma "guerra de preços" entre Rússia e Arábia
Saudita, está, nesta segunda, em queda relevante. O índice WTI, para
abril, registra, às 09h04, 8,23% de queda, a US$ 29,12 o preço do barril.
O Brent, para maio, tem recuo ainda maior, no mesmo horário, a (-10,16%),
cotado a US$ 30,41.
Para conter o estrago na economia do coronavírus, o Federal
Reserve cortou os juros para a faixa de zero a 0,25% na segunda reunião
extraordinária em duas semanas. A última vez que os juros tinham caído para
esse patamar foi em dezembro de 2008. / LUCIANA XAVIER, SILVANA
ROCHA, ANDRE MARINHO, EDUARDO GAYER e FELIPE SIQUEIRA
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