sábado, 22 de maio de 2021

A aniquilação total de tudo, a destruição acima de todos

João Ximenes Braga 

Amanhã o festim diabólico de propagação do Covid promovido pelo sacolé de larvas de moscas varejeiras, talvez já com a cepa indiana, será aqui no Rio. Mas na medida em que a degradação do governo avança, mais parece que rasgaram o sacolé no meio-fio, jogaram álcool nas larvas e elas estão se contorcendo em desespero.

O rastejante invertebrado foi autuado por promover aglomeração do Maranhão ao mesmo tempo em que o PSDB - não me falha a memória, a primeira atitude louvável do partido desde a política para HIV do Serra - pediu ao STF que o obrigue a enfiar uma máscara na sua fuça medonha, senão para se proteger do vírus, para nos proteger de sua imensa fealdade. Qual será a resposta do STF, não sei. Mas não me surpreenderia se acatassem a medida, humilhação absoluta não para ele, mas para o cargo que ocupa, portanto, para todos nós cidadãos da República do Necrochorume. 

Em paralelo, tanto o presidente quanto o relator da CPI do genocídio teceram fortes críticas a ele por esse comportamento. Omar Aziz, em particular, com os pelos das orelhas arrepiados de ódio depois que o cadáver de pombo atropelado ameaçou a Zona Franca de Manaus em retaliação à CPI. Curioso que a poça de vômito ambulante queira acabar com a zona de livre comércio na mesma semana em que seu ministro do Meio-Ambiente é enterrado sob toras e toras de madeira ilegal. Combinação perfeita para simbolizar seu único projeto para a Amazônia e todo o país: a aniquilação total de tudo, a destruição acima de todos.

Cada vez mais acuado, não há dúvidas de que amanhã, cercado da fina flor dos milicanos de bem do Rio de Janeiro, vai se contorcer em público, mostrar os dentes quebrados, tortos, amarelados, sibilar a língua presa em cânticos alexandrinos involuntários ao cuspir o vocabulário de banheiro do Maracanã com hálito de mictório do Maracanã.

Vai ser um espetáculo ver esse animalzinho sem dentes, sem pelos, sem pele, sem ossos, sem olhos, latindo fino diante de seus iguais, se contorcendo como larvas em álcool. 

Minha vida por um palito de fósforo.

sexta-feira, 21 de maio de 2021

Um país a caminho da pedra lascada

Caetano de Holanda 

Não o sei o porquê todo esse entusiasmo com a CPI espetáculo. Mesmo que Bolsonaro e os integrantes de seu governo sejam responsabilizados e presos, o desmonte neoliberal vai continuar. E o verdadeiro motivo, a causa real das milhares de mortes que o Brasil teve, se deve de fato às políticas neoliberais impostas de forma autoritária. Mas com a privatização da Eletrobras, talvez vocês não tenham nem mesmo energia elétrica para ver o fim desse espetáculo televisionado da CPI. Vão voltar a lascar pedras para fazer figueira no meio da sala. Esse é o Brasil tomado pela ditadura neoliberal. Um país a caminho da pedra lascada.


É muita gente perversa para se lidar

João Ximenes Braga

Pesquisa Exame/Ideia revela que 37% dos eleitores brasileiros querem mais quatro anos de morte, extermínio, chacina, tortura, miséria, milícia, degeneração, perversidade, tristeza, violência, humilhação internacional e leite condensado.

Em parte isso se deve à desinformação propagada pelas redes da mamadeira de pirocagem, em parte a uma vocação natural para a pulsão de morte nesta colônia criada por pilhadores, assassinos, escravocratas, estupradores, torturadores. 

Sei que eu deveria estar comemorando os 45% do Lula, mas não consigo parar de pensar na resiliência desses 37% mesmo diante da inflação de 33% na cesta básica. 

É muita gente perversa para se lidar.

Liberal BR

Eu acho maravilhoso o liberal BR com suas previsões, preço de passagem aérea, menos direito trabalhista gerando emprego, dólar caindo com Bolsonaro, etc., tudo incontestável, pois DADOS.

 Aí, alguns meses depois nada disso se verifica e eles "dureza, o Brasil é foda, né, mein".

Ricardo Coimbra 

"Com a privatização da Eletrobrás a conta de luz vai ficar mais barata"

quinta-feira, 20 de maio de 2021

Pergunta relevante

Fernando Horta

Você permitiu um governo que colocou a Petrobras a serviço do "mercado" e hoje está tendo que cozinhar com lenha.

Quando venderem a Eletrobras você vai substituir a energia elétrica pelo quê?

Terceira onda

 

Kayser

quarta-feira, 19 de maio de 2021

Resumo do depoimento do Pazuello

Fernando Horta 

A culpa das mortes é dos médicos e dos hospitais.

A culpa por não comprarem vacina é do TCU, AGU, CGU e STF

A culpa pelo aplicativo de cloroquina é de um hacker que colocou on line sem autorização do ministério.

E quando ele foi explicar de quem era a culpa pelo genocídio de Manaus, ele esqueceu em quem tinha que colocar a culpa. Daí passou mal para poder consultar as bases.




terça-feira, 18 de maio de 2021

O Brasil é uma merda e o pior do Brasil é o brasileiro

Vinícius Carvalho

Você está horrorizado com os absurdos, com as merdas, com o senso comum de chimpanzé, com todo o esgoto dito com a fluência de um linguista de Satã pelo senador Marcos Rogério e pelo ex-ministro Ernesto Araújo? 

Lamento, mas isso é o comum. Eu fico vendo esses dois primatas conversando e é exatamente o mesmo papo que eu escuto nos botequins, nos pontos de ônibus, nas filas de supermercado da vida.

É exatamente a MESMÍSSIMA MERDA. A diferença é que quando isso é dito numa esquina qualquer a gente acha graça, "ainnn é a brasilidade, ainnn olha como o brasileiro é simplezinho, ainn como o nosso povo tem sua sabedoria pitoresca..."

O Brasil é o pior país do mundo e o brasileiro o pior que se tem desse espaço geográfico deletério, é o que forma tudo isso. Um povo desgraçado, um povo primitivo, um povo pedestre, um povo que, enfim, eu faço parte e ainda mantém um genocida com 25% de apoio fixo.

Eu amaldiçoo o dia em que eu nasci nessa desgraça, nesse vômito. Não me deem mais parabéns, me deem os pêsames no meu próximo aniversário.



segunda-feira, 17 de maio de 2021

Imbeciro é parte do problema

Ciro Gomes hoje é parte importante do problema

Carlos Fernandes  

Com a última pesquisa Datafolha, a situação da chamada "terceira via" que já não era boa, ficou praticamente incontornável.

 Confirmando a cristalização da disputa Lula x Bolsonaro já denotada por várias outras pesquisas divulgadas recentemente, o que sobrou para esses postulantes foi apostar no imponderável.

Absolutamente ninguém mais trabalha com a hipótese do ex-presidente petista fora da disputa no segundo turno, ainda que tenha quem na centro-direita ainda sonhe com outra arbitrariedade jurídica para novamente tirá-lo ilegalmente da disputa, seara, obviamente, de gente que já transpôs a linha do desespero.

Definido, pois, o ocupante de uma das duas vagas, a esperança se apoia agora na desidratação de Jair Bolsonaro que responsável pelo pior governo de toda nossa história democrática, vê seus índices de reprovação atingirem novos recordes.

O problema é que seu núcleo duro de apoio, reconhecido em torno dos 25% - 30% do eleitorado nacional, garante a sua presença na segunda etapa da disputa. A lógica, portanto, mandaria quem quer seguir em frente na disputa focar alvo no atual presidente que, para além de tudo, é merecedor de todas as críticas possíveis e imagináveis de qualquer um que se situe no campo democrático.

Mas eis que esse não parece ser o caso de Ciro Gomes.

Visivelmente preterido pela população para o mais alto cargo da República, Ciro, que reconhece igualmente tanto sua impotência contra Lula no primeiro turno quanto o mal representado pela figura inescrupulosa do atual presidente, voltou a direcionar sua conhecida disenteria verborrágica para... Lula. 

O que alguém poderia denominar como sendo a "estratégia política" que Ciro está vislumbrando, nada mais é do que tentar abocanhar parte dos votos antipetistas, coisa que, por definição, o põe ao lado dos principais signatários do mal que ao fim e ao cabo nos legou o próprio Jair Bolsonaro.

Está mais do que claro que Ciro ao tentar capitalizar votos fomentando o antipetismo, incentivar o voto nulo num segundo 

turno em que não esteja aderindo vergonhosamente à tese canalha da "escolha difícil" e novamente lavando as mãos quando o país inteiro se vê numa batalha entre a barbárie e a civilização, age como o pior dos irresponsáveis cujo interesse democrático não se sustenta um segundo frente ao seu escancarado projeto personalista.

E muito pior, conscientemente se porta como linha auxiliar para o genocida que ao nos governar, nos mata.

Quando Ciro Gomes afirma sem um pingo de decência que Lula é o "maior corruptor da história", simplesmente minimiza o que faz a

quadrilha miliciana presidencial que só no escândalo mais recente é acusada de destinar R$ 3 bilhões para compra de base de apoio no Congresso Nacional ao custo de quase meio milhão de brasileiros mortos pela sua completa indiferença.

Mas para Ciro, é Luis Inácio Lula da Silva, e mais ninguém, o candidato a ser abatido neste momento. 

Sejamos sinceros, qualquer candidato que se presta a esse tipo de expediente é tão danoso à democracia brasileira quanto o próprio Jair Bolsonaro.

Parte importante do problema, junto a Bolsonaro, Ciro Gomes precisa ser definitivamente defenestrado da política brasileira. 


Sem exagero


 André Dahmer 

sexta-feira, 14 de maio de 2021

Prefeito de São Paulo em estado terminal

Pedras ponteagudas para os pobres dormirem

O prefeito licenciado de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), de 41 anos, piorou na tarde de hoje, foi sedado pelos médicos e seu quadro de saúde se tornou irreversível. A informação foi divulgada pelo Hospital Sírio-Libanês, onde o prefeito está internado para o tratamento de um câncer desde o início de maio. 

"O prefeito Bruno Covas segue internado recebendo medicamentos analgésicos e sedativos. O quadro clínico é considerado irreversível pela equipe médica", diz a nota do hospital."

UOL

Entrevista de Lula à TV pública dos Estado Unidos

 

Há cada vez mais evidências de que o golpe de 2016 atrasou a recuperação da economia


Queda no PIB pode ser, em parte, atribuída à Operação Lava Jato e às pautas-bomba de 2015

Nelson Barbosa

O afastamento de Dilma Rousseff completou cinco anos. Volto ao assunto para comentar um fato pouco mencionado na mídia: a economia brasileira parou de cair antes do golpe parlamentar de 2016 e mergulhou novamente depois dele.

A recessão de 2014-16 começou no segundo trimestre de 2014 e durou até o fim de 2016. Houve queda total de 8% do PIB, o que os críticos do PT atribuem somente à política econômica da época, mas o pessoal se esquece de dizer que a economia voltou a crescer no início de 2016, ainda no governo Dilma. Vamos relembrar.

Já escrevi neste espaço que a política econômica foi um dos determinantes da recessão de 2014-16, não o único determinante. Estudos econométricos indicam que 40% da queda do PIB veio de choques adversos no resto do mundo (juros e preços de commodities).

Dos 60% restantes, parte veio de choques políticos, que, apesar de domésticos, não são resultados somente de política econômica. Falo da Lava Jato e das pautas-bomba de 2015.

No caso da Lava Jato, em 2016, estudo da consultoria de Gesner Oliveira disse que os efeitos econômicos da operação derrubaram o PIB em 2,5%. Mais recentemente, estudo semelhante da CUT/Dieese estimou que o impacto negativo da Lava Jato tenha sido de 3,6% do PIB.

É difícil dizer quanto dos investimentos e empregos destruídos pela Lava Jato se deveu aos excessos da operação e quanto foi resultado da má alocação de recursos pela corrupção.

Os estudos continuam, mas, diante das revelações de que a Operação Lava Jato foi mais política do que jurídica, creio que pelo menos 20% da recessão de 2014-16 tenha decorrido dos excessos da força-tarefa de Curitiba. Teoricamente, esse “custo” será compensado pelos ganhos de eficiência trazidos pelo combate à corrupção a longo prazo.

O segundo choque político veio das pautas-bomba de 2015, que atrasaram a correção de rumo da política econômica quando ficou claro o tamanho da recessão. Mais precisamente, o segundo governo Dilma começou com ajuste fiscal e monetário, baseado na expectativa de que a economia cresceria em 2015.

Porém, diante do colapso dos preços da commodities no mundo e do impacto da Lava Jato no Brasil, ficou rapidamente claro que a dose de ajuste tinha sido excessiva, sobretudo que o realinhamento abrupto das tarifas de energia tinha sido um erro.

Em meados de 2015, para adaptar a política econômica ao novo contexto, o governo Dilma propôs flexibilização fiscal, com redução do resultado primário em 2015 e 2016, o “Orçamento com déficit”. Porém, devido às pautas-bomba daquela época, a proposta só foi aprovada em dezembro de 2015, atrasando o combate à crise.

A flexibilização fiscal só começou no início de 2016, quando o BC também parou de subir a Selic. As duas ações, juntamente com a melhora do cenário internacional, contribuíram para que a economia brasileira parasse de cair e voltasse a crescer ainda no governo Dilma. Quanto? Os números do IBGE mostram crescimento de 0,4% do PIB no segundo trimestre de 2016 (sobre o período anterior com ajuste sazonal).

Será que a economia teria se recuperado mais rápido com Dilma? Acho que sim, mas nunca saberemos. Sabemos, apenas, que a recessão voltou depois do golpe. Houve novo mergulho do PIB no segundo semestre de 2016 e, quando o crescimento novamente voltou, ele ficou abaixo dos 3% anuais alardeados pelos golpistas. A expansão média do PIB foi de 1,4% em 2017-19, antes da Covid.

Passados cinco anos, há cada vez mais evidências de que o golpe de 2016 atrasou a recuperação da economia brasileira.

quinta-feira, 13 de maio de 2021

Conversa com Bia e Mau

Mais um pedido de impeachment


CPI: executivo da Pfizer confirma que Carlos Bolsonaro participou de reunião sobre vacinas

Segundo o gerente-geral da farmacêutica na América Latina, Carlos Murillo, o vereador carioca, filho do presidente Jair Bolsonaro, participou de reunião sobre a compra de vacinas contra a Covid-19. Além do vereador, participaram o encontro o então secretário de Comunicação, Fabio Wajngarten, e o assessor internacional da Presidência, Filipe Martins.


Depoimento de ex-presidente da Pfizer ajuda a fechar cerco contra o genocida


Pfizer ajuda CPI a fechar cerco contra Bolsonaro, que desprezou vacina

Kennedy Alencar

O depoimento de Carlos Murillo, ex-presidente da Pfizer no Brasil, ajuda a CPI da Pandemia a fechar o cerco contra o presidente Jair Bolsonaro e o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello. Ao relatar ofertas de imunizantes que não tiveram respostas oficiais, Murillo confirmou o desprezo de Bolsonaro e Pazuello pela compra de vacinas em agosto de 2020.

Se Bolsonaro e Pazuello tivessem priorizado a vacinação e aceitado a oferta da Pfizer de 26 de agosto de 2020, o Brasil poderia ter recebido 1,5 milhão de doses até dezembro do ano passado, o que teria evitado mais mortes e infecções no país. Já morreram quase 430 mil brasileiros por covid-19.

Em tese, com duas doses por pessoa, 750 mil brasileiros poderiam ter sido imunizados no fim do ano passado. A última proposta da Pfizer ao Ministério da Saúde previa a entrega de 3 milhões de doses no primeiro trimestre de 2021 e mais 14 milhões no segundo trimestre deste ano.

Obviamente, se o governo Bolsonaro tivesse levado a sério a negociação com os diversos laboratórios que produzem vacinas e fechado contratos, a situação seria outra no país, que vacina a conta-gotas. As doses da Pfizer se somariam às produzidas pelo Instituto Butantan (Coronavac) e Fiocruz (Astrazeneca).

O depoimento do ex-presidente da Pfizer no Brasil confirmou parte da versão do ex-secretário de Comunicação Fabio Wajngarten, que falou à CPI nesta quarta-feira. Depois de não obter respostas a três ofertas, a Pfizer enviou em setembro uma carta a Bolsonaro com cópia para outras cinco autoridades: Pazuello, então ministro da Saúde, o vice-presidente Hamilton Mourão, o ministro-chefe da Casa Civil, Braga Netto, o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o embaixador do Brasil em Washington, Nestor Foster.

No entanto, o negacionismo de Bolsonaro, que lançava publicamente suspeitas contra as vacinas, criou uma espécie de muralha contra a possibilidade de negociação com a Pfizer e desinformou a população.

De acordo com o ex-presidente da Pfizer no Brasil e atual comandante da empresa na América Latina, foram oferecidas ao governo brasileiro "as mesmas condições" contratuais fechadas em acordos da farmacêutica com mais de 110 países. Murillo disse que essas cláusulas não eram "leoninas", como disse Pazuello em depoimento ao Congresso a fim de justificar a sua omissão.

As dificuldades de negociar a venda de vacinas ao governo brasileiro são provas da aposta de Bolsonaro e de seus auxiliares na chamada imunidade de rebanho. Ou seja, deixar o vírus se espalhar pelo país para que os sobreviventes adquirissem imunidade natural, sem imunizante.

Além de não ser recomendada pela ciência, essa estratégia cobra um preço muito alto, pois mais gente morre e fica com sequelas por contrair uma doença grave contra a qual o governo não quis lutar de forma deliberada. Pelo contrário, além de desprezar as vacinas e máscaras, Bolsonaro sabotou esforços de governadores e prefeitos para adotar medidas de mitigação, como quarentenas para aumentar o isolamento social.

A CPI da Pandemia já descobriu uma tentativa do governo de alterar a bula da cloroquina, o que é ilegal. Também obteve prova do desprezo à possibilidade de comprar vacina já em agosto de 2020, atitude negligentemente homicida e negacionista.

Os depoimentos do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta e do diretor-geral da Anvisa, Antonio Barra Torres, forneceram provas da tentativa do governo de mudar a bula da cloroquina.

A recomendação de cloroquina e hidroxicloroquina feita por Bolsonaro, endossada por Pazuello e permitida por Queiroga, é um agravante penal e político da resposta negligentemente homicida do governo à pandemia. O medicamento não funciona contra covid-19 e pode matar quem tem arritmia cardíaca. Bolsonaro é literalmente prejudicial à saúde.

Com os depoimentos tomados até hoje, a CPI da Pandemia já obteve provas de crimes de responsabilidade cometidos por Bolsonaro e Pazuello. Ambos deveriam ser responsabilizados penal e politicamente pelas instituições competentes. Mais gente morreu e adoeceu no Brasil sem necessidade devido às ações e omissões do presidente e do ex-ministro da Saúde na pandemia.

"Pelo menos não matei ninguém", disse o genocida

 Conrado Hübner Mendes

Há responsáveis por mortes que não precisavam ter sido, e um responsável maior

Jair Bolsonaro fabricou muitas batalhas nessa pandemia: da economia contra a vida; da cloroquina contra a vacina; da liberdade contra as máscaras; do pensamento mágico contra a ciência. No campo dos fatos, perdeu todas. No da fantasia, insiste em todas. Na política, restou-lhe acossar STF e Congresso, culpar estados e municípios, e insinuar intervenção milico-miliciana para livrar-se ileso dos danos gerados por sua conduta.

Os danos mensuráveis estão na mesa: 430 mil mortes e 15 milhões de contaminações (sem contar subnotificação); empobrecimento, fome e economia retardatária no processo de recuperação mundial; colapso em saúde e educação, com danos irreversíveis na formação de crianças e jovens (ensino remoto ainda foi pretexto para cortar investimentos, enquanto parte do mundo os ampliava). Os danos incomensuráveis se observam em sofrimento e indignidade.

Passaremos décadas discutindo quem deveria pagar pelo quê: as responsabilidades jurídicas, tanto criminais (com cadeia) quanto civis (com reparação do dano); as responsabilidades políticas e morais dos protagonistas e cúmplices, dos colaboradores, omissos e beneficiários. Se formos maduros para conceber responsabilidades para além dos indivíduos, emergirá a consciência de culpa coletiva e um movimento “nunca mais”.

O exercício de atribuição de responsabilidades jurídicas tem uma parte difícil e uma fácil. A difícil é que o desastre se produz por uma combinação de falhas de Estado e falhas de governo em todos os níveis da federação, e de culpas individuais, públicas e privadas. A parte fácil é que, entre as culpas individuais, há uma culpa cintilante. Não se encerra com Bolsonaro, mas começa com ele e fica ali um bom tempo.

De tudo que Bolsonaro disse nesse período, uma frase se sobressai pelo poder de síntese e riqueza das suposições: “Pode ser que seja placebo, mas pelo menos não matei ninguém”.


A frase contém uma confissão e uma teoria da responsabilidade. A confissão é dispensável, pois há provas torrenciais da sua ação e inação deliberadas; a teoria não tem lastro jurídico, pois “matar” não se limita ao ato físico de puxar o gatilho de fuzil com mira certa, tal como seus desejos de “metralhar” ou “fuzilar” desafetos. No universo normativo de Bolsonaro, não existe o matar à distância, por descumprimento de deveres. Para o direito, existe.

Tão óbvio quanto dizer que Bolsonaro não é único responsável pelo morticínio é notar sua responsabilidade primordial. Não menos evidente descobrir que, por tudo que fez e deixou de fazer, causou milhares de mortes e milhões de contaminações evitáveis. A causalidade está fora do terreno da dúvida. A intencionalidade transborda em discursos e atos não só contra vacina, testagem, isolamento e máscara, mas em favor de charlatanismo por lucros escusos.

Quem quiser se aprofundar nas causalidades, pode ler, além de estudos brasileiros, numerosas publicações nas grandes revistas científicas do mundo, como Science, Nature e Lancet. Quem preferir buscar intencionalidades, vale começar pelos boletins “Direitos na Pandemia”, produzidos por Cepedisa (USP) e Conectas. Se quiser comparar com experiências jurídicas do mundo, navegue na plataforma “Lex-Atlas: Covid-19” (King’s College de Londres).

Ninguém tem poderes jurídicos, verbais e simbólicos comparáveis ao presidente da República para influenciar ou ordenar o comportamento social.

Sua omissão descumpriu deveres constitucionais. Mas não foi só omissão. Consciente das mortes que causaria, agiu para inviabilizar e tumultuar medidas sanitárias de senso comum. Usou do inigualável poder da caneta e da palavra presidencial para semear dúvida, espalhar desinformação e incitar violação da lei. Quantos crimes cabem nessa conduta?

A pergunta não é retórica. Não se responde só pelo fígado ou pela intuição moral. Precisa ser qualificada pela análise jurídica. A montanha de evidências de conduta criminosa não cabe embaixo do tapete. Uma carreira forjada na delinquência e premiada pela impunidade, que já produziu tanto dano material e imaterial, podia pelo menos terminar em sanção. Injusta por ser tão tardia, nem por isso menos correta e urgente.

Ou o país pode optar por outra anistia geral e irrestrita. Os torturadores e seus ministros herdeiros continuarão soltos inventando técnicas de tortura e de sumiço de corpos. Já não estão só brincando de anticomunismo iletrado no clube militar, esse parquinho dos órfãos da guerra fria.

Ordens superiores


Benett

quarta-feira, 12 de maio de 2021

Militares na Amazônia

Nani

Pazuzu tenta fugir da CPI com Habeas Corpus do STF


Luis Felipe Miguel 

Pazuello quer escapar do depoimento à CPI - e a AGU prepara um pedido de habeas corpus para apresentar ao Supremo.

A justificativa é que, depondo como testemunha, ele ficaria impossibilitado de mentir ou omitir para não se incriminar.

Covarde, ignorante, subserviente, criminoso. Quanto mais um ex-ministro acumula estes adjetivos, mais ele vira ídolo e se credencia para disputar algum cargo no ano que vem.

É por isso que o bolsonarismo é um fenômeno difícil de ser compreendido.

Hoje tem Wajngarten na CPI, que promete revelações comprometedoras. Como as de ontem, do presidente da Anvisa, que optou por tentar limpar um pouco sua barra (sem nenhum trocadilho) mesmo às custas de queimar o governo genocida.

Um governo que já entendeu que nos trabalhos da CPI não se salva, seja porque a conduta criminosa na condução do enfrentamento à pandemia é realmente espantosa, seja porque sua articulação política é débil.

Preferiu agir de outra forma, colocando a PF contra Dias Toffoli. Serve tanto para animar a base quanto para forçar uma negociação.

Longe de mim colocar a mão no fogo por Toffoli, um dos mais mesquinhos ministros do Supremo. Mas é claro que a ação da PF é tudo, menos republicana.

É que os aparelhos do Estado hoje só funcionam com base em interesses circunstanciais. Isso que dá, quando um país decide que a Constituição não vigora mais.

A epidemia vai morrer de morte morrida, não matada por ação de governo


Vinicius Torres Freire

Ainda na pior fase, país tem 2 mil mortes por dia e deixou de agir para matar a doença

Estamos cansados de distanciamento, de medo de perder o emprego ou o negócio, de mortes. Há sempre um escândalo ou ultraje novo que abafa o horror ou a mutreta da semana passada. O conjunto da ruína soterra no esquecimento outros desastres. Quem ainda se comove com o desmatamento crescente, “recorde”, da Amazônia? Assim é também com as mortes de Covid e a vacinação lenta.

A epidemia está em um nível de morticínio que, até a metade de março, era o recorde e causava escândalo, provocava panelaço e incentivou a instalação da CPI. São ainda mais de 2.000 mortes notificadas por dia no Brasil. A estatística funérea caiu bastante desde o pico do horror (meados de abril), uns 33%. Mas, no ritmo em que vamos, ainda em meados de junho teremos mil mortes por dia, como em janeiro, que por sua vez contava o dobro do número de mortes de novembro, no entanto.

E daí?

Não sabemos se o número de mortes vai continuar caindo nesse ritmo já lento. Faz cerca de duas semanas, o número de novas internações por Covid em UTIs no Estado de São Paulo está praticamente estável (em torno de 2.235 por dia, muito acima da média de 1.500 por ainda de fevereiro).

Pode ser que a “fila esteja andando”. No último auge da epidemia, muitos doentes não conseguiam leitos de terapia intensiva, agora mais disponíveis. Ou seja, o número de internados e, pois, de doentes muito graves era subestimado e agora pode estar superestimado. Mas não sabemos.

Ainda estamos na pior fase da epidemia, que começou em meados de março. Ajuda ou deveria ajudar a nos lembrar que não foi adotada nenhuma das grandes providências para conter o morticínio. O tal “comitê nacional” de Jair Bolsonaro e seus cúmplices no Congresso, sobre o que houve tanta fanfarra, era uma farsa. Não houve aceleração na oferta de vacinas —é bem provável que neste maio tenhamos mais doses do que em abril, mas junho é uma incógnita tétrica.

Boa parte da economia (negócios de alimentação, entretenimento, turismo) não voltará a funcionar em parte ou totalmente (espetáculos, feiras de negócios) enquanto não se controlar a epidemia, está todo mundo também cansado de saber. Adianta fazer o alerta? Cada vez menos. A inação fundamental continua.

A CPI é necessária para responsabilizar política e criminalmente o governo Bolsonaro, mas não tem como resolver o problema prático. A ação depende de planos nacionais de pesquisa, rastreamento, testagem, de contenção de circulação de pessoas e até de barreira contra a entrada de novas variantes. Ninguém aguenta mais ouvir falar disso, mas nada disso foi feito nacionalmente.

A epidemia vai definhar por si mesma, com ajuda de vacinas, se não aparecer variante assassina nova. Embora não se saiba precisamente quanto, os infectados ficam imunes; a metade adulta do país deve estar vacinada até fins de julho —o vírus vai matar menos por esgotamento, pois. Até lá devem morrer mais 125 mil pessoas, por baixo. Lembram de quando o país chegou com horror a 100 mil mortes, em agosto de 2020?

Não se sabe se vai ter consequência o escândalo do orçamento “Bolsolão”, revelado pelo jornal O Estado de S. Paulo. Em breve, talvez nesta semana mesmo, teremos o escândalo do desmonte da lei de licenciamento ambiental, que está para ser votada por estes dias. Daqui a mais um pouco, pode passar a lei da grilagem, presente para os amigos de Bolsonaro. Ah, já estamos esquecendo da matança do Jacarezinho, “tudo bandido”, né? Quando voltarmos a mil mortes de Covid por dia talvez se faça uma festa pela “volta à normalidade”.

terça-feira, 11 de maio de 2021

A picanha de 7,4 trilhões


 Aroeira

Churrasco de Bolsonaro tem picanha de R$ 1.799,99 o quilo

Marcos Nogueira

O Dia das Mães teve churrasco no Palácio da Alvorada. Bolsonaro levou para a residência oficial alguns amigos, como o cirurgião plástico que fez as próteses da primeira-dama Michelle.

O churrasqueiro contratado veio de Belém do Pará –1962 km de estrada do Ver-o-Peso até a casa do presida. Ele atende pelo apelido Tchê. Ou pelo epíteto “Churrasqueiro dos Artistas”.

Em sua página de Instagram, Tchê aparece ao lado de celebridades como Romero Britto, Eri Johnson e Damares Alves. A residência presidencial está direto no Insta do churrasqueiro dos artistas.

Em um post de domingo (9/5), o churrasqueiro aparece com Bolsonaro e dois pacotes de carne. Na embalagem, uma charge do presidente, o slogan de campanha de Bolsonaro e o nome do frigorífico. A mesma foto está no perfil do Frigorífico Goiás, e a legenda anuncia: picanha Mito.

Liguei para o frigorífico, em Goiânia. A picanha Mito estava em falata, mas era possível comprar a mesma carne com outra embalagem. Picanha de gado da raça wagyu, de origem japonesa, por módicos R$ 1.799,99 o quilo. Uma peça tem em média R$ 350 g e custa cerca de R$ 600.

A festinha do Planalto teve pelo menos duas dessas picanhas. Um total de R$ 1200 em meros 700 g de carne.

Bolsonaro não deve ter pago pelo bife-ostentação, mas definitivamente não pega bem o presidente exibir uma coisa assim quando a população mergulha na fome.

Aqueles dois bifinhos valem mais do que um salário mínimo. Custam o equivalente a duas cestas básicas.

É muito escárnio. Não dava para esperar coisa diferente.

Bolsonaro e o trator da corrupção


Cristina Serra

Brasil de Bolsonaro é metáfora de casa abandonada onde ratos disputam os despojos

Não é de hoje que as emendas parlamentares se prestam ao toma lá, dá cá. Mas a coisa ganha outra dimensão quando se sabe quem pediu o quê, para quem e quanto, como mostrou o repórter Breno Pires, de O Estado de S. Paulo. A reportagem revela a existência de um orçamento secreto e o intrigante pendor dos congressistas por máquinas agrícolas, especialmente tratores. A malandragem já vem batizada: é o tratoraço de Bolsonaro.

A reportagem é o roteiro de uma investigação. Nomes, valores e destinação das máquinas estão ali. Tudo cheira mal na rapinagem de R$ 3.000.000.000,00 do orçamento público. Teoricamente, as máquinas vão ser usadas em obras de prefeituras. Algumas estão localizadas a milhares de quilômetros da base eleitoral dos parlamentares, e foi detectado superfaturamento de até 259% nas compras. Ora, mas Bolsonaro não havia acabado com a corrupção?

O tratoraço de Bolsonaro explica a eleição folgada de Arthur Lira para a presidência da Câmara, o engavetamento dos pedidos de impeachment (além dos que foram herdados de Rodrigo Maia) e a dificuldade de criação da CPI da Covid-19 no Senado, arrancada a fórceps por decisão do STF. A pilhagem tem que ser investigada no contexto da pandemia. O mesmo Bolsonaro que usa dinheiro público para aliciar parlamentares é o que está no comando do genocídio brasileiro.

O que sobra para encomendar tratores e, claro, produzir cloroquina falta para comprar oxigênio, abrir leitos de UTI e para as tão esperadas vacinas. Por falta delas, capitais suspenderam a imunização. Sem a matéria-prima da China, o Butantan interrompeu a produção de doses. Sem vacina para todos, a morte, a fome e o desemprego seguirão nos ameaçando por tempo indefinido.

Penso no Brasil de Bolsonaro como a metáfora de uma casa abandonada, onde os ratos se sentem à vontade para disputar os despojos. Para não chegarmos a isso, é preciso CPI, impeachment, processo, condenação e prisão.

Processo Penal de Rio das Pedras


segunda-feira, 10 de maio de 2021

Pororoca


Angeli

Secreto



Tratorão ou Bolsolão?




Ernesto Araújo na CPI


Luis Felipe Miguel

Na quinta, Ernesto Araújo deve falar à CPI - caso não opte por se esconder como seu colega de ex-ministério, general Pazuello.

Fico curioso para ver o quanto ele vai avançar na sua própria agenda (com as fanfarronices que lhe garantem a posição de herói da extrema-direita alucinada e turbinam sua pretensão de se candidatar ao Congresso no ano que vem) e o quanto vai priorizar a defesa de Bolsonaro (com as desculpas, mentiras e "falhas de memória" usadas para proteger o governo).

O jornal de hoje traz documentos que provam que a prioridade do Itamarati sempre foi a aquisição do medicamento sabidamente ineficaz, nunca da vacina.

Mais de uma vez, em seu espetáculo diário de desinformação, Bolsonaro criticou quem condenava a cloroquina "sem dar alternativa".

É o tipo de argumento que revela o nível cognitivo de seus apoiadores. Se não existe remédio eficaz, fiquemos com o ineficaz...

Na verdade, porém, sempre teve alternativa.

A alternativa era isolamento social, uso de máscara, garantia de renda, fortalecimento do SUS. E a preparação do país para a vacinação que, sabia-se, chegaria em algum momento.

O governo federal boicotou zelosamente cada um destes elementos. É o grande responsável pela tragédia em curso no país.

Chama o Batman




O fim está distante


Pacientes com Covid na Índia estão desenvolvendo mucormicose, uma infecção por fungos rara,  com 50% de letalidade e conhecida pelas mutilações.  Muitas vezes,  é necessário retirar os olhos do paciente, região rapidamente atacada,  para salvar sua vida. 

Não se sabe o motivo, essa correlação era inédita, mas já tem hospital na Índia relatando três casos por semana de pacientes com Covid atacados pelo fungo. 

Não foi falta de aviso. São mais de 400 mil casos diários de Covid na Índia. A essa altura, ninguém sabe o que pode vir de lá e como isso vai nos afetar.  


Soutik Biswas
Correspondente da BBC na Índia

Estimativa de um milhão de mortos no Brasil era otimista


"Consultório do Crime" tenta salvar Bolsonaro na CPI da Covid

Celso Rocha de Barros

Grupo de senadores busca tumultuar investigação mentindo sobre medicina 

O Brasil deve atingir meio milhão de mortos por Covid-19 em junho. Supondo que nenhuma grande medida de isolamento social seja adotada de agora em diante, e mantendo-se o ritmo lento da vacinação, é praticamente certo que ultrapassaremos 600 mil mortos nos próximos meses.

Se os casos subnotificados forem 30% dos notificados, como estimou a organização Vital Strategies, é razoavelmente provável que terminemos o ano com um milhão de mortos (entre notificados e subnotificados), sem contar as pessoas que morreram de outras doenças, por falta de hospital etc.

Na estimativa do Institute for Health Metrics and Evaluation, da Universidade de Washington, se contarmos tudo isso já estamos com quase 600 mil mortos agora.

Se houver uma terceira onda de inverno agora que tudo reabriu, é perfeitamente possível que cheguemos ao milhão de mortos notificados antes do fim da pandemia.

Já não é impossível que o pessoal do Imperial College, no final das contas, tenha errado para menos.

Enquanto era possível evitar esse assassinato em massa, as elites brasileiras tinham outras preocupações, como as reformas econômicas, o acordão e o trauma que um impeachment obviamente necessário causaria tão pouco tempo depois de um impeachment sem qualquer justificativa.

Resta-nos, ao menos, torcer para que a CPI da pandemia faça seu trabalho e mande o presidente da República para a cadeia.

As primeiras sessões da CPI da Covid foram razoáveis. O número de crimes de Bolsonaro denunciados por Mandetta e Teich é suficiente para prender Bolsonaro e seus cúmplices diretos. Já Queiroga provou estar mesmo só a duas letras de distância de Fabrício Queiroz.

Falando em Queiroz, se no Rio de Janeiro Bolsonaro era amigo do chefe da milícia “Escritório do Crime”, na CPI é defendido pelo que podemos chamar de “Consultório do Crime”, um grupo de senadores que buscam tumultuar a investigação mentindo sobre medicina. Seus principais representantes são Eduardo Girão (Podemos-CE) e Luiz Carlos Heinze (PP-RS).

Girão e Heinze mentem sobre a eficácia da cloroquina, mas o curandeirismo presidencial não é o principal crime que tentam acobertar.

Bolsonaro usou a cloroquina como artifício para minimizar os riscos da pandemia e mandar o povo brasileiro morrer na rua.

A cloroquina não é só um remédio ruim, é o remédio ruim que Bolsonaro ofereceu ao Brasil no lugar de isolamento social e vacina. Por isso morreu tanta gente.

Os fatos gritam: Bolsonaro causou uma proporção enorme das mortes brasileiras na pandemia, que, ao contrário do que aconteceu nos Estados Unidos, por exemplo, aconteceram em sua maioria depois da descoberta da vacina.

Desafio Heinze, Girão, Osmar Terra ou qualquer outro cúmplice de Bolsonaro a me mostrar um estudo em que Bolsonaro seja responsável por menos do que 100 mil mortes até o fim da pandemia.

Essa estimativa camarada e favorável a Bolsonaro já lhe torna culpado de mais assassinatos do que os cometidos por todos os assassinos brasileiros em 2019 (41.730) somados aos cometidos por todos os assassinos brasileiros em 2020 (43.892).

Se os bolsonaristas defendem as execuções no Jacarezinho (no Rio de Janeiro) porque alguns dos mortos eram suspeitos de crimes, o que defendem que se faça com o assassino de, na estimativa mais camarada, cem mil brasileiros? Eu só peço cadeia. E cadeia eu exijo.

domingo, 9 de maio de 2021

O pior bandido que existe


O pior crime que existe é o assassinato pelo Estado, pois forçosamente nos transforma todos em cúmplices, mesmo aqueles que não o apóiam.

O pior bandido que existe é aquele que apóia o pior crime que existe.

Corolário: o pior bandido que existe é o homem de bem que diz “bandido bom é bandido morto” pois é um assassino que nos torna cúmplices de seus crimes e nos arrasta todos para a barbárie.

Não tenho palavras pra dimensionar o tamanho desprezo moral e intelectual que tenho por essas criaturas.

João Ximenes Braga

Fracasso e sucesso


Claudio Guedes


São Paulo, o estado, possui cerca de 45 milhões de habitantes. Acabamos de atingir a marca de 100.000 óbitos pela COVID.

A Coréia do Sul tem 51 milhões de habitantes. As mortes por COVID no país da Ásia são de 1.865 pessoas pela COVID até o momento.

Muitas coisas explicam a diferença. 

Mas a diferença é tão gritante que a única explicação é que fracassamos no combate ao vírus. E isso num estado que o governador não é um negacionista, mas adotou a estratégia do abre e fecha com critérios nem sempre claros, não fez uma campanha maciça pelo uso de EPIs e não conseguiu resolver o drama dos transportes públicos metropolitanos superlotados. 

Fracasso é o nome.

A praga que corrói o Brasil


A praga que corrói o Brasil é o fundamentalismo evangélico. E sim, estou generalizando. É preciso extirpar da face da terra essa corja de perversos. Não importa que existam certos evangélicos "bonzinhos", a questão é de outra natureza. O que predomina é a dominação de uma máfia narcotraficante sobre uma massa de cegos, surdos e mudos que seguem sem pensar o evangelho. O cristianismo em suas raízes é tirânico. E o que vemos com a ascensão do neopentecostalismo nos últimos 50 anos foi uma seita dotada de perversidades aliadas a um projeto político de orientação sionista. O Brasil talvez tenha sido o espaço onde essa radicalidade mais tenha dado frutos. Enquanto não nos livrarmos desse mal absoluto e proibirmos de uma vez por todas a existência de qualquer coisa relacionada a essa religião, corremos o risco de sermos dominados por suas milícias e viver dias de terror e opressão inimagináveis.

Caetano de Holanda

Fuga do general Eduardo Pazuello é covardia


Janio de Freitas

Mesma covardia que o impediu de repelir ordens contrárias ao dever do cargo e à vida de milhares

Se a balbúrdia na CPI da Covid continuar como nas primeiras sessões de interrogatórios e proposições, pode-se esperar que traga contribuição importante, apesar de não se pressentir qual seja. O tumulto dá a medida da fragilidade e do medo bolsonaristas diante da cobrança por sua associação à voracidade letal da pandemia.

Mas a clarinada do “não me toques”, protetora de militares acusados ou suspeitos de qualquer impropriedade, não resolverá o caso Pazuello. Militares valendo-se do Exército para fugir da responsabilidade por seus atos, convenhamos, até parece parte da concepção de ética militar. Os generais que mantiveram a ditadura de Getúlio, os do golpe de 64, do golpe de 68, os oficiais da tortura e dos assassinatos, os do Riocentro, esses e muitos outros construíram a praxe.

Nisso há distinção. Os escapismos que recaem na reputação do Exército cabem, antes de tudo, à corporação, à oficialidade, não à instituição. É a deseducação cívica em atos. A fuga de Eduardo Pazuello vai além: não vem da arrogância infundada, ou de uso do Exército para se imaginar acobertado por conveniência da instituição. É covardia, a mesma covardia que o impediu de repelir ordens contrárias ao bom senso, ao dever do cargo e à vida de milhares.

O novo comandante do Exército, Paulo Sérgio de Oliveira, mostrou-se preocupado com reflexos, sobre o Exército, do que haja no depoimento de Pazuello à CPI. Esse problema é de Pazuello e de Bolsonaro. Não é assunto militar, logo, o Exército não tem de se envolver. Se o fizer, aí sim, merecerá arcar com todos os reflexos dos crimes contra a humanidade presentes em grande parte do morticínio de mais de 400 mil brasileiros.

O massacre do Carandiru pela polícia de São Paulo, o maior da história com o extermínio de 111 presos encurralados, motivou incontáveis protestos sob formas variadas. Com efeito que não foi além dos próprios assassinatos. Na Amazônia, massacres policiais ocorrem em sequência só igualada pela inconsequência punitiva. No Rio, os 28 mortos da favela do Jacarezinho compõem o maior massacre policial na cidade e motivam protestos incontáveis. Três exemplos da rotina sinistra que todo o Brasil mantém, com diferenças apenas aritméticas.

Nem a rotina, nem os protestos, nem a insegurança —nada interfere na correnteza desumana. A mais recente solução prometida para o Rio foi protagonizado pelo hoje ministro da Defesa, general Braga Netto. Chefe da intervenção federal na Segurança do estado, feita por Michel Temer, chegou proclamando a “limpeza da polícia” como prioridade e eixo da solução. Com um bilhão para tal. De notável, comprou enorme frota de carros, armas e equipamentos de comunicação. No mais, a tal limpeza talvez tenha ficado nos muros de quartéis, onde vigora a obsessão por pintura de paredes e postes. Os métodos ficaram intocados.

O armamento dado como apreendido no Jacarezinho é espantoso. Pela quantidade e, ainda mais, pela qualidade: todo moderno e novo, incluindo duas submetralhadoras. É sempre arriscado aceitar essas apreensões como verdadeiras, mas não há dúvida de que armas continuam entrando a granel no Brasil. Por ora, para uso bandido. E ainda imaginam que o perigo de conflito está na Amazônia, com estrangeiros.

Todo o problema policial foi construído na ditadura, com as PMs postas sob comando de militares do Exército e métodos norte-americanos. E com os seus esquadrões da morte, “homens de ouro” e impunidade. Todo plano de solução é ineficaz se não busca eliminar esse legado.

Riqueza fácil

A juíza Mara Elisa Andrade determinou a devolução da madeira ilegal, objeto da maior apreensão já feita, que causou o incidente entre o delegado Alexandre Saraiva e, defensores dos madeireiros, o ministro Ricardo Salles e o senador Telmário Mota. A juíza considerou faltarem, no inquérito, as datas de corte das árvores, o período em que a estrada clandestina foi aberta e se o uso dela é exclusivo.

É assim, com esses desvios, que nunca prendem nem prenderão os grandes e enriquecidos desmatadores-contrabandistas. E Mara Elisa é juíza, não por acaso, na 7ª Vara Federal Ambiental e Agrária do Amazonas.

O cristianismo é a barbárie


Esse discurso senso comum de que o "verdadeiro cristão" é bom, caridoso e humanista, não passa de estupidez e uma das maiores mentiras que circula nas consciências medíocres. É preciso parar de atribuir as maldades que se faz em nome do cristianismo e suas diferentes seitas, aos "maus". Em sua essência, o cristianismo sempre foi dogmático, fanático, violento e sedento pelo poder. As maiores barbaridades do Ocidente foram feitas em seu nome. O verdadeiro cristão é autoritário, assassino, violador, sanguinário e fundamentalista. Os que assim não são, são raras exceções. A norma predominante, é o fanatismo e a barbárie. E o neopentecostalismo narcotraficante e suas milícias são o desvelamento desse caráter radical, agressor e dominador que está na essência da fé cristã. Basta um pouco de História para compreender o que é de fato o cristianismo e suas seitas. Para além do senso comum pacificador e santificado. O cristianismo é a barbárie.

Caetano de Holanda

Mortos de fome, de Covid, a bala, muitos pobres não largam Bolsonaro

Vinicius Torres Freire

Foram eles que mais perderam emprego e renda na epidemia, os que mais ficaram sem escola ou mesmo merenda

Pouco antes do segundo turno de 2018, o Datafolha perguntou qual era o candidato a presidente que mais defendia os ricos. Deu Jair Bolsonaro com 55% e Fernando Haddad (PT) com 22%.

Quem mais defendia os pobres? Haddad, 54%, Bolsonaro, 31%. Os mais pobres, com renda familiar de menos de dois salários mínimos, eram algo mais estritos na definição de classe: Bolsonaro defendia os mais ricos para 59%, Haddad defendia os mais pobres para 60%.

“Tudo bandido”, disse Hamilton Mourão sobre os mortos do bairro pobríssimo e apartado do Jacarezinho (“apartado” também no sentido de “apartheid”).

No que interessa aqui, tanto faz qual era a situação jurídica das vítimas do massacre: tanto fazia para Mourão. No universo mental bolsonariano atira-se primeiro, esquece-se depois. Os pobres e apartados em geral são “tudo bandido”, filho de porteiro que tira zero, empregada que viaja para fora, filho desajustado de mãe solteira, quilombola gordo imprestável etc. Tudo isso é mui sabido, inclusive o autoritarismo da turma: naquele Datafolha, Bolsonaro era o mais autoritário para 75%.

Nem o insulto bolsonarista nem a injúria da vida dura bastam para fazer com que os pobres larguem de vez Bolsonaro. É ingenuidade citar estatísticas socioeconômicas para explicar bolsonarices, mas convém lembrar delas.

Foram os pobres que mais perderam emprego e renda na epidemia, bidu, os que mais ficaram sem escola ou mesmo merenda. Segundo os estudos disponíveis (com dados do ano passado), são os que mais adoecem e morrem de Covid-19.

Nos últimos 12 meses, a inflação média para pessoas de renda muito baixa foi de 7,2%; para as de renda alta, 4,7% (dados da Carta de Conjuntura do Ipea). Desde que Bolsonaro assumiu, a inflação média (IPCA) acumulada foi de 11,2% —o salário médio subiu menos do que isso, o dos mais pobres, informais, menos ainda, isso quando têm renda de trabalho. A inflação média da comida foi de 28,9%.

Apenas entre os mais pobres Haddad deve ter vencido a eleição, segundo o Datafolha da véspera da votação de 2018. No Datafolha mais recente, de março, 30% do eleitorado dá “ótimo/bom” a Bolsonaro, com diferenças estatisticamente irrelevantes entre as classes de renda. Mas a taxa de decepção com Bolsonaro é muito maior entre os mais ricos (medida pela diferença entre a parcela dos que dão nota “ótimo/bom” agora e a votação em 2018).

Os pobres das grandes cidades vivem sob ocupação de milícias e facções, que são também polícia do Estado de terror. A milícia é um modo alternativo de ascensão social, por assim dizer, de ex-militares de baixa patente e agregados, a mobilidade de parte do precariado. Já tem vínculos firmes com a política municipal de regiões metropolitanas, avança nas Assembleias e pôs um pé no Congresso e no poder federal, vide os Bolsonaro.

A ocupação dos bairros pobres assim se institucionaliza, também no sentido de ter apoio estatal permanente. Em um movimento de pinça, os Bolsonaro apoiam tanto matanças policiais como milícias nos bairros pobres. Apresentadores de TV sanguinários fazem a propaganda do bolsonarismo político e militar-miliciano.

É fácil perceber que diagnósticos socioeconômicos não ajudam a explicar a persistência do bolsonarismo popular, como não explicavam parte da política, digamos, normal. Mas cabe a pergunta, que não é acadêmica: por que não explicam?

É assunto para outro dia, mas bolsonarismo tem a ver com machice, ressentimentos e medos reativos vários, religião e autoritarismo “raiz”. Mas também é revolta contra o “sistema” que larga os pobres à própria sorte, revolta que pode ter essa ou aquela conformação, autoritária ou outra, a depender da conjuntura e da política, de esquerda em particular.

Quem é que vai “lá” falar com os pobres?​

sábado, 8 de maio de 2021

Que fazer caso você vire um jacaré depois de ser vacinado


A guerra entre os traficantes


Nilson Lage

Por que policiais  não revelaram logo os nomes de suas vítimas?

Porque essa é uma forma de diluir sua identidade, como se fossem bichos. Por isso os chamam, sem provas, de "suspeitos", palavra que, objetivamente, não quer dizer nada.

Por que a imprensa chama o que sempre foi “chacina” e “massacre” de “ação policial”?

Porque o eufemismo é inventado pelos criminosos para ocultar a natureza real de seus crimes. Há editores medrosos e repórteres corruptos, nefelibatas ou que jamais ouviram falar em semiologia.

O que se passou, enfim, no Jacarezinho não foi uma operação de   repressão do tráfico de drogas. A polícia não faz mais isso, a sério, há muito tempo. 

Pode ter sido ato terrorista, vingando colega morto (como os mazistas faziam: para cada um dos soldados mortos, dez civis fuzilados)

Todos sabem onde ficam os pontos de venda e quem vende: não há repressão (fora, para constar, apreensões combinadas) porque o tráfico está articulado com vereadores, deputados, desmbargadores, juízes e as prórias instâncias policiais e de segurança interna. 

Se houvesse intenção de limitar o tráfico bastaria seguir a trilha das toneladas que passam, por aeroportos, portos e divisas. Não há como derrrubar florestas podando árvores e respeitando os troncos.


Todo mundo sabe que o ópio (opiáceos, heroína) é um negócio inglês cultivado desde meados do Século XIX (as guerras do ópio, que submeteam a China), de que os americanos se apropriaram ao invadir o Afeganistão e assumir o comando dos campos de papoulas. A cocaína é igualmente hoje negócio dos gringos que, dizem, por causa dissso (consultem, no Google, “episódio Irã-contras”), plantaram uma porção de “bases militares” na Colômbia. 

Consta que parte do negócio ds drogas latino-americanas (o ópio é da Big Pharma) sustenta grupos de extrema direita hoje alojados no Partido Republicano e que subordinam tanto o mercado paralelo das igrejass neopentecostais (para lavagem de dinheiro) quanto núcleos locais ligados à quadrilha familiar que governa o Brasil. 

O que aconteceu no Jacarezinho, ao que me diz gente conhecida, foi um operação disparatada, desumana, cruel e incompetente (a ponto de dar rajadas  em carros do metrô) de vanguarda miliciana para tomar o controle do tráfico no Jacarezinho, alijando o Comando Vermelho. Dizem que a milícia tem associação oculta com o PCC de São Paulo, que guarda relações diplomáticas com gente do PSDB e assumirá a comunidade quando se implantar a paz dos túmulos.

Noticia-se que o traficante de armas fornecedor do CV – e, é claro, morador na Barra da Tijuca – já foi preso, sinal de que a guerra  prossegue na esteira da batalha.

O melhor e mais festivo 8 de maio de todos os tempos foi aquele em 1945


8 de maio, 1945 

Sergio Augusto

Os alemães acabaram sendo os primeiros a anunciar o fim da guerra pelo rádio

O melhor e mais festivo 8 de maio de todos os tempos foi aquele que em 1945 selou o fim da 2ª Guerra Mundial. É a segunda data histórica mais cultuada aqui em casa. A primeira ainda é o 6 de junho de 1944, o D-Day, dia do desembarque das tropas aliadas na Normandia, prelúdio da libertação de Paris e da tomada de Berlim pelo exército soviético, o xeque-mate no Reich nazi-fascista.

Como não há a menor chance de anunciarem a derrocada da covid-19 e o fim da pandemia nas próximas horas, o 8 de maio a ser hoje celebrado é, mesmo, o de 76 anos atrás. Óbvio que só sei como ele foi pelos relatos que li e ouvi.

De leitura, minha última fonte foi Year Zero: A History of 1945, de Ian Buruma, editado em 2014 pela Penguin. Mas há outro livro, muito bom, em cujas 470 páginas já cisquei várias vezes: The Day the War Ended, May 8, 1945, de Martin Gilbert (Henry Holt & Company, 1995), que retrata como o fim do conflito foi recebido em todos os países nele mais diretamente envolvidos.

À cata de uma pauta para esta coluna, fiquei em dúvida entre abordar a CPI do Genocídio e falar de Anitta – não o vermífugo receitado pelo negacionismo como outro “santo remédio” contra a covid, mas a cantora e sua The Girl From Rio, que, diga-se, só fui conhecer depois que o correspondente da Associated Press me procurou para comparar as duas garotas, a de Ipanema e a do Piscinão de Ramos. Resultado: acabei empacado em outra encruzilhada, indeciso entre a revogação da Lei de Segurança Nacional e os 76 anos do dia mais feliz do século passado.

Embora já estejamos liberados para espinafrar, sem risco, o presidente, chamá-lo de todas aquelas coisas horrendas que ele, reconhecidamente, é ou encarna, o verdadeiro fim da LSN, dependente ainda da aprovação do Senado, pode esperar um pouco, mas o 8 de maio não.

Cheguei a cogitar de uma terceira pauta com o que havia (e sempre há) à disposição da gente no noticiário. No mínimo me livraria de abordar mais uma vez as forças armadas, esteios da ditadura que nos impôs a LSN, cúmplices do sociopata do Planalto na promoção da cloroquina e alma pater do Pazuello, que todos sabemos como chegou a ministro da Saúde mas ao generalato, por pior que seja nosso conceito da meritocracia castrense, ainda é um mistério.

Aí pensei em Thomas Pynchon, que hoje aniversaria. Debalde. Pynchon, 84, serviu dois anos na Marinha, durante a guerra, e O Arco-Íris da Gravidade, para muitos sua magnum opus, abriga um razoável arsenal bélico, destacadamente de bombas voadoras. A guerra se me revelou, pois, inescapável. E já que é inescapável, fico mesmo com o seu último ato.

Na noite de 6 de maio, numa escola de Reims, na França, as tropas alemãs assinaram sua rendição incondicional às forças aliadas. O V-E Day (V de vitória, E de Europa) ficou para dois dias depois, uma terça-feira. Stalin queria mais um dia para melhor preparar a festa em Moscou; Churchill desprezou a proposta. “Todo o povo britânico está há dias assando pães para a celebração, bandeiras e estandartes já foram confeccionados, os sinos das igrejas só esperam um sinal para ser dobrados”, ponderou.

Aproveitando-se da indefinição aliada, os alemães acabaram sendo os primeiros a anunciar o fim da guerra pelo rádio, direto de Flensburg, onde o almirante Döenitz cuidava do que restara das forças do Reich; a BBC de Londres pegou a notícia e divulgou-a mundo afora.

Em poucas horas, milhares de edições extras chegavam às bancas de jornais, com manchetes em letras garrafais e com no mínimo um ponto de exclamação: “A Guerra acabou!”. Em praças, ruas e avenidas, a festa começou, sem hora para terminar – menos em cidades alemãs, parte delas arrasada por bombardeios aliados.

Pouco antes da meia-noite, no QG russo em Karishorst, o marechal Georgy Zhukov, comandante das forças armadas soviéticas, aceitou a rendição alemã e o almirante Von Friedeburg assinou outra capitulação. Zhukov pediu aos alemães que se retirassem; ficaram apenas os vencedores: russos, americanos, britânicos e franceses – e um festival de inflamados e patrióticos discursos turbinados a vodca prolongou-se até de manhã.

Em Londres, o Big Ben soou três vezes, uma multidão nunca vista tomou a praça do Parlamento, dezenas de populares viraram pingentes nas grades do Palácio de Buckingham, alto-falantes retumbaram a voz de Churchill, às três da tarde. Eisenhower já fizera seu discurso aos americanos. De Gaulle, receoso de ser ofuscado por Churchill, agendou sua mensagem aos franceses também para as 15 h.

Se pudesse escolher, gostaria de ter festejado o V-E Day em Paris, só para ver o acrobático voo daquele piloto de guerra através da (creio ser este o advérbio preciso) Torre Eiffel, repetindo a façanha do piloto William Overstreet, no ano anterior, com os alemães ainda ocupando a França, Vichy de pé, Rick Blaine e Ilsa Lund em Casablanca e... mas esta já é outra pauta.