Acabo de ler o artigo “Trump e o Ocidente”, de Ernesto Araújo, publicado na revista Cadernos de Política Exterior, Ano II, número 6, do segundo semestre de 2017.
Trata-se de laboriosa bajulação do presidente americano, a que o autor atribui profundos e improváveis conhecimentos.
O importante, no entanto, é o que o chanceler de Bolsonaro diz dele mesmo, entre citações de Heidegger, Nietzsche e até Spengler, que há cem anos saudava a decadência do Ocidente.
Ernesto Araújo embarca nessa canoa – mas o Ocidente, para ele, não é o Ocidente geográfico ou político, com suas instituições conhecidas: é uma essência espiritual, abstração, sem peso e forma.
O que ameaça de fato o Ocidente, sustenta, não faz parte do mundo material, mas consiste na deterioração da alma ocidental cristã, herdeira do Santo Graal, numa espécie de efeito autoimune que facilita a obra deletéria do credo muçulmano.
A salvação de tal entidade mítica é missão transcendente, que exclui o liberalismo e a herança da Revolução Francesa – algo há muito guardado e misteriosamente contido nos regimes (no senso comum, protofascistas) daquela parte da Europa que faz fronteira com a Rússia: ele cita a Polônia e o papa Wojtyla.
A conclusão forçosa de tal viagem às profundezas do Nada é que caberia a Trump, no leme da América, ser a mão possante de Deus, única força capaz de redimir o Ocidente.
Em suma: um demente dos mais perigosos.

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