quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

Despreparo é a palavra que define o começo do governo Bolsonaro

Ficou evidente o despreparo para lidar com questões da economia. Também há um nível de divergências na internet. Para Kennedy Alencar, todo governo procura evitar conflitos porque os problemas surgem naturalmente. Se a estratégia do governo é estimular conflito, isso pode dificultar a entrega de resultados.


Despreparo administrativo e estratégia política agressiva são as palavras que definem o início do governo Jair Bolsonaro.

Na semana passada, ficou evidente a falta de estratégia clara a respeito da reforma da Previdência e a incapacidade do presidente da República de dar informações corretas sobre esse tema em particular e a economia em geral.

O despreparo, que já é grave, ganha a adição de uma estratégia agressiva que busca ver inimigos por todos os lados. Bolsonaro e seus filhos têm mirado no PT, Lula, imprensa, “globalismo marxista”, seja lá o que isso signifique.

Paulo Guedes, ministro da Fazenda, voltou a bater duro, falando em caixa preta nos bancos públicos, em associações perversas entre burocratas e políticos.

Ora, é preciso apresentar provas de crimes cometidos nos bancos públicos. Apontar suspeitas sem provas é uma atitude leviana, sobretudo na boca de ministro. Também é necessário entender que a exportação de serviços é prática global correta da maioria dos governos.

O Brasil tem projeção geopolítica na África e na América Latina. É natural que o BNDES tenha financiado projetos de empresas brasileiras que conquistaram obras. Se houve casos de corrupção nos contratos, que sejam apurados e punidos.

É falta de compreensão da economia internacional atacar suposta rede de corrupção nos bancos públicos. O que Joaquim Levy, ex-ministro da Fazenda de Dilma, pensa realmente sobre esse discurso a respeito dos bancos públicos e do BNDES? Como esteve no governo, Levy pode ajudar Guedes a obter provas de suas acusações.

Normalmente, governos buscam evitar conflitos. A gestão Bolsonaro opta por acirrar confrontos. Essa estratégia pode até funcionar na campanha. Afinal, deu certo para o novo presidente.

Mas governar com a estratégia agressiva contra tudos e todos costuma dar errado e dificultar a entrega de resultados. Nos EUA, o presidente Donald Trump, por exemplo, começa a ver que esse método tem limite.

Foram incomuns o nível de bateção de cabeça, de anúncios equivocados e de choques internos na primeira semana do governo Bolsonaro. Isso não é da tradição nacional, mas sinal preocupante da falta de preparo para administrar um país tão complexo como o Brasil. E a agressão como método também não trará boas novas.

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Bárbarie à vista

O futuro decreto de Bolsonaro para afrouxar as regras para posse e, eventualmente, porte de armas será um dos maiores erros de sua Presidência. É uma irresponsabilidade com a população.

Contraria tudo o que os principais especialistas dizem sobre combate à violência. É inacreditável que o ex-juiz Sergio Moro, ministro da Justiça, esteja dando aval a uma medida tão equivocada.

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Abacaxi federal

Os ataques no Ceará soam como um desafio a Moro e Bolsonaro. O Estado precisa vencer o crime organizado. Deve fazê-lo com inteligência. Há alguma em Brasília?

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