quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

Teto de Guedes encontra muro de Trump


Maria Cristina Fernandes

“Já se conhecem as cores de preferência da ministra dos Direitos Humanos para os enxovais de bebês, mas não se sabe como o ministro da Economia, Paulo Guedes, pretende financiar a transição para um sistema de capitalização na Previdência. O tema foi discutido durante toda a campanha sem que o economista, a despeito de reconhecer o custo elevado, revel[asse] como pretende bancá-lo.
(...)
No discurso de posse, Paulo Guedes vangloriou-se de ter propagandeado o sistema de Previdência chilena no Brasil antes de qualquer outro economista. Só esqueceu de dizer que o sistema de lá precisou de uma contrarreforma porque nem todos os chilenos conseguiram se manter em pleno emprego a vida inteira e chegaram à idade de se aposentar com um benefício inferior ao salário mínimo.

Por onde passou, o regime de capitalização foi acompanhado da elevação de impostos que o viabilizaram. Mas o governo Bolsonaro, segundo o capitão da economia, será pautado pela simplificação, redução e eliminação de impostos. Chegou a dizer que gostaria de reduzir a carga tributária dos atuais 36% para aqueles 20% que originaram o quinto dos infernos onde foi parar Tiradentes.

Não precisa ir tão longe. É bem verdade que o ministro da Economia não aderiu à tese da taxação de dividendos, que considerava um modismo da campanha eleitoral, mas poderia, por exemplo, retomar a alíquota de 20% da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) do sistema financeiro. A elevação de cinco pontos percentuais na alíquota foi aprovada em setembro de 2015 e vigeu até o dia 31 de dezembro de 2018. Injetou mais de R$ 15 bilhões na economia sem fazer cócegas no sistema financeiro. [legislação capitaneada pela então senadora Gleisi Hoffmann, pelo que sei]

No terceiro trimestre do ano passado, o lucro líquido dos quatro maiores bancos (BB, Bradesco, Itaú e Santander) cresceu 28%, a segunda melhor marca de toda a série histórica. Se espera fazer um ajuste de 4% do PIB cortando a gasolina dos carros do Ibama e desprezando fontes como a CSLL das finanças, o ministro da Economia acabará por convencer de que sua missão no governo se resume a melhorar a remuneração do capital.

GUERRA DE ATRITO
Durante a campanha eleitoral, o vice-presidente da República radicalizou a solidariedade ao titular, acamado em São Paulo em decorrência do atentado sofrido um mês antes do primeiro turno. Hamilton Mourão substituiu-o em todos os compromissos possíveis, preferencialmente aqueles dirigidos ao mundo empresarial. Deu as boas-vindas ao 'capital de risco' para estradas e ferrovias, sugeriu um seguro cambial para compensar o impacto da flutuação da moeda e disse que privatizaria 'tudo o que fosse preciso'. Falava como a reencarnação do tenente-coronel Mario Andreazza, pela coordenação a ser exercida na infraestrutura.

Depois de constatar que teria menos peso na formação do ministério do que Olavo de Carvalho e perderia o Programa de Parceria em Investimentos (PPI) para a Secretaria de Governo de Carlos Alberto dos Santos Cruz, investiu nas finanças e propôs o alongamento da dívida interna.
(...)
Fazia planos para o Brasil na mesma velocidade com que se punha a cobrar explicações dos filhos do presidente, de aliados e até de seus futuros colegas de ministério. A artilharia sofreu sua primeira avaria esta semana com a revelação de que seu filho havia sido agraciado com uma assessoria em seu emprego concursado no Banco do Brasil que elevou seus rendimentos para além do que ganha o pai. Não poderia esperar que a bonificação passasse incólume num governo que se dispôs ao desmonte da estrutura trabalhista e sindical.”

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