domingo, 6 de janeiro de 2019

Não há outro nome para quem defende o fascismo que não seja fascista

Cadu de Castro

Nas eleições de 2014, votei para Dilma Rousseff. Quando Dilma iniciou a montagem de seu ministério fui um crítico contundente. Figuras como Eduardo Braga, Kassab, Helder Barbalho, Edinho Araújo, Afif Domingos, e especialmente Joaquim Levy e grileiro-escravagista Kátia Abreu, eram prenúncio de uma tragédia que se consolidou. Tive discussões acirradas com amigos petistas por conta destas críticas, mas nunca me furtei a fazê-las.


Fui contundente ao reprovar ações efetivas do governo Dilma, como o criminoso veto à auditoria da dívida interna, o perdão de dívida de igrejas, a postura transigente frente ao crime ambiental da Samarco, entre outras. Portanto, desde que o governo que ajudei a eleger começou a se formar, ainda antes da posse, passei a adotar uma postura bastante crítica - e me refiro ao sentido de análise e reflexão - elogiando o que entendi como positivo, expondo e condenando o que achei negativo. Isto é crítica.

Quando aconteceu o golpe escrevi um artigo intitulado “Dormindo com escorpiões”, que foi publicado pela e-revista Língua de Trapo, da qual eu fazia parte do editorial. Mais uma vez fui cobrado por petistas, discutimos, debatemos. Mas mantive minha postura crítica, pois, entendo que a ética pede que lidemos com a política sob a ótica da razão e não da paixão, bem como análises com embasamento sólido. Escrevi também que a ruptura democrática causada pelo golpe traria consequências drásticas ao país. Foi o que aconteceu, o mea-culpa de Tasso Jereissati é prova disto. Para quem quiser confirmar estas análises críticas é só buscar no meu histórico no Facebook.

Enfim, política se trata com racionalidade. No entanto, vejo inúmeros eleitores do DESgoverno agindo como fãs - passionais até a medula. Falam o tempo todo em torcida, “vingança”- porém usam eufemismos do tipo "agora a esquerda terá de trabalhar”, etc. Desconhecem completamente o senso crítico. Dão-se à interpretação binária e maniqueísta de mundo, que o ídolo tanto propaga: esquerda e direita, bem e mal, família (conceito estreito, raso e cruel) e perversão, entre outros. A passionalidade os cega a ponto de não enxergarem o que está claro, cristalino e à sua frente: as ações fascistas que afetarão gravemente indígenas, quilombolas, comunidade LGBT+ e trabalhadores. Até quando condescenderão?

Ora, furtar-se à análise crítica é se apartar das realidades, e se apartar das realidades é se alhear, alucinar. Portam-se como um bando de tresloucados e chegam ao ponto de defender ou exaltar as ações fascistas do DESgoverno que, além de nomear condenados a corrupção para o ministério, não realizou um só ato positivo, construtivo. Todos os feitos são para destruir, sejam minorias, seja o meio ambiente. Portanto, é momento para se desvestir a hipocrisia e assumir mentalidades: não há outro nome para quem defende o fascismo que não seja fascista. É preciso nomearmos as coisas como são. Confesso minha decepção por esperar das pessoas a postura crítica que sempre tive.

Nunca condescendi com nenhum partido ou político, não o farei com um fascista. Para fascista não se torce, com o fascismo não se transige, mas se combate. A luta pelos direitos da pessoa humana jamais cessará, e essa nunca foi pauta de “comunista”, como indigentes intelectuais costumam dizer, mas daqueles que alimentam em si ao menos uma réstia de humanidade.

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