Claudio Guedes
A Folha de S. Paulo como projeto já vivia uma contradição há alguns anos. O jornalismo dito independente, criativo e democrático, não conseguiu se colocar como um polo crítico à nova realidade brasileira, dominada hoje pelos que defendem a regressão autoritária na política e nos costumes.
O jornal, na busca da sobrevivência, tentou buscar um novo público entre os representantes da nova direita e lhe franqueou espaços generosos. Perdeu o que tinha conquistado, como tribuna entre os democratas com preocupações sociais e relações com o mundo da cultura, e pouco agregou do novo, isso num momento histórico de crise do jornalismo impresso. O caminho escolhido apontava para aumento das dificuldades.
Hoje, a Folha de S. Paulo é parte pequena de um poderoso grupo econômico. Para a maioria dos acionistas - dois, Luiz Frias e a viúva de Otávio Frias - o jornal possui importância primordialmente como instrumento para assegurar prestígio e sobrevivência aos demais negócios. Enquanto for útil a este objetivo será mantido, com custos enxutos. Estes abandonaram a ideia de um “projeto” jornalístico que, com dificuldades em manter algum nível de qualidade, deveria ser suportado com parte dos lucros generosos do grupo, até se firmar, reconquistar sua identidade e conseguir ser autossuficiente. A jornalista Cristina Frias, terceira acionista, defensora desta alternativa, ficou isolada.
Ganharam os pragmáticos.
A escolha foi pela grana.
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