quinta-feira, 28 de março de 2019

Vices nas crises recentes do Brasil

Vice

Veríssimo

Dan Quayle foi vice-presidente dos Estados Unidos na gestão do Bush pai. Não tinha credencial aparente para o cargo e era um político tão medíocre e inexpressivo que logo surgiu um boato: caso acontecesse alguma coisa com o presidente Bush, o Serviço Secreto tinha ordens para sequestrar Quayle imediatamente e mantê-lo escondido até que fizessem novas eleições. Quayle também mereceu uma frase solidária do Nixon, segundo o qual os medíocres do país também precisavam ser representados.

A história política do Brasil a partir de Vargas tem sido uma sucessão de crises de sucessão, com vices influenciando diretamente a confusão —Jango substituindo Jânio, governando sob tutela e, finalmente, abatido, os generais de 64 se sucedendo mutuamente, a melancólica figura de Pedro Aleixo, vice de Costa e Silva, preparando-se para assumir a Presidência com a doença do general, uma ilusão que não durou 15 minutos, o Sarney substituindo o Tancredo Neves, o Itamar substituindo o Collor, o Temer substituindo a Dilma...

É sempre bom lembrar o que os vices significaram no nosso passado, e o que ainda podem aprontar no futuro. A perspectiva de sermos governados pelo general Mourão só obriga o Bolsonaro a zelar muito pela sua própria saúde, vacinar-se contra a gripe e controlar o colesterol. Se bem que há uma certa injustiça na reação ao que o general disse sobre a indolência dos índios e a malandragem dos negros, estereótipos antigos, simplistas, racistas e lamentáveis, certo, mas redimidos por uma triste realidade: grande parte da população branca do Brasil pensa a mesma coisa. E há os que veem na figura do simpático general uma alternativa para o presidente errático que ainda não acertou o passo.

Entre as conspirações circulando por aí, a mais bacana é a teoria do policial bom — o general Mourão só esperando a vez de substituir o policial mau, o Bolsonaro, que ninguém acredita que vá durar. Já estaria tudo combinado.

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