Muita gente tem escrito e dito que o governo tem uma "inteligência" por trás das idiotias. Primeiro, a primeira-dama era de uma "inteligência maléfica" pois havia chamado a atenção de todos com o teatrinho em libras. Depois, a foto com a caneta Bic e o leite Moça com pão...
Em seguida, as intervenções dos filhos no Twitter tinham a "clara intenção" de tirar a atenção das coisas importantes. Agora, surge um artigo de um jornalista falando dos planos por trás do tuíte da "golden shower". E assim a esquerda vai criando monstros em cima de monstros.
Não há NENHUMA base empírica nestas avaliações. Na História aprendemos que quem dá racionalidade às ações dos sujeitos é a racionalidade que reconstrói a narrativa. Uma vez que "o que realmente aconteceu" é inacessível a quem olha o passado, juntar as peças é dar sentido.
Ainda, há uma série de motivos para acreditarmos que NÃO HÁ nenhuma racionalidade por trás destes atos. O fascismo tem uma característica interessante, que no século XX muitas campanhas publicitárias tentaram replicar: o fascismo usa o que se chama de "inteligência coletiva".
Criando um vetor de sentido de ação, aberto suficiente para ser compreendido E COMPLETADO pelos sujeitos, o fascismo divide o protagonismo das ações. Por isto todas as ordens fascistas são abertas: "Fora PT", "Brasil acima de tudo", "limpar o Brasil" e etc.
Nenhuma ordem é fechada. Nenhuma implica em dizer ao sujeito que ouve o que é "Brasil", ou "PT" ou de que forma devemos "limpar" o brasil ... tudo isto são indicadores abertos, pedindo para que o sujeito complete. Assim o fascismo incita tanto quanto o cidadão está disposto a dar
Ou seja, se o sujeito é um completo alienado, ele pode pensar que matar um ministro do STF é "limpar o Brasil". Para outro menos alienado, riscar carros em que esteja colados símbolos da esquerda ou de lula pode cumprir o mesmo papel.
As ordens abertas com o enfraquecimento das instituições e um sentido permissivo vindo das autoridades convidam à escalada de violência. E isto sem que existe qualquer mente ardilosa por trás das ações. Ao contrário, se tem por certo que os líderes fascistas eram muito toscos.
Nem bolsonaro, nem seus filhos agem pensando nas consequências. Nenhum deles faz planos ou pensa no futuro. São burros e toscos. E isto é a força e a fraqueza do fascismo.
Força porque o fascismo funciona com ordens e noções simples. Derivadas da simplificação da moral humana no conflito entre o bem contra o mal. Tudo se torna preto e branco, certo e errado. Isto cativa e enche de sentido o mundo para aqueles que não têm condições de o compreender.
Com este tipo de narrativa, a ação social e política parece ser "compartilhada" por toda a população que o apoia e isto dá o sentido de "pertencimento" que faz o fascismo um fascínio para os toscos e ignorantes. Ele os empodera, dá sentido ao mundo e às suas vidas.
O crescimento de Bolsonaro no final do primeiro turno, têm o dedo das ações em rede social e planejamento militar de sua campanha (tinham dezenas de generais trabalhando nela), mas também do sentido social arranjado pela narrativa fascista.
Este ponto, da completa ignorância dos líderes fascistas, é também sua fraqueza desde que as oposições trabalhem pensando não no tempo presente, mas conectando suas ações com o futuro. Nenhuma das ações de Bolsonaro é pensada ou elaborada. São fruto de intempestiva idiotia.
Cabe à oposição perceber onde estas ações vão desembocar e planejar para que vários erros dele recaiam sobre mesmos pontos, potencializando os danos à sua imagem. Sun-tzu dizia que nunca se deve interromper um inimigo quando ele estiver cometendo um erro. É exatamente o caso.
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