segunda-feira, 4 de março de 2019

O Brasil é um país escroto

Alexandre Lemos

Eu não sei em que Brasil vivem as pessoas que estão surpresas pelas comemorações pela morte do neto do Lula. Tô nesse Brasil há quase 60 anos e ele sempre foi cheio de momentos como esse. Não sou capaz de determinar percentuais, mas há uma multidão de brasileiros sempre ávidos pelo linchamento e pelo usufruto da dor alheia. O Brasil não é uma merda porque uma minoria de merda nos governa. O Brasil é uma merda porque nossa sociedade é uma merda. É a sociedade inteira que mata jovens negros, espanca gays e espanca, mata e assedia as mulheres. O racismo é a marca registrada do Estado brasileiro e não só de uma minoria. Tô de saco cheio do ufanismo da direita, que elogia ditadores e capitalistas, mas também tô de saco cheio do ufanismo de uma certa esquerda que romantiza o povo e não enxerga a realidade. Somos um país escroto. Não conheço o mundo todo, nem perto disso, mas o Brasil é mais escroto que todos os outros lugares que já conheci, incluindo a América do Sul por quem o brasileiro adora demonstrar desprezo e superioridade. O fascista foi eleito com o voto de quase 60 milhões de eleitores e outros 42 milhões lavaram as mãos como um Pilatos de esgoto, ajudando a eleger o fascista. Ou seja: 100 milhões de brasileiros ou queriam ou não se importavam se o fascismo assumisse a presidência.

Somos escrotos na Fiesp, no Congresso, nas delegacias, nas igrejas, mas também somos escrotos nas periferias, nas favelas, nas escolas de samba, nos partidos de esquerda e em todos os outros lugares. Sempre fiz questão de frisar que as nossas tias que votaram no fascista não eram ingênuas ou ignorantes, elas são escrotas também, as famílias, as nossas famílias são escrotas.

Mudar a realidade depende de um primeiro passo básico: enxergar e reconhecer a realidade tal como ela é.

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