A história do Congo, desde 1880, é uma história de genocídios em prol da Segunda e da Terceira Revolução Industrial. Essa notícia só confirma isso. Apple, Google, Microsoft, todas dependentes do cobalto congolês:
A Unicef estima que existam aproximadamente 40 mil crianças trabalhando em minas de cobalto no sul da República Democrática do Congo. O material é um componente essencial das bateria que alimentam dispositivos eletrônicos. https://t.co/SNVn41wL5G— BBC News Brasil (@bbcbrasil) December 17, 2019
Quando o país buscou se libertar por uma via socialista, foi impedido pela ação combinada não apenas da antiga metrópole belga, ou do neocolonialismo dos EUA, mas da própria ONU. E por que?
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Porque a República Democrática do Congo (antigo Zaire, antigo Congo, antigo Congo Belga) é o maior país da África subsaariana. E um dos mais ricos em recursos estratégicos do planeta. DR Congo:
Foi vital no ciclo da borracha, entre 1890 e 1920, alavancando a indústria automobilística europeia.
Foi vital na produção de cobre para as potências capitalistas em guerra, entre 1920 e 1960.
Foi vital na produção de diamantes na informatização das indústrias nos anos 1980.
E é vital hoje, para todo o ramo da tecnologia da informação.
Que nós não saibamos a quantidade de sangue que tem nos aparelhos que usamos (como o PC de onde eu escrevo agora), apenas comprova alguns dos pressupostos mais básicos de Marx sobre o capitalismo.
O preço do "progresso" material das indústrias no século XIX esteve diretamente ligado a genocídios e massacres em lugares onde a ideia de trabalho livre assalariado era uma quimera. Escravidão, trabalho infantil, castigos físicos, extermínio...
Alguém pode dizer que o Congo não era "capitalista". Mas é incrível a quantidade de indústrias capitalistas que, ao longo dos últimos 150 anos, dependeram da extração de matérias-primas do maior país da África subsaariana.
E tem mais uma coisa: não sabemos nada sobre o Congo.
É uma ignorância planejada. Bismarck falava, na mesma época, que havia duas coisas que o povo não precisava saber como eram feitas: políticas e salsichas. A síntese bismarckiana que vale para embutidos, vale também para Iphone, Windows, Google Play...
Nossa ignorância sobre o Congo remete também ao romance de Joseph Conrad, "Coração nas Trevas". Conrad escreve o livro a partir de suas próprias memórias como marinheiro no delta do Congo...É uma obra ímpar da literatura mundial, denunciando os horrores do imperialismo.
E creio que sua atualidade está dada ainda hoje. Assim como Kurtz se depara com a barbárie que ele mesmo submeteu os congoleses, se observássemos de perto o custo humano de nosso "progresso", creio que também ficaríamos balbuciando: "o horror, o horror".
PS: Foto de 1904. Pai observa pé e mãos de seu filho, decepados por não ter cumprido a cota de coleta de borracha.
PPS: Cartaz de propaganda da empresa francesa de pneus, Michelin, na Austrália (1922). A Michelin era uma das grandes compradoras de borracha congolesa.
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