Ruy Castro
Os salles, damares, weintraubs, antônios e araújos já estão tomando os postos fundamentais
Letícia Dornelles, nova presidente da Fundação Casa de Rui Barbosa, por indicação de um deputado recém-expulso de seu próprio partido, não gostou de se ver reduzida a ex-roteirista de novelas da TV Record. Disse que já foi também redatora do Fantástico. E se tiver sido, igualmente, assistente de palco do Ratinho? Em que isso a qualifica para presidir um monumento cultural?
A Casa Rui é um museu, uma biblioteca, um instituto de pesquisa, uma editora acadêmica, um centro cultural e uma forja de profissionais. Abriga milhares de documentos e já produziu outros tantos. A história passada e presente do Brasil vive nos seus arquivos e do que deles extraem os estudiosos. Não é necessário falar no significado do acervo deixado por Rui Barbosa. Seus 70 anos de existência, desde 1930, falam por si —mesmo humilhada por sua atual sujeição a um Ministério do Turismo comandado por um desclassificado.
Letícia Dornelles é só um caso entre centenas de pessoas inexpressivas, nomeadas pelo governo Bolsonaro para cargos menos visíveis, mas fundamentais para o funcionamento de organismos da educação e da cultura —inexpressivas para a exigência dos cargos, mas sob medida para as intenções do governo. É um aparelhamento com o e um ranço religioso, pentecostal, ofensivo ao Estado laico.
Na verdade, essa infiltração está se dando em todos os ministérios e secretarias. Os Salles, Damares, Weintraubs, Antônios e Araújos são mais notórios pelos cargos que ocupam. Mas, sob eles, já há incontáveis salles, damares, weintraubs, antônios e araújos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário