quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

Mais do que ignorante e burro, Weintraub é truculento, malévolo e desonesto


Luis Felipe Miguel

Muita gente boa tem sugerido que os erros gramaticais bizarros de Weintraub são propositais e visam desviar a atenção de questões mais graves. Assim, ocupados com o "imprecionante", deixaríamos passar a afirmação mentirosa de que não se pesquisa segurança pública no Brasil.

Ou, pior, como diz a linguista Letícia Sallorenzo: a fim de denunciar o "imprecionante", ficamos replicando o tuíte em que ele mente sobre a pesquisa em segurança pública no Brasil. Aprendo muito com as postagens dela, mas no caso me permito discordar.

Eu ficaria muito surpreso se realmente houvesse um ardil por trás dos erros do ministro da Educassão. Acho que essa leitura se baseia em duas ilusões.

Primeiro, a ilusão de que alguém como Weintraub - que, bem ou mal, é professor concursado de uma universidade federal - não poderia ter tão pouca familiaridade com a norma padrão da língua portuguesa. Ou, sendo o caso, tão pouco discernimento, para não colocar um assessor para revisar seus textos.

Gostaria que fosse assim. Infelizmente, sou obrigado a discordar. Weintraub é um ponto muito fora da curva, mas não uma impossibilidade.

A segunda ilusão é mais grave. É de que ele estaria tão preocupado com nossa possível denúncia de suas mentiras que precisaria criar este estratagema.

Não creio que esteja. No público que lhe interessa, os maiores absurdos vão prosperar, não importa quantas evidências contrárias sejam apresentadas. Plantação de maconha, doutrinação marxista, pelados no campus, ausência de pesquisa...

Acho, na verdade, que os deslizes do ministro da Educassão na ortografia têm mais chance de desgastá-lo junto a esse público do que todas as outras barbaridades que ele diz e faz. Afinal, a correção gramatical, sobretudo ortográfica, continua sendo vista como o emblema máximo da competência, da boa formação e mesmo da inteligência.

É claro que Weintraub, por sua origem social, por sua trajetória profissional e por seus títulos escolares, tinha obrigação de dominar a norma padrão. Seus erros demonstram que é um inculto, avesso à leitura. E também que é um burro, já que não foi capaz de aprender a norma apesar dos muitos anos de estudo.

É claro também que seus erros crassos de português, por mais constrangedores que sejam, estão longe de ser seu pior defeito. Mais do que ignorante e mesmo mais do que burro, Weintraub é truculento, malévolo e desonesto.

Ao apontar seus erros de escrita, não devemos esquecer disso. Também não devemos reforçar o preconceito linguístico, lembrando sempre que a baixa familiaridade com a norma padrão da língua só é sintoma de déficit intelectual para alguém nas condições de Weintraub. Mas se é um jeito de mostrar para uma massa de pessoas como ele é desqualificado para o cargo, acho que está valendo.

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