A Folha de hoje traz uma entrevista inacreditável com uma fulana que tem um canal de finanças pessoais no Youtube.
Ela conta que teve sua epifania aos 8 anos de idade, quando decidiu economizar para comprar um carro aos 18. Parou de fazer lanche na escola para guardar dinheiro, passou a trocar presentes de Natal e de aniversário por dinheiro.
Quando completou 18 anos - olha a meritocracia em funcionamento, gente - ela não precisou das economias, porque ganhou o carro de uma madrinha. Então decidiu investir o que tinha guardado para comprar um apartamento.
O mais incrível de toda a entrevista é a pergunta que as repórteres fazem em seguida: "Investir é isso: ir de sonho em sonho?"
Triste mundo em que "sonho" virou sinônimo de aquisição de patrimônio.
Lembrei de um dos livros preferidos do Francisco quando era pequeno: O cofrinho da Carlota, do David McKee. (McKee é conhecido sobretudo pelo elefante Elmer, mas tem muitas outras coisas bacanas.)
Carlota ganha um porquinho de guardar moedas de presente. Acha um presente muito bobo, mas é convencida pelo próprio porquinho de que, se economizar, poderá realizar um desejo.
Ela se torna, então, nossa investidora-mirim. Passa a se privar de tudo para colocar moedas no porquinho. Embora nem sabia que desejo deseja desejar.
Quando ele está cheio de moedas, ele a engana para que ela enuncie, como desejo, que ele se torne um porco voador. E sai voando com todas as moedas dela.
Acho que é uma aula de educação financeira bem mais honesta do que a da youtuber.
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