Caro secretário de Comunicação, não sei se essa coluna vai chegar até o senhor, já que seu chefe cancelou as assinaturas da Folha. Sua agenda também deve ter outras prioridades, como disfarçar escândalos de corrupção da sua secretaria.
Escrevo para falar sobre os posts em relação à cineasta Petra Costa, na conta do Twitter da Secretaria de Comunicação. Imagino que o órgão esteja sem verba para contratar um tradutor, já que o texto, em inglês, foi redigido por alguém que repetiu o primeiro módulo do curso da Fisk. Compreensível, já que o senhor prefere usar dinheiro público para fins pessoais.
Galvão Bertazzi/Folhapress |
Nas postagens, a Secom acusa a cineasta de “sujar a imagem do país com uma série de fake news”. Bem, meu caro secretário, não sei se o senhor sabe, mas fake news, como o nome diz, são notícias falsas divulgadas por jornais, rádios e sites de origem duvidosa. Uma cineasta dando uma entrevista, mesmo que seja sobre a chegada do ET de Varginha, não é fake news. Usar a conta de órgão do governo para fazer uma falsa acusação é.
No tuíte seguinte, a Secom diz que Petra Costa, “sem o menor senso de respeito por sua terra natal”, alega que “a Amazônia vai se tornar uma savana em breve e que o presidente Bolsonaro ordena o assassinato de afro-americanos e homossexuais”.
Bem, meu caro secretário, talvez seu chefe tenha escondido os dados, mas os focos de queimadas na Amazônia aumentaram 30% em 2019. Se a cineasta está preocupada, então tem um senso de respeito pela terra natal. Além disso, em nenhum momento ela falou que o governo ordenou assassinatos. Mesmo porque “afro-americanos”, como escreveram no post, costumam viver nos Estados Unidos.
Por último, vocês acusam Petra de “denegrir uma nação”. Bem, meu caro secretário, “denegrir” é uma palavra que caiu em desuso. Mas, já que o senhor falou no assunto, sabe o que realmente prejudica a reputação de uma nação? Ministro da Justiça proteger filho de presidente. Secretário usar dinheiro público para favorecer, em milhões, a própria empresa. E órgão oficial usar o aparato do Estado para atacar artista, o que só valida o que Petra tem falado nas entrevistas.
Muito mais do que levar um filme brasileiro ao Oscar.
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