Não me parece que o planeta possa festejar o fim da pandemia enquanto num país de dimensão continental o vírus prospera e se reinventa em novas estirpes
A pandemia vem pouco a pouco recuando em todo o mundo — menos no Brasil. Nos jornais europeus e norte-americanos começam a surgir artigos sobre a nova era que aí vem. Há quem vaticine meses de intensa euforia, viagens, farras colossais, muito sexo e todo tipo de excessos. Enfim, uma reedição revista e melhorada dos loucos anos 1920.
O Brasil não deverá ser autorizado a entrar na festa. Um mapa do mundo que circula nas redes sociais sinaliza em vermelho os países que já não aceitam voos provenientes do Brasil; em laranja os que aceitam voos de emergência, e em verde os que aceitam todos os voos. Admitindo que este mapa esteja correto, então o Brasil não se encontra totalmente isolado. Os brasileiros ainda estão autorizados a visitar a República Centro-Africana, pequeno país de cinco milhões de habitantes, que se tornou relativamente conhecido durante o breve período em que foi governado por Jean-Bédel Bokassa. Jair Bolsonaro teria se entendido bem com Bokassa. O ditador africano foi, refletindo bem, um Bolsonaro que teve a oportunidade de desabrochar por inteiro, em toda a sua violenta maldade e perversão. Não me custa imaginá-los, Jair Bolsonaro e a prole, passando férias em Bangui, a poeirenta capital da República Centro-Africana, aproveitando para depositar flores no túmulo de Bokassa.
Por outro lado, não me parece que o mundo possa festejar o fim da pandemia enquanto num país de dimensão continental o vírus prospera e se reinventa em novas estirpes. Seria como organizar uma festa com um assassino psicopata preso com algemas de fantasia no quarto ao lado.
Não serve de muito impedir a aterrissagem de aviões provenientes do Brasil. Numa pandemia como esta, ou todos os países conseguem controlar o vírus, ou este acabará retornando em formas mais perigosas.
Como afirma um recente manifesto assinado por Chico Buarque, Leonardo Boff, Zélia Duncan e muitos outros artistas e intelectuais, a terrível incompetência do atual presidente brasileiro em lidar com a pandemia compromete o bem-estar de toda a Humanidade e a recuperação da economia global. Bolsonaro deixou de ser apenas um problema brasileiro para se transformar numa ameaça a todos os povos.
O mundo não pode permitir o colapso sanitário do Brasil. Assim, mais cedo ou mais tarde, terá de enfrentar Jair Bolsonaro. Todos os brasileiros acabarão sofrendo as consequências de tal conflito. As restrições nas viagens ao exterior serão, por certo, o menor dos problemas. A pressão internacional incluirá sanções políticas e econômicas, além de boicotes aos produtos brasileiros e interdição de participação em eventos desportivos internacionais. Lembram-se da África do Sul do tempo do apartheid? O Brasil será a África do Sul do apartheid do século XXI.
Não vejo como o Brasil possa escapar a este destino, a menos que a democracia brasileira consiga reagir e afastar Jair Bolsonaro. Nesta guerra entre a Humanidade e um vírus, Bolsonaro está (sem surpresa) do lado do vírus. É ele ou nós — todos nós.
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