segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

Como enganar a esquerda brasileira em cinco atos


Fernando Horta

1 - Diga que o sistema partidário está podre e que todos os partidos são iguais, que não existe mais "direita" nem "esquerda" e chame "protestos apartidários" por pautas difusas e sem nenhuma liderança.

2 - Diga que "as instituições estão funcionando" e que qualquer protesto violento é "desculpa para eles usarem a força e fecharem o regime". Que nossa forma de resistência é fazer danças, saraus, cantorias e abaixo-assinado virtual.

3 - Passe anos falando que "luta de classes" é um conceito obsoleto que não responde mais à realidade do século XXI. Denuncie o "determinismo econômico" em Marx, e batalhe pela importância das pautas identitárias até que ninguém mais se reconheça como proletário. Comemore a troca do processo de "formação de consciência de classe" por "subjetivação".

4 - Crie a corrupção sem corruptores. Um tipo de crime em que só o agente público (ou coletivos partidários) é culpado por todas as mazelas. Ao mesmo tempo, seja moderno e fale em favor da "iniciativa privada" como motor do processo econômico. Defenda que é possível "ser de esquerda" e "defender o capitalismo". Use frases de coachs e palestrantes motivacionais e mostre como é "honrado" um desempregado trabalhar no Uber e mostre como os partidos verdes na Europa pactuam as coisas.

5 - Diga que "transparência" é igual a "voto aberto" e que tudo isto "fortalece a democracia". Afirme que não há violência nas redes sociais e que o Jean Wyllys "abandonou a luta". Defenda o "voto aberto" como forma de "accountability" e diga que mídia, exército, capital, milícias, igrejas, seitas e etc, não têm nenhuma possibilidade de ameaças ou constranger os parlamentares pelos seus votos.

Depois de fazer isto, entregue a presidência da república a um energúmeno que não consegue juntar 3 frases. A presidência da Câmara para o "novo" político filho do Cézar Maia. A presidência do senado para um poste do Onyx Lorenzoni. Todo o Congresso Nacional na mão do Democratas (antigo PFL, antiga ARENA). Permita a eleição de duas dezenas de parlamentares incapazes, desonestos e autoritários.

E, por último, assista Deltan Dallagnol ser nomeado para Procuradoria Geral da República e os reitores de universidade escolhidos sem votação.

Fim.

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