A decisão do TST é um primor. Se Ellen Meiksins Wood estivesse viva, bem poderia usá-la para acrescentar uns parágrafos a seu importante artigo sobre como a separação entre economia e política é um produto ideológico que cumpre a função de conter as demandas da classe trabalhadora.
Greves contra privatizações são "políticas", não "econômicas", e portanto ilegais. A maneira como a maioria do tribunal, comandada pelo notório Ives Gandra Filho, maneja estas categorias é tão rasa que não pode ser ingênua. É deliberada.
Como uma privatização, que aponta para demissões, redução de salários, deterioração das condições de trabalho e perda de autonomia laboral, não afeta os interesses estritamente "econômicos" dos trabalhadores?
Por que os trabalhadores de uma empresa - e ainda mais uma empresa pública - devem ser vistos como externos a ela ou então como maquinaria inanimada que é disposta a bel-prazer dos patrões, não como partícipes interessados em seu futuro? Uma visão tão lockeana do contrato de trabalho parece alguns séculos atrasada.
A hilária referência aos "representantes do povo" que deveriam legislar num vazio de pressões sociais, à la Schumpeter, levanta outra questão: por que a classe burguesa pode usar permanentemente todas as suas armas para garantir que o Estado atenda a seus interesses, mas a classe trabalhadora deve ficar passiva?
Um dos paradoxos do Brasil dos retrocessos: somos constrangidos a defender a justiça do trabalho, que os radicais da nova ordem querer extinguir para estabelecer plenamente a lei da selva nas relações entre empregadores e empregados. Mas a justiça do trabalho é, sempre foi, pensada como um instrumento de contenção das reivindicações da classe trabalhadora - uma contenção, no entanto, que passava por acomodações, concessões, redução de tensões. É isso que o capital hoje julga desnecessário.
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