domingo, 21 de julho de 2019

Bolsonaro adota a mentira como prática cotidiana

A mentira como método 

Bernardo Mello Franco
Aprendiz de Trump, Bolsonaro adota a mentira como prática cotidiana. Na sexta, disparou embustes sobre educação, fome, agrotóxicos e desmatamento
Todos os políticos mentem, mas alguns mentem mais do que os outros. Com Donald Trump, a mentira virou método de governo. O presidente dos EUA espalha fake news como quem troca de camisa. Desde o início do mandato, já divulgou mais de dez mil informações falsas ou distorcidas. A conta é do jornal “The Washington Post”, que criou um site só para registrar as cascatas do republicano.

Jair Bolsonaro é admirador declarado de Trump. Na campanha, seguiu sua receita de tuítes incendiários e “fatos alternativos”. Disseminou embustes sobre as urnas eletrônicas, a distribuição de livros escolares e a própria atuação no Congresso.

No poder, o presidente adotou a mentira como prática cotidiana. Na sexta-feira, ele bateu uma espécie de recorde pessoal. Em entrevista à imprensa estrangeira, mentiu sobre a fome, o desmatamento, a educação e o uso de agrotóxicos no país.

“Falar que se passa fome no Brasil é uma grande mentira. Passa-se mal, não come bem. Aí eu concordo. Agora, passar fome, não”, disse. O último relatório da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) mostrou que 5,2 milhões de brasileiros vivem em grave situação alimentar. Devem ser cidadãos invisíveis para o presidente.

Em resposta a um correspondente alemão, Bolsonaro disse que o Brasil está “nos últimos lugares no tocante ao uso de agrotóxicos”. A mesma FAO informa que o país é o mais consumidor de pesticidas no mundo. Nos primeiros seis meses do ano, foram liberadas 239 novas substâncias.

Questionado sobre a Amazônia, o presidente repetiu a cantilena de que “nós podemos ensinar qualquer país do mundo a proteger seu meio ambiente”. Mais tarde, alguém o lembrou de que o desmatamento da floresta cresceu 60% em junho. Irritado, ele contestou os dados oficiais e sugeriu que o diretor do Inpe estaria “a serviço de alguma ONG”.

Bolsonaro também disse que “a educação aqui no Brasil, nos últimos 30 anos, nunca esteve tão ruim”. A afirmação não bate com a vida real. Em 1991, o país tinha 20% de analfabetos. Hoje tem 6,8%, de acordo com o IBGE.

O presidente ainda usou informações falsas para atacar Míriam Leitão. Disse que a jornalista participou de ações armadas contra a ditadura, o que não ocorreu, e contestou as torturas que ela sofreu num quartel do Exército, relatadas à Justiça Militar.

Dois dias antes, Trump sacou outras mentiras para difamar a deputada Ilhan Omar, nascida na Somália. Chegou a acusá-la de simpatizar com o terrorismo, reforçando o preconceito contra os muçulmanos.

Além do uso contumaz de mentiras, os insultos de Trump e Bolsonaro têm outra característica em comum. Seus alvos preferenciais são as mulheres.

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Na sexta, Bolsonaro anunciou mais um desejo autoritário. Quer impor um “filtro cultural” ao financiamento do cinema brasileiro. “Nem na época da ditadura existiu isso”, afirma o produtor Luiz Carlos Barreto. Aos 91 anos, ele lembra que o regime militar só censurava os filmes depois que estavam prontos.

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