quarta-feira, 24 de julho de 2019

O mito e a mitomania


Zuenir Ventura

Dizem que político mente por dever de ofício. Mas há os que abusam. O site Intercept garante que Bolsonaro, por exemplo, mentiu publicamente 200 vezes desde que tomou posse, isto é, mais de uma mentira acada 24 horas. A julgar pelos últimos dias, o número não é exagerado.

Em uma só manhã, o presidente mentiu para a imprensa estrangeira sobre a fome, o desmatamento, a educação, o uso de agrotóxicos. Ele às vezes tem o comportamento de um mitômano, mente por compulsão.

Na primeira entrevista ao “Jornal Nacional” depois de eleito, ele disse que sua bandeira era a passagem bíblica “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. E terminou dirigindo-se aos crédulos: “Agradeço aos que acreditaram na verdade e confiaram no meu nome nas urnas”.

Aos correspondentes, no entanto, ele afirmou que não existia fome no Brasil. Depois, ao tentar consertar, mentiu novamente, admitindo que apenas“alguns” não têm acesso à comida—na realidade são mais de cinco milhões de brasileiros nessa situação.

Quanto ao desmatamento, o Brasil não é o país que mais preserva o meio ambiente, como ele anuncia. Está em 30º lugar, de acordo com o Banco Mundial.

Mas o que mais irritou Bolsonaro foi o Inpe revelar o aumento de 88% em relação a julho de 2018, ou seja, mais de mil quilômetros quadrados de floresta. Em vez de xingar os grileiros, ele acusou os dados de “mentirosos” e insinuou que o diretor do Inpe, Ricardo Galvão, estava a serviço de alguma ONG.

Galvão classificou as acusações como “piadas de um garoto de 14 anos” e disse que o presidente não respeita a dignidade e a liturgia do cargo. Também a SBPC divulgou manifesto em apoio ao Inpe e a seu diretor .“Dr. Ricardo Galvão é um cientista reconhecido internacionalmente, que contribui para a ciência, tecnologia e inovação do Brasil ”.

Quanto a Míriam Leitão, Bolsonaro mentiu, acusando-a de mentir sobre sua prisão. Mas ele já comentou a cena em que os torturadores puseram na sua cela uma jiboia e apagaram aluz .“Coitada da cobra ”, debochou o então deputado.

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