sexta-feira, 5 de julho de 2019

Quatro comentários sobre a reportagem da Veja

1) É, sim, bombástica, em vários sentidos:

- Porque parece ter sido editada com muito cuidado e apoio de profissionais do direito;

- Porque é precedida de uma carta ao leitor que detalha por que a revista se convenceu de que o material do Intercept é verdadeiro e a lavajato foi cheia de ilegalidades;

- Porque demonstra que o comportamento de Moro e Deltan (ou o MPF) era sistemático;

- Porque traz diálogos ainda mais vexatórios do ponto de vista do devido processo legal e do Estado de direito;

2) Destaco uma dessas trocas, a que mostrava que o MPF perderia um prazo porque estava esperando um documento, mas o juiz vai cobrá-lo a se manifestar nos autos, a fim de que possa exarar a decisão que já tinha em vista exarar. De quebra, ainda recebe por Telegram a prévia da peça. Difícil sustentar que isso é "normal";

3) Ainda há muito mais a sair. A Veja analisou 700 mil mensagens (ainda faltam 300 mil) e destacou apenas um tema (a parcialidade do juiz);

4) A Veja só precisa tomar cuidado para não repetir um dos maiores crimes da lavajato: o mau uso do português (Segundo as más línguas, "Agradeço se me manter informado" [sic] seria o suficiente para atestar a veracidade da mensagem disparada por Moro). Ao final do texto, dizem os repórteres: "não se trata aqui de uma defesa do Lula Livre nem de estar contra a Lava-Jato. Mas, sim, do direito INEXORÁVEL que todos os cidadãos têm de um julgamento justo." Lendo essa passagem, veio-me à mente o uso de "acepipes" pelo Ministro Weintraub, quando queria nitidamente dizer "asseclas". "Inexorável" quer dizer algo que não se pode evitar. A reportagem mostra que o direito a um julgamento justo pode ser evitado sim.

Fabio Sá e Silva


Nenhum comentário:

Postar um comentário