domingo, 6 de outubro de 2019

A ascensão do fundamentalismo


Não é certo, penso, sempre atribuir às esquerdas a responsabilidade pela ascensão do fundamentalismo e o estado de coisas lamentáveis que hoje vivemos.

O cidadão (burguês) de modo geral, não quer ter compromissos políticos (não digo nem partidários), não quer ter que dividir seu tempo (menos ainda o de lazer e TV) com problemas de seu bairro ou comunidade, com discussões sociais, com busca de soluções "políticas" etc. e tal., que são prerrogativas de consciência política, sobretudo à esquerda. Com isso, procura sempre terceirizar esses compromissos jogando-os nas mãos de "despachantes" de toda natureza: o professor, o vereador, o político profissional, o líder comunitário ou religioso etc. Cria, assim, um vácuo social para o qual somente discursos e narrativas que não o solicitem podem trazer "vantagens", desde que não o comprometam - donde se torna inviável qualquer discurso "à esquerda" que exija mobilização. Daí o campo aberto a discursos religiosos que terceirizam, por sua vez, as ações a um suposto poder divino que tudo pode, tudo resolve na sua enorme onipotência e onipresença, ou discursos mantenedores do status quo que apostam na letargia, quando não no risco da obrigação de assumir compromissos "desagradáveis".

Entendi isto quando, por muitos anos, atuei junto a associações de bairro e de região. Ninguém queria entender o que era Conselho Tutelar, Conselho Participativo, Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal, Ministério Público, Subprefeituras, Vigilância Sanitária, Secretaria de Ação Social... Para tudo isso, queriam que fôssemos apenas "despachantes", desses que a classe média paga (reclamando, mas paga) para resolver problemas de cartórios, Detran etc...

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