quarta-feira, 2 de outubro de 2019

General Mourão teve aulas de história do Brasil com um coach

                                                                                   Catarina Bessell

Gregorio Duvivier

Se eu ganhei essa terra do Rei é porque eu me-re-ci
Vice-presidente teve aulas de história do Brasil com um coach
Talvez temendo ter o mesmo destino de Santos Cruz, general degolado por cometer crime de sensatez, Mourão estava quieto nos últimos meses. Triste fim dos generais que se escondem por medo do filho de um capitão. Platão escreveu sobre militares que, escondidos num grotão, só têm acesso ao mundo através de uma fresta de luz —o mito da caserna.

Eis que o vice-presidente despiu o pijama no sábado para nos lembrar de uma efeméride que, se não fosse por ele, passaria batida. No dia 28 de setembro de 2019, completaram-se 487 anos desse puta case de sucesso que foi a criação das capitanias hereditárias, quando, segundo o general, “o país nascia pelo empreendedorismo que o faria um dos maiores do mundo”.

Primeiro, achei curiosa a noção de empreendedorismo do general. Empreendedor, ao que parece, é como ele chama um rico que recebe um latifúndio de presente do Estado.

Acho que Mourão teve aulas de história do Brasil com um coach. Portugal, se você parar pra pensar, funcionou como uma incubadora de startups.

Todo o mundo sabe como é difícil começar. O latifúndio presenteado aos jovens foi apenas um aporte dessa aceleradora de startups chamada Coroa Portuguesa. Ah, mas poucos ganharam terra. “Se eu sou amigo do rei é porque eu me-re-ci.”

Faltou dizer que os empreendedores administraram tão porcamente suas capitanias que o rei desistiu da ideia e tomou as terras de volta. Bom, não é a primeira vez que Mourão passa pano pra um capitão que está administrando porcamente uma terra.

Depois da grita da esquerda revoltada com o revisionismo, no dia seguinte o general fez uma ressalva e lembrou que eram vários os “shareholders” dessa startup tão bem sucedida. “Donatários, bandeirantes, senhores e mestres do açúcar, canoeiros e tropeiros, com suas mulheres e famílias, fizeram o Brasil.”

Isso em marketing se chama “rebranding”. Senhor de engenho escravagista? Não. Prefiro chamar de “mestre do açúcar”. Parece que ele está falando do vencedor do “Cake Boss”.

Quanto aos negros e aos indígenas, nem uma palavra. Empreendedores para mim foram os tupinambás que, esses sim, empreenderam um levante contra a capitania da Bahia e devoraram o donatário Francisco Pereira Coutinho na Ilha de Itaparica.

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