Fernando Brito
O poder, frequentemente, é o exercício da solidão, mesmo que sempre cercado de gente e em meio ao burburinho de solenidades e reuniões.
É não permitir-se brincar, descontraído, é não poder falar cruamente, é não poder sequer se mover sem pensar que, à espreita, há sempre uma câmera a registrar seus movimentos.
No caso de Jair Bolsonaro, tudo é pior, esta solidão torna-se delírio.
É homem que viveu sem amigos, que abusa dos chistes e e inconveniências, é dado a falar sem freios e gargalha de suas próprias piadas, ou do que ele crê que sejam.
Não considera o que outros irão achar ou pensar, porque não consideram que achem ou pensem, apenas que o bajularão.
Bravateiro, conta com a covardia alheia. Vaidoso, acha que um maço de chavões e sensos comuns bastam para fazer dele um homem preparado e a conversa de porta de botequim, um comunicador.
Não percebe que a única coisa em que se aproxima da perfeição é na personificação da estupidez.
É tudo o que de mau os donos destes país gostariam de ser, mas sempre tiveram vergonha de parecer.
Bolsonaro é, de fato, a encarnação de um ethos da escrotidão, o lado vil que por muito tempo pensamos que era só uma caricatura de nossos próprios defeitos, uma espécie de face oculta dos homens de bem e “de família”.
Nisto, porém, o ex-capitão é coerente.
Para Bolsonaro, a política é um negócio familiar, com o qual ele criou seus playboys, que parecem ocupar o único espaço macio em um alma petrificada.
Tudo e todos mais são apenas utensílios de sua ambição e seus ódios, inclusive Deus e o Brasil.
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