Ana Lucia Azevedo
Devastação cresce quando cai o combate ao crime que destrói a floresta e faz Brasil voltar a ser vilão ambiental.
O Brasil fez o relógio andar para trás e regrediu ao tempo em que era um dos vilões globais do meio ambiente. Há 11 anos não se via tamanha destruição na Amazônia. Porém, mais significativo é o fato de este ser o maior percentual de aumento em duas décadas, com avanço de 29,5%, atingindo 9.762 km². Ele mostra que a devastação cresceu à medida que diminuíram a governança e o combate ao crime que bota a floresta abaixo. Como lembra a diretora de Políticas Públicas do Instituto Socioambiental, Adriana Ramos, 90% do desmatamento são ilegais.
Em 1998, o percentual de desmatamento subiu 31%. Mas, à época, o presidente aumentou a proteção para a floresta. Agora, não houve anúncio de qualquer medida nesse sentido.
E não há sinal de alívio à vista. Ao contrário.
O Deter continuou a alertar para a explosão do desmatamento nos meses de agosto, setembro e outubro —fora dos números de Prodes divulgados ontem.
Agosto foi ferro e fogo. As queimadas ardiam enquanto correntões, motosserras e tratores botavam a mata abaixo. Graças, sobretudo, à ação das Forças Armadas, as queimadas tiveram redução recorde em setembro. Mas não o desmatamento. Este continuou a crescer com fôlego. Caiu agora em novembro, mês em que não se desmata devido à chuva.
Enquanto a floresta tombava, o presidente Jair Bolsonaro revogou o decreto que impedia o plantio de cana-de-açúcar na Amazônia e no Pantanal. E a Moratória da Soja, uma iniciativa do setor privado que tem evitado perdas na floresta, foi criticada pelo Ministério da Agricultura. O governo argumenta que o Código Florestal é suficiente. Se fosse, não estaríamos vendo a floresta virar capim, frisa a professora da UnB Mercedes Bustamante.
O Brasil havia conseguido combater com êxito o desmatamento e alcançado protagonismo inédito, que irrigaram negócios como a bioenergia. Agora, a reputação e a credibilidade na capacidade de governança da floresta estão tão queimadas quanto a Amazônia e o Pantanal. O clima internacional para o Brasil é péssimo, afirma o climatologista Carlos Nobre, um dos maiores especialistas do mundo em mudança climática e Amazônia.
O país vai contra as suas próprias metas de controle de mudanças climáticas, estabelecidas pela Lei 12.187. O compromisso brasileiro era não desmatar mais do que 3.900 km² até 2020. A meta caiu com a floresta. De agosto à primeira semana de novembro, o Deter registrou 3.929 km², e cabe lembrar que o Prodes neste ano teve taxa 42,8% maior do que o sistema de alertas.
Chegaremos à próxima Cúpula do Clima , em dezembro, em Madri, vitrine global para as políticas nacionais de meio ambiente, com as mãos sujas de terra arrasada.
O ano de 2020 nem começou e já tem no chão da Amazônia combustível para novas queimadas. Na Amazônia desmatada, o futuro tem a cara do atraso.
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