Embora a publicação de artigos científicos do Brasil tenha tido um salto de quase 70% em uma década, a escassez de recursos e o corte de bolsas ameaçam a área, segundo cientistas brasileiras ouvidas pelo G1.
O panorama da ciência no Brasil é “assustador, ameaçador e pode se tornar irreversível”, afirma a biomédica e pesquisadora Helena Nader, que recebe nesta terça-feira (11), Dia Internacional de Mulheres e Meninas na Ciência, o prêmio “Carolina Bori Ciência & Mulher”, da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).
Aos 72 anos, ela é uma “ferrenha” defensora da ciência e da educação brasileiras. Nader vivenciou, ao longo de décadas, as melhorias e investimentos que foram feitos na área, mas que, no último ano, passa pela escassez de recursos e corte de bolsas de pesquisa.
Dados da National Science Foundation (NSF), dos Estados Unidos, mostram o avanço da ciência no país. Em uma década, o Brasil teve um salto de 69,4% no número de artigos científicos publicados. Em 2008, eram 35.490 publicações. Os dados mais recentes, de 2018, apontam 60.148 artigos publicados. De acordo com a NSF, o Brasil é o 11º no ranking de publicações científicas, à frente do Canadá, Espanha, Austrália e Irã.
Ranking de países por artigos científicos, de acordo com a NSF — Foto: Elida Oliveira/G1 |
Embora o orçamento do Ministério da Ciência e Tecnologia tenha tido um leve aumento de 6,2% em 2020, se comparado ao ano anterior, os recursos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) sofreram redução de 30% e a taxa de fomento a pesquisas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) – usada para compra de insumos e equipamentos – teve corte de 80%, afirma Fernanda Sobral, vice-presidente da SBPC.
Um levantamento da entidade aponta que, até outubro de 2019, o Brasil perdeu 17.892 bolsas de estudos devido ao contingenciamento de recursos na área.
Em comparação com outros países, o Brasil investe cerca de 1% em pesquisa e desenvolvimento, metade do percentual médio dos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
“Montar esta estrutura levou décadas e, para desmontar, leva-se dias”, afirma. “Perdi 5 pessoas que formei e que estavam bem colocadas na ciência do Brasil, mas que foram embora para liderar grupos de pesquisa e outros países”, afirma Helena Nader, biomédica e vice-presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC).
A consequência da falta de investimentos, diz Nader, é que o país vai perder em produtividade e relevância e ficará dependente da produção de outros países que farão a tecnologia que o Brasil pode vir a precisar.
Isso pode refletir nas respostas a crises nacionais, como a da Zika em 2015. “Quem descobriu tudo do vírus? Cientistas brasileiros: Fiocruz, universidades, houve uma articulação e rapidamente se deu uma resposta”, afirma.
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