terça-feira, 19 de maio de 2020

Com mais de mil mortes em um dia, Brasil tem um óbito a cada 73 segundos


No tempo em que você lê este texto até o final, ao menos uma morte oficial por covid-19 será registrada no Brasil. A última atualização do Ministério da Saúde, divulgada hoje (19), mostra que, nas últimas 24 horas, foram contabilizados 1.179 óbitos pela doença causada pelo coronavírus, com média de uma a cada 73 segundos. Ao todo, o país registra 17.971 mortes pela covid-19.

O país atingiu 271.628 diagnósticos, sendo 17.408 casos confirmados entre ontem e hoje. Ao menos 146.863 seguem em acompanhamento e, segundo a pasta, cerca de 106.794 se recuperaram da doença.

Trata-se de um novo recorde de mortes registradas em um dia, passando os 881 óbitos contabilizados na terça-feira passada (12). Os picos têm sido neste dia da semana porque, entre sábado e domingo, os dados não são registrados no sistema na mesma velocidade que nos dias úteis.

Hoje foi o primeiro dia nesta pandemia em que o Brasil contabilizou mais de mil mortes pela covid-19. Trata-se do quinto país do mundo a chegar neste patamar, após Estados Unidos, França, Reino Unido e China.

Enquanto a maioria dos países mais afetados pela doença já está do outro lado do pico de contaminações, o Brasil ainda vê a covid-19 em fase de aceleração, e ninguém sabe com certeza quanto esta etapa vai durar.

"Depende muito do confinamento das pessoas. Se o isolamento social for baixo, há um aumento rápido no número de mortos. Se o isolamento for rígido, acontece menos mortes e o pico é diluído ao longo do tempo. Enquanto estiver como hoje, meia boca, vai continuar morrendo muita gente", alerta o infectologista Marcos Boulos, da Superintendência de Controle de Endemias de São Paulo (Sucen-SP).

Por trás dos números, tragédia é ainda maior

Os 1.179 óbitos registrados nas últimas 24 horas não significam que todas estas pessoas morreram de ontem para hoje, mas sim que as mortes foram oficializadas como relacionadas à covid-19.

Ainda que o Ministério da Saúde divulgue o total de mortes todos os dias, o número está sempre desatualizado porque os resultados dos exames demoram a sair. Há casos em que uma morte causada pela doença demora até 50 dias para entrar nas estatísticas do governo, conforme apurado pelo UOL.

Também há subnotificação. Segundo os dados oficiais, o Brasil realizou 386,5 mil testes não específicos de covid-19 (que identificam vírus respiratórios no geral). Com isso, a taxa de testagem é de apenas 1,82 por 1 mil habitantes, enquanto as taxas de Itália (50,3) e Estados Unidos (37,4) são mais de vinte vezes maiores.

Quem testa menos naturalmente faz menos diagnósticos de covid-19, explica o infectologista Eliseu Waldman, da Faculdade de Saúde Pública da USP (Universidade de São Paulo).

"A falta de testes é um problema. Muitos óbitos ficam como suspeitos: tiveram uma Síndrome Respiratória Aguda Grave e suspeita de covid-19, mas nunca confirmada. Temos certeza de que existe a subnotificação tanto de casos quanto de mortes, mas o grau disso nós ainda vamos demorar a saber", diz Waldman.

Um levantamento feito pela USP no início do mês aponta o país como novo epicentro mundial do coronavírus. O estudo faz cálculos de casos subnotificados e apresenta uma projeção muito superior aos números apresentados pelo ministério, com o Brasil ultrapassando mais de um milhão de diagnósticos — os números foram calculados com base na incidência de infectados na Coreia do Sul, um dos países com maior testagem na população.

O país é o terceiro com maior número de infectados pela covid-19 no mundo, atrás de Estados Unidos (1.524.107 casos) e Rússia (299.941 diagnósticos). O top 10 segue com o próprio Brasil, seguido por Reino Unido (250.138), Espanha (232.037), Itália (226.699), França (180.933), Alemanha (177.778), Turquia (151.615) e Irã (124.603). Os dados são da universidade Johns Hopkins, referência em pesquisas sobre o novo coronavírus.

* Colaborou Juliana Arreguy

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