Não é call, é ligação.
— André Rochadel em 🏡 🇧🇷🤍💙 (@andre_rochadel) July 29, 2020
Não é job, é trabalho/bico.
Não é deadline, é prazo.
Não é budget, é orçamento.
Não é Meeting, é reunião.
Não é case, é um projeto ou relato.
Não é briefing, é instruções/roteiro.
Não é mindset, é mentalidade.
Não é coach, é pilantra.
sexta-feira, 31 de julho de 2020
Learn portuguese today!
E la nave va
E LA NAVE VA
O Brasil foi racional e intencionalmente conduzido para o abismo. Tudo aconteceu por etapas. Tivemos a etapa do pré-golpe (sabotagem direta contra o governo Dilma), tivemos a anulação injustificada dos direitos civis de Lula e a sua criminalização forjada. Tivemos a eleição fraudulenta de um tenente de circo poeira, sustentado por generais de cera e boca de leão banguela.
Hoje, morrem um mil e duzentos pessoas por dia, vitimadas por uma "gripezinha", e para a qual o governo não tem a menor política de proteção à saúde da população.
Alan Parker, diretor de cinema, morre aos 76 anos
Alan Parker, diretor de "O Expresso da Meia-Noite", "Mississipi em Chamas", entre outras obras do cinema, morreu aos 76 anos.
Segundo a imprensa internacional, Parker morreu na manhã desta sexta-feira-feira (31), em Londres. O Instituto Britânico de Cinema (British Film Institute), do qual o cineasta é ex-presidente, confirmou a morte. "Estamos profundamente tristes com a morte de Alan Parker nesta manhã", escreveu a instituição em mensagem no Twitter.
Nascido em Londres, na Inglaterra, Alan iniciou a carreira como redator publicitário, migrando para a direção de comerciais e iniciando seus trabalhos no cinema na década de 1970.
Alan ficou conhecido por seu trabalho em filmes como "Fama", "A Chama que não Se Apaga" e "The Commitments - Loucos pela Fama", além do longa "Evita", estrelado por Madonna. Ele também escreveu o livro "Bugsy Malone", que deu origem ao filme "Quando as Metralhadoras Cospem", dirigido por ele.
Ao longo da carreira, o diretor foi indicado diversas vezes em prêmiações como Oscar, Bafta e Globo de Ouro. Seu último filme com diretor foi "A Vida de David Gale", estrelado por Kevin Spacey e Kate Winslet e lançado em 2003.
Em 1984, Parker foi homenageado pela Academia Britânica com prêmio Michael Balcon Award por sua contribuição ao cinema. Em 2013, foi novamente reconhecido por seu trabalho e recebeu o Bafta Fellowship, prêmio entregue pela Academia Britânica de Artes do Cinema e Televisão, em reconhecimento "à contribuição considerável e excepcional ao cinema".
"Quando você faz seu primeiro filme, tem certeza que será o seu último. E então você aperta os olhos e de repente, quarenta anos depois, você está no Bafta ganhando um prêmio como este", disse Parker em comunicado ao receber a honraria.
Casado com Lisa Moran-Parker, Parker deixa cinco filhos e sete netos.
Andrew Lloyd Webber, compositor da trilha sonora de "Evita", lamentou a morte do cineasta. "Muito triste por ouvir a notícia sobre a morte de Alan Parker. Meu amigo e colaborador em ‘Evita’ e um dos poucos diretores que realmente entendiam de musicais no cinema".
A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas também lamentou a morte e citou Alan como um "camaleão". "Seu trabalho nos entretinha, nos conectava e nos dava um grande senso de tempo e espaço. Um talento extraordinário, sentiremos muita falta."
A solidariedade que Felipe Neto recebe não se estende à esquerda igualmente atacada
O espaço que o Felipe Neto teve nos últimos dias na imprensa e em instituições mostra que, muito além de "saber dialogar" com essa nova geração, o pensamento com o qual ele se alinha é fator fundamental para esses espaços serem concedidos.
Ele sofreu diversos ataques da extrema direita e me solidarizo, obviamente.
Meu ponto aqui é que vários nomes na esquerda também foram e são sistematicamente atacados por essa mesma galera, mas não conseguem o mesmo espaço.
Dá pra discutir a conquista de espaços próprios? Sim. Mas os espaços tradicionais não serão substituídos assim tão cedo (talvez nunca?), é necessário que o pensamento dissonante também esteja presente nos ambientes que se reivindicam plurais ou isentos.
Os tipos de ignorância na Covid
A forma ativa, na qual se gasta energia para se manter a ignorância, é a mais preocupante
Nossa ignorância a respeito da Covid se comporta um pouco como a pandemia. Diminuindo aqui e ali, mas em alguns pontos vai bem, obrigado, e crescendo. Estudar ignorância é traçar uma fronteira clara: a partir daqui, não sabemos mais. O que transforma o que não sabemos que não sabemos no que sabemos que não sabemos, parafraseando Donald Rumsfeld.
Temos a ignorância nativa, o que não se sabe porque é desconhecido. Quanto tempo quem se curou continua protegido? Quão sazonal é o vírus? Teremos um descanso no verão? De onde veio o vírus? Essa ignorância estamos resolvendo com a ciência. Já temos 4 vacinas candidatas em teste, prontas para responder algo fundamental: será que funcionam?
Temos a ignorância passiva. O que deixamos de saber porque não há tempo para se saber tudo. Pesquisadores de diversas áreas deixaram de lado sua vocação tradicional e suas áreas de estudo para entenderem a pandemia que parou o mundo. E provavelmente muitos não voltarão ao que faziam antes.
Mas tem um tipo de ignorância mais preocupante. A ignorância ativa. Aquela que se gasta energia e tempo para se criar e se manter. Por vezes, é um esforço desejável. As empresas que desenvolvem e testam as vacinas candidatas atuais mantém a formulação do que testam e o andamento dos testes sigiloso, por questões de mercado, de propriedade intelectual e de privacidade dos voluntários. Mesmo assim, algumas foram invadidas por hackers que estavam justamente atrás dessa informação valiosa.
Outras vezes é um esforço também ativo, mas sigiloso, feito para a manter o público propositalmente ignorante sobre algo. Um esforço que vai desde a tentativa de mascarar dados, ocultar números, até atitudes mais insidiosas como dificultar a testagem para Covid. E como a realidade da pandemia tem se tornando cada vez mais difícil de ignorar, pelo menos em terras brasileiras, esse esforço para manter as pessoas ignorantes fica cada vez mais agressivo.
É aqui que entra a polarização da pandemia e a disputa de identidades. Humanos são animais sociais. E se tem uma forma de nos fazer ignorar a realidade, é condicionar nossa presença em um grupo a isso. Quer fazer parte do seu grupo querido, onde estão suas pessoas queridas? Aqui todos acreditam nesse pacote de ideias. Não se pode questionar nenhuma delas. Eles fazem do jeito deles, nós fazemos do nosso e não tem mistura. Quem fez algo errado? Foi alguém do outro grupo? Então é abominável. Foi alguém do seu grupo? Nem é aquilo tudo. Foi o líder? Com certeza teve motivos nobres para fazer o que fez.
É assim que se nega evolução. É assim que se nega o aquecimento global. É assim que se empurram tratamentos que não funcionam contra a Covid.
Mas com vacinas, não dá para se ter uma disputa de times. Não é uma questão de "quem gosta toma vacina, quem não gosta toma cloroquina". Não se vacinar é como dirigir bêbado, coloca a sua vida e a vida dos outros em risco. É uma atitude muito mais coletiva do que parece.
Nem todos podem ser vacinados, como transplantados e outros imunocomprometidos. E nem todos que tomam a vacina se imunizam. Então, para se garantir que a população esteja protegida, quanto mais contagiosa a doença e quanto menor a eficiência de uma vacina, mais pessoas precisam ser vacinadas.
Para parar a Covid e retomar nossa vida, provavelmente vamos precisar dos dois. Manter distanciamento e máscaras para diminuir seu contágio. E vacinar uma grande proporção da população, provavelmente mais de 70%, antes de quem está em risco poder circular sem medo.
Em se tratando de ignorância, vacinas são como a democracia, a ignorância alheia também me põe em risco.
Atila Iamarino
Doutor em ciências pela USP, fez pesquisa na Universidade de Yale. É divulgador científico no YouTube.
Pânico na TV, CQC e José Padilha criaram uma geração de nazifascistas
Sei que tem muita gente que não entende muito o motivo de eu bater tanto nessa tecla, mas eu acho que não temos como compreender a capilarização da extrema-direita na sociedade brasileira atual sem compreender os aportes culturais das últimas duas décadas e, principalmente, não temos como compreender os aportes culturais das últimas duas décadas sem compreender o papel que dois programas tiveram na formação da consciência dos nossos jovens e das camadas populares:
Pânico na TV e o filme Tropa de Elite.
Mas se quiserem uma "degustação", aí vão duas notícias de hoje de ex-integrantes do Pânico:
“Prefiro ser órfão do que ser adotado por uma mulher operada que se passa por homem para ter o privilégio de adotar uma criança. Prefiro ser também órfão do que ser criado por homem operado se passando também por mulher para querer ser mãe hahaha. É melhor estar sozinho nos braços de Deus do que sempre rodeado e acompanhado, mas no colo do capeta”, escreveu Carlinho Mendigo no stories no Instagram.
Era essa subgente aí que eram campeões de audiência dos seus horários na tanto na rádio quanto na TV por quase 2 décadas. Quantos milhões e milhões de jovens eles não formaram e influenciaram com sua militância nazifascista travestida de humor politicamente incorreto?
Bolsonaro pode estar certo
Sua frase de que o brasileiro se joga no esgoto e não acontece nada todo dia se confirma
Jair Bolsonaro disse que o brasileiro se joga no esgoto e não acontece nada. Bolsonaro deve saber —porque, no caso dele, é verdade. Basta ver seus amigos: políticos rastaqueras, policiais desonestos, milicianos condenados, assessores corruptos e industriais da violência. Até seus ex-vizinhos na Barra têm contas com a lei. Um presidente da República com acusados de assassínio na casa ao lado? Para Bolsonaro, é normal. Imagino seus churrascos com eles no condomínio, discutindo duplas sertanejas, o último programa do Ratinho ou um novo modelo de fuzil.
Daí não surpreende que seu governo inclua as piores pessoas do país. Ele não conhece outras. Dizia-se que dois ou três de seus ministros eram pessoas bem intencionadas. Mas pessoas bem intencionadas não se sentam a uma mesa com Ricardo Salles, Damares Alves, Ernesto Araújo, André Mendonça e Marcelo Álvaro Antônio —como a reunião ministerial de 22 de abril, ainda abrilhantada por Abraham Weintraub, tão bem demonstrou.
Quando Bolsonaro tentou obrigar seu então ministro da Saúde, Henrique Mandetta, a tomar medidas que contrariavam o juramento médico, falou-se que, se se submetesse, Mandetta estaria rasgando seu diploma. Não se submeteu, foi despedido e saiu com o diploma intacto. Seu sucessor, Nelson Teich, também médico e submetido à mesma indignidade, saiu antes de manchar o diploma. O general Eduardo Pazuello, que o substituiu, não tem diploma médico para proteger. Apenas uma farda, que mandará para a lavanderia.
A intimidade com Bolsonaro não compromete só diplomas e fardas. Torna as togas também sujeitas a respingos. Não que alguns de seus ocupantes, como o procurador-geral Augusto Aras, e o presidente do STJ, João Otavio de Noronha, estejam preocupados. A vaga no STF lhes exigirá, de qualquer maneira, uma toga nova.
Pensando bem, todo dia se confirma a frase de Bolsonaro.
Ruy Castro
Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues.
Bandido da quadrilha de Bolsonaro foge do país
Fugiu: blogueiro Allan dos Santos anuncia que está fora do Brasil em live com deputada bolsonarista
O blogueiro bolsonarista Allan dos Santos informou, numa live na madrugada desta sexta, que está “fora do país”.
O dono do Terça Livre não especificou sua localização.
A transmissão foi organizada pela deputada Bia Kicis, e teve participação do youtuber de extrema direita Bernardo Küster e do americano Ryan Hartwig.
Hartwig é autor de uma suposta denúncia de censura do Facebook a “conservadores”. Credibilidade nível Sara Winter.
Küster, Allan e a deputada são investigados no inquérito das fake news no STF.
Os dois primeiros tiveram suas contas bloqueadas internacionalmente no Twitter na quinta, dia 30, segundo determinação do ministro do Supremo Alexandre de Moraes.
Allan dos Santos acusou o ministro Luís Roberto Barroso de “prevaricação”.
Ele estaria ciente de que a China e a Coréia do Norte espionam o telefone de Bolsonaro, mas não notificou Bolsonaro.
Barroso, juntamente com Moraes, mais o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, estariam fazendo escuta telefônica em Bolsonaro para derrubá-lo.
“A esposa do Barroso tem data para fugir do Brasil”, afirmou.
“Se alguma coisa acontecer comigo ou com minha família, vem da embaixada da China em Brasília, da embaixada da Coreia do Norte, do Kakay, do Partido dos Trabalhadores, do Barroso ou do Alexandre de Moraes”, disse o sujeito.
É a fake news da fake news. O absurdo é nenhuma autoridade reter o passaporte desses meliantes.
Olha aí a realidade batendo na porta #FreeAllan pic.twitter.com/gUB1JcvBcd
— Nivânia Rosa (@NivaniaRosa) July 31, 2020
quinta-feira, 30 de julho de 2020
Genocídio brasileiro: 91.263 mortes
Dois criminosos
Hoje os jornais informam que as empresas brasileiras registraram perdas recordes no último trimestre. Nos Estados Unidos, no primeiro semestre, o PIB caiu 33 por cento.
Como se vê, no país dos criminosos Bolsonaro e Trump, não são as mortes que alcançam números estratosféricos. É também a economia que sofre brutalmente.
Vacinas não são mágicas, não estarão disponíveis para todos num estalar de dedos. E nem estão ali na esquina.
Vacina não é máquina do tempo rumo ao “velho normal”
Natalia Pasternak e Mauro Schechter
O estresse social trazido pela COVID-19, com as restrições e incertezas que a pandemia nos impõe, gera fábulas e mitos em alta velocidade. O mais recente, que cresce de modo alarmante, é o da vacina como uma espécie de chave mágica que vai, num instante, abrir as portas do isolamento social, uma máquina do tempo que vai nos levar de volta ao mundo pré-pandemia, restaurar o “velho normal”. Vacinas serão uma peça importante para controlar a COVID-19, mas não são mágicas, não estarão disponíveis para todos num estalar de dedos. E nem estão ali na esquina.
Os bons resultados nos testes iniciais – de segurança e resposta imune, que têm sido noticiados – são animadores e merecem ser celebrados. Mas a história da medicina está repleta de exemplos de medicamentos e tratamentos que pareciam prontos para o grande público, que haviam completado quase toda a maratona, e fracassaram na última prova crucial. Essa possibilidade precisa ser apresentada de forma clara. A falta de transparência e clareza na comunicação deste fato pode abalar fortemente a credibilidade da ciência perante a população.
Vacinas, como medicamentos, são testadas em fases. Nas fases 1 e 2, são investigados segurança e marcadores de resposta imune. Mas passar por essas fases não é garantia de que a vacina vai funcionar. Para isso existe a fase 3, em que se busca determinar a sua eficácia.
No caso da COVID-19, os estudos de fase 3 envolvem algumas poucas dezenas de milhares de voluntários, acompanhados por poucos meses. Assim, forçosamente, não será possível determinar, em um primeiro momento, sua eficácia de longo prazo, nem a ocorrência de eventos adversos menos comuns. Por isso, são essenciais os estudos de fase 4 e de farmacovigilância, que têm, entre seus objetivos, determinar a durabilidade da proteção e os efeitos colaterais menos frequentes, se houver.
Além das etapas de produção em larga escala, que podem envolver a construção de fábricas e laboratórios especiais, não se pode esquecer que não se trata apenas de produzir dezenas de milhões de doses de vacinas: há que se produzir o mesmo número de frascos, etiquetas, embalagens, seringas, e distribuir por todo o país, para locais que devem estar capacitados para armazená-las, e vacinar milhares de pessoas de forma organizada.
É preciso ter uma dose de realidade ao examinar a real probabilidade de haver uma ou várias vacinas disponíveis para a população. Se forem várias, como escolher as que o sistema de saúde deve comprar e distribuir? Há, também, que definir prioridades para vacinação, visto que é impossível vacinar todos ao mesmo tempo. Há que se decidir quem vacinar primeiro: profissionais de saúde, populações mais vulneráveis, quem chegar primeiro ao posto de saúde?
A rapidez com que vacinas estão iniciando estudos de fase 3 é, por um lado, fascinante, e por outro, assustadora. Normalmente, uma vacina leva em média oito anos para chegar ao mercado. As mais rápidas até hoje foram as de caxumba e ebola, que levaram cinco anos cada. Apressar as fases de testes da vacina, embora necessário, é também temerário, em particular porque efeitos colaterais graves, porém menos comuns, podem passar despercebidos.
Vírus epidêmicos podem desaparecer ou se tornar endêmicos, sazonais, ou causadores de surtos eventuais. Os suscetíveis morrem ou se recuperam, dotados de imunidade parcial ou total, temporária ou permanente. À medida que o número de recuperados aumenta, o vírus circula menos, porque encontra menos pessoas suscetíveis.
Quando o número de suscetíveis numa área cai muito, o vírus para de circular ali. Mas isso não que dizer que o vírus desapareceu. Ele pode continuar a circular em outros locais onde haja pessoas suscetíveis ou em reservatórios animais, caso não seja um vírus exclusivamente humano, podendo ser reintroduzido no mesmo local e voltar a circular, caso haja um número adequado de suscetíveis. Ou seja, para continuar a existir em uma comunidade, é necessário haver pessoas suscetíveis para replicar e transmitir para outra pessoa suscetível. Se isso não ocorrer e o vírus for exclusivamente humano, ele desaparece.
Há várias maneiras de interferir com esse ciclo. Uma é vacinando a população para diminuir o número de suscetíveis. Outra, impedir que o vírus encontre pessoas suscetíveis. Uma parte disso ocorre naturalmente, pessoas morrem ou se recuperam, e esse número diminui. Outra maneira, o distanciamento físico, é “esconder” do vírus os ainda suscetíveis.
Por isso, quarentenas bem feitas funcionam e os países que a implantaram com sucesso já podem reabrir. No entanto, pessoas nascem, mudam de endereço, viajam. Assim, o equilíbrio em determinado local entre suscetíveis e imunes muda com o tempo, e daí pode haver surtos. Mas em algum momento o vírus deixará de ser pandêmico. Não é possível prever quando e como isso acontecerá. Não existe um número mágico de pessoas infectadas que possa determinar quando relaxar as medidas de prevenção.
Então, como saber? Quando será atingida a sonhada “imunidade coletiva” que vai diminuir a circulação do vírus? Será sabido acompanhando a curva de casos. E por isso, assim como para vacina, é necessário ter paciência.
O que virá primeiro, a diminuição natural do número de pessoas suscetíveis ou a vacina? Não há como saber. Isso depende do comportamento das pessoas e das informações que serão obtidas na fase 3 de testes. No entanto, essas informações não podem ser obtidas em dois ou três meses de acompanhamento de indivíduos vacinados.
“Vacina em setembro”, ou “vacina em dezembro”, como alguns representantes de empresas e políticos vêm alardeando, não quer dizer “vacina no posto de saúde para todo mundo ainda neste ano”, e muito menos COVID-19 erradicada num piscar de olhos. Estes são apenas cenários otimistas – extremamente otimistas, no limite da irresponsabilidade – para a conclusão dos processos de teste e aprovação das vacinas atualmente em fase avançada de desenvolvimento. Mesmo para essas, muitas perguntas ainda permanecerão sem resposta, como, por exemplo, a duração da proteção, a eficácia e a segurança em grupos populacionais que não participaram dos estudos, como crianças, idosos, mulheres grávidas e indivíduos com imunodeficiências ou em tratamento para câncer.
Não há razão para perder a esperança, pois há mais de uma centena de candidatas a vacina para COVID-19. Tampouco deve-se planejar a vida em torno dessa possibilidade. Ser esperançoso não é o mesmo que ser irresponsável. Até que uma grande parcela da população seja vacinada com um produto que tenha sido demonstrado ser eficaz, o que não acontecerá em poucos meses, é essencial contar com as medidas de contenção já conhecidas. Com isso não vamos eliminar o vírus, mas podemos controlá-lo.
Natalia Pasternak é pesquisadora do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, presidente do Instituto Questão de Ciência e coautora do livro "Ciência no Cotidiano" (Editora Contexto)
Mauro Schechter é pesquisador principal, Projeto Praça Onze, professor titular de Infectologia, UFRJ; professor adjunto de Saúde Publica, University of Pittsburgh, e professor associado, Johns Hopkins University, EUA
Alguns benefícios da nota de R$ 200
Ao lançar a cédula de R$ 200, o governo espera economizar em impressão e transporte de papel moeda. Os políticos que operam com dinheiro vivo também estão felizes com a novidade
O governo anunciou mais uma medida inadiável. Vai lançar uma nota de R$ 200 em plena pandemia do coronavírus. Até o fim de agosto, a nova cédula deve começar a chegar às mãos dos brasileiros. Ou de alguns deles, é claro.
A diretora de administração do Banco Central, Carolina de Assis Barros, atribuiu a novidade ao entesouramento. O fenômeno ocorre quando a população passa a guardar mais dinheiro em casa.
Com a quebradeira e a redução de salários, milhões de famílias limitaram o consumo a itens essenciais. Quem não perdeu o emprego tenta cortar despesas e seguir adiante. Ainda que a luz no fim do túnel pareça vir de um trem na contramão.
O auxílio emergencial também aumentou a demanda por papel moeda. Isso elevou o gasto federal com impressão e transporte de valores. Até aqui, o governo precisava de ao menos seis notas para pagar os R$ 600. Agora só precisará de três — e os beneficiários que se virem para arrumar troco na quitanda.
Os economistas explicaram que o lançamento da cédula de R$ 200 não significa a volta da inflação.
Mesmo assim, quem viveu no Brasil antes do Plano Real pode ter sentido um frio na espinha. Em 1993, o país chegou a rodar uma nota de meio milhão de cruzeiros. Ela estampava o rosto do poeta Mário de Andrade, que nada tinha a ver com aquela desordem monetária.
Ontem o BC anunciou que a nova cédula vai trazer a imagem do lobo-guará. A escolha decepcionou quem preferia homenagear o vira-lata caramelo ou a ema que bicou o presidente Jair Bolsonaro.
Para alguns setores da classe política, a novidade chega com atraso. Se a nota de R$ 200 já existisse em 2017, o ex-deputado Rocha Loures não precisaria ter corrido com uma ostensiva mala de rodinhas. Bastaria uma discreta mochila para transportar a propina até o táxi.
O assessor que abastecia a conta do senador Flávio Bolsonaro também teria poupado tempo diante do caixa eletrônico. A cada depósito de R$ 2.000 em espécie, ele era obrigado a contar e separar 20 cédulas. Agora só precisaria de dez.
PIB dos EUA desaba 32,9% no segundo trimestre, maior queda da história
Economia dos EUA encolheu 32,9% entre abril e junho por causa da pandemia. Praticamente, um terço do PIB. É o pior resultado trimestral da história americana
O Globo e agências internacionais (CIA?)
WASHINGTON — A economia dos Estados Unidos sofreu a maior retração de sua história no segundo trimestre, destacando como a pandemia devastou os negócios em todo o país e deixou milhões de americanos desempregados.
O Produto Interno Bruto (PIB) encolheu em um ritmo anualizado de 32,9% no período de abril a junho em relação ao primeiro, o maior dos registros trimestrais desde 1947,mostrou a estimativa inicial do Departamento de Comércio nesta quinta-feira.
O resultado veio levemente melhor (!!!!) que a expectativa de mercado, que projetava uma queda de 34,5%.
Na Alemanha, contração de 10,1%
Na Europa, o mercado projetava que a economia alemã registraria contração de 9% de abril a junho deste ano, de acordo com sondagem do "Wall Street Journal". Porém, o resultado veio pior, retraindo 10,1%.
O número significa o pior segundo trimestre do PIB da Alemanha desde 1970, e mostra que os gastos das famílias, os investimentos empresariais e as exportações despencaram durante a pandemia de Covid-19, segundo dados preliminares divulgados nesta quinta-feira. A queda do PIB alemão no segundo trimestre encerrou quase 10 anos de crescimento econômico.
— Agora é oficial, é a recessão do século— disse o economista do DekaBank Andreas Scheuerle. —O que até agora foi impossível de conseguir com as quebras dos mercados acionários ou os choques do preço do petróleo foi alcançado por uma minúscula criatura chamada Corona.
Na comparação anual, o Produto Interno Bruto da maior economia da Europa recuou 11,7% entre abril e junho, de acordo com dados ajustados sazonalmente da Agência Federal de Estatísticas. Analistas esperavam contração de 11,3% nessa base.
Tanto as exportações quanto as importações de bens e serviços colapsaram no segundo trimestre de 2020, assim como os gastos das famílias e o investimento em equipamentos. Mas os gastos estatais aumentaram.
A normalização da estupidez
DEBATE NATURALMENTE ESTÚPIDO
O País chafurda na abismal tragédia do golpe e pós-golpe.
Mais de mil e duzentos óbitos por dia, sem qualquer política pública para deter o genocídio.
E ainda tem gente boa discutindo tema identitário em publicidade de creminho de beleza.
quarta-feira, 29 de julho de 2020
Covid: Brasil ultrapassa marcas de 90 mil mortes e 2,5 milhões de casos
Do UOL, em São Paulo
O Brasil ultrapassou hoje a marca de 90 mil mortes causadas pela covid-19. O Ministério da Saúde anunciou hoje que passou a contabilizar nas últimas 24 horas mais 1.595 óbitos em decorrência da infecção provocada pelo novo coronavírus.
É o recorde de registros em apenas um dia, mas inflado porque o estado de São Paulo não divulgou ontem os dados, atualizando hoje de uma vez só os números referentes a dois dias, que somaram 713 óbitos e 26.543 novos casos registrados. O total de vítimas em todo o Brasil agora chegou a 90.134.
"Cultura do Cancelamento" não passa de um mal entendido geracional
Gerador de Cancelamento
Cancela-te a ti mesmo e jamais serás cancelado por outrem
Gregorio Duvivier
Cancela-te a ti mesmo e jamais serás cancelado por outrem
Gregorio Duvivier
Quando eu fizer um textão refutando um meme, desliguem os aparelhos
Volta e meia acordo com medo de ter sido cancelado durante a noite. Depois lembro que, pra ser cancelado, é preciso antes ter sido aprovado. Ninguém cancela um serviço que não contratou.
A melhor maneira de ganhar imunidade vitalícia ao cancelamento é jamais ter sido digno de confiança, como tenho sido sem exceções. Cancela-te a ti próprio, diz o filósofo, e jamais serás cancelado por outrem. Tenho a “incancelabilidade” dos irrelevantes.
Mas nem precisa disso, se você nascer no Brasil. Não existe cancela do lado de baixo do Equador. Delfim Netto assinou o AI-5 e depois a Constituição de 1988 —hoje assina colunas de opinião neste jornal e em tantos outros. Há meio século que Silvio Santos faz tudo que está ao seu alcance pra ser cancelado, sem sucesso. Já diz o pagode: “Você sabe o que é cancelar? Nunca vi, nem comi, eu só ouço falar”.
Tenho a impressão de que a tal “cultura do cancelamento” não passa de um mal entendido geracional. Alguém não entendeu que era meme. Meu maior medo de envelhecer não é deixar de enxergar ou de ouvir direito, mas deixar de entender piadas. No dia em que eu fizer um textão refutando um meme, por favor desliguem os aparelhos, ou pelo menos o roteador.
“Eu gostaria de falar com a central do cancelamento?”, diz o meme. Intelectuais gabaritados reagiram com longos artigos críticos a uma suposta cultura do cancelamento. “Só se pode cancelar serviços!”, argumentam, “jamais pessoas!”. Sim! Exatamente! Por isso mesmo é que é engraçado. Se estivessem tentando cancelar a Net, não teria muita graça —e levaria ainda mais tempo.
A ideia de que uma pessoa deveria ser cancelada, além de obviamente humorística, passou a ser ainda mais repetida depois que acadêmicos começaram a dizer que não pode. “Foi meme, sua burra”, diz o meme.
Quem reclama que foi cancelado, geralmente, apenas teve de lidar com críticas —e achou chato. Ao invés de refletir sobre a validade do que ouviu, prefere jogar a culpa no zeitgeist. Em outros tempos culparia a “ditadura do politicamente correto” ou a “patrulha ideológica”.
Toda vez que ouço alguém reclamar que “o mundo tá chato” e que “já não dá pra falar nada” eu me pergunto se a pessoa já ouviu falar na inquisição, no macartismo, no Dops. Nunca deu pra falar tanto, e é exatamente por isso que ela tá ouvindo uma crítica. Quem fala em cultura do cancelamento geralmente tá tentando cancelar alguém.
Gregorio Duvivier
BRASIL 2020
A grande idiotia encoraja legiões de pequenos idiotas anônimos que se agigantam e formam massas formidáveis de tontos que vagueiam entre o nada e o inútil.
Cristóvão Feil
Por que só Bolsonaro no Tribunal de Haia?
Ruy Castro
Por que só Bolsonaro?
O Tribunal de Haia deveria reservar um lugar também para os executores de sua política
Por que só Bolsonaro?
O Tribunal de Haia deveria reservar um lugar também para os executores de sua política
O Tribunal Penal Internacional de Haia, na Holanda, recebeu as acusações contra Jair Bolsonaro de crimes contra a humanidade no contexto da pandemia. Foram levadas por entidades brasileiras que representam mais de um milhão de profissionais da saúde, responsabilizando-o pela morte de milhares no país por sua ação ou omissão. Matar não se limita a um tiro à queima-roupa.
Pode-se escolher entre as práticas de Bolsonaro desde a chegada da Covid: piadas com o vírus, minimização de seu perigo, desinformação deliberada sobre ações de prevenção, desprezo por medidas nacionais que amenizassem a quebra da economia, recusa em aceitar as orientações dos órgãos internacionais, instigação à desobediência dessas orientações, desmoralização dos encarregados por ele próprio de dirigir a saúde e sua substituição por estranhos à matéria, fazer propaganda falsa de remédio, debochar das vítimas da doença, indiferença quanto ao destino da população que jurou proteger. Com tudo isso ao alcance de seu poder, quem precisa de arminha?
Mas não nos iludamos. Os trâmites do tribunal são lentos e talvez só cheguem a uma conclusão quando um dos dois já tiver acabado, o mandato de Bolsonaro ou o Brasil --o que vier primeiro. Mas seria um consolo ver no banco dos réus, nem que fosse por uma sentada, os responsáveis pela maior calamidade pública na história deste país.
O que, como aconteceu em outros tribunais internacionais, deveria reservar lugar também a executores de sua política. Isso incluiria o general Eduardo Pazuello, que pôs a farda a serviço da farsa, estimulando o uso de medicamento impróprio e arriscado, sonegando informações sobre a evolução da crise, recusando-se a prestar contas diárias à sociedade e cercando-se de colegas de quartel, talvez para dividir sua responsabilidade.
Mas, você sabe, Haia é uma cidade pacata, com seu ritmo próprio.
Ruy Castro
Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues
Quem assiste tanta live?
Luis Felipe Miguel
"Quem lê tanta notícia?", perguntava Caetano Veloso em "Alegria, alegria". E eu me pergunto: quem vê tanta laive?
São dezenas por dia - estou falando só das que chegam a meu conhecimento. Conheço pessoas que tenho certeza que se clonaram durante a pandemia, porque estão sempre em três laives (ou "webinars") ao mesmo tempo. É isso que chamam de "realidade ampliada"?
É curioso porque, nos velhos tempos em que as atividades eram presenciais, a queixa mais recorrente dos colegas das universidades era que organizávamos mesas interessantíssimas e quase ninguém ia assistir.
Ao ver "O Sol nas bancas de revist"a, Caetano se enche de alegria e preguiça. Eu confesso que, no meu caso, a preguiça é maior. Mas bom proveito pra quem gosta!
O ministro da Justiça é fascista
Conrado Hübner qualifica o desqualificado André Mendonça, percevejo de gabinete que ocupa o posto de lugar-tenente no Ministério da Justiça.
Expor Mendonça e os atos que pratica contra a democracia e em sabujo favor do bolsonarismo é prática que precisa se tornar diuturna. Ele é o gestor, hoje, da transformação do aparato policial e repressivo do Estado brasileiro em Gestapo, SS e Stasi ao mesmo tempo. E isso já está tendo uso contra opositores democratas.
A Constituição é antifascista, Mendonça não
A polícia do pensamento comete pelo menos quatro ilícitos
O ministro da Justiça está de olho em você, simpatizante do antifascismo. Atenção policial, professor ou engenheiro civil formado que não pensa ideias corretas: Mendonça sabe quem você é, onde mora e o que anda fazendo no escurinho da quarentena.
Mendonça não é um antiantifa raiz. Ex-entusiasta de Lula, faz qualquer coisa pelo chefe. Se precisar, até oração em cerimônia estatal. Mediocrizou a função de advogado-geral da União e agora a de ministro da Justiça ao se incumbir do papel de sentinela do presidente. Há tempos usa seu cargo para solicitar providências contra críticas pessoais a Bolsonaro.
Na semana passada, descobriu-se que órgão do Sistema Brasileiro de Inteligência (Sisbin) sob sua autoridade monitora policiais e intelectuais em sigilo. Não por suspeita de ilícito (o que justificaria investigação policial, não do Sisbin), mas por suspeita de pensamento com o carimbo "antifascista".
Regimes autoritários adotam um arsenal de ferramentas contra inimigos: ao lado da execução sumária, do desaparecimento, da tortura e da estigmatização pública, a polícia do pensamento é sua forma mais insidiosa de anular o oponente.
A polícia do pensamento, "uma das mais importantes instituições do mundo moderno" (Tucci Carneiro), almeja domesticar e reprimir heterogeneidade. Opera pela técnica da suspeição presumida e da repressão preventiva. Sua finalidade é gerar medo, autocontrole e autocensura. Espera-se que os fichados nos arquivos de Mendonça voluntariamente parem de incomodar, pois a qualquer momento um dossiê pode vir à tona.
O fato não provoca apenas tensão política, que se resolve por conversa e aperto de mão. Pede esclarecimento público e eventual sanção jurídica pelos ilícitos. O ministro parece cometer pelo menos quatro:
1) crime de responsabilidade ("violar patentemente qualquer direito ou garantia individual" - art. 7º, IX, da Lei do Impeachment);
2) crime de abuso de autoridade ("proceder à persecução administrativa sem justa causa fundamentada ou contra quem sabe inocente", art. 30, lei 13.869/19);
3) improbidade administrativa ("praticar ato visando fim proibido em lei" e "atentar contra princípios da administração", como transparência e impessoalidade - art. 11, I, lei 8.429/92);
4) ilícito contra o direito à informação ("utilizar indevidamente informação que se encontre sob sua guarda" e "impor sigilo à informação para obter proveito pessoal ou de terceiro, ou para fins de ocultação de ato ilegal", art. 32, II e V, lei 12.527/11).
O mesmo ministro que defende o direito de realizar, em meio a uma pandemia, atos pelo fechamento de instituições democráticas e de celebração do AI-5; o mesmo ministro que justifica a presença do próprio presidente nos atos, como se tudo coubesse numa caixinha indistinta da liberdade de expressão, monitora pessoas que professam ideias contra o fascismo.
Quem manifesta simpatia ao símbolo "antifa" não tem identidade homogênea, não integra movimento organizado, não segue qualquer cartilha predefinida de protesto. "Antifa" é apenas um rótulo aglutinador para uma pluralidade de pessoas que compartilham de uma preocupação. No Brasil de hoje, a preocupação com Bolsonaro.
A origem histórica do rótulo remonta aos anos de 1920 na Itália. Ao longo do século 20, teve múltiplas conformações pelo mundo. Mussolini chamava antifas de "degenerados". Trump chama antifas de terroristas e criminosos. Bolsonaro emula Trump.
Que ideia antifascista molesta Mendonça? A que reivindica respeito a minorias? Ou a que pede o direito de existir em igual liberdade? Preocupa Mendonça que antifascistas e antirracistas se aproximem? Que seus corpos ocupem as ruas? Que gritem?
O constitucionalismo do pós-guerra comprometeu-se com a imunização antifascista e concebeu vacina institucional contra o mal político radical. Bolsonaro, sabemos, investe em cloroquina, não na Constituição de 1988. Dedica-se a propagar o vírus que varre democracias. Mendonça é seu despachante.
A vocação antiantifa mata a liberdade. Afinal, menos com menos dá mais.
Conrado Hübner Mendes
Professor de direito constitucional da USP, é doutor em direito e ciência política e embaixador científico da Fundação Alexander von Humboldt
terça-feira, 28 de julho de 2020
O culto ao egoísmo está matando os Estados Unidos
"Sacrifiquem os fracos. Reabram o Tennessee (TN)!" |
O governo Trump e governadores como Ron DeSantis, da Flórida, insistiram que não havia relação entre crescimento econômico e o controle da doença, e eles tinham razão --mas não no sentido em que pretendiam.
A reabertura prematura levou a um surto de infecções: em números ajustados à população, hoje há 15 vezes mais americanos morrendo de covid-19 que os habitantes da União Europeia ou do Canadá. Mas a "recuperação foguete" que Donald Trump prometeu caiu e se incendiou: o crescimento dos empregos parece ter estacionado ou se invertido, especialmente nos estados que foram mais agressivos ao suspender as ordens de distanciamento social, e os primeiros indícios são de que a economia dos EUA está muito atrás das dos principais países europeus.
Então estamos falhando terrivelmente nas frentes epidemiológica e econômica. Mas por quê?
Diante disso, a resposta é que Trump e seus aliados estavam tão ansiosos para ver grandes números de emprego que ignoraram os riscos de infecção e o modo como um ressurgimento da pandemia poderia minar a economia. Como eu e outros dissemos, eles falharam no teste do marshmallow, sacrificando o futuro porque não quiseram ter um pouco de paciência.
Certamente há muita coisa envolvida nessa explicação. Mas não é a história inteira.
Por um lado, as pessoas realmente enfocadas em reiniciar a economia deveriam ser grandes apoiadoras de medidas para limitar as infecções sem prejudicar os negócios --principalmente fazer os americanos usarem máscaras. Em vez disso, Trump ridicularizou os que usavam máscaras como "politicamente corretos", enquanto os governadores republicanos não só se recusarem a ordenar o uso de máscaras como impediram que os prefeitos impusessem regras nesse sentido.
Políticos ávidos para ver a economia se recuperar também deveriam ter desejado reforçar o poder de compra dos consumidores até que os salários se recuperassem. Em vez disso, os senadores republicanos ignoraram a expiração em 31 de julho dos benefícios especiais aos desempregados, o que significa que dezenas de milhões de trabalhadores logo sofrerão um enorme golpe em seus rendimentos, prejudicando a economia como um todo.
Então o que estava acontecendo? Nossos líderes foram apenas idiotas? Bem, talvez. Mas há uma explicação mais profunda para o comportamento extremamente autodestrutivo de Trump e seus aliados: eles eram todos membros do culto do egoísmo americano.
Veja, a direita moderna nos EUA está comprometida com a proposta de que a ganância é boa, que todos ficamos melhor quando os indivíduos se dedicam à busca desenfreada do interesse próprio. Na visão deles, a maximização irrestrita do lucro pelas empresas e a teoria da escolha do consumidor desregulamentada são a receita de uma boa sociedade.
O apoio a esta proposta é, no mínimo, mais emocional que intelectual. Há muito tempo fiquei chocado pela intensidade da raiva da direita contra regulamentos relativamente banais, como a proibição de fosfatos nos detergentes e os padrões de eficiência das lâmpadas. É o princípio da coisa: muitos na direita ficam furiosos diante de qualquer sugestão de que seus atos devem levar em conta o bem-estar dos outros.
Essa raiva é às vezes retratada como amor pela liberdade. Mas as pessoas que insistem no direito de poluir são notavelmente insensíveis, por exemplo, a agentes federais que atiram gás lacrimogêneo contra manifestantes pacíficos. O que elas chamam de "liberdade" é na verdade falta de responsabilidade.
A política racional numa pandemia, porém, tem tudo a ver com assumir a responsabilidade. O principal motivo pelo qual você não deve ir a um bar e deve usar máscara não é a autoproteção, embora faça parte disso; a questão é que reunir-se em espaços cheios de gente e barulhentos ou exalar gotículas no ar compartilhado coloca os outros em risco. E esse é o tipo de coisa que a direita americana simplesmente odeia, odeia escutar.
De fato, às vezes parece que os partidários da direita realmente fazem questão de se comportar de modo irresponsável. Vocês lembram que o senador Rand Paul, preocupado que tivesse a covid-19 (e tinha), passeou pelo Senado e até usou a academia de ginástica enquanto esperava pelo resultado do teste?
A raiva diante de qualquer sugestão de responsabilidade social também ajuda a explicar a iminente catástrofe fiscal. É notável como muitos republicanos se emocionam na oposição ao aumento temporário dos benefícios aos desempregados; por exemplo, o senador Lindsey Graham declarou que esses benefícios só seriam prorrogados "passando sobre nossos cadáveres". Por que tanto ódio?
Não é porque os benefícios estão tornando os trabalhadores avessos a assumir empregos. Não há evidência de que isso esteja acontecendo --é apenas algo em que os republicanos querem acreditar. E em todo caso os argumentos econômicos não podem explicar esse ódio.
Mais uma vez, é o princípio. Ajudar os desempregados, mesmo que a falta de emprego não seja culpa deles, é uma admissão tácita de que os americanos afortunados devem ajudar seus concidadãos menos favorecidos. E essa é uma admissão que a direita não quer fazer.
Para ser claro, não estou dizendo que os republicanos são egoístas. Estaríamos muito melhor se tudo se resumisse a isso. O ponto, entretanto, é que eles sacralizaram o egoísmo, prejudicando suas próprias perspectivas políticas ao insistir no direito de agir egoisticamente mesmo quando prejudicam os outros.
O que o coronavírus revelou é a potência do culto americano ao egoísmo. E esse culto está nos matando.
Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves
"Realismo" de Trump dura uma semana e ele volta a mentir nas redes sociais
Kennedy Alencar
Durou exatamente uma semana a aparente seriedade do presidente Donald Trump para enfrentar a pandemia. Como de praxe, ele voltou a mentir e desinformar nas redes sociais.
Na noite desta segunda-feira, Trump republicou posts no Twitter com defesa da hidroxicloroquina e questionamentos à eficiência de máscaras e quarentenas. Também endossou acusação de que o infectologista Anthony Fauci enganaria o país com suas opiniões médicas.
Na segunda-feira passada, Trump retomou os briefings na sala de imprensa da Casa Branca. Ele havia interrompido esse tipo de evento em meados de abril, quando sugeriu injetar desinfetante na corrente sanguínea para combater o coronavírus.
Entre abril e a semana passada, Trump viveu um longo período de negação do evidente agravamento da pandemia no Estados Unidos. Nesse período, subiram os casos de covid-19, os números de internações e, agora, as taxas de mortalidade em alguns estados. A situação é alarmante em estados do sul e do oeste americano, especialmente na Flórida.
O recrudescimento da pandemia coincidiu com a queda de Trump nas pesquisas sobre a popularidade do governo e as suas chances na eleição presidencial de 3 de novembro. O democrata Joe Biden cresceu nas pesquisas que aferem o voto popular, mas também nos estados considerados decisivos para formar maioria no Colégio Eleitoral.
Nos EUA, não basta ganhar no voto popular. É necessário vencer nos Estados com maior número de delegados. O Colégio Eleitoral tem 538 membros. O eleito precisa obter maioria absoluta: 270 delegados. Se a eleição fosse hoje, Biden conquistaria a Casa Branca.
A queda nas pesquisas levou à mudança de tom de Trump na semana passada, quando ele assumiu uma atitude mais realista e moderada. Chegou a dizer que a pandemia pioraria antes de melhorar. Defendeu o uso da máscara com ênfase inédita.
Mas era um realismo típico de Donald Trump, que não leva a ciência a sério. Na tarde desta segunda, ele já estava pressionando governadores de Estados com baixos números de covid-19 a reabrir suas economias completamente. De noite, começou a disparar mentiras no Twitter, onde tem mais de 84 milhões de seguidores.
Trump endossou um tuíte que mostrava supostos médicos sustentando que a hidroxicloroquina seria efetiva contra o coronavírus em tratamento preventivo ou logo no começo de sintomas. Não é verdade de acordo com estudos científicos sérios e segundo a própria agência de vigilância sanitária dos EUA, a FDA (Administração de Drogas e Alimentos, em inglês).
Trump também endossou um post no qual uma médica acusava o diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas, Anthony Fauci, de induzir a opinião pública americana a erro com suas orientações sanitárias.
Segundo a médica, Liz Vliet, Fauci teria enganado os americanos a respeito da hidroxicloroquina e promovido outra droga, Remdesivir, como eficaz.
Voz mais respeitada da força-tarefa de combate ao coronavírus e médico que serviu a seis presidentes americanos, Anthony Fauci veio a público fazer novo contraponto ao presidente, dizendo que ele não engana o povo americano.
Está muito claro quem tenta enganar quem aqui nos Estados Unidos e também no Brasil. Com fixação pela cloroquina, os presidentes da república dos dois países são ameaças à saúde pública de americanos e brasileiros. Trump e o presidente Jair Bolsonaro agravam o efeito da pandemia com negacionismo genocida e irresponsabilidade sanitária.
Deu a louca no Brasil
Alvaro Costa e Silva
Nem o realismo mágico de García Márquez explica tantas situações absurdas e inverossímeis
A realidade é mágica. Não invento nada. Não há uma só linha nos meus livros que não seja realidade. Não tenho imaginação." A confissão de Gabriel García Márquez jamais esteve tão visível e palpável como hoje no país das emas, das quase 90 mil mortes por Covid-19 e dos quatro milhões de comprimidos de cloroquina estocados.
Na semana passada, um grupo de baloeiros armados invadiu o aeroporto Tom Jobim para resgatar um balão com 18 metros de altura que havia caído na pista e por pouco não provocara um acidente gigantesco. Os criminosos trocaram tiros com a polícia e fugiram num barco. Havia uma recompensa de R$ 5 mil para quem recuperasse o artefato de papel de seda, cangalha e boca de ferro e fogo. Nem Rubem Fonseca, que escreveu um conto criminal intitulado "O Balão Fantasma", tinha ido tão longe.
Para explicar a enfiada de situações absurdas e inverossímeis em que a sociedade está mergulhada, alguém bolou uma frase que desde 2016, ano do impeachment de Dilma, passeia nas redes sociais: "O roteirista do Brasil devia ser demitido". Pensando melhor, ele devia ganhar em dobro, por entender como ninguém as mazelas do público a que se dirige.
Além de exagerado e sem graça, o roteirista apela para surrados clichês. A carteirada do desembargador, com direito a falar francês, chamar o guarda de analfabeto e rasgar a multa por não usar máscara, é um método de humilhação estabelecido há 500 anos.
Contudo, o ponto alto do blockbuster "Deu a Louca no Brasil" é a dramatização da pós-verdade. Na trama, um celerado que ocupa a Presidência, e se disse contaminado pelo coronavírus, levanta uma caixa de cloroquina para adoração de apoiadores. Em outra cena, oferece o remédio que não tem eficácia no tratamento da Covid para as emas do Palácio da Alvorada. Salvem as emas enquanto é tempo, porque a população morre no fim do filme.
Alvaro Costa e Silva
Jornalista, atuou como repórter e editor. É autor de "Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro"
O sidadão e serumano Sirugomes
O debate político, a crítica e a autocrítica fazem parte da tradição marxista. Outra coisa é o linchamento do PT, promovido por alguns setores, em favor de... Ciro Gomes, que iniciou a carreira política no partido da ditadura militar, o PDS (ex-Arena), passou pelo P$DB, PSB, PDT e diversos outros partidos, sem nenhum compromisso partidário, programático ou ideológico. Ele nunca esteve presente em nenhuma das lutas populares e democráticas do povo brasileiro. Nunca foi nacionalista. É apenas um oportunista, um típico coronel narcisista e grosseiro, que na falta de argumentos utiliza a ofensa, o palavrão e a difamação, práticas próprias de fascistas. Ele é um escroto que defende apenas os seus próprios interesses. Que parte da ex-querda brasileira acredite nas lorotas desse patife é algo que nunca irei entender.
segunda-feira, 27 de julho de 2020
Por que é improvável que Bolsonaro seja investigado pelo Tribunal Penal Internacional
Mariana Schreiber - @marischreiber
Da BBC News Brasil em Brasília
O presidente Jair Bolsonaro já é alvo de cinco representações criminais no Tribunal Penal Internacional (TPI), Corte sediada em Haia, na Holanda, que julga graves violações de direitos humanos, como genocídio, crimes contra a humanidade e crimes de guerra.
A mais nova queixa contra ele foi apresentada no domingo (27) pela Rede Sindical Brasileira UNISaúde, que representa mais de um milhão de profisisonais do setor no país. A organização acusa Bolsonaro de crime contra a humanidade e genocídio por sua atuação na pandemia de coronavírus, que já matou mais de 87 mil pessoas no Brasil.
Existem outras três representações com acusação semelhante apresentadas desde abril, pela Associação Brasileira de Juristas pela Democracia, pelo PDT e por José Manoel Ferreira Gonçalves, coordenador do grupo Engenheiros pela Democracia.
A outra queixa criminal, apresentada ainda em 2019 pela Comissão Arns e o Coletivo de Advocacia em Direitos Humanos, pede que o presidente seja investigado por "incitação ao genocídio e ataques sistemáticos contra populações indígenas", devido ao "desmantelamento" de políticas públicas de proteção a esses povos e ao meio ambiente.
A possibilidade de o presidente se tornar alvo do TPI ganhou destaque há duas semanas depois que o assunto foi mencionado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes em conversa por telefone com Bolsonaro. No entanto, juristas entrevistados pela BBC News Brasil consideram improvável que o brasileiro se torne alvo de investigação na Corte.
'Ataque sistemático'
Entrevistada pela BBC News Brasil há cerca de duas semanas, a juíza do TPI entre 2003 e 2016 Sylvia Steiner explicou que a Corte investiga crimes contra a humanidade "praticados dentro de um contexto de ataque generalizado ou sistemático contra a população civil".
Ela cita, por exemplo, o caso de Darfur, no Sudão, em que mais de 2 milhões de pessoas foram forçadas a se deslocar, sendo que 300 mil foram mortas, entre 2003 e 2008, em um conflito marcado por execuções sumárias e estupros.
Por causa desses crimes, o TPI expediu mandado de prisão por genocídio contra o ex-presidente do Sudão Omar Al Bashir. Até hoje, porém, ele não se apresentou à Corte e não pôde ser julgado.
"Uma simples política (de saúde), por mais desastrosa que seja, não necessariamente pode ser entendida como um ataque deliberado contra a população civil. É esse elemento contextual muito particular que, à primeira vista, não me parece presente nessa política desastrada que o governo (de Jair Bolsonaro) está levando adiante em relação à pandemia", afirma Steiner.
O entendimento é o mesmo do juiz criminal Marcos Zilli, professor de Direito da Universidade de São Paulo (USP).
"Os poucos casos até o momento julgados envolvem crimes de guerra e crimes contra a humanidade em contextos muito diversos daquele que se desenha nas representações ofertadas (contra Bolsonaro)", ressaltou.
'Capacidade limitada'
Para Sylvia Steiner, a representação que acusa Bolsonaro de incitação ao genocídio de indígenas, teria, em tese, mais possibilidade de dar início a um investigação pela Procuradoria da Corte, do que as reclamações criminais sobre a atuação de Bolsonaro na pandemia.
Mas, mesmo nesse caso, ela considera improvável que isso ocorra, já que um dos critérios para se iniciar uma investigação no TPI é que fique demonstrada incapacidade ou falta de vontade do sistema de Justiça nacional para apurar e punir eventuais crimes.
Dessa forma, nota Steiner, a Corte costuma voltar sua atenção a casos de extrema gravidade, em países com instituições de Justiça mais precárias(!!) que as brasileiras.
"Acho muito difícil que o Tribunal, com a capacidade limitada que tem, vá se ocupar dessas representações (contra Bolsonaro)", disse Steiner à BBC News Brasil.
"O Tribunal não tem condições de investigar todas as situações que ocorram no mundo inteiro. Há desastres humanitários ocorrendo em outras partes do mundo, em lugares totalmente desestruturados e, portanto, a atenção do Tribunal é última esperança de populações que estão desesperadas", reforça.
Brasil pode ser investigado em outra corte internacional
Embora considerem difícil que Bolsonaro seja investigado pelo TPI, os juristas ouvidos pela reportagem dizem que o Brasil pode vir a ser responsabilizado na Corte Interamericana de Direitos Humanos pela atuação do governo federal na pandemia.
Caso essa investigação seja aberta, poderia levar a julgamento e condenação do Estado brasileiro, mas não contra Bolsonaro pessoalmente.
"Essa condução desastrada, descoordenada, irresponsável dessa crise (do coronavírus) é um fator de violação massiva contra direitos fundamentais, o direito à saúde, o direito à vida. Já existe material suficiente para que se ofereça uma denúncia junto à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (órgão que analisa se denúncias devem ser julgadas na Corte). Disso não tenho a menor dúvida", afirma Steiner.
Contrariando evidências científicas, Bolsonaro e seu governo têm se oposto às políticas estaduais e municipais de distanciamento social.
Além disso, o Ministério da Saúde, por determinação do presidente, tem promovido o uso da cloroquina no tratamento de covid-19, apesar dos possíveis efeitos colaterais graves que a substância pode provocar e de não haver comprovação de sua eficácia contra a doença.
Representações no TPI passarão por filtro inicial
Enquanto a Corte Internacional de Justiça, conhecida como Corte de Haia, é responsável por julgar disputas entre países, o TPI é encarregado de julgar apenas indivíduos acusados de quatro crimes graves: crimes contra a humanidade, genocídio, crimes de guerra e, desde 2018, crimes de agressão — em que políticos e militares podem ser responsabilizados por invasões ou ataques de grandes proporções.
Todas as representações criminais feitas ao TPI são analisadas pela Procuradoria da Corte, órgão responsável por realizar investigações de forma independente.
As cinco ainda passarão por um filtro inicial da Procuradoria, processo que pode ser demorado dado o grande volume de representações que chegam ao órgão.
Segundo o último relatório anual da Procuradoria, divulgado em dezembro, foram apresentadas 795 reclamações criminais entre novembro de 2018 e outubro de 2019.
Esse filtro já descarta casos em que os crimes denunciados claramente não são de competência do Tribunal. Se a representação passar dessa etapa, ela ainda será submetida a um exame preliminar, em que a Procuradoria avaliará a presença dos elementos necessários à instauração de uma investigação formal, explica o professor da USP Marcos Zilli.
Nesse momento, é analisado, por exemplo, se os crimes noticiados ocorreram nos limites territoriais de um país signatário do Estatuto de Roma ou se os supostos responsáveis são cidadãos de um desses países.
Antes de abrir uma investigação, a Procuradoria também verifica a gravidade dos crimes apontados na representação e se há omissão da Justiça nacional em apurar esses delitos.
Casos se arrastam por anos
"Não há prazo estabelecido de duração e, infelizmente, em alguns casos a apuração preliminar pode levar alguns anos", ressalta Zilli.
O professor cita como exemplo o caso da Nigéria, em que desde 2010 a Procuradoria analisa se abrirá ou não uma investigação contra seita islamista Boko Haram e as forças de segurança nigerianas por crimes de guerra.
Zilli ressalta que as fases de investigação e julgamento também são demoradas.
"Os casos, é bom lembrar, são extremamente complexos. Via de regra envolvem centenas, senão milhares de documentos, assim como exigem a oitiva de dezenas de vítimas e testemunhas que, note-se, não residem no país sede do Tribunal que é a Holanda. Há, portanto, um esforço imenso de logística e de energia humana, sem contar, obviamente, o uso de recursos tecnológicos", detalha.
Desde sua criação, o TPI analisou 27 casos e emitiu 34 mandados de prisão. A partir deles,16 pessoas foram presas, três tiveram os casos encerrados após sua morte.
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