quinta-feira, 18 de julho de 2019

Foda-se


Este deveria ser o nome do "projeto" que o atual MEC tem para as universidades públicas, ao invés do falso "Future-se"

Qualquer um que tenha estudado políticas públicas sabe que a distância entre o devaneio e a empiria é a exata extensão do fracasso. O próprio PT sentiu isto quanto mudou o programa do "Fome Zero", para o "Bolsa Família". Responsabilidade, exiquibilidade e efetividade são as bases para qualquer proposta.

Há anos que venho rindo muito das pessoas que comparam o Brasil com a "Suíça", "Coréia do Sul" ou quaisquer outros desses clichês neoliberais. Uma equipe de fiscais é capaz de cruzar a Suiça de carro, fazendo vistorias em obras públicas em uma semana, com direito a jantares e descansos. No Brasil, a escala é sempre diferente. 

A "proposta" do atual MEC é um devaneio de "jestores" que nunca colocaram em prática qualquer política pública no Brasil. Desconhecem as especificidades regionais, os gargalos administrativos e mesmo as necessidades de área. 

Primeiro eles pretendem "criar um fundo" de cerca de 50 bilhões com "ações na bolsa" que seria a única forma das universidades obterem recursos. A forma para conseguir e manter este fundo são secretas. Quem o administrará será um "jestor" e certamente ele estará orientado para a busca de lucro. Esta busca, na concepção dos ineptos do MEC, garantiria que os recursos fossem bem empregados. É o velho engodo do "livre mercado".

Obviamente que o tal fundo vai ter uma composição decisória voltada a financiar somente projetos que o "mercado" julgue lucrativos. É a educação se dobrando ao eixo do lucro, como em nenhum outro país do mundo. Segundo o projeto do MEC universidades do Brasil inteiro "concorreririam" com projetos a serem analisados. Apenas os "melhores" seriam premiados com verbas. Como se houvesse uma forma "medir" o mérito de um projeto de antropologia que busca compreender a filosofia do tempo nas tribos afastadas da amazônia, em comparação com um outro que visa "enquadrar" o "esquerdismo sindical" aos cânones do "mundo contemporâneo". 

Forçar a criação de padrões de comparação e usar a força do dinheiro para criar um consenso de que estes padrões são "justos" foi a base do golpe que o Brasil tomou desde 2013. Agora eles querem a mesma lógica na educação.

Não há nenhuma forma equitativa de fazer "concorrência" entre universidades diferentes, assentadas sobre tecido social, político, cultural e geográfico diferentes, com ontologias dessemelhantes e interesses sociais distintos. Só na cabeça de um liberal "cabeça-de-planilha" pode passar a ideia de que toda a diversidade de produção de conhecimento possa ser emoldurada por "jestores" e "bolsa de valores".

O projeto é a decretação da morte da educação pública, da ciência no Brasil e a chave final para o desmonte da educação superior no Brasil. 

A mera proposição deste absurdo deveria já ser recebida com uma greve geral da educação superior. Mas a forma sórdida com que o MEC acredita "convencer" a população de que o projeto "é bom" é criminosa. É o uso da máquina e do dinheiro público contra o interesse do que é público e do país. Algo, aliás, que prática corrente do (des)governo fascista de Jair Bolsonaro.

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