Moisés Mendes
Foi amplificada desde ontem a pergunta que voa em torno de Bolsonaro como uma mosca que o golpe engordou: qual é o limite do apoio da direita a ele e ao governo, se o próprio Bolsonaro prova todos os dias que suas falas e atitudes não têm limites?
Qual é a racionalidade do apoio de uma direita dita liberal a um presidente que nega a existência de famintos e miseráveis (ainda mais miseráveis desde a eleição) e que ataca nordestinos como paraíbas governados por políticos inimigos, que não devem ter apoio nenhum do governo?
A direita, à espera do FGTS e dos efeitos da reforma da Previdência (que efeitos difusos seriam esses?) não vai brigar com Bolsonaro agora. A direita tentou e recuou da ideia de que Mourão poderia ser uma alternativa. Entraram na arapuca que elegeram e não conseguem sair.
Mas não há alternativa em manobras. A única saída contra a destruição da educação, da saúde, do ambiente, a única forma de salvar o que sobrou de alguma coesão social, das expectativas e, claro, dos restos de sonhos é a reação crítica das pessoas, uma mobilização mínima contra o que está claramente caracterizado como autoritarismo e revanchismo.
E aí há quem debata se Bolsonaro tem método. Não há método na cabeça do ministro do Meio Ambiente que destrói o ambiente? Da ministra da Agricultura que libera venenos? Do cara da Educação que vai acabar com a educação pública? Do Batman da Justiça, que reafirma no governo as táticas da Lava-Jato?
O método básico, bem representado pelos filhos, é o movido pelo ressentimento, pelo ódio, pela perseguição e pela discriminação. Bolsonaro quer destruir tudo que for de esquerda ou que acha que seja de esquerda e governar para os 18% da sua base dita ideológica, formada pelos brancos ricos, a classe média decadente e os pobres que se acham ricos.
Mas e o resto? O resto ainda pensa no que fazer, se é que pensa depois de cada movimento de reafirmação de que a coisa se movimenta mesmo com os militares, com o Supremo e com tudo, incluindo os milicianos.
O resto pode ser dividido entre os tomados pela ignorância profunda, os resignados, os omissos, os cansados, os acovardados e suas subdivisões.
O resto é maior do que Bolsonaro e sua base de apoio, muito maior, mas só uma parte pequena desse resto tem manifestado alguma força para pensar, se articular e reagir. O resto é um imenso resto.
Hoje, só os paraíbas poderiam nos salvar.
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