Alvaro Costa e Silva
Quem paga mais leva: nos próximos anos corrida deve continuar em São Paulo
Chase Carey, o chefão da F-1, parece um personagem de faroeste classe B produzido pela RKO. A começar pelo antiquado bigodão formando pontas para cima, que ele usa para esconder a cicatriz de um acidente automobilístico. Em especial, Carey lembra os chamados "medicine men".
Apóstolos da palavra de P. T. Barnum, segundo a qual "nasce um otário por minuto", eles viajavam em carroças tocando banjo e vendendo óleo de cobra. Alguns resolveram fabricar a própria beberagem --uma mistura de ferro, cálcio, fósforo, mel e uma dose além da conta de álcool--, prometendo a cura para unha encravada, reumatismo, úlcera, tuberculose, câncer, impotência. Essas drogas viraram mania nos EUA e patrocinaram caravanas gigantes com atrações artísticas que rodavam o interior do país.
Em escala mundial e vendida como esporte, a F-1 segue o mesmo esquema. Conhecendo seu público, Chase Carey nem se espantou de, ao chegar ao Brasil, ter sido paparicado pelo presidente, pelos governadores de São Paulo e do Rio de Janeiro e ainda pelo prefeito do Rio. Ele deve ter pensado: melhor lugar para armar um circo não pode haver.
O empresário expandiu seu negócio com o lema "quem paga mais leva". Portanto, a corrida deverá continuar em Interlagos nos próximos anos. Até o Rio arrumar um jeitinho milagroso de ajudar um grupo de espertalhões a construir um novo autódromo em Deodoro. Aqui estamos acostumados a gastar com "legados".
E tome cortina de fumaça: a declaração de Bolsonaro, desejando que o episódio do militar preso na Espanha com 39 kg de cocaína tivesse ocorrido na Indonésia, país onde se pune com pena de morte o tráfico de drogas. Na Cochinchina ou em Caixa-Prego, o que importa é que o sargento e a droga estavam dentro de um avião a serviço da Presidência do Brasil rumo à cúpula do G20.
Alvaro Costa e Silva
Jornalista, atuou como repórter e editor. É autor de "Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro".
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