O neoliberalismo é uma ilusão simplória e nefasta. Já quebrou a Argentina duas vezes. Mauricio Macri chegou ao poder para liquidar o populismo gastador dos Kirchner. Liquidou o país. O Chile é a menina dos olhos dos neoliberais, que perdoam as atrocidades da ditadura do horrendo Augusto Pinochet por seus supostos avanços econômicos. A pátria de Pablo Neruda está novamente sob patrulha do exército para conter a fúria das massas. Motivo: ninguém suporta mais as desigualdades sociais alimentadas por décadas. Um país não é uma casa de família na qual só se deve gastar o que se arrecada. Tampouco deve ser cada um por si num Estado mínimo. O Chile em chamas tem toque de recolher e 15 mortos.
O ministro Paulo Guedes quer importar o modelo chileno para o Brasil. O jornal Folha de S. Paulo resumiu o caos instalado no Chile desta maneira direta e clara: “O descontentamento da sociedade com o sistema previdenciário chileno, administrado por empresas privadas, o custo da saúde, o deficiente sistema público de educação e os baixos salários em relação ao custo de vida acabou emergindo junto com os protestos sobre o preço do metrô”. O sistema de aposentadoria por capitalização resultou em idosos ganhando menos do que o salário mínimo e em altas taxas de suicídio entre os mais velhos. Tudo para que o setor financeiro faturasse muito.
O ciclo neoliberal parece esgotado. Deixa um rastro de miséria atrás de si. A desigualdade, como sempre, assombra a América Latina. O Equador explodiu. O presidente equatoriano teve de recuar no aumento dos combustíveis decretado para agradar ao FMI. O chileno deu para trás no aumento das passagens de metrô. Quando as massas rugem os neoliberais mandam as forças armadas às ruas e depois recuam para salvar os móveis dos palácios. Se a ditadura concentrada de Maduro na Venezuela desandou, as “ditaduras” difusas do rentismo nos países neoliberais, com o Chile na vanguarda, afundam também. A utopia chilena só tinha três problemas: educação, saúde e aposentadorias. As três juntas são chamadas de exclusão, mas aceitam o apelido de espoliação desenfreada e cínica.
O jornal francês Le Monde mostrou que o “oásis da região” era, na verdade, nas palavras do próprio presidente Sebastian Piñera, uma “bomba-relógio”, uma “panela de pressão” prestes a explodir. Era o oásis do sistema financeiro. Santiago, a bela capital chilena, foi tomada por barricadas. O desespero não pode ser medido pelo PIB. O “paraíso” neoliberal chileno foi construído sobre cadáveres, torturados e desaparecidos do regime de Pinochet, um dos mais bárbaros num continente acostumado à barbárie. Outro jornal francês, Libération, descreveu Santiago do Chile como uma “cidade muito poluída e engarrafada”. O cartão-postal era cheio de imperfeições. Por trás do cenário cantado em prosa e verso, a morte.
Portugal, governado pela esquerda, para onde parte da direita brasileira foge, desafiou o neoliberalismo da União Europeia e está de vento em popa. A Bolívia, do reeleito Evo Morales, é o país que mais cresce na América Latina. Gás e petróleo foram nacionalizados. Segundo a BBC, “as multinacionais tiveram que renegociar os contratos com a estatal Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos para continuarem operando no país e passaram a pagar mais para explorar jazidas”.
Que atraso! Bom era o Chile.
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