terça-feira, 15 de janeiro de 2019

Como o Saco de Bosta foi eleito


A FARSA E AS IGNORÂNCIAS
Moisés Mendes

Uma pergunta que inquieta mais da metade do Brasil e que reaparece hoje numa boa análise de diretores do DataFolha: como Bolsonaro foi eleito, se a maioria dos brasileiros discorda do que seria a sua plataforma básica de ações de governo?

Os brasileiros, como ucranianos, italianos, tunisianos, búlgaros e 99% da população mundial, querem mais segurança, saúde e trabalho. Mas os brasileiros são contra o armamento, a escola sem partido, as privatizações, o fim das leis trabalhistas, a aproximação seletiva com os Estados Unidos, a redução das terras indígenas.

Na análise das pesquisas, por Mauro Paulino e Alessandro Janoni, aparece um dado que pode ser esclarecedor: os que detêm as maiores rendas, a classe média abastada e os ricos, são em absoluta maioria os que mais se engajam às teses bolsonaristas.

Os ricos adoram Bolsonaro. A conclusão mais óbvia é esta: a classe média que era tucana puxou a arrancada pró-Bolsonaro, reforçando o que seria o bolsonarismo de raiz (armamentistas, moralistas, reacionários em geral, antiPT, antiLula, religiosos, gente que vê Jesus na goiabeira) e levou o povo junto.

Eu gosto de respostas semelhantes à dada por Flavio Koutzii na entrevista ao Sul21. É isso o que ele diz quando fala do eleitor de Bolsonaro, de uma forma direta:
“Eles não fizeram por mal. Fizeram por estúpidos, muitos. Mas fizeram com uma convicção sincera, embora convicção composta de elementos inquietantemente regressivos para ser discreto e elegante”.

As análises do DataFolha também põem os pesquisados em caixas, não só por classe, mas por grau de adesão às teses bolsonaristas.

E aí vai ficando mais evidente essa constatação dolorosa. As pessoas não sabiam em quem estavam votando. Sabiam que era um antiPT, um antissistema (como farsa), um anti-tudo-isso-daí. Mas na verdade não queriam o que ele defende, quando cada questão é especificada.

Bolsonaro (que manteve um teto de 18% nas pesquisas durante quase toda a véspera do primeiro turno) foi eleito na reta final pela corrida dos ‘indecisos’ desinformados, pelos tucanos desorientados, pelos incapazes de avaliar o que ele representava.

A facada, a desinformação e as ignorâncias ajudaram Bolsonaro a prosperar, ou o ataque em massa das fakenews comandadas pelo filho do homem não teria resultado.

Se as pessoas acreditaram em mentiras e votaram em Bolsonaro, está dada a resposta. Elas estavam vulneráveis. A direita descobriu essa vulnerabilidade há muito tempo no mundo todo.

Mas as esquerdas não gostam de falar disso, de como a maioria está alheia ao que se passa ao redor, porque é politicamente incorreto. Ah, esse eleitor ajudou a eleger Lula e poderia também eleger Haddad. Poderia, mas não elegeu.

Uma hora as esquerdas terão de enfrentar essa realidade, ampliada pela omissão das próprias esquerdas e o descaso com a comunicação. As esquerdas entregaram a classe média e o povo à direita.

O filho de Bolsonaro já fala na criação de uma TV bolsonarista. A CNN vem aí com um projeto à direita da Globo.

Sentiremos saudade do poder de alienação da Globo, que preparou o eleitor para a recepção, pelos meios virtuais, das mentiras e da difamação disseminadas pelo bolsonarismo.

Um esperto tático de esquerda, com a cabeça na batalha e não na guerra, vai dizer: mas TV hoje não é o canal, o canal é o Twitter, ou Instagram, o youtube, o WhatsApp.

Então tá.
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Este trecho de que "As esquerdas entregaram a classe média e o povo à direita." é de uma ingenuidade comovente, para não falar "burrice" em respeito ao Moisés. Por acaso existe alguém com o perfil abaixo para fazer uma rede de TV progressista? Não, não existe  e nunca existirá. O buraco é muito mais em cima. Poderia ter feito uma TV pública? Podia e fez, mas se investisse centenas de milhões nela para torná-la competitiva seria derrubado por tanques, não pelo congresso. Aqui não é a Venezuela e, mesmo assim, vejam como está a Venezuela...
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O canal de notícias CNN chega ao Brasil por meio do empresário mineiro Rubens Menin, fundador da construtora MRV. Além da MRV, a família controla o Banco Inter, a Log Commercial Properties (que acaba de estrear na Bolsa), e também incorpora fora do País.

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