quarta-feira, 31 de março de 2021
Bolsonaro precisa ser neutralizado, afastado do poder e depositado na caçamba da História
Quando acaba a pandemia?
Quando acaba a pandemia? Do @drauziovarella , no Instagram. pic.twitter.com/KJQJw3wkPi
— Rita Machadø (@nesimachado) March 31, 2021
Valentão de Palácio
Já tínhamos no Brasil como consagrada a expressão "cavalo paraguaio" que define aquele tipo de político que sempre larga na frente nas pesquisas eleitorais e nas urnas amarga um dos últimos lugares. E o famoso "cavalo de parada"? Aquele político bonitão, garboso, charmoso, mas que é um zero à esquerda no trabalho e no desempenho parlamentar.
Jair Bolsonaro, o estorvo que reside no Palácio do Alvorada e trabalha no Palácio do Planalto, é inspiração agora para um novo personagem na política nacional: o "valentão de palácio".
O vi hoje, em discurso no Palácio Planalto, exortando os brasileiros a sairem às ruas e enfrentarem com coragem a pandemia do coronavírus. Nenhuma palavra sobre os cuidados, a necessidade de distanciamento social, sobre a permanência em casa sempre que possível. Pelo contrário, mentiras sobre um suposto "lockdown" que estaria acontecendo no país e do qual ele é crítico ácido.
Ora, ora, qualquer que saia às ruas de qualquer cidade brasileira sabe que no máximo, em algumas, estão em curso medidas de fechamento de boa parte do comércio e restrições à circulação de pessoas em horários noturnos. Em quase nenhuma nada próximo a um "lockdow". Este é o panorama geral.
O presidente mente, como usual.
Mas, além de mentir, exortar brasileiros pobres da periferia que, se adoecerem de forma gravosa, irão morrer em casa por causa do colapso do sistema de saúde público é covardia. Mesmo os brasileiros de classe média alta, que possuem bons planos de saúde, na atual situação correm o risco de ficar sem atendimento médico por ausência de vagas nas UTIs de hospitais privados.
A exortação ao enfrentamento do vírus de "peito aberto" como defende o ignóbil presidente brasileiro é típica de um "valentão de palácio". Ele e sua extensa família estão protegidos por centenas de assessores, médicos renomados e garantia de que face à qualquer problema terão assistência médica imediata e integral, com transporte por helicópteros a qualquer excelente hospital brasileiro.
É fácil, muito fácil, ser um "valentão de palácio".
No fundo, apenas um covarde.
Bolsonaro: o cavalo de Troia que pode deixar os militares a pé
Covid volta a crescer globalmente
Covid volta a crescer globalmente, alertam Drudge e Axios
Aumento vai dos EUA à Índia; no Brasil, número de mortes 'ultrapassa em muito qualquer coisa vista no início da pandemia'
No alto do Drudge Report, "Vírus cresce globalmente...", linkando o site Axios. Além da "desgraça iminente" nos Estados Unidos, como foi descrita pela própria Casa Branca, são citados Índia, Alemanha, Quênia e sobretudo:
"O Brasil está registrando, de longe, o maior número de
mortes diárias do mundo, ultrapassando em muito qualquer coisa vista no início
da pandemia." Foi antes das 3.780 de
terça (30).
Sobre os EUA, no alto da home do Washington
Post, "Nação se prepara para quarta onda com aumento de casos".
No New
York Times, a "ameaça de surto de casos" chegou a ser manchete
pela manhã, na terça, responsabilizando novamente a "variante que surrou o
Reino Unido, B.117".
Pelas contas do WP, o salto em uma semana foi de 12%. Pelas
contas do NYT, alertando que "a nação está muito longe de alcançar a
chamada imunidade de rebanho", o salto em duas semanas foi de 19%.
Em editorial com a foto acima, a nova edição em revista do financeiro Caixin, de Pequim, cobra vacinação "mais rápida", enfatizando que "a China controlou com sucesso a pandemia, mas elevar a taxa de vacinação tornou-se uma prioridade máxima".
Segundo o site Our World in Data, os
EUA vacinaram 145 milhões, a China, 110 milhões.
Temos ódio à ditadura. Ódio e nojo.
Ditadura não se celebra. Vivemos sob o manto da Constituição de 1988, elaborada para sepultar 20 anos de arbítrio. No discurso de promulgação, Ulysses Guimarães sintetizou o espírito da Carta Magna: "Temos ódio à ditadura. Ódio e nojo."
"Amaldiçoamos a tirania onde quer que ela desgrace homens e nações. (...) A sociedade foi Rubens Paiva, não os facínoras que o mataram (...) Traidor da Constituição é traidor da pátria." (...)
"Conhecemos o caminho maldito. Rasgar a Constituição, trancar as portas do parlamento, garrotear a liberdade, mandar os patriotas para a cadeia, o exílio e o cemitério."
Disputar a memória sobre o passado é lutar pelo futuro
Jumentos fardados
Todo esse rumor de botas, de jumentos fardados, é para agradecermos a pseudodemocracia que nos enfiam pela guela. O facão suspenso sobre nossos pescoços. A chama do medo acesa. E, mais uma vez, com o apoio incondicional da mídia, que finge se indignar mas colabora com a farsa.
terça-feira, 30 de março de 2021
Non, je ne regrette rien
Édith Quack pic.twitter.com/fObG5kBeXl
— Bruno Sartori (@brunnosarttori) March 30, 2021
A linguagem bozonazista
Mitologia bolsonarista inventou dispositivo invertido com disfarce libertário
Um leão desdentado
Xuxa e os direitos humanos
Em sua linguagem utilitarista, presos se equiparam a ratos de laboratório
Em recente entrevista, Xuxa se manifestou contra o uso de animais em testes de cosméticos e remédios. E ofereceu, digamos, o que lhe pareceu uma boa alternativa. "Eu tenho um pensamento (...) que pode parecer desumano porque, na minha opinião, existem muitas pessoas (...) que estão pagando seus erros num ad aeternum para sempre em prisão, que poderiam ajudar nesses casos aí, de pessoas para experimentos, sabe? Pelo menos eles serviriam para alguma coisa antes de morrer, entendeu?".
Entendi, Xuxa. Entendi que você acha natural que pessoas possam ser usadas como cobaias sem que seja da vontade delas apenas porque você acha que quem está atrás das grades, sob custódia do Estado, não deve ser tratado como gente. Entendi que você não tem discernimento para distinguir justiça de vingança. Entendi que no seu pensamento e linguagem utilitaristas, pessoas se equiparam a ratos de laboratório. A palavra "experimentos" me causou calafrios. Os livros de história mostram onde isso vai dar.
Xuxa foi rápida em seu pedido de desculpas: "Quem sou eu pra dizer que essas pessoas estão ali e que devem ficar ali ou morrer ali? Quem sou eu pra fazer isso?". Aí é que está. Personagem onipresente na TV, fenômeno de popularidade, Midas de um império empresarial, Xuxa é referência para milhões de pessoas.
Fixa padrões, como seu programa da década de 1980 cheio de clones loirinhos num país de todas as cores. O que Xuxa disse não foi uma frase solta e descuidada. É expressão didática do seu pensamento, explica muito do caldo de cultura que formou milhões de "baixinhos" e aprofunda o abismo em que estamos.
"Bolsonaro tem que responder criminalmente pelo que tem feito", diz Drauzio Varella
‘Ninguém tem ideia do caos nas UTIs’, diz Drauzio
Para o oncologista, o Sistema Único de Saúde é o maior programa de distribuição de renda do país, porque permite a qualquer pessoa ter acesso a procedimentos de alta complexidade
Por Leila Souza Lim
“Meu sentimento hoje é de revolta”, diz angustiado o médico Drauzio Varella, ao falar do campo arrasado que é a pandemia no Brasil. Depois de ver na última semana o país firmar posição no topo da curva de casos e baixas de vidas por covid-19 no mundo, o oncologista salienta que evitar mortes agora exige esforços que superam a capacidade hospitalar nacional e, no curto prazo, mesmo os de vacinação.
O oncologista frisa que a situação é de caos e não está mais circunscrita à covid-19. “Nossos hospitais entraram em colapso, todos eles, no país inteiro. E esse colapso não atinge só as pessoas com covid, mas também as que têm outras doenças”, afirma.
O médico cita a situação no Hospital das Clínicas de São Paulo, um dos maiores centros médicos do país para cirurgias, destinado a tratamento de casos graves. A média de pedidos de internação ao longo de sete dias até quinta-feira passada, lembra ele, era de 364 por dia, dos quais 110 de pacientes graves não covid e 254 em estágio agudo da doença provocada pelo coronavírus.
Em tom de desabafo, lamenta que muitos ainda só tomem essa consciência quando perdem entes próximos ou tentam em vão vaga em UTIs nas unidades públicas, onde pessoas já experimentam a agonia de despertar da sedação intubadas por falta de anestésicos.
“O controle da pandemia escapou ao alcance dos serviços de saúde. Ninguém tem ideia do caos que são as UTIs hoje. Colegas na linha de frente veem acabar os medicamentos para a intubação. Agora, imagina você acordar com um tubo na garganta, sem entender nada”, relata.
“As pessoas não têm noção do que seja uma Unidade de Terapia Intensiva lotada, as equipes sem tempo, precisando reanimar um paciente, enquanto outro chora com dor”, continua o especialista, para quem a única saída agora é convencer a população de que esse combate está nas mãos de cada cidadão. Segundo Drauzio, nem mesmo o recente reposicionamento do governo em relação às vacinas traria resposta imediata.
Depois de mais de um ano desprezando o trabalho dos laboratórios e medidas sanitárias, o presidente Jair Bolsonaro (Milícia - RJ) se viu sob forte pressão no campo político e prometeu na semana passada o “ano da vacinação dos brasileiros contra a covid-19”. Na visão de Drauzio Varella, contudo, perdeu-se o timing para conter a segunda onda da covid-19 no curto prazo com imunização em massa, e a medida nunca poderia ter sido a principal aposta.
Razão de queixas diárias de técnicos em saúde, a vacinação progride claudicante no Brasil pelo fato de o Executivo federal não ter dado crédito à ciência, enquanto o resto do mundo corria para assegurar doses.
“Vacinação? Esquece, é como se as vacinas não existissem [neste momento, para conter o agravamento da doença]. Pensa comigo, se você pega o vírus hoje numa festa, os primeiros sintomas virão cinco, seis dias depois. Aí você perde o olfato, fica enjoada, sente dor no corpo, a primeira semana vai ser mais ou menos bem para todo mundo. As complicações vão surgindo pelo oitavo, nono, décimo dia. Não se morre de cara... Em grande parte dos casos, a pessoa morre quatro semanas depois de pegar o vírus”, observa o oncologista.
Para ele, a crise sanitária chegou a tal ponto de desgoverno que só uma grande mobilização em torno do isolamento social pode impedir que o país protagonize muito em breve a maior das catástrofes entre as nações atingidas. E para quem ficou assombrado ao ver o Brasil cruzar a barreira de 300 mil registros oficiais de óbitos na semana passada, Drauzio resigna-se por não ter perspectivas mais otimistas.
“Nesse ritmo, é questão de uns 70, 75 dias. Já no fim de maio, chegaremos às 400 mil mortes no Brasil. Como a saúde vai dar conta de uma coisa dessas? Impossível”, diz.
“Se conseguíssemos vacinar todos os brasileiros no fim de semana, o que ia acontecer com a mortalidade? Nada, absolutamente nada, porque o número de mortes conta a história da epidemia do passado. E nós teríamos pelo menos no mês de abril o mesmo número de óbitos, como se não houvéssemos vacinado. Agora, você imagina com essa imunização incipiente, a conta-gotas...”, comenta o médico.
O médico faz sua parte para informar ao máximo sobre a doença e os riscos. Mas argumenta que nem ele nem colegas médicos ou cientistas podem alterar a realidade sem que lideranças do país mudem as mensagens e o curso das políticas de enfrentamento à pandemia adotadas desde março de 2020.
“Negacionismo é uma palavra muito leve para caracterizar essas pessoas, isso é fingir que algo não existe. O que fizeram foi tomar atitudes para disseminar a epidemia. Agiram ativamente, comandados pelo presidente da República, que é o maior responsável por tudo o que estamos vendo”, afirma o especialista.
Drauzio diz reconhecer que uma nação com mais de 50 milhões de pessoas empobrecidas e acima de 10 milhões na pobreza extrema não poderia fazer um lockdown de fato. “Então já partimos da situação de um país com tremenda desigualdade social, uma das maiores do mundo, que não ia ter condição de fazer isolamento social como o fizeram países ricos da Europa e Ásia.”
Mas o médico faz questão de reafirmar, porém, que a aceleração dos indicadores de casos e mortes contou com colaboração decisiva do presidente da República. Segundo ressalta ele, Bolsonaro partiu do princípio de que a economia tinha que ser preservada e que as pessoas tinham que trabalhar. Para Drauzio, o mais grave foi que presidente não só tratou o distanciamento social como algo desimportante, mas deu exemplo contrário às medidas de proteção.
“Sim, ele. Ao não usar máscara, ao provocar aglomerações. E tem feito isso ininterruptamente durante toda epidemia, desde o primeiro caso no Brasil, até as 300 mil mortes.” Ao comentar que leu e gostou do manifesto assinado por economistas e banqueiros instando o governo federal a coordenar um plano nacional de combate à pandemia, faz ressalva para dizer que achou a atitude tardia. “Tem um problema de timing, um ano para fazer isso?”, indaga.
“O que paralisa a economia é a epidemia. Cinco montadoras deram férias coletivas para seus funcionários. Por que fazem isso? Porque temos uma epidemia descontrolada, e elas não têm condições de dar segurança aos funcionários no trabalho.”
É impossível não notar, em mais de 40 minutos de conversa, que o médico que sempre defendeu qualidade de vida, os mais pobres e o acesso universal à saúde não pronuncia uma só vez o nome do presidente. E preocupado por demonstrar irritação, o oncologista faz mais de uma pausa para pedir desculpas pela contrariedade com o descaso.
Ele faz alusão ainda à fala do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que afirmou que estava “apertando o sinal amarelo”, citando “erros primários, desnecessários e inúteis” de governos, embora sem especificar diretamente a quem se referia. “Agora? Foi necessário morrerem 300 mil pessoas para eles apertarem o botão amarelo? Então estava verde?”, questiona Drauzio.
Se fosse consultado sobre o que o governo deveria fazer de imediato, o médico diz que recomendaria ao presidente Bolsonaro que primeiramente pedisse desculpas por seus erros. “Ele deveria aparecer diante da nação e pedir desculpas, dizer que estava completamente errado, e que é preciso fazer distanciamento social, coisa que ele não vai fazer. E esquecer essa bobagem de tratamento precoce.” Quase ao fim da entrevista, porém, o oncologista e escritor endurece a opinião sobre o chefe de Estado: “Eu não queria falar com o presidente, não. Porque dizer a ele para pedir desculpas é muito pouco. Acho que ele tem que responder criminalmente pelo o que tem feito. Você não pode causar uma hecatombe, uma catástrofe dessa num país, e depois dizer: ‘olha, me desculpe, eu me enganei’”.
Não existem militares democratas, moderados ou independentes
Muito jornalista que divulga versões em off de generais precisaria ter mais visão crítica em relação a suas fontes, porque vêm errando demais. A tese de que milicos se incomodam com Bolsonaro e buscam controlá-lo já foi desmentida pelos fatos inúmeras vezes.
Jornal Nacional faz propaganda de Moro
Tratamento do “Jornal Nacional” ao ex-juiz Sergio Moro é propaganda. Não é jornalismo. Ele mente sem contraponto nenhum depois de tudo o que veio a público com conversas da Operação Spoofing. Jornalismo tem de valer para todos.
segunda-feira, 29 de março de 2021
Enfraquecido, Bolsonaro eleva dependência do Centrão e perde apoio militar
No tocante a cuestão do golpe, o que seria pior do que isso tudo que está aí?
É golpe?
Toda vez que Bolsonaro precisa demitir um lunático, ele troca um general junto. Para salvar as aparências no mundo da Lua.
Esse é o cenário otimista.
Ao demitir o ministro da Defesa no mesmo dia em que foi obrigado a despachar seu caquis-chanceler, Bolsonaro fez o que faz melhor: confundiu.
A narrativa predominante – um presidente enfraquecido – foi substituída por uma pergunta: é golpe?
É golpe, sim. De desinformação.
Monstro que expôs tomografia de Marisa Letícia, morta por AVC, tem pai e irmão mortos por AVC
Jornalista que expôs tomografia de Marisa Letícia, morta por AVC, tem pai e irmão mortos por AVC
O jornalista Claudio Tognolli comunicou em seu perfil no Twitter uma tragédia pessoal.
“Quinta meu irmão morreu de AVC e hoje meu pai morreu de AVC: correm-me lágrimas que queimam…”, escreveu.
Em janeiro de 2017, Tognolli expôs em suas redes a tomografia de Marisa Letícia, então internada no Sírio Libanês após sofrer exatamente um AVC.
Ele contou ter recebido o material de uma fonte “militante do PT e muito ligada ao partido”.
No vídeo, defendeu que a publicação era de interesse público.
Os médicos que analisaram a tomo, afirmou, “falaram que se continuar nesse quadro, ela não se recupera tão cedo e vai ter dificuldade para voltar a andar. Não estou mentindo nem fazendo juízo de valor”.
De acordo com o Código de Ética Médica, profissionais da área não podem permitir o acesso de terceiros a prontuários.
O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo abriu sindicância para apurar o vazamento, mas nunca chegou a lugar nenhum, obviamente.
A ex-primeira-dama morreu às 18h57 de 3 de fevereiro de 2017.
Milico da Defesa também sai do "governo"
É cedo para dizer, mas a saída do ministro da Defesa de Bolsonaro tem toda a pinta de ser um ponto de inflexão para os militares. Quem mexe com arma e com o uso da força sabe que não dá para ter motim armado, insubordinação e crise eclodindo pelo país sob aplausos do presidente.
E olha que a saída não deve ter sido amistosa ou fácil para ocorrer no mesmo dia da renúncia de Ernesto e uma semana depois da saída do Pazuello.
Não faz diferença nenhuma se o ministro da Defesa renunciou ou foi demitido. O que importa é que isso pode sinalizar um distanciamento das Forças Armadas, com as quais Bolsonaro insiste em realçar uma união carnal que, de fato, não existe. Esse é o meu palpite.
A queda do Chancelouco não muda nada
Lava Jato "ajudou a eleger o Bozo" e é preciso se desvincular dele, diz procuradora a Dallagnol em diálogos
Mônica Bergamo
Jerusa Viecili afirma que 'só assim' jornalistas voltariam a confiar na operação e que procuradores ficavam em silêncio até mesmo diante de elogios à ditadura
Os procuradores da Operação Lava Jato discutiram, em março de 2019, uma forma de se desvincular de Jair Bolsonaro para que os jornalistas voltassem a dar credibilidade à operação.
As conversas foram entregues nesta segunda (29) ao STF (Supremo Tribunal Federal) pela defesa de Lula. Os advogados foram autorizados pela Corte a ter acesso ao material da Operação Spoofing, que investiga o hackeamento dos diálogos.
"Delta, sobre a reaproximação com os jornalistas, minha opinião é de que precisamos nos desvincular do Bozo [Jair Bolsonaro], só assim os jornalistas vão novamente ver a credibilidade e apoiar a LJ [Lava Jato] ", diz a procuradora Jerusa Viecili a Deltan Dallagnol no dia 28 de março de 2019. A grafia foi mantida na forma original das mensagens.
Jerusa segue: "Temos que entender que a FT [força-tarefa] ajudou a eleger Bozo, e que, se ele atropelar a democracia, a LJ [Lava Jato] será lembrada como apoiadora. eu, pessoalmente, me preocupo muito com isso (vc sabe)".
A procuradora diz ainda que os integrantes da Lava Jato já haviam tido a oportunidade de desvincular a imagem deles da do presidente, mas que elas foram perdidas.
Afirma que eles teriam feito cobranças mais "fortes" no "caso Fávio" se "fosse qualquer outro político", numa referência a denúncias que envolvem o senador Flávio Bolsonaro, filho do presidente da República.
Na época dos diálogos, o ex-juiz Sergio Moro era ministro da Justiça de Bolsonaro.
"Veja que, no passado, em pelo menos duas oportunidades poderíamos ter nos desvinculado um pouco do Bozo nas redes sociais", escreve Jerusa ao colega. "1. caso Flavio (se fosse qualquer outro politico envolvido, nossa cobrança por apuração teria sido muito mais forte); 2. caso da lei de acesso à informação que o bozo, por decreto, ampliou rol de legitimados para decretar sigilo e depois a Camara derrubou o decreto. A TI fez nota técnica e tudo e nossa reação foi bem fraca (meros retweets). (ao lado do caso Flavio, o proprio caso de Onix Lorenzoni)", afirma a procuradora.
O ministro Onyx Lorenzoni, que na época ocupava a Casa Civil, foi acusado de uso de caixa dois. Na época, Moro disse que "admirava" o colega de governo. E que, "quanto aos erros [de caixa dois], ele mesmo admitiu e tomou prividências para repará-los".
Jerusa diz ainda na mensagem que sequer quando há elogios à ditadura por parte do governo Bolsonaro os procuradores da Lava Jato se manifestaram.
"Agora, com a 'comemoração da ditadura' (embora não tenha vinculação direta com o combate à corrupção), estamos em silêncio nas redes sociais. Não prezamos a democracia? concordamos, como os defensores de bozo, que ditadura foram os 13 anos de governo PT? a LJ teria se desenvolvido numa ditadura?", escreve ela, cobrando um posicionamento de Deltan Dallagnol.
A procuradora fala ainda da preocupação dos colegas com o apoio dos bolsonaristas, o que estaria impedindo um posicionamento mais firme deles em favor da democracia. Ela se refere aos seguidores do presidente como "bolsominions".
"Sei que há uma preocupação com a perda de apoio dos bolsominions, mas eles diminuem a cada dia. o governo perde força, pelos atropelos, recuos e trapalhadas, a cada dia. converse com as pessoas: poucos ainda admitem que votaram no bozo (nao sei como Amoedo nao foi eleito no 1º turno pq ultimamente, so me falam que votaram nele). enfim, acho que defender a democracia, nesse momento, seria um bom início de reaproximação com a grande imprensa. com relação a defender a Democracia, tambem seria importante um discurso de defesa das instituições. Atacamos muito o STF e seus ministros, mas sabemos que a democracia so existe com respeito às instituições. e o STF precisa ser preservado, como órgão máximo do Poder Judiciário brasileiro. pense com carinho ".
Deltan Dallagnol então responde: "Concordo Je. Acho nota esquisita. E se fizermos artigos de opinião? Acho que não da pra bater, mas da pra firmar posição numa abordagem mais ampla".
Ela finaliza: "Isso. defender, sem atacar".
domingo, 28 de março de 2021
A nova cara do futuro
Signatários de carta terão de ver em Lula o mais capaz de bater Bolsonaro
Se banqueiros, empresários variados e economistas concluíram que apoio ao atual presidente é suicida, devem preparar-se para o impensável
Se de fato os banqueiros, empresários variados e economistas signatários da Carta Aberta concluíram que seu apoio a Bolsonaro é suicida, devem preparar-se para pensar em fazer o impensável.
Seu candidato à Presidência assustou-se com o retorno de Lula e já avisou seus inventores de que não trocará os auditórios de TV pelos palanques da candidatura. Sem a esperança de um milagre com Luciano Huck, os signatários da carta que enfim pressentem seu próprio desastre, não pela pandemia mas pela derrocada do país, terão de ver em Lula o mais capaz, senão o único, de bater o devastador Bolsonaro e os recursos eleitorais do governo.
Vista a perspectiva com objetividade, os signatários da carta e seus assemelhados não tiveram motivo para repelir Lula, em cujo governo obtiveram êxitos e um período de tranquilidade como em nenhum outro.
Só muito depois encontraram a corrupção na Petrobras para explicar a idiossincrasia, mas era um fato que, em inúmeros setores, nunca lhes foi estranho.
Ciro Gomes tem potencial para uma candidatura importante, mas tudo sugere que sua margem de incerteza é, e tende a se manter, muito maior que a de Lula em disputa com Bolsonaro. A preferência de Huck pelo ganho em vez do risco abre a Ciro Gomes portas largas. Não, porém, entre banqueiros e outros segmentos empresariais que o veem com notória desconfiança.
O machinho
O Bolsonaro que vemos nestes dias é o mesmo valentão que, ao se ver abordado por um assaltante, sacou sua fulminante pistola Glock —e entregou-a ao bandido. Mas não só. Entregou também a moto. Bateu o medo então, bate o medo hoje. O Bolsonaro que voltam a ver em transformação, aceitando a máscara e propagando a vacina, é só o Bolsonaro acovardado. Com citações à derrubada até na celebração do próprio aniversário, que indicam onde e como está sua cabeça.
À falta de arma para entregar, servem os pescoços dos mais próximos paus-mandados. Eduardo Pazuello acha que foi degolado por pressão de Arthur Lira, presidente da Câmara desejoso de ver no cargo uma amiga do peito, ou cardiologista. O general obediente, na verdade, foi vítima da Carta Aberta em que economistas, banqueiros e outros empresários mostraram sua delicada discordância com o consentimento do governo à mortandade pandêmica. A chegada às 300 mil pareceu suficiente a ex ou ainda bolsonaristas para merecer-lhes algumas sugestões suaves.
O noticiário exibiu e falou de um Bolsonaro apressado para dizer-se, na TV, sempre adepto e praticante das providências mencionadas na carta. Mentiu como nos melhores momentos do seu cinismo.
Bolsonaro tinha mais do que pressa, aliás. Tinha pânico desde que soube da carta. Ao Congresso chegaram informações sobre seu estado, e isso se refletiu no passo vindouro: a reunião para constituir-se um pretenso comitê dos Três Poderes contra a pandemia. Não adiantou que só se selecionassem simpatias para o encontro: não deu para disfarçar o fracasso. Mas deu para comprovar o grau de desorientação vigente.
À impropriedade do convite que lhe foi feito, o presidente do Supremo, Luiz Fux, sobrepôs uma aceitação, embora efêmera, que embaralhava Executivo e Judiciário, em função estrita do primeiro. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, aceitou assumir uma coordenadoria que não lhe compete, para a qual não tem o saber científico conveniente, e nem se deu conta do que é o comitê desejado pelo grupo do Planalto: algo que lhe sirva de bode expiatório ou de laranja, conforme as circunstâncias. Como a função dada ao vice Mourão para a Amazônia.
O presidente da Câmara, Arthur Lira, parece desejoso de esculpir nova personalidade política. Não há comparação sua com o antecessor, mas o crescimento de Rodrigo Maia, no mesmo cargo, é um exemplo estimulante. Lira não amenizou discordâncias na reunião e, ainda por cima, guardou a melhor surpresa para pouco depois. Ao voltar à Câmara, fez um discurso sobre a situação e suas propensões. Lançou-se às mais agudas considerações feitas fora do exasperado jornalismo, e por uns poucos políticos. Não faltou lembrar nem “a solução amarga, e até fatal”, que é o impeachment ao alcance da Câmara.
Com isso, lá se vai a doidice mais simpática e de conceitos mais engraçados no governo. Vai para apaziguar críticos parlamentares. Até um militar já se foi, o coronel Elcio Franco, segundo na caótica hierarquia militar do Ministério da Saúde. Ao general Braga, por exemplo, convém fugir de correntes de ar no Planalto. Quase qualquer um pode servir para Bolsonaro entregar os sucedâneos humanos de sua Glock e da moto.
Ainda que não seja o mais desejado, pode-se esperar por fatos até mais interessantes para daqui a pouco.
O continuísta
Do novo ministro da Saúde: “Quem quer o lockdown? Ninguém quer lockdown”. É a nova voz de Bolsonaro e Pazuello, portanto. Marcelo Queiroga ainda não conhece os resultados europeus e asiáticos do confinamento. Mas poderia ter deduzido, com menos bolsonarismo a orientá-lo, que, se as pessoas não se oferecem ao vírus nas ruas e outras proximidades humanas, o bicho não tem como infectá-las.
O nosso lugar
Brasil: mais de 300 mil mortos, é muito difícil imaginar essa quantidade. Quase 7.000 na espera desesperada de um leito em UTI. No estado da riqueza, três mortos asfixiados por falta de oxigênio. E quatro na fila do último sopro de vida. No Distrito Federal da presunçosa e riquíssima Brasília, corpos mortos esperam a remoção, alguns por 24 horas, no chão de unidades de saúde e de hospital regional.
Vai piorar, advertem cientistas brasileiros e estrangeiros. Até quando o país tolerará a omissão das classes e dos políticos que controlam o país, eis a incógnita.
Transcrição, em Toda Mídia por Nelson de Sá, de frase em reportagem sobre a pandemia na rede pública de rádio dos EUA: “O Brasil parece o pior lugar do mundo”.
Vai voltar?
2022
Muito gente por aí, toda animada, dizendo que, depois da decisão do STF, quem vai voltar é Ciro Gomes.
Duvido.
Por causa da pandemia, ninguém vai poder voltar a Paris até janeiro de 2023, segundo a prefeitura local.
"O Diabo na rua, no meio do redemoinho..."
Comitê criado por Bolsonaro para o combate à pandemia só podia dar errado, e deu
Seria uma reunião dos chefes dos três Poderes para tratar da pandemia, pois o número de mortos havia passado dos 300 mil. Foi uma palhaçada típica das marquetagens oficiais. A encenação tinha a ver com o Executivo, e só com ele. Os outros dois Poderes nunca se meteram com a cloroquina nem com a “gripezinha”. Além disso, a presença do ministro Luiz Fux na fotografia era meramente simbólica.
Bolsonaro levou para o encontro alguns de seus ministros e governadores amigos. Ao fim da reunião, anunciou a formação de comitê para tratar da pandemia e delegou ao presidente do Senado a coordenação do trabalho com os governadores.
Confundiu cloroquina com cloro de piscina. O presidente do Senado não tem mandato nem jurisdição para tratar de um assunto que é só do Executivo. Se isso fosse pouco, em março do ano passado, quando a Covid havia matado só uma pessoa, Bolsonaro criou um comitê para assessorá-lo diante da pandemia. Foi entregue ao chefe da Casa Civil, general Braga Netto. Deu em nada e sumiu. No dia 22 de março, quando a pandemia matou 1.383 pessoas, ele tirou férias.
O evento de quarta-feira tinha tudo para dar errado, e horas depois o presidente da Câmara respondeu:
“Estou apertando hoje um sinal amarelo para quem quiser enxergar: não vamos continuar aqui votando e seguindo um protocolo legislativo com o compromisso de não errar com o país se, fora daqui, erros primários, erros desnecessários, erros inúteis, erros que que são muito menores do que os acertos cometidos continuarem a serem praticados.”
(...)
“Os remédios políticos no Parlamento são conhecidos e são todos amargos. Alguns, fatais. Muitas vezes são aplicados quando a espiral de erros de avaliação se torna uma escala geométrica incontrolável. Não é esta a intenção desta presidência. Preferimos que as atuais anomalias se curem por si mesmas, frutos da autocrítica, do instinto de sobrevivência, da sabedoria, da inteligência emocional e da capacidade política.”
Como ensinou Guimarães Rosa: “Sapo não pula por boniteza, mas porém por precisão”. Com suas obsessões e mentiras, Bolsonaro está ficando sozinho. É como gosta e como sempre esteve, desde quando era um capitão bagunceiro e transmutou-se num político irrelevante. Essa condição vai bem para a pessoa de Bolsonaro, mas está arruinando o país.
De novo, Guimarães Rosa avisou: “O Diabo na rua, no meio do redemoinho...”
Ideologia e diplomacia
Atribui-se ao diplomata Ernesto Araújo a condição de integrante de uma “ala ideológica” do governo.
Em defesa das tradições do Itamaraty, deve-se registrar que o doutor Araújo nada tem de ideológico, nunca teve. Na carreira diplomática, há quadros profissionais, oportunistas e uns poucos ideológicos.
Ideológico, conservador e até mesmo reacionário foi o embaixador Pio Corrêa (1918-2013). Chamava John Kennedy de “bestalhão” e lastimava que sua Copacabana dos anos 50 tivesse sido tomada pela “horda pululante e chinfrim de suburbanos transmigrados”.
Era embaixador da ditadura em Montevidéu quando a filha do presidente deposto João Goulart sofreu um acidente. Visitou-a no hospital. Anos depois, escreveu aos chefe do Estado Maior do Exército denunciado a prática de torturas.
Quem são os “oito”
O general Eduardo Pazuello caiu atirando, da pior maneira possível. Graças aos repórter Caio Junqueira sabe-se que na posse de seu sucessor, constrangeu-o dizendo-se vítima de uma “ação orquestrada” e de “pressões políticas”. Denunciou “um grupo interno nosso” que em fevereiro “tentou empurrar uma pseudo nota técnica” defendendo um medicamento. Eram “oito atores”, todos médicos da equipe que levou para o ministério.
O general contou que seu rigor blindando o ministério acabaria “dando merda”. Afinal, “a operação de grana com fins políticos acontece aqui”.
Pazuello poderia ter denunciado essa situação enquanto estava na cadeira, expondo o grupo dos “oito”. Preferiu se aborrecer com jornalistas. Tudo bem, ainda há tempo para que o faça, protegendo seu sucessor.
De qualquer forma, contribuiu mostrando o tapete debaixo do qual está a sujeira.
Quem quis sumir com os mortos
Sujeira debaixo do tapete, há, e persiste. Enquanto o general Pazuello falava dos “oito”, alguém alterou os critérios de registro de mortos pela Covid no Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe. Tornava obrigatória a informação do CPF, a nacionalidade e o grau de imunização do paciente. Com a gracinha, num só dia, o número de mortos em São Paulo cairia para 281, contra 1.021 na véspera. Só faltou exigirem um registro presencial, como as provas de vida dos aposentados.
As secretarias de Saúde reclamaram, e o doutor Marcelo Queiroga anunciou que a exigência foi cancelada.
Resta saber como esse jabuti foi colocado na árvore.
Madame Natasha
Natasha concedeu uma de suas bolsas de estudo ao novo ministro da Saúde, doutor Marcelo Queiroga. Ele entrou em campo pedindo um voto de confiança e disse o seguinte:
“Quem quer lockdown? Ninguém quer lockdown.”
No dia seguinte à fala de Queiroga, quatro defensores de um “lockdown rígido” de trinta dias assinaram um artigo defendendo a medida.
Entre eles, a professora Márcia Castro, da Escola de Saúde Pública de Harvard, e Carlos Lula, Presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde.
Queiroga quis dizer:
Jair Bolsonaro não quer o lockdown.