quarta-feira, 31 de março de 2021

Bolsonaro precisa ser neutralizado, afastado do poder e depositado na caçamba da História


Este 31 de março de 2021 ficará na história do jornalismo brasileiro como aquela peça de Shakespeare: "Muito barulho por nada".

Jair Bolsonaro tentou preparar o terreno para um golpe de força, por meio de uma patranha no Congresso Nacional, armada por seu acólito acéfalo deputado Major Vitor Hugo. O líder do PSL queria dar ao candidato a ditador poderes excepcionais, e explicou com a candura do escorpião: ""Eu pensei em incluir mais a hipótese de pandemia para a mobilização nacional".

O resultado foi um tiro pela culatra. O energúmero que governa este país não terá poderes excepcionais, e apenas a covardia, a omissão e a irresponsabilidade dos guardiães da República o mantêm no Planalto.

Mesmo que tentasse uma sedição em algumas praças das Polícias Militares, nunca teria o conjunto das forças e o que iria produzir seria o caos suficiente para fazê-lo apodrecer na cadeia.

Jair Bolsonaro sempre foi um fanfarrão. Em 1987, quando ameaçou explodir quartéis e a adutora de Guandu, no Rio, estava apenas criando um fato diversionista a serviço do grupo remanescente do ex-ministro Sylvio Frota, que temia a inclusão, na Constituição que estava sendo elaborada, de instrumentos capazes de punir os crimes da ditadura. Foi quando se aproximou do torturador Carlos Brilhante Ustra. Foi contido pelo então ministro do Exército Leônidas Pires Gonçalves, mas a fragilidade do governo Sarney e o desinteresse da imprensa, que estava mais preocupada com a "Constituição cidadã" e empenhada em conter os arroubos de Ulysses Guimarães e dos sindicalistas, fez com que a aventura terminasse em pizza.

Bolsonaro é um típico fascista.

O fascismo só atua montado no aparato do Estado. Quase sempre o vagido de seu nascimento é um discurso libertário, mas em sentido controverso: reage contra o futuro, propõe libertar-se a sociedade das "amarras" da civilização. Não é simplesmente uma ideologia conservadora - serve-se do conservadorismo para destruir a política, portanto destruir a Política.

E o que são os conservadores? Essencialmente, são aqueles que têm medo da dinâmica social. Agem por medo, são condicionados pelo temor a mudanças, e passam a viver no universo do negacionismo. Tudo era melhor antes, nada que é contemporâneo lhes convém.

No século 21, suas manifestações, inclusive o raciocínio entortado de jornalistas experientes que já tiveram uma biografia respeitável e a jogaram no lixo, soa como uma grita de malucos. E é isso mesmo. Por isso, o único remédio para esse mal é a energia das instituições democráticas, ou melhor, o rigor da lei, que faltou em 1987.

Bolsonaro precisa ser neutralizado, afastado do poder e depositado na caçamba da História.

Quando acaba a pandemia?

Valentão de Palácio

Claudio Guedes

Já tínhamos no Brasil como consagrada a expressão "cavalo paraguaio" que define aquele tipo de político que sempre larga na frente nas pesquisas eleitorais e nas urnas amarga um dos últimos lugares. E o famoso "cavalo de parada"? Aquele político bonitão, garboso, charmoso, mas que é um zero à esquerda no trabalho e no desempenho parlamentar.

Jair Bolsonaro, o estorvo que reside no Palácio do Alvorada e trabalha no Palácio do Planalto, é inspiração agora para um novo personagem na política nacional: o "valentão de palácio".

O vi hoje, em discurso no Palácio Planalto, exortando os brasileiros a sairem às ruas e enfrentarem com coragem a pandemia do coronavírus. Nenhuma palavra sobre os cuidados, a necessidade de distanciamento social, sobre a permanência em casa sempre que possível. Pelo contrário, mentiras sobre um suposto "lockdown" que estaria acontecendo no país e do qual ele é crítico ácido. 

Ora, ora, qualquer que saia às ruas de qualquer cidade brasileira sabe que no máximo, em algumas, estão em curso medidas de fechamento de boa parte do comércio e restrições à circulação de pessoas em horários noturnos. Em quase nenhuma nada próximo a um "lockdow". Este é o panorama geral. 

O presidente mente, como usual.

Mas, além de mentir, exortar brasileiros pobres da periferia que, se adoecerem de forma gravosa, irão morrer em casa por causa do colapso do sistema de saúde público é covardia. Mesmo os brasileiros de classe média alta, que possuem bons planos de saúde, na atual situação correm o risco de ficar sem atendimento médico por ausência de vagas nas UTIs de hospitais privados. 

A exortação ao enfrentamento do vírus de "peito aberto" como defende o ignóbil presidente brasileiro é típica de um "valentão de palácio". Ele e sua extensa família estão protegidos por centenas de assessores, médicos renomados e garantia de que face à qualquer problema terão assistência médica imediata e integral, com transporte por helicópteros a qualquer excelente hospital brasileiro.

É fácil, muito fácil, ser um "valentão de palácio". 

No fundo, apenas um covarde.

Assunto superado


Laerte

Bolsonaro: o cavalo de Troia que pode deixar os militares a pé




É falsa a imagem construída de Jair Bolsonaro, de líder popular de extrema-direita que ganhou as eleições e escolheu militares para ocupar a avassaladora maioria das posições de comando de seu governo. Um raciocínio invertido pode tornar muito mais compreensível a crise militar que eclodiu dentro do gabinete do presidente-capitão, com a demissão do ministro da Defesa, o general Fernando Azevedo e Silva.

Na verdade, a história recente dá precedência aos generais na tomada do poder civil. Eles foram os criadores. Bolsonaro, a criatura. Generais da ativa da mesma geração atuaram em conjunto para viabilizar o impeachment de Dilma Rousseff, em 2016, e ascenderam ao poder em 2018 por meio de uma campanha ganha com destruição de reputações, fake news da pior espécie e pressão direta sobre o Supremo Tribunal Federal.

Some-se a isso um duvidoso atentado contra o candidato apoiado por eles, que virou a eleição quando o petista Fernando Haddad ascendia nas pesquisas. A vitória do capitão não foi simplesmente produto da sua popularidade ou de uma ofensiva bem-sucedida da extrema-direita, mas um verdadeiro trabalho de contrainformação, especialidade de uma geração de generais formada nos anos 70, quando a corporação moldou jovens militares a uma ideologia anticomunista exacerbada e fanática.

Esse contingente foi centralmente treinado no combate à guerrilha e na repressão política, segundo explicação do coronel da reserva Marcelo Pimentel em entrevista ao podcast Roteirices, veiculada nos dias 17, 18 e 19 de março (acessível pelo Spotify). O coronel Brilhante Ustra não os envergonha, mas é uma referência ideológica para eles.

Na expressão feliz do coronel reformado, Bolsonaro foi o cavalo de Troia que, na sua barriga, trouxe o Exército para a Esplanada dos Ministérios e permitiu à corporação capturar o poder civil. Agora, diz o coronel, Bolsonaro tornou-se o incômodo, o “espantalho” daqueles que articularam sua candidatura dentro dos quartéis.

Bolsonaro não seria eleito sem os militares. A alta hierarquia militar empreendeu uma “guerra híbrida” para radicalizar a sociedade civil, tirar Lula do páreo nas eleições de 2018 e conseguir o número de votos necessário para colocar na Presidência um deputado fascista que, após 27 anos como deputado federal integrando o mais duvidoso baixo clero, foi vendido ao eleitorado como o inaugurador de uma “nova política”, que se mostra com uma qualidade também pra lá de duvidosa.

O que não deu certo na articulação militar foi o cálculo de que poderiam dominar Bolsonaro. Os governos de inspiração fascista historicamente giram em torno de um líder com apelo popular que seja capaz de arregimentar adeptos civis, de preferência no lumpesinato (a parcela dos rejeitados por suas próprias classes e uma massa de manobra passível de engrossar milícias armadas). Essa massa de desajustados sociais (isso tem pouco a ver com riqueza ou pobreza) é mais susceptível à adesão incondicional a um líder com a cara deles.

Bolsonaro era o substrato do pó de traque da política tradicional; no Congresso, pertencia ao baixo clero, cuja importância é apenas o voto individual do parlamentar, que o negocia por pequenos favores. Não seria um exagero dizer que Bolsonaro ascendeu de uma espécie de lumpesinato parlamentar, grupo engrossado enormemente nas eleições de 2018. Os deputados do baixo clero são carne de sua carne.

Bolsonaro também não fugiu ao figurino do líder fascista quando submetido a um exame psicológico. Seu extremismo é alimentado por característica de personalidade também extremas: carrega um alto grau de paranoia, que exacerba sua ignorância sobre governar e dificulta o entendimento das consequências de suas decisões voluntariosas. Bolsonaro é, decididamente, paranoico e voluntarioso. O general Fernando Azevedo e Silva deve a isso a sua demissão.

O presidente é paranoico o suficiente para perceber que estava em andamento uma articulação militar para livrar-se dele sem sair do governo. O primeiro objetivo era (e ainda continua) dissociar a imagem do Exército do genocídio cometido contra a população civil, levada a termo por decisões tomadas por Bolsonaro, mas executada por um militar da ativa, sem que o Partido Militar esboçasse a mínima reação contrária; e de uma administração desastrosa do país, governado majoritariamente por oficiais do Exército.

A operação, segundo o coronel Marcelo Pimentel, é bastante similar à que se iniciou antes do governo Dilma e levou Bolsonaro ao poder: uma parte do grupo fica no governo; a outra sai e encena a dissidência. Ambos se unem no momento seguinte, com um governo eleito por eles.

A operação militar em curso vazou notícias de uma dissidência entre os que permaneceram e os que saíram do governo e simultaneamente, todos unidos, a articulação de uma “terceira via” como alternativa a Bolsonaro em 2022, de preferência uma opção entre eles: o general Carlos Alberto dos Santos Cruz, que foi demitido da Secretaria de Governo e tornou-se um militante opositor do governo nas redes sociais. Essa seria uma opção de manter o controle sobre a sociedade civil sem lançar mão de intermediários. A designação “terceira via” acena para a direita não extremista.

O golpe de mão desferido por Bolsonaro nos seus condôminos de poder, ao demitir o ministro da Defesa, é um recado muito claro a eles. Os militares ficam no governo se submeterem-se aos seus desígnios, inclusive, se ele quiser, usando a força contra a população civil. Se não, ele faz isso com as polícias, onde tem uma enorme popularidade junto à tropa, e com milícias armadas. A criatura devorou seus criadores. E ambos devoram a sociedade civil.

Covid volta a crescer globalmente

Covid volta a crescer globalmente, alertam Drudge e Axios 

Nelson de Sá 

Aumento vai dos EUA à Índia; no Brasil, número de mortes 'ultrapassa em muito qualquer coisa vista no início da pandemia' 

No alto do Drudge Report, "Vírus cresce globalmente...", linkando o site Axios. Além da "desgraça iminente" nos Estados Unidos, como foi descrita pela própria Casa Branca, são citados Índia, Alemanha, Quênia e sobretudo:

"O Brasil está registrando, de longe, o maior número de mortes diárias do mundo, ultrapassando em muito qualquer coisa vista no início da pandemia." Foi antes das 3.780 de terça (30).

Sobre os EUA, no alto da home do Washington Post, "Nação se prepara para quarta onda com aumento de casos". No New York Times, a "ameaça de surto de casos" chegou a ser manchete pela manhã, na terça, responsabilizando novamente a "variante que surrou o Reino Unido, B.117".

Pelas contas do WP, o salto em uma semana foi de 12%. Pelas contas do NYT, alertando que "a nação está muito longe de alcançar a chamada imunidade de rebanho", o salto em duas semanas foi de 19%.

Em editorial com a foto acima, a nova edição em revista do financeiro Caixin, de Pequim, cobra vacinação "mais rápida", enfatizando que "a China controlou com sucesso a pandemia, mas elevar a taxa de vacinação tornou-se uma prioridade máxima".

Segundo o site Our World in Data, os EUA vacinaram 145 milhões, a China, 110 milhões.

Temos ódio à ditadura. Ódio e nojo.

Ditadura não se celebra. Vivemos sob o manto da Constituição de 1988, elaborada para sepultar 20 anos de arbítrio. No discurso de promulgação, Ulysses Guimarães sintetizou o espírito da Carta Magna: "Temos ódio à ditadura. Ódio e nojo."

"Amaldiçoamos a tirania onde quer que ela desgrace homens e nações. (...) A sociedade foi Rubens Paiva, não os facínoras que o mataram (...) Traidor da Constituição é traidor da pátria." (...) 

"Conhecemos o caminho maldito. Rasgar a Constituição, trancar as portas do parlamento, garrotear a liberdade, mandar os patriotas para a cadeia, o exílio e o cemitério." 

Disputar a memória sobre o passado é lutar pelo futuro

Latuff

Walter Benjamin falava que o fascismo  não faz guerra de aniquilação apenas aos vivos, mas também aos mortos de incontáveis gerações. Disputar a memória sobre o passado é lutar pelo futuro, pela liberdade e pela justiça social.

Luiz Antonio Simas

Jumentos fardados


Todo esse rumor de botas, de jumentos fardados, é para agradecermos a pseudodemocracia que nos enfiam pela guela. O facão suspenso sobre nossos pescoços. A chama do medo acesa. E, mais uma vez, com o apoio incondicional da mídia, que finge se indignar mas colabora com a farsa.

Maufalavigna

terça-feira, 30 de março de 2021

Non, je ne regrette rien


Alguém inventou um dia que "Non, je ne regrette rien" significa "Não me arrependo de nada". Está errado. A primeira definição de "regretter" que os dicionários de francês oferecem é "sentir falta, sentir saudade". 

Sim, os franceses (e o resto da humanidade) também sentem saudade, apesar de toda essa mitologia boboca em torno da palavra "saudade" em português. Assim, o que Piaf canta é "Não sinto falta de nada". 

Em determinado verso, a letra diz: "Je me fous du passé", ou seja, "quero que o passado se foda". Se a pessoa não se arrependesse de nada, porque diria isso do passado ou, como em outro verso, "je repars à zéro", "vou partir do zero"? Quem não se arrepende do passado é porque tem orgulho dele, não vai desejar que ele se foda nem que é preciso partir do zero, certo? Por fim, a letra diz: "Car ma vie, car mes joies, aujourd'hui, ça commence avec toi!" - "Pois minha vida, minhas alegrias, hoje, começam com você". Se a coisa está começando do zero hoje é porque, sim, a pessoa pode até não se arrepender, mas o que de fato está dizendo é que pode ficar tudo para trás. Assim como não foi Fernando Pessoa quem inventou a frase "Navegar é preciso, viver não é preciso" (porque é a tradução de um provérbio latino de 2.600 anos!), o título da famosa canção, que também foi interpretada com punhal no peito pela minha amiga Cássia Eller, significa "Não sinto falta de nada!". 

Dito isso, quero muito que a Globo e seu rato de estimação vão, sim, para os quintos dos infernos! Se tem alguém que de fato não se arrepende de nada é essa organização criminosa que há décadas vem conspirando contra o povo brasileiro! Finge que se arrepende de ter eleito o genocida, mas aplaude abertamente tudo o que o desgoverno dele tem feito para destruir a democracia. 

A linguagem bozonazista

Não é estado de sítio, mas sua sombra
Mitologia bolsonarista inventou dispositivo invertido com disfarce libertário

Professor de direito constitucional da USP, é doutor em direito e ciência política e embaixador científico da Fundação Alexander von Humboldt.


Na Língua Bolsonara de Sinais (Libols), termos jurídicos sempre atendem a fins diversionistas. Idiotas da literalidade nos perdemos. Não fomos alfabetizados em Libols para decodificar as intenções exatas por trás das palavras e atos. Mas já se pode saber que estado de sítio, nessa língua, significa outra coisa.

Na política do “pânico e circo”, a sombra do estado de sítio tem papel parecido à do AI-5 e à da intervenção militar constitucional. São apitos para manter apoiadores do presidente excitados contra inimigos imaginários da pátria e as instituições sob fadiga.

Chamaram até Ives Gandra para revelar que, nos porões do art. 142 da Constituição, militares poderiam fechar o STF. O oráculo merece homenagem pelo serviço prestado à liberdade e à inteligência jurídica brasileira.
Jair Bolsonaro anunciou no começo da pandemia seu desejo de “fazer cumprir o artigo 142” contra o STF. Já havia testado também o grito do estado de sítio. Dia desses voltou a soprar o apito: “Gostaria que não chegasse o momento de decretar estado de sítio, mas vai acabar chegando. É para dar liberdade para o povo, para dar o direito ao povo de trabalhar. Não é ditadura não”. Parecia seu filho avisando que “AI-5 não é uma questão de ‘se’, mas de ‘quando’”.

Estado de sítio é instrumento extraordinário de restrição de direitos e incremento de poderes. Um dispositivo com prazo determinado para autodefesa, e não ataque, da democracia. Mas vale fazer uma distinção nessa conversa: existe o estado de sítio da Constituição de 1988, o da história do autoritarismo brasileiro e o da mitologia bolsonarista.

A Constituição de 1988 exige não só “comoção grave de repercussão nacional” como a ineficácia de outras medidas para enfrentá-la. O presidente precisa de autorização do Congresso para decretá-lo. Está sujeito a controle político pelo Congresso e judicial pelo STF a partir dos limites da excepcionalidade, necessidade e temporariedade (art. 137 e 138). É o último recurso numa crise, não o primeiro (já que o governo federal boicotou até as mais elementares medidas).

Na história do autoritarismo brasileiro, estado de sítio foi pretexto para a violência de governos à margem da Constituição. Fez parte de amplo repertório de exceção.

Nos 40 anos da Primeira República, por exemplo, sete foram em estado de sítio. Nove dos seus 12 presidentes usaram do artifício. Getúlio Vargas, entre 1930 e 1934, e entre 1935 e 1937, governou em estado de sítio. No Estado Novo, governou em “estado de guerra”. Não havia Parlamento para atrapalhar.

A mitologia bolsonarista quis vender algo novo e invertido: o nonsense do estado de sítio pela liberdade do vírus. A cara libertária não tem a ver com liberdade do trabalhador. Empobrecido e sem auxílio, este não tem escolha. Serve para declarar guerra a estados e municípios que, por razões sanitárias, impõem restrições momentâneas de circulação e causam constrangimento ao governo federal.

Nesse contexto, estado de sítio não faz sentido constitucional e não cumpre nenhuma função sanitária. Congresso não o autorizaria, e STF o invalidaria. O presidente parece apostar que a derrota no pleito esdrúxulo o ajudará a se eximir de responsabilidade por milhares de mortes e, ao mesmo tempo, a exaurir a energia de instituições de controle.

​Instituições esgotadas e sem capacidade de reação oferecem oportunidade para eviscerar a Constituição sem custo. A sombra do estado de sítio, do AI-5 e da intervenção militar, enquanto intimida críticos por meio de assédio judicial e abuso da Lei de Segurança Nacional, é o caminho escolhido pelo governo em direção à consolidação autoritária.

Falta combinar o preço com o centrão, capturar o que resta de autonomia nas Forças Armadas e atiçar polícias contra governadores. Está escrito na cartilha da Libols: a revolução autoritária não sairá no Diário Oficial.

Um leão desdentado


Bolsonaro não fica mais forte com saída dos chefes das Forças Armadas. Ele se enfraqueceu. É um leão desdentado, cercado pela rachadinha, genocídio na pandemia e fracasso econômico. Não tem força para golpe. É um fiasco, o pior presidente da história do país. Genocida é o que é.

Instituições continuarão funcionando

Vim do futuro e trouxe pra você a prova que as instituições estão funcionando.



A crise


Xuxa e os direitos humanos

Em sua linguagem utilitarista, presos se equiparam a ratos de laboratório

Cristina Serra

Em recente entrevista, Xuxa se manifestou contra o uso de animais em testes de cosméticos e remédios. E ofereceu, digamos, o que lhe pareceu uma boa alternativa. "Eu tenho um pensamento (...) que pode parecer desumano porque, na minha opinião, existem muitas pessoas (...) que estão pagando seus erros num ad aeternum para sempre em prisão, que poderiam ajudar nesses casos aí, de pessoas para experimentos, sabe? Pelo menos eles serviriam para alguma coisa antes de morrer, entendeu?".

Entendi, Xuxa. Entendi que você acha natural que pessoas possam ser usadas como cobaias sem que seja da vontade delas apenas porque você acha que quem está atrás das grades, sob custódia do Estado, não deve ser tratado como gente. Entendi que você não tem discernimento para distinguir justiça de vingança. Entendi que no seu pensamento e linguagem utilitaristas, pessoas se equiparam a ratos de laboratório. A palavra "experimentos" me causou calafrios. Os livros de história mostram onde isso vai dar.

Xuxa de novo: "Mas aí vai vir o pessoal que é dos direitos humanos e vai dizer: 'não, eles [os presos] não podem ser usados'". Pois é Xuxa, sou dessa turma. Não somos seita nem partido. Somos pessoas que acreditam em pactos civilizatórios. Gente é gente. Fora ou atrás das grades. Não há o que relativizar. Ou se entende isso ou é barbárie.

Xuxa foi rápida em seu pedido de desculpas: "Quem sou eu pra dizer que essas pessoas estão ali e que devem ficar ali ou morrer ali? Quem sou eu pra fazer isso?". Aí é que está. Personagem onipresente na TV, fenômeno de popularidade, Midas de um império empresarial, Xuxa é referência para milhões de pessoas.

Fixa padrões, como seu programa da década de 1980 cheio de clones loirinhos num país de todas as cores. O que Xuxa disse não foi uma frase solta e descuidada. É expressão didática do seu pensamento, explica muito do caldo de cultura que formou milhões de "baixinhos" e aprofunda o abismo em que estamos.

"Bolsonaro tem que responder criminalmente pelo que tem feito", diz Drauzio Varella


‘Ninguém tem ideia do caos nas UTIs’, diz Drauzio

Para o oncologista, o Sistema Único de Saúde é o maior programa de distribuição de renda do país, porque permite a qualquer pessoa ter acesso a procedimentos de alta complexidade

Por Leila Souza Lim

“Meu sentimento hoje é de revolta”, diz angustiado o médico Drauzio Varella, ao falar do campo arrasado que é a pandemia no Brasil. Depois de ver na última semana o país firmar posição no topo da curva de casos e baixas de vidas por covid-19 no mundo, o oncologista salienta que evitar mortes agora exige esforços que superam a capacidade hospitalar nacional e, no curto prazo, mesmo os de vacinação.

O oncologista frisa que a situação é de caos e não está mais circunscrita à covid-19. “Nossos hospitais entraram em colapso, todos eles, no país inteiro. E esse colapso não atinge só as pessoas com covid, mas também as que têm outras doenças”, afirma.

O médico cita a situação no Hospital das Clínicas de São Paulo, um dos maiores centros médicos do país para cirurgias, destinado a tratamento de casos graves. A média de pedidos de internação ao longo de sete dias até quinta-feira passada, lembra ele, era de 364 por dia, dos quais 110 de pacientes graves não covid e 254 em estágio agudo da doença provocada pelo coronavírus.

Em tom de desabafo, lamenta que muitos ainda só tomem essa consciência quando perdem entes próximos ou tentam em vão vaga em UTIs nas unidades públicas, onde pessoas já experimentam a agonia de despertar da sedação intubadas por falta de anestésicos.

“O controle da pandemia escapou ao alcance dos serviços de saúde. Ninguém tem ideia do caos que são as UTIs hoje. Colegas na linha de frente veem acabar os medicamentos para a intubação. Agora, imagina você acordar com um tubo na garganta, sem entender nada”, relata.

“As pessoas não têm noção do que seja uma Unidade de Terapia Intensiva lotada, as equipes sem tempo, precisando reanimar um paciente, enquanto outro chora com dor”, continua o especialista, para quem a única saída agora é convencer a população de que esse combate está nas mãos de cada cidadão. Segundo Drauzio, nem mesmo o recente reposicionamento do governo em relação às vacinas traria resposta imediata.

Depois de mais de um ano desprezando o trabalho dos laboratórios e medidas sanitárias, o presidente Jair Bolsonaro (Milícia - RJ) se viu sob forte pressão no campo político e prometeu na semana passada o “ano da vacinação dos brasileiros contra a covid-19”. Na visão de Drauzio Varella, contudo, perdeu-se o timing para conter a segunda onda da covid-19 no curto prazo com imunização em massa, e a medida nunca poderia ter sido a principal aposta.

Razão de queixas diárias de técnicos em saúde, a vacinação progride claudicante no Brasil pelo fato de o Executivo federal não ter dado crédito à ciência, enquanto o resto do mundo corria para assegurar doses.

“Vacinação? Esquece, é como se as vacinas não existissem [neste momento, para conter o agravamento da doença]. Pensa comigo, se você pega o vírus hoje numa festa, os primeiros sintomas virão cinco, seis dias depois. Aí você perde o olfato, fica enjoada, sente dor no corpo, a primeira semana vai ser mais ou menos bem para todo mundo. As complicações vão surgindo pelo oitavo, nono, décimo dia. Não se morre de cara... Em grande parte dos casos, a pessoa morre quatro semanas depois de pegar o vírus”, observa o oncologista.

Para ele, a crise sanitária chegou a tal ponto de desgoverno que só uma grande mobilização em torno do isolamento social pode impedir que o país protagonize muito em breve a maior das catástrofes entre as nações atingidas. E para quem ficou assombrado ao ver o Brasil cruzar a barreira de 300 mil registros oficiais de óbitos na semana passada, Drauzio resigna-se por não ter perspectivas mais otimistas.

“Nesse ritmo, é questão de uns 70, 75 dias. Já no fim de maio, chegaremos às 400 mil mortes no Brasil. Como a saúde vai dar conta de uma coisa dessas? Impossível”, diz.

“Se conseguíssemos vacinar todos os brasileiros no fim de semana, o que ia acontecer com a mortalidade? Nada, absolutamente nada, porque o número de mortes conta a história da epidemia do passado. E nós teríamos pelo menos no mês de abril o mesmo número de óbitos, como se não houvéssemos vacinado. Agora, você imagina com essa imunização incipiente, a conta-gotas...”, comenta o médico.

O médico faz sua parte para informar ao máximo sobre a doença e os riscos. Mas argumenta que nem ele nem colegas médicos ou cientistas podem alterar a realidade sem que lideranças do país mudem as mensagens e o curso das políticas de enfrentamento à pandemia adotadas desde março de 2020.

Negacionismo é uma palavra muito leve para caracterizar essas pessoas, isso é fingir que algo não existe. O que fizeram foi tomar atitudes para disseminar a epidemia. Agiram ativamente, comandados pelo presidente da República, que é o maior responsável por tudo o que estamos vendo”, afirma o especialista.

Drauzio diz reconhecer que uma nação com mais de 50 milhões de pessoas empobrecidas e acima de 10 milhões na pobreza extrema não poderia fazer um lockdown de fato. “Então já partimos da situação de um país com tremenda desigualdade social, uma das maiores do mundo, que não ia ter condição de fazer isolamento social como o fizeram países ricos da Europa e Ásia.”

Mas o médico faz questão de reafirmar, porém, que a aceleração dos indicadores de casos e mortes contou com colaboração decisiva do presidente da República. Segundo ressalta ele, Bolsonaro partiu do princípio de que a economia tinha que ser preservada e que as pessoas tinham que trabalhar. Para Drauzio, o mais grave foi que presidente não só tratou o distanciamento social como algo desimportante, mas deu exemplo contrário às medidas de proteção.

“Sim, ele. Ao não usar máscara, ao provocar aglomerações. E tem feito isso ininterruptamente durante toda epidemia, desde o primeiro caso no Brasil, até as 300 mil mortes.” Ao comentar que leu e gostou do manifesto assinado por economistas e banqueiros instando o governo federal a coordenar um plano nacional de combate à pandemia, faz ressalva para dizer que achou a atitude tardia. “Tem um problema de timing, um ano para fazer isso?”, indaga.

“O que paralisa a economia é a epidemia. Cinco montadoras deram férias coletivas para seus funcionários. Por que fazem isso? Porque temos uma epidemia descontrolada, e elas não têm condições de dar segurança aos funcionários no trabalho.”

É impossível não notar, em mais de 40 minutos de conversa, que o médico que sempre defendeu qualidade de vida, os mais pobres e o acesso universal à saúde não pronuncia uma só vez o nome do presidente. E preocupado por demonstrar irritação, o oncologista faz mais de uma pausa para pedir desculpas pela contrariedade com o descaso.

Ele faz alusão ainda à fala do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que afirmou que estava “apertando o sinal amarelo”, citando “erros primários, desnecessários e inúteis” de governos, embora sem especificar diretamente a quem se referia. “Agora? Foi necessário morrerem 300 mil pessoas para eles apertarem o botão amarelo? Então estava verde?”, questiona Drauzio.

Se fosse consultado sobre o que o governo deveria fazer de imediato, o médico diz que recomendaria ao presidente Bolsonaro que primeiramente pedisse desculpas por seus erros. “Ele deveria aparecer diante da nação e pedir desculpas, dizer que estava completamente errado, e que é preciso fazer distanciamento social, coisa que ele não vai fazer. E esquecer essa bobagem de tratamento precoce.” Quase ao fim da entrevista, porém, o oncologista e escritor endurece a opinião sobre o chefe de Estado: “Eu não queria falar com o presidente, não. Porque dizer a ele para pedir desculpas é muito pouco. Acho que ele tem que responder criminalmente pelo o que tem feito. Você não pode causar uma hecatombe, uma catástrofe dessa num país, e depois dizer: ‘olha, me desculpe, eu me enganei’”.

Não existem militares democratas, moderados ou independentes


Muito jornalista que divulga versões em off de generais precisaria ter mais visão crítica em relação a suas fontes, porque vêm errando demais. A tese de que milicos se incomodam com Bolsonaro e buscam controlá-lo já foi desmentida pelos fatos inúmeras vezes. 

Os jornalistas que propagam sem senso crítico essa "oposição" ou independência dos militares em relação a Bolsonaro agem como assessores de imprensa informais dos milicos, ajudando a divulgar uma postura altiva dos fardados que nunca existiu. O fato é que Bolsonaro fez o que quis. 

As mesmas fontes, pelas bocas dos jornalistas, diziam que milicos não aceitariam a demissão de Santos Cruz, como ontem também afirmavam que não aceitariam a de Pujol, para depois aceitar tudo como têm feito sempre. Militares são o governo Bolsonaro e isso só fica mais claro. 

Boa parte desses jornalistas erra também ao difundir a crença na existência de militares "moderados" ou "democratas". São moderados que, como Santos Cruz, relativizam tortura e golpe de estado quando perguntados sobre 1964 e que foram ao Haiti matar negros nas favelas.
 
As Forças Armadas pós 1964 se esforçaram para fazer o controle ideológico de seus membros e impedir que houvesse alas de esquerda em suas fileiras, como os setores de milicos do Partidão que havia antes do golpe. O resultado é que praticamente todo militar é de extrema direita. 

Tanto que é bem difícil ver um militar, mesmo entre os tidos como moderados, dizer que 1964 foi um absurdo e que Ustra era um monstro. Se alguém souber, me avise. 

Com os PMs ditos moderados não é muito diferente. Está cheio de PM que paga de democrático e até engana alguns com essa postura, mas quando você ouve com atenção percebe que defende massacre do Carandiru, bala de borracha em manifestante e mata-leão em trabalhador. 



Jornal Nacional faz propaganda de Moro

Tratamento do “Jornal Nacional” ao ex-juiz Sergio Moro é propaganda. Não é jornalismo. Ele mente sem contraponto nenhum depois de tudo o que veio a público com conversas da Operação Spoofing. Jornalismo tem de valer para todos.

Kennedy Alencar

segunda-feira, 29 de março de 2021

Enfraquecido, Bolsonaro eleva dependência do Centrão e perde apoio militar


A reforma ministerial reflete o enfraquecimento político do presidente Jair Bolsonaro, que aumenta a dependência do Centrão e perde sustentação militar.

Esse enfraquecimento é resultado da completa inação administrativa, a falta de rumo simbolizada pelo engodo da gestão Paulo Guedes na Economia, e da tragédia sanitária na condução do combate à pandemia de coronavírus.

Na saída do Ministério da Defesa, o general Fernando Azevedo e Silva deu a senha ao se despedir dizendo que manteve as Forças Armadas como instituições do Estado. Foi um recado claro de que há resistências no Exército, Marinha e Aeronaútica a serem usadas por Bolsonaro de acordo com os seus interesses políticos e policiais.
Azevedo e Silva saiu revelando o incômodo de boa parte dos militares da ativa com o desastre do atual governo. Os militares endossaram uma aventura e deverão terminar o governo Bolsonaro tão queimados como da ditadura militar de 1964. Azevedo e Silva está tentando alguns salvar os anéis.

Uma troca relevante aconteceu na articulação política, com a ida da deputada federal Flávia Arruda (PL-DF) para a Secretaria de Governo da Presidência da República. É a instalação do Centrão dentro do Palácio do Planalto. A mudança é sinal da disposição de Bolsonaro de fazer o que ele chamava de velha política para tentar se reeleger e evitar eventual impeachment.

A ida do general Eduardo Ramos, ex-articulador político, para a Casa Civil foi mera acomodação na cozinha palaciana. Braga Netto deixou a Casa Civil para assumir a Defesa. É mais um general que pagará alto preço por ter confundido a sua biografia com a de Bolsonaro.

A indicação do delegado fedetal Anderson Gustavo Torres para a Justiça casa com o plano de uso da Polícia Federal como polícia de governo e não de Estado. O Ministério da Justiça é simbólico, tradicionalmente comandado por nomes de maior biografia. Não tem sido o caso nos últimos tempos, sobretudo no governo Bolsonaro.

A volta de André Mendonça para a AGU (Advocacia Geral da União) é outra acomodação interna. A gestão de Mendonça na Justiça foi marcada pela submissão à estratégia da família Bolsonaro de fugir da polícia. Mendonça é uma figura típica de Brasília, que se molda a quem está no poder com extrema facilidade.

A queda de Ernesto Araújo acabou diluída em meio às outras mudanças. O novo ministro, o embaixador Carlos Alberto Franco França, terá um grande pepino a administrar: a influência do deputado federal Eduardo Bolsonaro na política externa.

Araújo, que apostou todas as fichas em Donald Trump, deixa o cargo desmoralizado. Sua herança é a piora da imagem internacional do Brasil, o que resultou num isolamento danoso em meio à pandemia de coronavírus.

Reformas ministeriais costumam funcionar para dar algum fôlego a governos em crise. No caso de Bolsonaro, ele é a crise. Apesar das trocas em seis pastas, os problemas deverão continuar porque o país tem o pior presidente da sua História.

Quando a barragem se rompe

John Paul Jones - When The Levee Breaks 

No tocante a cuestão do golpe, o que seria pior do que isso tudo que está aí?




A demissão do "chanceler" Ernesto Araújo, nesta segunda-feira, 29 de março, motivou entre analistas da mídia reações diversas, da quase euforia a preocupações com eventuais movimentos do núcleo fascista do governo - entendo que a expressão "ala ideológica", usada por muitos jornalistas e intelectuais que acompanham os fatos, é genérica e não define o que seria essa organização.

Logo em seguida, a demissão do ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, ex-chefe do Estado-Maior do Exército, mudou o humor dos comentaristas. Passou a predominar a percepção de que o presidente Jair Bolsonaro estaria sendo abandonado pelas Forças Armadas, mesmo tendo se livrado do incômodo responsável pela desastrada política de relações exteriores.

A dois dias do aniversário do golpe militar de 1964, quando costuma se inquietar o Clube Militar, berço do vice-presidente Hamilton Mourão, há de fato motivos para uma observação mais cuidadosa dos eventos.

Um deles, o caso do soldado Wesley Soares Góes, da PM baiana. No domingo (28/3), ele entrou em surto no Farol da Barra, disparou contra colegas e foi morto com dez tiros. Imediatamente os oportunistas de sempre ameaçaram com uma  sedição contra o governador petista do Estado, Rui Costa. 

A ameaça foi afastada pelo comando da Polícia Militar, mas a paz durou pouco: em Brasília, o presidente da Fundação Palmares, Sergio Camargo, publicou numa rede social que poderá incluir Wesley Góes na lista de personalidades negras da instituição. O soldado estressado seria transformado em herói nacional.

Todo esse caldo faz parte do movimento de reação do núcleo do governo ao processo de desgaste contra o qual o presidente não demonstra ter muitos recursos. Até mesmo em alguns grupos das redes sociais que o apoiam circulam mensagens chamando-o de "frouxo" e "indeciso" - os insanos querem o fechamento do Congresso e do STF.

Sobre a hipótese de uma aventura golpista gestada no Palácio do Planalto, uma palavra: covardia. Jair Bolsonaro é um indivíduo pusilânime, cuja carreira nunca passou de bravatas que, ou foram ignoradas, ou relevadas pelas instituições.

De qualquer forma, se for tomado por um surto como o soldado baiano e se aventurar contra a ordem democrática formal (porque contra essa mesma ordem, metaforicamente, já cometeu uma coleção de barbaridades), ou as Forças Armadas o contêm imediatamente, ou veremos o caos instalado nas ruas das nossas cidades.

Voltando às análises da imprensa, é preciso fazer uma leitura muito criteriosa do que vem sendo escrito ou dito por aí. É necessário, principalmente, considerar o currículo de quem diz o que se diz. Muitos desses analistas não podem fugir à responsabilidade de ter contribuído concretamente para chegarmos a esta situação.

E quando falamos de analistas, não podemos esquecer também os economistas e palpiteiros que se deixaram iludir pela promessa se um governo "liberal". Nomes associados ao Instituto Von Mises, representantes do chamado mercado, que sonharam com uma chuva de investimentos advindos de privatizações em baciada, "filósofos" da linhagem cínico-fashion, cientistas com interesses conflituosos em patentes, jornalistas especializados em agradar a página dos editoriais, parecem atordoados com a sequência dos acontecimentos.

De modo geral, respaldados pelas manifestações recentes do PIB, revelam uma crescente preocupação com o destino das instituições que ajudaram a desestabilizar. Mas nenhum deles, até o momento, admitiu publicamente que a saída é cada vez mais estreita.

No limite, diante da montanha de mortos pela incúria do governo, um pensamento perverso começa a brotar nas redes sociais: o que seria mais catastrófico? Uma ruptura violenta ou a sangria lenta e inexorável do país, submetido à insanidade dos que deveriam governá-lo?

É golpe?


Toda vez que Bolsonaro precisa demitir um lunático, ele troca um general junto. Para salvar as aparências no mundo da Lua.

Esse é o cenário otimista.

Ao demitir o ministro da Defesa no mesmo dia em que foi obrigado a despachar seu caquis-chanceler, Bolsonaro fez o que faz melhor: confundiu. 

A narrativa predominante – um presidente enfraquecido – foi substituída por uma pergunta: é golpe? 

É golpe, sim. De desinformação.

José Roberto de Toledo


Monstro que expôs tomografia de Marisa Letícia, morta por AVC, tem pai e irmão mortos por AVC


Duas aberrações

Jornalista que expôs tomografia de Marisa Letícia, morta por AVC, tem pai e irmão mortos por AVC

Kiko Nogueira

O jornalista Claudio Tognolli comunicou em seu perfil no Twitter uma tragédia pessoal.

“Quinta meu irmão morreu de AVC e hoje meu pai morreu de AVC: correm-me lágrimas que queimam…”, escreveu.

Em janeiro de 2017, Tognolli expôs em suas redes a tomografia de Marisa Letícia, então internada no Sírio Libanês após sofrer exatamente um AVC.

Ele contou ter recebido o material de uma fonte “militante do PT e muito ligada ao partido”.

No vídeo, defendeu que a publicação era de interesse público.

Os médicos que analisaram a tomo, afirmou, “falaram que se continuar nesse quadro, ela não se recupera tão cedo e vai ter dificuldade para voltar a andar. Não estou mentindo nem fazendo juízo de valor”.

De acordo com o Código de Ética Médica, profissionais da área não podem permitir o acesso de terceiros a prontuários.

O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo abriu sindicância para apurar o vazamento, mas nunca chegou a lugar nenhum, obviamente.

A ex-primeira-dama morreu às 18h57 de 3 de fevereiro de 2017.

Milico da Defesa também sai do "governo"


É cedo para dizer, mas a saída do ministro da Defesa de Bolsonaro tem toda a pinta de ser um ponto de inflexão para os militares. Quem mexe com arma e com o uso da força sabe que não dá para ter motim armado, insubordinação e crise eclodindo pelo país sob aplausos do presidente.

E olha que a saída não deve ter sido amistosa ou fácil para ocorrer no mesmo dia da renúncia de Ernesto e uma semana depois da saída do Pazuello.

Não faz diferença nenhuma se o ministro da Defesa renunciou ou foi demitido. O que importa é que isso pode sinalizar um distanciamento das Forças Armadas, com as quais Bolsonaro insiste em realçar uma união carnal que, de fato, não existe. Esse é o meu palpite.

João Paulo Charleaux

A queda do Chancelouco não muda nada



A substituição do ministro Ernesto Araújo é daqueles enredos de roteiristas ruins, atores canastrões e finais previsíveis. Araújo é o mais medíocre ocupante do posto em duzentos anos, mas aqui vai um spoiler: a sua queda não vai mudar em nada a política externa brasileira. 

Por 2 anos e 3 meses, Araújo fingiu ser o responsável pela diplomacia, mas foi apenas o laranja de Eduardo Bolsonaro. Não importa quem estiver no Itamaraty, enquanto houver um Bolsonaro no Planalto, a diplomacia será bolsonarista.

É cômodo achar que o embate entre Araújo e os senadores é entre a chamada ‘ala ideológica” do governo e o pragmatismo. Na argumentação dos senadores, Araújo foi um entrave nas negociações para encomenda de vacinas contra Covid. Bobagem. Quem foi o entrave foi Bolsonaro.

Araújo foi, no melhor dos casos, um acólito prestativo. Mas onde estavam os senadores hoje tão preocupados com a saúde popular quando o governo brasileiro se recusava a negociar com outra empresa que não fosse a AstraZeneca? Acertou, eles não faziam nada.

O que vai ocorrer no Itamaraty depois da queda de Araújo é o mesmo que está acontecendo no Ministério da Saúde após a troca do general Eduardo Pazuello pelo médico Marcelo Queiroga: nada.

.Araújo, Pazuello, Weintraub e Wajngarten foram só acidentes de percurso. O responsável continua no Planalto.

Lava Jato "ajudou a eleger o Bozo" e é preciso se desvincular dele, diz procuradora a Dallagnol em diálogos


Mônica Bergamo

Jerusa Viecili afirma que 'só assim' jornalistas voltariam a confiar na operação e que procuradores ficavam em silêncio até mesmo diante de elogios à ditadura

Os procuradores da Operação Lava Jato discutiram, em março de 2019, uma forma de se desvincular de Jair Bolsonaro para que os jornalistas voltassem a dar credibilidade à operação.

As conversas foram entregues nesta segunda (29) ao STF (Supremo Tribunal Federal) pela defesa de Lula. Os advogados foram autorizados pela Corte a ter acesso ao material da Operação Spoofing, que investiga o hackeamento dos diálogos.

"Delta, sobre a reaproximação com os jornalistas, minha opinião é de que precisamos nos desvincular do Bozo [Jair Bolsonaro], só assim os jornalistas vão novamente ver a credibilidade e apoiar a LJ [Lava Jato] ", diz a procuradora Jerusa Viecili a Deltan Dallagnol no dia 28 de março de 2019. A grafia foi mantida na forma original das mensagens.

Jerusa segue: "Temos que entender que a FT [força-tarefa] ajudou a eleger Bozo, e que, se ele atropelar a democracia, a LJ [Lava Jato] será lembrada como apoiadora. eu, pessoalmente, me preocupo muito com isso (vc sabe)".

A procuradora diz ainda que os integrantes da Lava Jato já haviam tido a oportunidade de desvincular a imagem deles da do presidente, mas que elas foram perdidas.

Afirma que eles teriam feito cobranças mais "fortes" no "caso Fávio" se "fosse qualquer outro político", numa referência a denúncias que envolvem o senador Flávio Bolsonaro, filho do presidente da República.

Na época dos diálogos, o ex-juiz Sergio Moro era ministro da Justiça de Bolsonaro.

"Veja que, no passado, em pelo menos duas oportunidades poderíamos ter nos desvinculado um pouco do Bozo nas redes sociais", escreve Jerusa ao colega. "1. caso Flavio (se fosse qualquer outro politico envolvido, nossa cobrança por apuração teria sido muito mais forte); 2. caso da lei de acesso à informação que o bozo, por decreto, ampliou rol de legitimados para decretar sigilo e depois a Camara derrubou o decreto. A TI fez nota técnica e tudo e nossa reação foi bem fraca (meros retweets). (ao lado do caso Flavio, o proprio caso de Onix Lorenzoni)", afirma a procuradora.

O ministro Onyx Lorenzoni, que na época ocupava a Casa Civil, foi acusado de uso de caixa dois. Na época, Moro disse que "admirava" o colega de governo. E que, "quanto aos erros [de caixa dois], ele mesmo admitiu e tomou prividências para repará-los".

Jerusa diz ainda na mensagem que sequer quando há elogios à ditadura por parte do governo Bolsonaro os procuradores da Lava Jato se manifestaram.

"Agora, com a 'comemoração da ditadura' (embora não tenha vinculação direta com o combate à corrupção), estamos em silêncio nas redes sociais. Não prezamos a democracia? concordamos, como os defensores de bozo, que ditadura foram os 13 anos de governo PT? a LJ teria se desenvolvido numa ditadura?", escreve ela, cobrando um posicionamento de Deltan Dallagnol.

A procuradora fala ainda da preocupação dos colegas com o apoio dos bolsonaristas, o que estaria impedindo um posicionamento mais firme deles em favor da democracia. Ela se refere aos seguidores do presidente como "bolsominions".

"Sei que há uma preocupação com a perda de apoio dos bolsominions, mas eles diminuem a cada dia. o governo perde força, pelos atropelos, recuos e trapalhadas, a cada dia. converse com as pessoas: poucos ainda admitem que votaram no bozo (nao sei como Amoedo nao foi eleito no 1º turno pq ultimamente, so me falam que votaram nele). enfim, acho que defender a democracia, nesse momento, seria um bom início de reaproximação com a grande imprensa. com relação a defender a Democracia, tambem seria importante um discurso de defesa das instituições. Atacamos muito o STF e seus ministros, mas sabemos que a democracia so existe com respeito às instituições. e o STF precisa ser preservado, como órgão máximo do Poder Judiciário brasileiro. pense com carinho ".

Deltan Dallagnol então responde: "Concordo Je. Acho nota esquisita. E se fizermos artigos de opinião? Acho que não da pra bater, mas da pra firmar posição numa abordagem mais ampla".

Ela finaliza: "Isso. defender, sem atacar".

Fechado com Bolsonaro

Céllus


Nota de Esclarecimento

 

Controlando Bolsonaro


domingo, 28 de março de 2021

Crise no Canal de Suez é resolvida


#TamoJunto




Higiene é fundamental

A nova cara do futuro


Signatários de carta terão de ver em Lula o mais capaz de bater Bolsonaro

Se banqueiros, empresários variados e economistas concluíram que apoio ao atual presidente é suicida, devem preparar-se para o impensável

Janio de Freitas

Se de fato os banqueiros, empresários variados e economistas signatários da Carta Aberta concluíram que seu apoio a Bolsonaro é suicida, devem preparar-se para pensar em fazer o impensável.

Seu candidato à Presidência assustou-se com o retorno de Lula e já avisou seus inventores de que não trocará os auditórios de TV pelos palanques da candidatura. Sem a esperança de um milagre com Luciano Huck, os signatários da carta que enfim pressentem seu próprio desastre, não pela pandemia mas pela derrocada do país, terão de ver em Lula o mais capaz, senão o único, de bater o devastador Bolsonaro e os recursos eleitorais do governo.

Vista a perspectiva com objetividade, os signatários da carta e seus assemelhados não tiveram motivo para repelir Lula, em cujo governo obtiveram êxitos e um período de tranquilidade como em nenhum outro.

Só muito depois encontraram a corrupção na Petrobras para explicar a idiossincrasia, mas era um fato que, em inúmeros setores, nunca lhes foi estranho.

Ciro Gomes tem potencial para uma candidatura importante, mas tudo sugere que sua margem de incerteza é, e tende a se manter, muito maior que a de Lula em disputa com Bolsonaro. A preferência de Huck pelo ganho em vez do risco abre a Ciro Gomes portas largas. Não, porém, entre banqueiros e outros segmentos empresariais que o veem com notória desconfiança.

O machinho​

O Bolsonaro que vemos nestes dias é o mesmo valentão que, ao se ver abordado por um assaltante, sacou sua fulminante pistola Glock —e entregou-a ao bandido. Mas não só. Entregou também a moto. Bateu o medo então, bate o medo hoje. O Bolsonaro que voltam a ver em transformação, aceitando a máscara e propagando a vacina, é só o Bolsonaro acovardado. Com citações à derrubada até na celebração do próprio aniversário, que indicam onde e como está sua cabeça.

À falta de arma para entregar, servem os pescoços dos mais próximos paus-mandados. Eduardo Pazuello acha que foi degolado por pressão de Arthur Lira, presidente da Câmara desejoso de ver no cargo uma amiga do peito, ou cardiologista. O general obediente, na verdade, foi vítima da Carta Aberta em que economistas, banqueiros e outros empresários mostraram sua delicada discordância com o consentimento do governo à mortandade pandêmica. A chegada às 300 mil pareceu suficiente a ex ou ainda bolsonaristas para merecer-lhes algumas sugestões suaves.

O noticiário exibiu e falou de um Bolsonaro apressado para dizer-se, na TV, sempre adepto e praticante das providências mencionadas na carta. Mentiu como nos melhores momentos do seu cinismo.

Bolsonaro tinha mais do que pressa, aliás. Tinha pânico desde que soube da carta. Ao Congresso chegaram informações sobre seu estado, e isso se refletiu no passo vindouro: a reunião para constituir-se um pretenso comitê dos Três Poderes contra a pandemia. Não adiantou que só se selecionassem simpatias para o encontro: não deu para disfarçar o fracasso. Mas deu para comprovar o grau de desorientação vigente.

À impropriedade do convite que lhe foi feito, o presidente do Supremo, Luiz Fux, sobrepôs uma aceitação, embora efêmera, que embaralhava Executivo e Judiciário, em função estrita do primeiro. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, aceitou assumir uma coordenadoria que não lhe compete, para a qual não tem o saber científico conveniente, e nem se deu conta do que é o comitê desejado pelo grupo do Planalto: algo que lhe sirva de bode expiatório ou de laranja, conforme as circunstâncias. Como a função dada ao vice Mourão para a Amazônia.

O presidente da Câmara, Arthur Lira, parece desejoso de esculpir nova personalidade política. Não há comparação sua com o antecessor, mas o crescimento de Rodrigo Maia, no mesmo cargo, é um exemplo estimulante. Lira não amenizou discordâncias na reunião e, ainda por cima, guardou a melhor surpresa para pouco depois. Ao voltar à Câmara, fez um discurso sobre a situação e suas propensões. Lançou-se às mais agudas considerações feitas fora do exasperado jornalismo, e por uns poucos políticos. Não faltou lembrar nem “a solução amarga, e até fatal”, que é o impeachment ao alcance da Câmara.

Com isso, lá se vai a doidice mais simpática e de conceitos mais engraçados no governo. Vai para apaziguar críticos parlamentares. Até um militar já se foi, o coronel Elcio Franco, segundo na caótica hierarquia militar do Ministério da Saúde. Ao general Braga, por exemplo, convém fugir de correntes de ar no Planalto. Quase qualquer um pode servir para Bolsonaro entregar os sucedâneos humanos de sua Glock e da moto.

Ainda que não seja o mais desejado, pode-se esperar por fatos até mais interessantes para daqui a pouco.

O continuísta

Do novo ministro da Saúde: “Quem quer o lockdown? Ninguém quer lockdown”. É a nova voz de Bolsonaro e Pazuello, portanto. Marcelo Queiroga ainda não conhece os resultados europeus e asiáticos do confinamento. Mas poderia ter deduzido, com menos bolsonarismo a orientá-lo, que, se as pessoas não se oferecem ao vírus nas ruas e outras proximidades humanas, o bicho não tem como infectá-las.

O nosso lugar

Brasil: mais de 300 mil mortos, é muito difícil imaginar essa quantidade. Quase 7.000 na espera desesperada de um leito em UTI. No estado da riqueza, três mortos asfixiados por falta de oxigênio. E quatro na fila do último sopro de vida. No Distrito Federal da presunçosa e riquíssima Brasília, corpos mortos esperam a remoção, alguns por 24 horas, no chão de unidades de saúde e de hospital regional.

Vai piorar, advertem cientistas brasileiros e estrangeiros. Até quando o país tolerará a omissão das classes e dos políticos que controlam o país, eis a incógnita.

Transcrição, em Toda Mídia por Nelson de Sá, de frase em reportagem sobre a pandemia na rede pública de rádio dos EUA: “O Brasil parece o pior lugar do mundo”.

Vai voltar?

Leandro Fortes

2022

Muito gente por aí, toda animada, dizendo que, depois da decisão do STF, quem vai voltar é Ciro Gomes.

Duvido.

Por causa da pandemia, ninguém vai poder voltar a Paris até janeiro de 2023, segundo a prefeitura local.




"O Diabo na rua, no meio do redemoinho..."


Comitê criado por Bolsonaro para o combate à pandemia só podia dar errado, e deu

Elio Gaspari

Seria uma reunião dos chefes dos três Poderes para tratar da pandemia, pois o número de mortos havia passado dos 300 mil. Foi uma palhaçada típica das marquetagens oficiais. A encenação tinha a ver com o Executivo, e só com ele. Os outros dois Poderes nunca se meteram com a cloroquina nem com a “gripezinha”. Além disso, a presença do ministro Luiz Fux na fotografia era meramente simbólica.

Bolsonaro levou para o encontro alguns de seus ministros e governadores amigos. Ao fim da reunião, anunciou a formação de comitê para tratar da pandemia e delegou ao presidente do Senado a coordenação do trabalho com os governadores.

Confundiu cloroquina com cloro de piscina. O presidente do Senado não tem mandato nem jurisdição para tratar de um assunto que é só do Executivo. Se isso fosse pouco, em março do ano passado, quando a Covid havia matado só uma pessoa, Bolsonaro criou um comitê para assessorá-lo diante da pandemia. Foi entregue ao chefe da Casa Civil, general Braga Netto. Deu em nada e sumiu. No dia 22 de março, quando a pandemia matou 1.383 pessoas, ele tirou férias.

O evento de quarta-feira tinha tudo para dar errado, e horas depois o presidente da Câmara respondeu:

“Estou apertando hoje um sinal amarelo para quem quiser enxergar: não vamos continuar aqui votando e seguindo um protocolo legislativo com o compromisso de não errar com o país se, fora daqui, erros primários, erros desnecessários, erros inúteis, erros que que são muito menores do que os acertos cometidos continuarem a serem praticados.”

(...)

“Os remédios políticos no Parlamento são conhecidos e são todos amargos. Alguns, fatais. Muitas vezes são aplicados quando a espiral de erros de avaliação se torna uma escala geométrica incontrolável. Não é esta a intenção desta presidência. Preferimos que as atuais anomalias se curem por si mesmas, frutos da autocrítica, do instinto de sobrevivência, da sabedoria, da inteligência emocional e da capacidade política.”

Como ensinou Guimarães Rosa: “Sapo não pula por boniteza, mas porém por precisão”. Com suas obsessões e mentiras, Bolsonaro está ficando sozinho. É como gosta e como sempre esteve, desde quando era um capitão bagunceiro e transmutou-se num político irrelevante. Essa condição vai bem para a pessoa de Bolsonaro, mas está arruinando o país.

De novo, Guimarães Rosa avisou: “O Diabo na rua, no meio do redemoinho...”

Ideologia e diplomacia

Atribui-se ao diplomata Ernesto Araújo a condição de integrante de uma “ala ideológica” do governo.

Em defesa das tradições do Itamaraty, deve-se registrar que o doutor Araújo nada tem de ideológico, nunca teve. Na carreira diplomática, há quadros profissionais, oportunistas e uns poucos ideológicos.

Ideológico, conservador e até mesmo reacionário foi o embaixador Pio Corrêa (1918-2013). Chamava John Kennedy de “bestalhão” e lastimava que sua Copacabana dos anos 50 tivesse sido tomada pela “horda pululante e chinfrim de suburbanos transmigrados”.

Era embaixador da ditadura em Montevidéu quando a filha do presidente deposto João Goulart sofreu um acidente. Visitou-a no hospital. Anos depois, escreveu aos chefe do Estado Maior do Exército denunciado a prática de torturas.

Quem são os “oito”

O general Eduardo Pazuello caiu atirando, da pior maneira possível. Graças aos repórter Caio Junqueira sabe-se que na posse de seu sucessor, constrangeu-o dizendo-se vítima de uma “ação orquestrada” e de “pressões políticas”. Denunciou “um grupo interno nosso” que em fevereiro “tentou empurrar uma pseudo nota técnica” defendendo um medicamento. Eram “oito atores”, todos médicos da equipe que levou para o ministério.

O general contou que seu rigor blindando o ministério acabaria “dando merda”. Afinal, “a operação de grana com fins políticos acontece aqui”.

Pazuello poderia ter denunciado essa situação enquanto estava na cadeira, expondo o grupo dos “oito”. Preferiu se aborrecer com jornalistas. Tudo bem, ainda há tempo para que o faça, protegendo seu sucessor.

De qualquer forma, contribuiu mostrando o tapete debaixo do qual está a sujeira.

Quem quis sumir com os mortos

Sujeira debaixo do tapete, há, e persiste. Enquanto o general Pazuello falava dos “oito”, alguém alterou os critérios de registro de mortos pela Covid no Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe. Tornava obrigatória a informação do CPF, a nacionalidade e o grau de imunização do paciente. Com a gracinha, num só dia, o número de mortos em São Paulo cairia para 281, contra 1.021 na véspera. Só faltou exigirem um registro presencial, como as provas de vida dos aposentados.

As secretarias de Saúde reclamaram, e o doutor Marcelo Queiroga anunciou que a exigência foi cancelada.

Resta saber como esse jabuti foi colocado na árvore.

Madame Natasha

Natasha concedeu uma de suas bolsas de estudo ao novo ministro da Saúde, doutor Marcelo Queiroga. Ele entrou em campo pedindo um voto de confiança e disse o seguinte:

“Quem quer lockdown? Ninguém quer lockdown.”

No dia seguinte à fala de Queiroga, quatro defensores de um “lockdown rígido” de trinta dias assinaram um artigo defendendo a medida.

Entre eles, a professora Márcia Castro, da Escola de Saúde Pública de Harvard, e Carlos Lula, Presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde.

Queiroga quis dizer:

Jair Bolsonaro não quer o lockdown.