terça-feira, 31 de março de 2020

O golpe de 64 explicado


Revolução de 64

Jesus Cristo não salvou os cristãos durante a Peste Negra e não vai salvar agora na pandemia do COVID-19

Imagem: Caio Blois/UOL
Vinícius Carvalho

Deixo aqui minha sincera solidariedade ao povo da Baixada Fluminense que está levando essa pandemia a sério. Eu não queria estar na pele de vocês, e graças aos deuses Carbono e Amoníaco estou a 1200 km de distância deste lugar há 14 anos.

Eu me ponho no lugar de vocês. Toda vez que eu vejo algum vídeo de algum baixadiano fazendo churrascada no meio da rua, com som alto no carro e tripudiando da pandemia, eu penso que vocês devem estar se sentindo como se estivessem sequestrados e o cativeiro fosse um circo. Você ali amarrado em correntes, com a boca atada, mas tendo que ver macaco, leão, mulher barbada, pirata e chimpanzés dançando numa corda e tacando merda no público o dia inteiro.

Assim como nas guerras, uma das coisas que mais mata é a contrainformação. E o governo do criminoso Jair Bolsonaro conseguiu transformar essa pandemia numa questão ideológica.

Só que não existe contrainformação sem manipulação de dados. Em Belo Horizonte, por exemplo, em menos de 2 semanas já morrem mais de 100 pessoas por doenças respiratórias, mas "oficialmente" apenas 1 foi morto por covid-19.

E o Bolsonaro vai usar isso politicamente. Só que Bolsonaro não está fazendo uma aposta, como alguns analistas que respeito, por sinal, vem dizendo. Bolsonaro está jogando com os dados viciados. Trapaceando.

E não tem nada de genialidade na sua burrice, ou de estratégia. Achar que o Bolsonaro é um bom estrategista é corroborar com a sua trapaça. É como se um assaltante colocar uma arma na sua cabeça, roubar os seus pertences e você falar, "nossa, que cara inteligente, baita estrategista".

E o que isso tem a ver com a Baixada?

Infelizmente o maior inimigo de vocês não é o coronavirus em si, são seus próprios vizinhos e conterrâneos. Um gente tão afeita a ficar de sacanagem, festa e piada a qualquer custo, mas tão cheia das crendices que já não conseguem mais separar o mundo real do mundo bíblico.

Aí o que acontece é o seguinte: se a pandemia não matar 10 mil, foi porque Deus protegeu. Se a pandemia matar 900 mil, foi porque Deus quis assim.

Isso é de uma indolência, de um conformismo e um fatalismo atroz.

Vocês que veem sabedoria em tudo o que é popular, que acham que a inteligência suprema vem de tudo o que é povo me desculpem, mas eu já não tenho saco para vocês há séculos. Saia do seu apartamento em Laranjeiras e vá morar em Queimados, então. A questão é que é muito fácil manipular um povo desses, por mais que eles não sejam "manipuláveis" no sentido cordeirinho da palavra. Eles escolhem a "manipulação" que melhor os representa.

Inclusive isso é a tática da pós-verdade e da necropolítica. Quando um velho reacionário entope o seu whatsapp de fakenews, ele sabe que aquilo é mentira, mas ele te manda assim mesmo porque ele queria que aquilo fosse verdade e, afinal, "o que é uma pequena trapaça em prol daquilo que eu considero que é o bem maior?"

Afinal, esse mesmo povo que hoje odeia a Rede Globo, e só agora, após décadas descobriu que a Globo é "manipuladora", não tirava o rabo do sofá há bem pouco tempo, quando essa mesma Rede Globo fazia matéria de 46 minutos contra o Lula.

Aí você mistura corrente de whatsapp, pastores pilantras, um presidente desonesto, fakenews, pós-verdade e ponto final. Séculos de produção de conhecimento vão pro saco em prol de um tsunami de bençãos, fés, aleluias e curas advindas dos pés do nosso senhor Jesus Cristo. Que na verdade deve estar lá no céu com um olhar surpreso e divertido, de quem nunca antes viu idiotas desse tipo.

Só que Jesus Cristo não salvou os cristãos durante a peste negra e não vai salvar agora na pandemia do covid 19, porque os séculos de história nos mostram aquilo que eu suspeitava, Jesus, ama a todos, mas odeia gente porca, imprudente e mentirosa.

Nunca mais


Las Vegas cria abrigo moderno e confortável para moradores de rua manterem o distanciamento social

Centenas de hotéis vazios e o povo dorme no asfalto.

Las Vegas parking lot turned into 'homeless shelter' with social distancing markers

Isolamento vertical


O Capitão Corona contra o ministro equilibrista

No meio da pandemia, o presidente resolveu torpedear o ministro da Saúde. A razão é simples: Mandetta ganhou luz própria e se recusa a endossar seu discurso populista
Bernardo Mello Franco

Jair Bolsonaro é um chefe inseguro. Perde o controle quando um subordinado não se dobra totalmente à sua vontade. O capitão já fritou e demitiu diversos auxiliares que ousaram contrariá-lo. Agora sua mira está apontada para o ministro da Saúde, Henrique Mandetta.

No meio da pandemia, o presidente resolveu torpedear o principal responsável pelo combate ao vírus. A cruzada tem dois motivos: o ministro ganhou luz própria e se recusa a endossar seu discurso populista contra as medidas de isolamento social.

No domingo, Bolsonaro partiu para a provocação explícita. Numa afronta a Mandetta, deixou o palácio para fazer corpo a corpo nas cidades-satélites. Cumprimentou eleitores, estimulou aglomerações e conclamou o povo a abandonar a quarentena. Tudo na contramão do que o ministro prega diariamente na TV.

Mandetta está longe de ser um ícone da coerência. Político profissional, já modulou o discurso para amaciar o chefe e fazer aliados. No sábado, tentou agradar Bolsonaro com um ataque gratuito à imprensa. Apesar das oscilações, mantém-se firme na defesa da quarentena.

Ontem Brasília amanheceu na expectativa de que ele pediria o boné ou seria posto para fora. Os militares temeram pela estabilidade do governo. A essa altura, a saída abrupta do ministro da Saúde poderia deixar o mandato presidencial por um fio.

Seguiu-se uma operação pouco sutil para abafar a crise. Uma entrevista marcada para o Ministério da Saúde foi transferida para o Planalto, onde Mandetta foi acomodado entre um general de paletó e um brigadeiro de farda. Só faltou colarem um esparadrapo em sua boca para impedi-lo de criticar o chefe.

Num dos momentos mais constrangedores, o general Braga Netto disse que a demissão de Mandetta “está fora de cogitação... no momento”. Na política, esse tipo de frase indica que o auxiliar está prestes a cair, devolveu o ministro, sem alterar a voz.

Mandetta evitou confrontar Bolsonaro, mas reafirmou a defesa do isolamento social e avisou que só sai se for demitido. Pelo visto, o duelo entre o Capitão Corona e o ministro equilibrista ainda está longe de acabar.

TV 247: Kennedy Alencar explica a pandemia nos Estados Unidos


O correspondente internacional Kennedy Alencar explica o impacto da pandemia nos Estados Unidos e fala sobre o risco de o coronavírus estimular projetos autoritários.

Miguel Nicolelis: A Face do Inimigo e como ele nos ataca



Visão brasileira

Goldman Sachs prevê queda catastrófica do PIB dos Estados Unidos: - 34% e desemprego em 15%

O maior banco de investimentos dos Estados Unidos, a Goldman Sachs, acaba de divulgar sua projeção, que aponta queda de mais de um terço do PIB da maior economia do mundo
247 – "O banco Goldman Sachs Group Inc. espera que a economia dos EUA sofra uma queda muito mais profunda do que o anteriormente previsto, uma vez que a pandemia de coronavírus massacra os negócios, causando uma onda de desemprego em massa. A maior economia do mundo encolherá 34% anualizado no segundo trimestre, em comparação com uma estimativa anterior de 24%, escreveram economistas liderados por Jan Hatzius em um relatório. O desemprego subirá para 15% até o meio do ano, acima da previsão anterior de 9%, eles escreveram", aponta reportagem da Bloomberg.

"Os economistas, no entanto, agora esperam uma recuperação mais forte no terceiro trimestre, com o produto interno bruto expandindo 19%. 'Nossas estimativas sugerem que um pouco mais da metade do declínio da produção no curto prazo é compensado até o final do ano', escreveram eles. Embora exista um risco de conseqüências a longo prazo sobre a receita e os gastos, a ação agressiva do Federal Reserve e do governo deve ajudar a conter isso. As novas previsões vêm dias depois que o presidente Donald Trump estendeu as diretrizes de 'distanciamento social' dos EUA para conter o vírus até abril, abandonando um plano para um fim anterior", aponta ainda a agência de notícias.

Doutores brasileiros


Entrevista de Átila Iamarino no Roda Viva bombou porque ele diz o que as autoridades escondem ou ainda não compreendem


A entrevista de Átila Iamarino nesta segunda-feira no Roda Viva mostrou por que ele se tornou um fenômeno na internet, com vídeos assistidos por mais de 5 milhões de pessoas.

Átila, que é biólogo formado pela Universidade de São Paulo (USP) e tem pós-doutorado pela Universidade de Yale, já fazia barulho no YouTube com o canal Nerdologia, para divulgar informações científicas.

Mas ele bombou mesmo com a crise no coronavírus, ao dizer coisas que as autoridades escondiam e a emitir conclusões desconcertantes, como a de que a vida nunca será mais a mesma.

Foi Átila quem disse que o Brasil poderia ter 1 milhão de mortos se nada fizesse para combater a pandemia.

Ele não tirou a informação da sua cabeça, mas de um estudo da Imperial College de Londres, o mesmo estudo que levou os Estados Unidos e a Inglaterra adotarem medidas severas de prevenção da doença, como o isolamento social.

Vale a pena reproduzir algumas de suas frases, ditas no programa da TV Cultura, que teve audiência elevada considerando os números fracos que o Roda Viva costuma ter.

Foram 2 pontos de audiência, conforme celebrou a apresentadora Vera Magalhães. Na Globo, no mesmo horário, a média de audiência da Globo é dez vezes maior.

Mas, para os padrões atuais da Cultura, foi uma audiência gigante. Foi maior do que a da entrevista com Sergio Moro, em janeiro.

A seguir, algumas frases de Átila Iamarino ditas no Roda Viva e que circulam em texto viral na internet:

“Nada será como antes, amanhã”

Esta frase de uma música de Milton Nascimento define muito bem o teor da entrevista com o biólogo Átila Iamarino, no Roda Viva. Ele deixou isso muito claro, e não é pra lamentar; um dos ganhos, sem dúvida, é o resgate do respeito à Ciência, que vinha sendo cruelmente desqualificada no país.

O programa ganhou dez minutos devido à relevância do tema e à audiência: 28 mil pessoas só no Facebook. Fiz anotações rápidas na última meia hora de programa, que listo abaixo, mas o programa já está disponível online, não deixe de assistir.

– ainda vamos demorar muito para circular pelas ruas e nunca mais o faremos como antes, e, enquanto não existirem testes e vacina contra coronavírus, certamente usaremos máscaras.

– isso só não é feito, hoje, porque não há máscaras suficientes disponíveis (e a prioridade é para profissionais de saúde), e não porque não deveríamos usa-las.

– “está provado que as cidades que sempre se utilizaram de máscaras se recuperaram mais rapidamente”.

– “isolamento vertical não deve ser considerado em debate porque não tem base científica, quando tiver, precisa ser testado e aí sim podemos falar a respeito”

– “não é para aquele mundo de antes que a gente vai voltar, nunca mais certamente voltaremos a ele: vai ser diferente, mas talvez mais unido”.
“Vai ser um trauma coletivo muito grande”.

“Espero que as pessoas recobrem a confiança na Ciência”.

“Não foi falta de alerta da Ciência que nos trouxe até aqui, com o coronavírus, a China sabia o risco que corria com o consumo de carne de animais silvestres, e só agora proibiu”.

“Vivemos num mundo mais conectado, mais empilhado, com mais pessoas vulneráveis, mais pessoas empilhadas em prisões, quase toda doença saltou de animais para as pessoas, condições da vida moderna propiciam a transmissão de vírus, e há, sim, potencial para outros piores, como a gripe aviária”.

“Diminuir a população das prisões também é uma solução para se evitar epidemias, os EUA soltaram pessoas que cometeram crimes menores; não sei dizer se isso é viável aqui no Brasil, mas deve ser encarado”.

“Quem pegou não pega de novo, mas não se sabe se isso vale em longo prazo; não há como dizer que vai ficar todo mundo imune e que o vírus não estará circulando mais”.

“Daqui até o final do ano, temos que evitar aglomerações e haverá muito poucas pessoas viajando; nenhum país vai querer ter um novo foco do vírus”.

.x.x.x.

Veja também:

A entrevista ao vivo de Átila Iamarino no Roda Viva.

segunda-feira, 30 de março de 2020

Governo Bolsonaro já é um cadáver putrefato a céu aberto

Paulo Guedes, como um violonista do Titanic, montou seu show de medidas tarde demais: o governo Bolsonaro, a maior e mais triste tragédia política da democracia brasileira, já acabou. Trata-se de um cadáver putrefato a céu aberto, uma presença que se impõe apenas pelo mau cheiro.

Guedes lamenta, ao quatro cantos, que a pandemia do coronavírus veio justamente na hora em que o País, depois de patinar em um PIB ridículo de 1,1% de crescimento, em 2019, iria decolar, já no primeiro trimestre de 2020.

O ministro, de falso profeta, tornou-se um mentiroso compulsivo, exatamente como o chefe.

Ao assumir o cargo, em janeiro de 2019, anunciou que o Brasil iria crescer, no mínimo, 2%, naquele ano. Estava chutando. Agora, prepara a narrativa para o fim, antes de se mandar, novamente, para a segurança da banca. Avisa de que a economia naufragou por causa do Covid-19.

A verdade é que a economia segue naufragando porque o presidente é um demente irresponsável cercado de idiotas e psicopatas. Guedes, que ao menos consegue se alimentar sozinho, poderia fazer a diferença, mas não é sequer subordinado a Bolsonaro: é um funcionário do mercado financeiro.

O coronavírus tornou-o refém de um neoliberalismo tornado anacrônico, da noite para o dia. Enquanto o Estado surge como única salvação para a humanidade, Guedes continua representando a farsa das reformas e das privatizações.

Resta a Guedes viver o papel que lhe restou, o de espectador privilegiado do fim trágico do circo de horrores que ele ajudou a montar. 

Leandro Fortes

Número oficial de casos em SP é baixo por causa da falta de exames

Capitão Corona, ilustração de Paulo Zilberman

Claudio Guedes


Sinal amarelo

O isolamento social é a melhor das estratégias para mitigar a propagação do COVID-19. Mas não é única. Os testes precisam ser realizados em número crescente para isolar radicalmente os portadores do vírus dos não-contaminados. Sem esse trabalho não será possível baixar o número de infectados, pois sem saber sua situação pessoas infectadas farão compras e estarão em contato com familiares e vizinhos.

O problema é que não estamos testando quase ninguém. E quem foi testado não recebe o resultado do exame.

Em São Paulo hoje, 30/3, epicentro da pandemia no Brasil, com capacidade atual para processar cerca de 400 testes por dia e uma demanda que, segundo a Secretaria Estadual da Saúde (SES), já chega a 1.200 amostras diárias, o instituto, que atende a rede pública de saúde, já tem 14 mil testes esperando pelo resultado. Na fila. Sem processamento. A notícia está no G1.

No sábado, o número era de 12 mil testes. Para tentar reduzir esse gargalo, o governo estadual e a Prefeitura de São Paulo dizem que estão implementando medidas que devem ampliar o número de testes processados por dia para 10 mil apenas em meados de abril. É muito tempo sem informações.

Estamos passando uma falsa expectativa à população. Achatamos mesmo a curva? A curva de propagação do coronavírus em São Paulo, com números oficiais, é atípica. Não possui correlação com nenhuma outra no mundo.

Vamos ter problemas.

Quem manda na CNN Brasil

Meteoro Brasil

A CNN Brasil virou manchete depois da saída de Gabriela Prioli, mas o dono da emissora, conhecido por ser um bilionário discreto, ficou longe de toda essa discussão. Hoje, você vai saber quem é Rubens Menin, quais são os interesses desse empresário e que acusações pesam contra ele.

Centro de pesquisas sobre o caos


O Brasil é um barco a pique




Claudio Guedes

Desastre

A tragédia do COVID19 já seria por si só um desafio gigantesco.

Temos um outro: a crise política criada pelo estúpido e irresponsável presidente Bolsonaro. Este dividiu o país e o ministério - medíocre e incompetente. A divisão vai retardar as medidas necessárias para mitigarmos a crise na saúde pública e os reflexos desta na economia - que serão dramáticos.

O ministro da saúde em choque direto com o presidente. Situação sem solução.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, pelo visto caiu fora. Deve ter pensado, este presidente é um louco varrido, vai se contaminar, se é que já não está com o coronavírus, e enchendo o Palácio do Planalto de contaminados que ainda não cumpriram a quarentena (General Heleno) vai nos contaminar a todos. Guedes está em casa, no Leblon.

O país é um barco a pique.

Mortes nos EUA passam de 2500

Mortes nos EUA passam de 2500. Focos secundários (em azul) começam a se expandir por todo o país. Grande preocupação com Nova Orleans no sul e Los Angeles na Califórnia. Em LA a existência de 150 mil moradores de rua vai ser um fator decisivo para hospitais.



Miguel Nicolelis

A objetividade na televisão


Alceu Castilho

"A objetividade na televisão consiste em cinco minutos para Hitler e cinco minutos para os judeus".

A frase do cineasta Jean-Luc Godard vem a calhar nessa discussão sobre a CNN e Gabriela Prioli.

Ela se recusou a naturalizar o negacionismo sobre pandemia e a aceitar a falta de respeito do apresentador e dos negacionistas. Ao que tudo indica, está deixando a emissora.

O caso sintetiza essa farsa da falsa objetividade. "Cinco minutos para Aristóteles e cinco minutos para Olavo de Carvalho".

Ocorre que as falsas simetrias estão entre as grandes responsáveis pelo debate — e pelo clima construído — que levou à naturalização de Bolsonaro e da extrema-direita.

Noticiou-se de forma "objetiva" que aquele senhor homenageava um torturador durante o impeachment de Dilma — torturada exatamente por aquele monstro.

Toneladas de comentaristas construíram falsa simetria entre essa extrema-direita assassina e governos que, com boa vontade, poderíamos chamar de centro-esquerda. Mas que também podemos chamar apenas de centro.

(Claro que este país não é para extremistas amadores. Temos por aqui stalinistas — defensores de um regime de terror — que defendem voto em Ciro Gomes.)

A existência de um presidente psicopata e de milhões de pessoas a apoiar a destruição do país (mesmo antes da pandemia) só foi possível graças à ação diária desses maníacos da falsa objetividade.

Desses cínicos.

Sólida e impenetrável


João Ximenes Braga

Começando a ler os jornais e noto que a burrice do teu presidente e de todos que o cercam segue sólida, impenetrável, impermeável. Fosse um filme de ficção científica passado no espaço, a burrice de Bostonaro seria o material usado para enfrentar o choque com a atmosfera terrestre a trocentos anos luz por minuto. Fosse um filme de super-herói, a burrice de Merdonaro seria o material que nem o soco do Super-Homem nem as garras de Wolwerine conseguiriam romper. Fosse um filme de vampiro, seria o material usado para enterrar Michel Temer.

A única coisa capaz de superar a burrice coletiva, imensa, sem precedentes na História do universo que ora ocupa Brasília é sua maldade.

Ninguém foi enganado, ninguém tem o direito de se dizer surpreso.

Todos precisam fazer sacrifícios


O presidente mandou o Brasil morrer

Daqui em diante, cada novo cadáver vai para a conta do Jair. E tem que ir mesmo. Foi ele quem matou essas pessoas quando foi à TV para matar gente.
Celso Rocha de Barros

Parecia que tinha dado certo. Na segunda-feira passada, Bolsonaro deu sinais de que passaria a apoiar o esforço dos governadores contra a pandemia. Houve alguma liberação de recursos, que não foi grande, mas foi um bom começo. Parecia que alguém tinha conseguido convencer o presidente da gravidade da situação.

Mas é o Jair.

Na terça-feira, o presidente da República foi à TV para matar gente. Voltou a dizer que a Covid-19 era só uma “gripezinha” e mandou a população voltar às ruas. Mentiu como sempre e como nunca. Mandou para a morte o grande número de idosos que ainda acredita nele. Nos dias seguintes, obrigou o ministro da Saúde, que vinha fazendo um bom trabalho, a se tornar cúmplice de seus crimes, para que nunca pudesse denunciá-los. Mandetta voltou atrás no pronunciamento de sábado, mas não se sabe o tamanho do dano que já tinha sido feito. Muita gente voltou às ruas.

A essa altura, é até difícil interpretar o que o presidente tinha em mente quando foi à TV para matar gente. Talvez tenha sido só sociopatia: talvez ele simplesmente não compreenda que a vida dos outros mereça consideração. Talvez tenha se inspirado em Trump, que vem discursando a favor da volta ao trabalho —sem data marcada, após estudos, e com a manutenção do isolamento por enquanto. Note-se que até o ideólogo Steve Bannon defende um isolamento forte que permita uma saída rápida da crise. Talvez os brasileiros morram porque o presidente da República assiste a vídeos ainda mais toscos que os de Bannon no YouTube.

Mas também é possível que Jair tenha tentando um golpe de jiu-jitsu muito além de sua faixa. Pode ter criticado o isolamento enquanto torce para que ele dê certo. Se der, o número de casos será pequeno e Bolsonaro poderá mentir que o risco nunca foi tudo isso, não precisava ter sacrificado a economia, ele bem que avisou.

Se é isso que Bolsonaro tem em mente, está jogando errado, porque todo dia ele diminui as chances de o isolamento dar certo. Seus adeptos convocam carreatas. O governador de Santa Catarina, do ex-partido de Bolsonaro, vai encerrar o isolamento. Ao contrário do governo Trump, Bolsonaro mal começou a gastar dinheiro para combater a crise, e sem dinheiro as pessoas vão acabar tendo mesmo que arriscar a vida indo trabalhar.

Daí em diante, cada novo cadáver vai para a conta do Jair. E tem que ir mesmo. Foi ele quem matou essas pessoas na terça-feira, 24 de março de 2020, quando foi à TV para matar gente.

Resta ao Brasil apoiar quem está do seu lado: os governadores e prefeitos que promovem o isolamento enquanto novos leitos são criados, mais material médico é comprado e a economia é reorganizada para sobreviver à crise. O Congresso, que aprovou a renda mínima de R$ 600 (não, não foi o Jair). A imprensa brasileira, que vive um grande momento. E, sobretudo, nossos cientistas e profissionais que estão na linha de frente e são nossa maior esperança.

Faça a lista de quem já foi atacado por Bolsonaro: são os que estão salvando vidas brasileiras. Torça para que eles tenham sucesso, Jair, dê-lhes todo o dinheiro que você tem. Não deveríamos estar falando de manobras políticas em uma hora dessas. Se você nos obrigar a falar, falaremos com raiva, e, desta vez, todos juntos.

E agora, Jair?


Hipóteses

O presidente: 

a) sabe que o governo acabou e quer forçar a deposição pra  dizer que foi vítima de golpe
b) aposta no caos para dar um golpe
c) quer matar uma parte da população porque é tarado pela morte.
d) é imbecil e não faz ideia do que está acontecendo.
e) é um bandido.

Escolham a opção ideal. Eu acho que não tem gabarito, já que todas parecem estar corretas.

Luiz Antônio Simas


domingo, 29 de março de 2020

Bolsonaro opera a favor da morte. Simples assim.


Bolsonaro passeou pelo comércio em Brasília, cumprimentou pessoas, criou aglomeração. Depois foi para o Hospital das Forças Armadas - pela versão oficial, por nada, só para continuar passeando.

Depois falou com jornalistas e soltou que "está com vontade" de baixar um decreto para sustar quaisquer medidas de isolamento social no país.

Mas ontem, segundo a mídia, ele teria sido "amansado" na reunião com os ministros...

Não tem amansado nem meio amansado. Bolsonaro está fazendo um jogo cuja essência é atrapalhar as medidas de contenção da pandemia.

Covarde e incapaz como sempre foi, se cala quando é confrontado com as evidências. Mas não aceita, nem vai aceitar, ficar quieto para não atrapalhar. Ele tem um script e continua a segui-lo

Incita a confusão, fala com seu gado, solta informações falsas. Quando as pilhas de mortos se acumularem, vai dizer que não é culpa dele, que, afinal, apesar de tantas "vontades", não baixou decreto nenhum impedindo o isolamento. E quando a recessão chegar braba, a culpa também não é dele, que, afinal, não queria a interrupção do trabalho.

A insistência na proposta absurda de "voltar à normalidade" permite também que o governo federal se libere de tomar as medidas urgentes necessárias para proteger os mais vulneráveis economicamente.

Moral e intelectualmente incapaz de exercer o cargo que ocupa, ele faz uma dança para se eximir das responsabilidades.

Mas não peca somente pela omissão. Seu teatrinho leva muitos às ruas em desrespeito às regras do isolamento, faz aumentar a pressão de patrões sobre trabalhadores, faz vacilar governadores e prefeitos.

Em suma: ele boicota a ação dos poderes públicos no combate ao coronavírus.

Bolsonaro opera a favor da morte. Simples assim.

Todo mundo vê isso. O Supremo vê, o Congresso vê, a imprensa vê, a oposição vê, a OMS vê, os governos estrangeiros veem.

Cada dia a mais com Bolsonaro no cargo agrava a crise.

O "realismo" dos que dizem que "não há condições" para retirá-lo do cargo nega essa urgência e contribui objetivamente para sabotar o que deveria ser uma prioridade no momento: criar essas condições.

Bozo vai liberar geral


SP tem 6 vezes mais mortes por coronavírus que a China por dia


Mônica Bergamo


O Estado de São Paulo chega, neste domingo (29), à contabilização de 98 mortes relacionadas à Covid-19. Já há 1.451 casos confirmados da doença no estado.

De acordo com o balanço feito pela Secretaria da Saúde, estão morrendo em média 7,5 pessoas por dia desde que o primeiro óbito foi registrado, no dia 17 de março.

Em um intervalo similar, de 13 dias, a China teve uma média diária de 1,3 óbitos, de acordo com o levantamento feito pelo governo.

"A primeira morte no país asiático ocorreu em 11 de janeiro. No dia 23 daquele mês, a China contabilizava 17 mortes. Nesse período de treze dias, o país também saltou de 41 para 571 casos confirmados", diz o balanço.

Os 14 novos óbitos contabilizados neste domingo (29) são de pessoas atendidas na rede particular.
A maioria deles, 13, ocorreu na capital paulista. Uma das mortes, de um homem de 89 anos, foi em São Bernardo do Campo.

Na capital morreram cinco mulheres (71, 84, 84, 87 e 90 anos), seis homens idosos (60, 67, 79, 76, 63, 83) e dois jovens de 26 e 33 anos, em fase de investigação sobre eventuais comorbidades e histórico clínico.

Até o meio desta semana, apenas a Capital paulista registrava óbitos relacionados à Covid-19. Agora, os municípios de Vargem Grande Paulista, Guarulhos, Taboão da Serra, Embu das Artes, Sorocaba, São Bernardo do Campo e Ribeirão Preto também contabilizam pelo menos um óbito.

Trump é o pior presidente nesse momento


Atila Iamarino

O chefe do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (NIAID) americano anunciou hoje que os EUA devem ter entre 100 e 200 mil mortes nos próximos dias, apesar dos esforços.
Segue um fio de como isso aconteceu e porque o Trump é o pior presidente nesse momento. 

Trump faz parte de um tipo de político não teria entrada na política antiga mas foi viabilizado com redes sociais, aquele que sabe chamar atenção. Ele consegue dominar a atenção da mídia como poucos e colhe os votos disso. 

Isso serve para mantê-lo no cargo enquanto tudo mais anda bem. Assessorado por pessoas competentes, ele pode deixar o trabalho duro para os outros e focar em chamar atenção. Tanto que passou os últimos anos fazendo campanha pras próximas eleições. 

Mas uma crise séria como a COVID-19 depende de duas metades. De quem faz a infra-estrutura agindo (montando hospitais, comprando equipamento) e uma figura pública que informe e una as pessoas, que as prepare pros problemas que virão. Mas o Trump só sabe chamar a atenção. 

Ele não consegue dar más notícias, maus números, ou avisar que uma crise estava vindo. Ainda insiste em reabrir o país em dias. É um político inadequado pra situação atual. E ainda não aceita o protagonismo de agentes de saúde como o Fauci ou governadores. 

Andrew Cuomo teve que assumir uma responsabilidade enorme com NY se tornando um dos focos da pandemia por lá. E a resposta do Trump não foi de apoio, foi de que queria isolar e quarentenar o estado, o que não faz nem sentido. 

O Trump acabou errando números, dizendo que tinham testes quando não tinham, atrapalhando comunicados oficiais, atrasando o país no que precisavam fazer e agora ainda tenta silenciar quem tá trabalhando a sério com o problema: 
A Complete List of Trump’s Attempts to Play Down Coronavirus
He could have taken action. He didn’t.

O resultado é que os EUA caminham pra muito mais casos do que teriam se alguém que sabe agir estivesse no comando. Eles têm um líder que sabe chamar atenção, o que funciona muito bem em tempos normais, mas não são tempos normais. E vai ser fácil responsabilizar ele pelo que vier. 

P.S.: Qualquer medida que cientistas recomendem depende de políticos pra chegar nas pessoas. Não me importam lados, importa se as autoridades competentes tão agindo ou não. A COVID-19 não pergunta em quem votou pra infectar alguém .

Não necessariamente existe a liderança ideal ou a melhor liderança. Momentos diferentes pedem líderes diferentes. O Churchill foi essencial na Segunda Guerra, mas não era alguém pro período de paz em seguida.

The Myth of the Strong Leader, by Archie Brown

Bolsonaro está disposto a produzir massacre com sua ignorância


Bruno Boghossian
Presidente não tem evidências ou estudos para justificar reação delirante à crise
Duas universidades britânicas estimam que o Brasil terá centenas de milhares de mortos se não adotar medidas de distanciamento para enfrentar o coronavírus. Confrontado com essas previsões, Jair Bolsonaro deu risada. "Isso aí, no meu entender, é chute. Deve ter algum interesse econômico colocado em jogo aí", disse o presidente.

Bolsonaro é incapaz de apresentar evidências ou levantamentos sérios para justificar sua reação delirante à mais grave crise de saúde pública desta geração. O presidente se move por palpites, mentiras e interesses políticos. Está disposto a produzir um massacre com sua ignorância.

Pesquisadores brasileiros que trabalham diretamente no combate à pandemia alertam que há mais mortes por Covid-19 do que as anunciadas até agora. Esses especialistas dizem que algumas vítimas do vírus não recebem o diagnóstico correto.

Do sofá do Palácio da Alvorada, o presidente desconfia. Em entrevista à TV Bandeirantes, Bolsonaro disse que outras doenças causaram as mortes registradas até aqui. Ainda contestou, sem provas, as estatísticas do estado de São Paulo. "Não estou acreditando nesse número", afirmou, sem oferecer nenhum dado.

Não adianta que o prefeito de Milão tenha dito que foi um erro incentivar as pessoas a continuarem trabalhando quando o vírus começou a se espalhar. A 8.901 quilômetros de distância, o brasileiro acha que o problema da Itália é a idade da população. Por isso, ele quer que todos voltem às ruas imediatamente.

Os dois únicos planos concretos de Bolsonaro são baseados em puro achismo. Ele faz campanha pelo uso de cloroquina para tratar pacientes com Covid-19, mas não apresenta qualquer confirmação da eficácia do medicamento. Além disso, defende o isolamento de apenas parte da população, embora não tenha um mísero estudo sobre seu impacto.

O presidente despreza os fatos, mas sabe que o país terá milhares de mortes se a população seguir suas vontades. Ele não liga. "Alguns vão morrer. Lamento, é a vida", disse.

Bolsonaro está suicidando a sociedade

Presidente criou um paradoxo: aposta que o número de mortos não será tão alto quanto se teme, mas faz tudo para que seja

“Van Gogh – O suicida da sociedade” (ou “O suicidado pela sociedade”, como aparece, belamente, em várias edições) é o título de um livro de Antonin Artaud (1896-1948). O escritor francês defende que o pintor holandês não provocou a própria morte, mas foi levado a ela pela incompreensão de seu médico e de todos à volta. Ele próprio, Artaud, passou muitos anos em hospitais psiquiátricos, como o de Rodez, onde recebeu tratamentos de eletrochoque.

Jair Bolsonaro, que prefere os que dão eletrochoques aos que recebem, faz lembrar o título de Artaud, mas pelo avesso. Com seu empenho para que pessoas violem a quarentena e circulem pelas ruas, está pondo vidas em risco. Quer que a sociedade se suicide.

Suas frases não têm qualquer amparo factual e científico. Disse que o brasileiro entra “no esgoto” e “não acontece nada com ele”. Não há coleta de esgoto para 48% da população. Água tratada não chega a 35 milhões de pessoas. Elas ficam doentes e morrem por causa disso.

Propagandeia o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina como panaceia. Em artigo publicado no sábado 28 no jornal O Globo, três cientistas explicam que foram feitos apenas dois estudos sobre o uso desses antivirais no combate à Covid-19: um, na França, apresentou falhas graves, inclusive éticas; o outro, na China, mostrou que não houve diferença entre tomar e não tomar a medicação.

Em vários momentos, fica difícil saber onde acaba a ignorância de Bolsonaro e começa a má-fé. Afirmar que só idosos devem ficar em casa significa desconhecer (ou omitir) que crianças, jovens e adultos podem voltar da rua e transmitir os vírus para os mais velhos. Mais: até o momento, a média de idade dos pacientes em estado grave no país está entre 47 e 50 anos.

E, como sabemos, a Covid-19 não é uma “gripezinha”. Já são mais de 27 mil mortos no mundo. Só na Espanha, cinco mil. Na Itália, dez mil. O prefeito de Milão, Giuseppe Sala, apoiou em fevereiro a campanha “Milão não para”, semelhante à lançada por Bolsonaro, “O Brasil não pode parar”. Nesta sexta 27, Sala admitiu que estava “provavelmente errado”. A região da Lombardia, onde fica Milão, tem mais de cinco mil mortos.

Os mais benevolentes ressaltam que o presidente está preocupado com a economia e com sua reeleição no distante 2022. Antes desses dados objetivos, vem outro: Bolsonaro é um caso psiquiátrico. Não com o brilho de Van Gogh e Artaud, infelizmente. A paranoia pode ser semelhante, mas nele há traços de psicopatia. O mundo inteiro está errado, apenas ele está certo.

Sua marca é o ódio à vida alheia. Quase foi expulso do Exército por planejar jogar bombas para protestar contra os baixos soldos. Um “mau militar”, como resumiu o ex-presidente Ernesto Geisel. Sempre defendeu a tortura, o uso disseminado de armas, a invasão de terras por garimpeiros e grileiros, o assassinato de “bandidos” – os outros, não os milicianos com quem sua família mantém estreitas relações.

A morte é o seu brasão. Dedica-se agora a empurrar para ela parte do país que deveria governar. Os afortunados o apoiam em carreatas, confinados em seus utilitários, em cenas de obscena pusilanimidade. Os mais pobres, os autônomos ou os pequenos comerciantes, sem alternativas, podem ter na mensagem irresponsável do presidente um estímulo para o retorno à “normalidade” – palavra que, dita por Bolsonaro, ganha sentido inverso.

Ao minimizar a gravidade da pandemia, com sua ojeriza à ciência e a todas as formas de conhecimento, o presidente criou um paradoxo sombrio: aposta que o número de mortos não será tão alto quanto se teme, mas faz tudo para que seja. Se a aposta der errado, não será caso de impeachment, mas de cadeia. Talvez como crime contra a humanidade, essa entidade que ele tanto despreza.

Gabriela Prioli, comentarista em ascensão na CNN Brasil, pede demissão

FSP

A comentarista Gabriela Prioli anunciou sua demissão da CNN Brasil, pelo Twitter, neste domingo (29).

Mestre em direito penal pela Universidade de São Paulo e professora na pós-graduação da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Prioli participava dos programas de debates mediados pelo jornalista Reinaldo Gottino, ao lado de Caio Coppolla e Tomé Abduch.

Vídeos viralizaram no Twitter com momentos dos debates. Em diversas ocasiões, Prioli era interrompida e criticava o ato de seus colegas de bancada.

"Em mais de uma oportunidade tive que me posicionar cobrando respeito ao meu espaço de fala. É preciso ser mais contundente", disse, em uma das postagens que comunica sua demissão.

Em outra, ela critica a forma que tomou o debate. "Não posso legitimar que o achismo seja equiparado ao conhecimento científico nem contribuir para acirrar a polarização", afirmou.


1- Queridos antigos e novos amigos, os últimos dois dias foram de muita reflexão.

Não é fácil ser firme no início de um projeto profissional, mas é impossível não me comportar segundo aquilo que eu defendo, apesar das possíveis consequências. 

2- Eu digo a vocês, de forma reiterada, para se posicionarem, serem firmes e não cederem diante de comportamentos que vocês considerem inadequados. Se agora, quando a vida demanda isso de mim, eu agisse de outra forma, estaria sendo hipócrita. 

3- Em mais de uma oportunidade tive que me posicionar cobrando respeito ao meu espaço de fala. É preciso ser mais contundente. 

4- O meu compromisso é com um debate racional, prospectivo, informativo e respeitoso. 

5- Não consigo atingir o meu objetivo se for constrangida e não posso seguir participando do debate sem que a convicção sobre a gravidade do constrangimento não seja só minha, mas de todos os envolvidos, na frente e atrás das câmeras. 

6- Não posso legitimar que o achismo seja equiparado ao conhecimento científico nem contribuir para acirrar a polarização. 

7- Seguirei, por enquanto, dividindo com vocês as minhas análises nas minhas redes e pensando em outras formas para podermos interagir e evoluir com qualidade. 

8- Nessas últimas duas semanas o nosso grupo cresceu e isso me traz profunda satisfação. O meu maior prazer é essa troca que tenho com vocês. Fica aqui então o meu muito obrigada. 

9- Nos posicionar é a forma que nós temos de conscientizar o mundo daquilo que nós consideramos fundamental.

Gabi

Temos que gritar com toda força que tem um monstro no Planalto

#forabolsonaro

Antonio Prata

As teorias da conspiração são o último refúgio dos impotentes. É pra lá que eles fogem, acreditando libertar-se dos grilhões da mentira e da manipulação.

Ali, mocozados em seus terraplanismos, antivacinismos, cultuando seus ETs de Varginha, seus Foros de São Paulo, seus Chupa-Cabras, seus Olavos de Carvalho, suas mamadeiras de piroca, suas tramas da CIA ou da China, os olhos dos “desempoderados” brilham no gozo da verdade revelada.

Como mágica, o homem medíocre a quem os genes, a injustiça social ou a preguiça intelectual condenaram a uma existência de Zé Mané se transforma num Indiana Jones diante do Santo Graal, num Fox Mulder e numa Dana Scully num episódio de “Arquivo X”, num Moisés encarando a sarça em chamas.

As teorias da conspiração são a igreja do homem despossuído, frustrado, alienado, num mundo complexo que ele não compreende e no qual não prospera. São a arminha de mão dos pobres diabos. O Viagra da impotência social.

Quer dizer então que toda a comunidade científica, Harvard e Yale e Oxford e Cambridge e a Organização Mundial da Saúde e a União Europeia e os EUA (democratas e republicanos) e a Angela Merkel e o Bill Gates e os líderes e a imprensa de todos os países do globo estão errados sobre o coronavírus e só Bolsonaro tá certo?

O mundo inteiro caiu num conto do vigário chinês comunista para quebrar o capitalismo e só o capitão reformado do Vale do Ribeira, do alto de seus chinelos Rider, penando para ler “hospital Ualbert Uainstein” no teleprompter, descobriu a farsa?

O que para você, pessoa sensata de direita, de esquerda ou de centro, parece um absurdo completo é justamente o que dá força à teoria conspiratória. Quanto mais alucinante a teoria, maior seu poder epifânico. Quanto mais tosca a figura do presidente, mais longe chega a sua mensagem.

Tem um momento, geralmente no final do primeiro ato dos filmes de terror ou suspense, em que o protagonista tenta convencer os outros de que tem um fantasma na casa ou um monstro na floresta ou que o professor bondoso do jardim de infância é um serial killer. Todos desdenham do protagonista.

Talvez ele acabe num hospício, como Sarah Connor em “O Exterminador do Futuro 2”. A incredulidade geral, porém, faz com que o herói se insufle, cresça, tome uma atitude arriscada e sem volta para combater o fantasma/monstro/assassino e ingressar no segundo ato.

É exatamente no momento Sarah Connor no hospício que Jair Bolsonaro e seu núcleo duro de miolo mole se encontram nesta semana. E a atitude arriscada e sem volta que eles gostariam de tomar para ingressarem no segundo ato com um duplo plot twist carpado é dar um golpe.

Mandar ao STF “um jipe com um soldado e um cabo”. Amotinar as polícias e dar a elas, como disse o então candidato a presidente, “retaguarda jurídica para fazer valer a lei no lombo de vocês!”. “Será uma limpeza nunca vista na história do Brasil.”

Chegou a hora de as pessoas sãs deste país se unirem contra um golpe e contra a carnificina que a insistência deste sociopata em reduzir a quarentena irá causar. Somos nós, de Ronaldo Caiado a Marcelo Freixo, quem temos que gritar com toda a força dos nossos pulmões que há um fantasma na presidência. Um monstro no Planalto. Um serial killer no comando dos jardins de infância.

Depois, quando o pesadelo do vírus e do monstro passarem, cabe aos sobreviventes adultos de todos os matizes políticos repensar o mundo para que nele não haja um exército de excluídos frustrados, humilhados e dispostos a embarcar no primeiro filme de terror que lhes oferecer uma migalha de protagonismo.

Nova cara para o caos


Jânio de Freitas
A proposta de prioridade à economia sobre a vida está na lógica de Bolsonaro
A disposição das forças políticas, no tabuleiro do Poder, avançou em alterações importantes, nos últimos dias. Ainda que confundindo botinas com luvas, mulheres e furos, Bolsa e humanidade, o bolsonarismo oficial não foi contrastado pela oposição desde a sua posse. Dominou para nada que prestasse, aceito pela passividade proveitosa ou atemorizada diante da inépcia amalucada e regressiva. O contraste apareceu. Incipiente, mas já capaz de empurrar Bolsonaro e o bolsonarismo para mais próximos do seu lugar legítimo.

É o aparecimento quase simultâneo da lucidez independente no Congresso, há algum tempo puxada por Rodrigo Maia e, em algumas ocasiões, por Davi Alcolumbre; também da consciência ativada em muitos governadores, quase todos, tanto da sua responsabilidade como do seu poder; e, ainda, da marselhesa das panelas, som da opinião pública desalentada.

Essa combinação é uma força real, em condições de atenuar o estado caótico geral e o regressismo social e legal comum aos atos e projetos do governo. Não em condições, porém, de diminuir a alienação mental de Bolsonaro e dos seus três orientadores. Dotados de meios de resistência, como recusa a sanções, incidentes internacionais, mobilização de agitações com PMs, caminhoneiros, milícias. O cardápio é farto. E, sim ou não, com os militares.

Nosso falar, a propósito, precisa corrigir-se. A usual menção a militares inclui, além do Exército, a Marinha e a Aeronáutica. Assim tem sido imprecisa e injusta. Marinha e Aeronáutica têm praticado um profissionalismo exemplar. Há muito tempo, e com mais razão nestes tempos, não se vê um almirante ou brigadeiro fazendo considerações públicas de fundo político, nem diretas nem disfarçadas.

As especulações de divisão e preocupações diversas nos comandos do Exército, ou divergências da tropa de generais entre si ou com Bolsonaro, em geral não têm indícios aceitáveis. Escalado ou voluntário para remendar falas de Bolsonaro, o general-vice Hamilton Mourão vem, sempre, com um "não se expressou bem" que, no máximo, traz vaguidão. É o suficiente, porém, para mostrar que a corrente do Exército no governo, representada por Mourão, não se opõe ao dito ou feito por Bolsonaro. Apenas procura não ser atingida, também, pela repercussão negativa do feito bolsonárico.

Como a já exausta última gota, o episódio que alterou a distribuição dos pesos políticos foi, na noite de terça (24), a fala de Bolsonaro em rede de TV. O contrassenso da alienação: uma leitura de mau texto para atacar a estratégia do seu governo no combate ao coronavírus. Mais contrassenso: fala em rede nacional para convocar os brasileiros a não cumprir o isolamento, na residência, recomendado pela Organização Mundial da Saúde, em nome da ciência, para evitar o contágio e diminuir as mortes. Bolsonaro propugnando a atividade econômica que seu governo, em 15 meses, jamais promoveu.

Bolsonaro, no entanto, em sua fala não fez mais do que ser Bolsonaro. Admite não conhecer estudo nem caso prático que apoie sua pregação contra o isolamento. Trata-se, pois, de uma intuição sua, um impulso instintual, algo vindo de suas profundezas mais recônditas. Da natureza do homem que tem como seu herói o chefe de crimes coronel Ustra; que fez e levou os filhos a ligação com milicianos homicidas; adepto do método "bandido bom é bandido morto"; que preferiria ver um filho morto a sabê-lo homossexual. Que instiga o aumento de tragédias rodoviárias, quer a população armada e libera arma até para menores de idade; defendeu e prestou homenagens parlamentares a assassinos, retira a proteção às tribos indígenas assediadas por matadores, propôs encerrar um confronto de traficantes na Rocinha com o lançamento aéreo de uma bomba na favela, ameaçou explodir bombas nos quartéis de seus companheiros no Exército: a morte alheia é indiferente a esse ser funesto, quando não é desejada.

A proposta de prioridade à economia, sobre a vida exposta das crianças escolares e dos adultos ativos, está na lógica e na natureza sinistra de Jair Bolsonaro. Já bem conhecida. Por que agora, ou só agora, causou indignação consequente, tanto pode dizer bem como dizer mal dos brasileiros. À sua escolha.

Impeachment pode ser pouco para Bolsonaro


Bernardo Mello Franco

Os desvarios de Jair Bolsonaro não cabem mais na esfera da política. Quando o presidente se torna uma ameaça à saúde pública, sabotando o esforço nacional contra a pandemia, seus atos devem ser submetidos aos tribunais.

Nos últimos dias, a Justiça começou a impor freios ao Capitão Corona. O Supremo derrubou duas canetadas odiosas: o corte de 158 mil benefícios do Bolsa Família e a MP que mutilou a Lei de Acesso à Informação.

Para surpresa de ninguém, Bolsonaro tentou usar a crise para garfar miseráveis e reduzir a transparência do governo. As medidas foram invalidadas pelos ministros Marco Aurélio Mello e Alexandre de Moraes. Em tempo: nenhum deles foi indicado por governos do PT.

Depois das derrotas no Supremo, o presidente passou a apanhar na primeira instância. Na sexta, o juiz Márcio Santoro Rocha suspendeu a autorização para igrejas e casas lotéricas retomarem as atividades normais. Horas depois, a juíza Laura Bastos Carvalho mandou tirar do ar a campanha publicitária que incentivava a população a voltar às ruas.

Nos dois casos, o capitão driblou a lei para agradar a clientela. Na MP do Dízimo, ele subverteu o conceito de atividades essenciais para beneficiar mercadores da fé e empresários do ramo de apostas.

Em outra frente, a Secom planejava bombardear os cidadãos com propaganda contra a quarentena. A campanha “O Brasil não pode parar” torraria R$ 4,8 milhões num momento em que falta dinheiro para ampliar a oferta de leitos e equipar os hospitais.

As quatro decisões ainda podem ser revistas, mas apontam um caminho para frear o presidente pela via judicial. Ao torpedear políticas de isolamento que podem salvar milhares de brasileiros, Bolsonaro extrapola os poderes de chefe de Estado. Age como um líder de seita que tenta conduzir o rebanho ao suicídio coletivo.

Quando a epidemia passar, a abertura de um processo de impeachment pode ser pouco para enquadrar o presidente. Se sua cruzada contra a vida prosperar, ele se candidatará a uma denúncia ao Tribunal Penal Internacional, que julga crimes contra a Humanidade.

CARTA AOS REPTILIANOS DE PLUTÃO

Diário do Bolso


Caros irmãos reptliianos,

estou há vários anos no planeta Terra, distante de nosso amado Plutão, mas a recompensa logo virá. A cada dia chegamos mais perto de nosso intento. Eu e meus companheiros já estamos nos postos mais altos de vários países e nosso plano vai de vento em popa.

Foi fácil enganar a gente inculta daqui. Eles acreditam em qualquer coisa que se lhes diga. A Terra é plana? Sim. Vacinas matam? Sim. Eu sou honesto? Sim.

Copulei com algumas terráqueas (qual o sacrifício que eu não faço por meus irmãos?) e gerei três crias. Meus mesticinhos sabem qual a minha real missão e me apoiam totalmente. Só querem continuar vivos depois da invasão.

Aqui, logo que assumi o cargo de presidente do Brasil (os terráqueos dividem o planeta em uns 200 países, como se tudo não fosse um só lugar), já coloquei meu plano em prática. Proibi cadeirinhas de crianças nos carros, pus fim à previdência social e liberei as armas. Assim pensei garantir o fim das crianças, dos velhos e dos adultos, facilitando o Ataque Final.

Meus companheiros US-14 e UK-56, que aqui atendem pelos nomes de Trump e Johnson, foram pelo mesmo caminho. Aliás, vocês precisavam ver os penteados que eles inventaram para disfarçar sua antena! Kkk! Ainda bem que a minha é pequenininha.

Estas nossas políticas, porém, seriam muito lentas. Então apareceu um vírus e aproveitamos a chance.

Em vez de colocar as pessoas em reclusão, mandamos que todos fossem às ruas. E eles obedeceram! Eu mesmo apertei a mão de centenas de humanos para me certificar de que o vírus se espalharia.

O mais incrível, reptilianos, é que muitos terráqueos brasileiros aplaudiram meus atos. Alguns, os mais ricos, até fizeram carreatas pedindo que seus servos continuem trabalhando e se contaminando.

Em um mês a mortandade será gigantesca. Aqui e no resto do planeta.

Em breve, irmãos, a Terra estará fraca, vazia, e vocês poderão vir para cá. Encham o tanque de suas naves interplanetárias. Chega desse frio de Plutão! Vocês vão adorar a Terra. Em particular, o Rio de Janeiro. Será delicioso espalhar nossos tentáculos pela areia.

Um abraço saudoso, BN-38.

@diariodobolso

sábado, 28 de março de 2020

Levando na conversa


Um poeta italiano divulgou seu número de telefone e se dispôs a falar com quem quisesse ligar
Sérgio Augusto

Praticamente tudo o que vemos agora é pela TV, pela internet ou pela janela mesmo. Imaginem como estaríamos anos atrás, nos informando só pelo rádio. O que me leva a supor que a maior paranoia, depois da contaminação pela covid-19 e sua possível mutação, é que a internet, de tão sobrecarregada, caia e não se reerga.

Por outro lado, saber demais sobre o que está acontecendo pode gerar neuroses, angústia e depressão. E o que é saber demais ou de menos numa guerra? Revelou-se na quinta-feira que nove em cada dez casos de covid-19 não são detectados no Brasil. O que fazer: bloquear o noticiário (e arriscar perder alguma informação fundamental, de utilidade pública e privada) ou promover uma alienação terapêutica, ventilando a cabeça com abobrinhas espirituais, livrescas e cinematográficas?

Talvez seja recomendável evitar, por inúteis ou irrelevantes, as análises e profecias mais pessimistas, como as do economista Nouriel Roubini, apelidado de “Doutor Catástrofe”, sobretudo porque ele costuma acertar todas. Roubini previu a crise econômica de 2008 com três anos de antecedência e está mais do que pessimista com os estragos imputáveis à covid-19: recessão persistente, com mais de US$ 2 trilhões de perdas em créditos e uma crise bancária sistêmica. Desculpem o spoiler.

Outra recomendação: não se deixar envenenar por teorias conspiratórias e alopradas, do tipo “o novo coronavírus foi inventado em laboratório pela China visando a destruir o sistema capitalista” ou “os EUA espalharam a covid-19 para evitar que a China se torne a primeira economia mundial”.

É bom lembrar que a pandemia de 1918 originou-se no Kansas, mas virou Gripe Espanhola porque a Espanha foi o único país que, diferentemente dos EUA e do resto da Europa, não censurava o noticiário sobre a devastação causada pela doença: cerca de 500 milhões de mortos, um quarto da população mundial na época.

As pessoas tendem a acreditar naquilo que gostariam que fosse verdade, que corresponda aos seus desejos confessáveis e inconfessáveis. Uma amiga ligou para me dar em primeira mão a notícia de que o presidente fora testado positivo. “Minha empregada ouviu na Globo News.” A empregada, que, aliás, deveria ter sido temporariamente dispensada do serviço sem perda salarial, para proteger-se junto aos seus, afinal reconheceu ter ouvido errado e guardou para si o “wishful thinking”.

Durante a primeira fase da quarentena conheci virtualmente muita gente bacana empenhada em aliviar as limitações do confinamento. Um personal de Nova York passou a oferecer ginástica de grupo aos vizinhos. A italiana Antonietta Orsini fez o mesmo da varanda de seu apartamento em Roma. Vi shows vocais, instrumentais e coreográficos – em janelas e terraços. Recebi dicas sobre improvisadas livrarias virtuais, com farta oferta de leitura.

Encantei-me particularmente com o exemplo de um poeta italiano, Franco Arminio, 60 anos, que no segundo fim de semana de março divulgou o número do seu celular nas mídias sociais e, identificando-se como “velho hipocondríaco”, se ofereceu para conversar com quem sentisse necessidade de espantar a solidão da quarentena. Prontificou-se a ficar de plantão diariamente, das 9h ao meio-dia, até 3 de abril, fim oficial da quarentena italiana, que no entanto pode continuar.

A receptividade foi quase instantânea. Quando descoberto e entrevistado por um correspondente do Washington Post em Roma, Armínio já recebia mais de uma centena de chamadas diárias de todas as regiões da Itália e do exterior. “A maioria se sente solitária, insegura, atormentada pelo medo”, disse o poeta, que não esconde de nenhum dos interlocutores que também está com medo. “Eles precisam mais de um companheiro de sofrimentos do que de um terapeuta.”

Foi por um medo crescente da agitação urbana e das consequências físicas e psíquicas de seus deslocamentos como palestrante (passava 25 dias por mês na estrada), que Armínio trocou Roma pela comuna de Bisaccia, no Avelino, onde aproveita o confinamento para ler Kafka, namorar a paisagem e ruminar sobre o tema mais presente em sua poesia: o medo da morte.

“As ligações me dão energia criativa”, diz. Livros, solidão e as ameaçadas dádivas da natureza são os assuntos mais abordados nas conversas, inevitavelmente sombreadas pelo avanço recrudescente da pandemia.

Nos primeiros dez dias, Armínio conversou com um ministro, dois senadores, um músico, um apicultor, um estudante de medicina forçado a exercer a profissão antes de se formar e outro universitário que sofre por não ter ideia de quando poderá abraçar os pais novamente. Conheceu ainda uma viúva que se vangloriou de ter finalmente aprendido “a viver consigo mesma” e outra, de 76 anos, residente na napoleônica ilha de Elba, cuja libido, adormecida havia alguns anos, fora “na pior hora” reacendida pelo distanciamento social obrigatório.

Depois do quarto dia de reclusão, as pessoas começam a perguntar sobre o que lhes pode acontecer. Raros não esperam pelo pior. Muito menos Armínio: “A Itália não está equipada, nem economicamente nem do ponto de vista emocional. Mesmo depois de o país diminuir as severas restrições vigentes, passaremos por uma fase cinzenta, em que o risco ficará reduzido, mas ainda presente, e as pessoas continuarão preocupadas, tensas, irmanadas no espanto e necessitadas de alguém para conversar. Algumas, tenho certeza, vão me ligar de novo.”