quinta-feira, 30 de abril de 2020
Evolução dos casos de coronavírus no mundo
EVOLUÇÃO DE CASOS NO MUNDO 🌎 https://t.co/e0IHotWjK1— Estadão (@Estadao) April 30, 2020
O Brasil já é o 10º país com mais infectados por coronavírus. Em menos de 1 minuto, veja como os casos aumentaram pelo mundo nos últimos meses. Em janeiro, eram menos de mil. Hoje, são mais de 3 milhões. #FiqueEmCasa pic.twitter.com/ytTUMmE7m5
Brasil registra 435 mortes por covid-19 em 24 horas; total chega a 5.901 óbitos
No total, o país tem 85.380 casos oficiais, segundo dados do Ministério da Saúde
Do UOL, em São Paulo
O Ministério da Saúde anunciou hoje que subiu para 5.901 o número de mortes pelo novo coronavírus no Brasil — 435 óbitos confirmados nas últimas 24 horas. Até ontem eram 5.466.
No total, o país chegou a 85.380 casos oficiais, segundo os dados mais recentes do Ministério, com 7.218 diagnósticos novos de ontem para hoje.
Segundo a pasta, ao menos 38.564 pacientes estão em acompanhamento e mais de 34.132 já se recuperaram. 1.452 óbitos seguem em investigação.
A taxa de letalidade — que compara os casos totais pelos números de óbitos confirmados — no Brasil é de 6,9%, segundo a atualização do governo.
O anúncio de hoje, no entanto, não significa necessariamente que 435 pessoas morreram nas últimas 24 horas. Desde o início da pandemia, o Ministério da Saúde tem somado ao balanço diário mortes ocorridas dias atrás, mas com confirmação de covid-19 no último dia.
No total, as mortes em decorrência do coronavírus confirmadas em cada estado são:
Acre (19); Alagoas (47), Amapá (34); Amazonas (425); Bahia (104); Ceará (482); Distrito Federal (30); Espírito Santo (83); Goiás (29); Maranhão (184); Mato Grosso (11); Mato Grosso do Sul (9); Minas Gerais (82); Pará (208); Paraná (83); Paraíba (62); Pernambuco (565); Piauí (24); Rio Grande do Norte (56); Rio Grande do Sul (51); Rio de Janeiro (854); Rondônia (16); Roraima (7); Santa Catarina (46); São Paulo (2.375); Sergipe (12); Tocantins (3).
Com subnotificação, casos de coronavírus no Brasil já estariam acima de 1,2 milhão, estima grupo da USP
O Globo
Considerados os casos subnotificados, o número total de infectados pelo coronavírus no Brasil teria chegado a 1.201.686 (podem flutuar entre 957.085 e 1.494.692) em 28 de abril, um número 16 vezes maior que o oficial naquela data, de 73.553, que considera somente doentes graves e mortos (os casos de pessoas que sofreram internação).
Esse número supera o oficial dos Estados Unidos, o país mais atingido até agora pela pandemia e que também tem uma grande subnotificação e, portanto, pode ter ainda um total significativamente maior. A análise é do portal Covid-19 Brasil, que reúne cientistas e estudantes de várias universidades brasileiras.
- Falamos de ter ultrapassado em mortos a China, mas estamos em casos totais próximos dos EUA, mesmo tendo cerca de dois terços da população americana e tendo começado a sofrer com a epidemia um mês depois. Na verdade, se considerados os casos subnotificados de óbitos, também ultrapassamos a China há cerca de duas semanas - afirma o especialista em modelagem computacional Domingos Alves, integrante do grupo e líder do Laboratório de Inteligência em Saúde (LIS) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo (USP).
E isso, sublinha ele, com o distanciamento social de cerca de 50% em todo o Brasil, insuficiente, mas que reduziu um pouco o ritmo de avanço do coronavírus. Com o enfraquecimento das medidas de distanciamento, o ritmo da epidemia deve acelerar.
Um país não pode enfrentar uma grave crise sanitária sob liderança de um celerado
celerado
ce·le·ra·do
adj
Capaz de cometer crimes; malvado, facinoroso.
sm
Criminoso; facínora, perverso.
O presidente comete crimes, e daí?
Conrado Hübner Mendes
Será de Jair Bolsonaro a responsabilidade pelas mortes evitáveis da pandemia. A conduta estimulou o contágio, o discurso incentivou o desrespeito a ações sanitárias, a gestão desossou a capacidade estatal e tumultuou o ministério.
Mas quem pode cobrar a conta de alguém cuja delinquência se tolera há 30 anos?
Bolsonaro sempre sambou em cima da lotérica jurisprudência constitucional brasileira. Celebrou a ditadura, a tortura e a milícia, pediu fuzilamento e guerra civil que "mate uns 30 mil", ameaçou mulher de estupro e festejou a morte.
O STF nunca foi capaz de discernir, na escatologia verbal e no discurso de ódio, o abuso da liberdade de expressão e da imunidade parlamentar. O Congresso não notou qualquer ofensa à ética parlamentar.
Permitiram que chegasse à Presidência por meio de campanha de desinformação financiada por caixa dois. O TSE segue o "tempo judicial" no modo aleatório. Esperemos. Continuam permitindo que o presidente banalize o crime de responsabilidade e, na pandemia, o crime comum também.
Não bastasse a dieta de apreensão cotidiana que a pandemia nos aplica, a desordem política é administrada em doses diárias de agressão à democracia. Enquanto o governo e o presidente boicotam medidas de contenção da pandemia, o pior cenário de desastre se avizinha.
Fazer justiça a Bolsonaro não pode mais se traduzir na crítica à sua ignorância, na ironia à sua carranca rude e obtusa, ou à masculinidade mal resolvida. Bolsonaro pode ser vulgar e tosco como nunca se viu na Presidência, mas, antes de qualquer coisa, comete crimes. Sobre crimes deve haver consequências jurídicas, não só eleitorais e morais.
Seus crimes de responsabilidade estão definidos na Constituição e na lei 1.079. As dezenas de atos criminosos se distribuem em três categorias: violação de direitos, ataque à autonomia institucional e ofensa à dignidade, honra e decoro do cargo.
Temos a causa de impeachment juridicamente mais sólida da história. Nomear amigo do filho para chefiar a Polícia Federal é exemplar da afronta. "E daí?", debochou com a certeza de sua impunidade.
Seu crime comum praticado à luz do dia está definido no artigo 268 do Código Penal. É crime contra a saúde pública, com pena de detenção.
Pedidos de impeachment se avolumam na Câmara; ao procurador-geral da República chegam notícias-crime; na gaveta do TSE dorme um pedido de cassação de chapa. São caminhos legítimos e alternativos. Dependem da coragem e tirocínio das autoridades.
Segundo mandamento de prudência, não se tira presidente em uma pandemia. Outro mandamento diz que um país não pode enfrentar grave crise sanitária sob liderança de um celerado. Esse mandamento revoga o anterior. A exceção prevalece sobre a regra.
Stefan Zweig conta em suas memórias como Hitler testava uma pílula de maldade de cada vez. Esperava a reação e soltava outra dose, até que se corroessem as defesas institucionais. "Bastava Hitler pronunciar a palavra 'paz' para entusiasmar jornais e fazê-los esquecer de seus atos passados." Zweig relata a dor de olhar para trás e ver que havia janelas de oportunidade para agir, que se fecharam enquanto procuravam a moderação de Hitler.
Antonio Scurati, autor de bestseller sobre a vida de Mussolini, descreve como pensadores da altura de Benedetto Croce menosprezaram a malignidade do Duce. Pensavam que era apenas um personagem mais histriônico do teatro da política. "Croce não entendeu nada sobre o fascismo quando este foi constituído."
Ainda não atinamos a magnitude do bolsonarismo. O certo é que subestimamos. Talvez Bolsonaro seja só o começo de um processo de autocratização definitivo. Ou um acidente reversível e pedagógico, apesar do custo. A janela histórica parece ainda nos conceder uma fresta, quem sabe? Na dúvida, testar é imperativo de sobrevivência.
Conrado Hübner Mendes
Professor de direito constitucional da USP, é doutor em direito e ciência política e embaixador científico da Fundação Alexander von Humboldt.
A Covid-19 na Suécia: um fracasso de dimensões bolsonarescas
Suécia: 2.586 mortos
Noruega: 207 mortos
Finlândia: 211 mortos
Comparação entre a riquíssima Suécia e a pobre Cuba:
A Suécia mostrou um caminho alternativo, sem apelar para o autoritarismo, com base na sociedade de confiança.
Rodrigo ConstantinoCom seu autoritarismo a China teve 3 mortes por milhão de habitantes, a Suécia tem 256 por milhão e continua crescendo...
Uma oligarquia atrasada, entreguista, burra e apátrida colocou um demente na presidência
O PAÍS DOS CANALHAS
Paulo Muzell
Todo mundo sabe que vivemos um momento ruim e que, com certeza, superada a pandemia - ninguém sabe quando -, vem uma crise de proporções gigantescas cujo tamanho hoje é impossível avaliar. O que está ruim vai piorar. Uma certeza: num país como o nosso, governado por uma oligarquia atrasada, entreguista, burra e apátrida, que colocou um demente na presidência, o sofrimento da grande maioria da população será muito maior. Teremos mais desemprego, mais pessoas sobrevivendo na informalidade, mais ataque aos dos direitos trabalhistas, mais arrocho salarial.
Temos no país uma concentração de renda criminosa e ninguém fala que chegou a hora dos ricos e muitos ricos, os milionários e bilionários darem sua contribuição para tirar o país do atoleiro, pagando imposto diretos mais progressivos. O que se vê são governadores, prefeitos e deputados fazendo demagogia, prometendo doar salários e as grandes empresas doando migalhas e fazendo propaganda da sua “generosidade”.
O presidente do Senado, um obscuro senador do Amapá, Davi Alcolumbre, do DEM, propôs o congelamento dos salários de todos servidores públicos brasileiros por um ano e meio. O funcionalismo assim geraria uma economia de 160 bilhões de reais que contribuíram para a saída da crise.
Os cerca de 15 milhões de servidores da administração direta e indireta brasileira tem uma massa salarial que representa perto de 40% do total de salários pagos no país. Congelar seus salários diminuiria o consumo das famílias, reduzindo a demanda global, causando em mais recessão.
Os salários há vinte anos atrás representavam 45% do PIB brasileiro, em 2019 esta participação já caíra para 38%, Na América Latina a média atinge 48%. Nos países desenvolvidos a participação média é de 65%. Os dados confirmam o que já sabíamos: a velha fórmula da elite brasileira, que se mantém fiel à herança do nosso passado escravocrata: baixos salários e lucros elevados!
À espera de um milagre
Luis Felipe Miguel
Enquanto outros países têm estratégias para sair da crise, no Brasil estamos literalmente à espera de um milagre.
Com um isolamento social boicotado a partir de cima, medidas de garantia de renda igualmente boicotadas a partir de cima, nenhuma política de testagem, quase nenhum aporte ao sistema de saúde desde já saturado, um ministro da saúde apático e incapaz, assistimos impotentes ao avanço da doença, da morte e do desespero.
Só nos resta torcer por uma cura ou uma vacina.
Ou que um raio de coragem e sensatez caia sobre o país e nós nos decidamos, enfim, a deter o canalha que ocupa a presidência.
Mas até agora parece que sonhar com a cura milagrosa é mais factível.
quarta-feira, 29 de abril de 2020
A ucranização do Brasil
Peço desculpa se eu encho a timeline de todos os dia inteiro, mas é que esse governo não dá um dia de trégua e acabo deixando aqui registros que creio que sejam importantes para ler daqui alguns anos.
Por exemplo, membros do parlamento e do governo Bolsonaro começaram esta semana a fazer referência claras ao neonazismo. E dessa vez não é exagero.
Para isso precisamos voltar ao ano de 2013. Sei que isso irrita muita gente da esquerda, é um calo no pé de vocês, uma mancha nas suas almas, mas infelizmente é isso que vocês têm que carregar mesmo. Resta é tomar vergonha na cara daqui pra frente, admitir o erro, tentar corrigir a besteira e não cair na mesma idiotice futuramente.
Em 2013, enquanto rolava aquela revolução colorida no Brasil, um país da Europa chamado Ucrânia vivia uma processo chamado "Euromaidan".
Povo na rua para derrubar um governo contestável, mas anti-imperialista e não alinhado aos Estados Unidos e União Europeia.
Foi uma "maravilha", povo na rua, menininhas com lágrimas nos olhos chorando contra a corrupção, vídeos de esperança, mascarados, anarquistas, trotskystas, liberais, todos juntos de mãos dadas, abertura política, democracia, derrubam o governo e... ascende ao poder um grupo político chamado Svoboda. Esse partido é declaradamente neonazista. Sim meus amigos, dessa vez não é dedução ou análise de fatos, é AUTODECLARAÇÃO, os militantes e políticos do Svoboda se declaram ultranacionalistas inspirados no nazismo alemão.
Um dos principais grupos de protesto era um grupo "feminista" chamado Femen.
Pois bem, concomitantemente a este processo, no Brasil, setores de esquerda com lágrimas nos olhos contra a corrupção saíam às ruas, meninas do Femen Brasil ajudavam a protagonizar tais atos.
Dentre elas: Sara Winter e Carla Zambeli. Ambas defendidas ferrenhamente pela esquerda que acusava qualquer companheiro que fazia a crítica daquilo tudo de "governistas" e "reacionários".
Grupos de direita fizeram aquilo que alguns setores da esquerda tiveram a coragem de denunciar na época e foram ACOSSADOS pela própria esquerda: DIZÍAMOS CLARAMENTE QUE A DIREITA ESTAVA USANDO PAUTAS IDENTITÁRIAS PARA SE SE BLINDAR DE CRÍTICAS E ASSIM BOMBARDEAR POR DENTRO UM GOVERNO PROGRESSISTA, CRIAR UMA FISSURA NA SOCIEDADE CIVIL E INVIABILIZAR A ESQUERDA ELEITORALMENTE.
Éramos acusados basicamente de duas coisas: machistas e racistas. E assim interditaram o debate até dar no deu.
Falávamos mais. Aqueles protestos tinham SIM financiamento e treinamento do exterior e que aquilo visava derrubar um governo progressista.
Pois bem, agora Sara Winter é funcionária do governo Bolsonaro, no ministério da Damaris, e Carla Zambeli é, talvez, a deputada mais bolsonarista do congresso.
Sara Winter começou a falar em "ucranizar" o Brasil, e o deputado Daniel Silveira, um PM do Rio de Janeiro, falou também em "ucranizar o Brasil.
E Sara Winter diz mais, admite que foi TREINADA na Ucrânia e está convocando voluntários para comer o processo por Brasília.
E aí, teve ou não teve interferência externa e de extrema-direita em 2013?
Brasil tem 449 novas mortes por coronavírus e 6.276 novos casos confirmados em 24 h
Folha
País bateu recorde na terça, com 474 óbitos registrados em um dia, e ultrapassou total da China
O Brasil registrou 449 novas mortes nas últimas 24 horas, segundo o Ministério da Saúde. É o segundo número mais alto diário de novos óbitos.
Na terça (28), o Brasil bateu o recorde de mortes registradas em 24 horas, com 474 novas vítimas, e ultrapassou a China no número total de óbitos causados pelo novo coronavírus. O recorde anterior do Brasil era de 407 vítimas em 23 de abril.
No total, o país registra 5.466 óbitos por Covid-19.
A China, de onde o novo vírus é oriundo, registra 4.637 mortos desde ontem, a maioria em Wuhan, na província de Hubei, segundo a Universidade Johns Hopkins, nos EUA, que monitora a pandemia.
O Brasil é agora o 9º com mais vítimas no mundo. Em número de pessoas com a infecção, o Brasil ocupa o 11º lugar no ranking de países, com 78.162 —nas últimas 24 horas foram 6.276 novos casos. Fica só atrás da China, que tem 83.940 casos.
Questionado na terça à noite sobre os números, o presidente Jair Bolsonaro disse em entrevista na porta do Palácio da Alvorada: "E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre". Ele disse que cabia ao ministro da Saúde, Nelson Teich, explicar os números.
As várias fases da burrice bolsonarista
Sem coerência e sem neurônios, a extrema direita esquece o que disse e o que fez
Está ainda para ser escrito um estudo sobre o papel da burrice na política brasileira. Comentaristas e historiadores sempre supõem que um homem de Estado se move por estratégia e cálculo.
Os melhores instrumentos de análise podem se quebrar, entretanto, quando confrontados com os atos de um verdadeiro energúmeno.
André Stefanini/Folhapress
O presidente Bolsonaro nem precisaria ter feito aquele discurso. Só a foto dele, com todos os ministros enfileirados, já vale por um atestado clínico.
Qual o sentido de chamar todo o gabinete para ouvir, com cara de pastel, aquelas explicações sobre a demissão de Moro? Só se reconhecia, com isso, o tamanho da crise.
O presidente juntou Damares, Weintraub, Araújo, Mourão, Guedes e companhia, como se estivesse anunciando um grande plano para o Brasil. O que apresentou foi um discurso disperso, patético, mentiroso e oco, incapaz de responder à única pergunta que importava no momento.
Por que trocar o chefe da Polícia Federal?
Pela versão de Bolsonaro, tratava-se apenas de atender a um pedido do próprio demitido. E, confessadamente, de pôr alguém na Polícia Federal com quem ele pudesse se entender, sem interferências de Moro.
Reduzido ao seu ponto básico, o discurso de Bolsonaro é um escândalo.
Mas o presidente é tão falto de inteligência que nem mesmo percebe o que está dizendo.
Há burrices e burrices. Uma das que predominam, hoje em dia, talvez seja efeito do Facebook e das geringonças digitais.
As imagens, as piadinhas e memes se sucedem com tanta rapidez, que o sujeito perde a memória.
Presidentes como Trump ou Bolsonaro escrevem qualquer coisa no Twitter, e no dia seguinte já não se lembram mais.
Abre o comércio, fecha o STF, usa a máscara, tira a máscara, tanto faz. As falas de Bolsonaro se sucedem como disparos num estande de tiro esportivo.
Pá, pá, pá. Aí o instrutor pega aquele cartaz com uma silhueta humana para ver quantas balas chegaram ao alvo. Nosso herói nem mesmo se interessa pela pontuação que obteve. “Acertei tudo, claro, está OK?”
No “está OK?” se esconde uma insegurança. Mas a insegurança não se confunde com autocrítica. Estimula, apenas, uma nova rodada de disparos.
Junto com a falta de memória, surge a incapacidade de distinguir entre o anedótico e o essencial. O discurso do presidente sobre a demissão de Moro se perdeu, como é notório, em considerações sobre o aquecimento da piscina, os feitos do “número quatro”, a certidão de nascimento da sogra.
É claro, aquilo fazia sentido em sua argumentação —ele queria dizer que foi investigado com base em suposições infundadas. Um advogado talentoso organizaria o discurso nesse rumo, como quem demonstra um teorema.
Bolsonaro é incapaz disso; vai pulando de fato em fato, de caso em caso, de anedota em anedota, como quem clica nas histórias do Instagram ou vagueia num game tipo “GTA”.
É esse o comportamento mental do bolsominion típico.
Primeiro, ignora o sentido mais amplo de um fenômeno para se aferrar a um detalhe de fácil compreensão.
Aparece um livro sobre educação sexual, por exemplo. O bolsominion não leu, mas fica sabendo que ali tem uma ilustração meio estranha. Será o pretexto para gritar, espernear, denunciar o diabo a quatro.
Mas ninguém vive sem entender as coisas num contexto. Depois de tirar um fato de seu contexto, o bolsominion terá de achar outro.
Aí entra o papel de alguma grande conspiração internacional, que de tão “evidente” não tem como ser contestada.
Se alguém contestar, entra a terceira fase do processo. Trata-se de rotular o inimigo: comunista, petralha etc. Os nazistas preferiam falar em judeus. O tiro sempre “acerta”, porque o atirador é completamente míope e confunde tudo.
Segue-se a fase autocongratulatória. Moro abandona o barco? Não faz mal. Ele era falso; e nós estamos lutando “o bom combate”, como diz Bolsonaro.
Se, apesar de tudo, vier o desmentido, o desastre, o vexame, nenhum problema. Basta se esquecer do que foi dito e do que foi feito. “Torturador? Eu?” Como assim?
Os próprios eleitores de Bolsonaro já se esquecem que votaram nele. “Bolsonarista? Eu? Votei no Amoêdo.”
O bolsominion mente. Mas não tem a inteligência do mentiroso comum. É tão burro que acredita na própria mentira; é otário até quando se arrepende.
Vergonha própria
Luis Felipe Miguel
O que faz de mim um brasileiro?
Nasci no Brasil, é verdade - na cidade do Rio de Janeiro, no Estado da Guanabara. Mas isso é um acidente geográfico.
Não tenho os traços estereotipados do brasileiro "típico". Não gosto de futebol. Não gosto de carnaval. Não gosto de praia.
Não tenho a sociabilidade fácil ou a alegria despreocupada que, dizem os guias de turismo, são as marcas do nosso povo.
Não acredito em Deus. Acho o Cristo Redentor um mostrengo. Torço contra a seleção - porque não consigo torcer a favor de Ronaldinhos e Neymares.
É bem verdade que gosto de pão de queijo e de arroz com feijão, mas acho que isso não me define mais do que o fato de gostar de financier e de confit de canard.
Na verdade, nesse momento, quanto mais eu penso, mais percebo que o que faz de mim um brasileiro é o imenso sentimento de vergonha.
Vergonha de ser cidadão de um país governado por um fascista grosseiro e inepto, que comanda a aplicação de uma política genocida e que nos conduz no caminho de uma catástrofe de grandes proporções.
Vergonha de ser concidadão de milhões de pessoas que são tão estúpidas e tão cruéis que aceitam ser cúmplices disso.
Vergonha de ser de um país que quando viu que havia o risco de se tornar um pouco - um pouquinho só - melhor, fez de tudo para destruir essa possibilidade e mergulhar de volta na violência, na exclusão, no preconceito, no atraso mais abjeto.
Não é a famosa "vergonha alheia". É vergonha própria, vergonha de saber que sou parte disso, porque, afinal, sou brasileiro.
Epidemia voltou a piorar no Brasil?
Vinicius Torres Freire
Ritmo de aumento do número de novos casos vinha caindo até a semana passada; não mais
O número de mortes por Covid-19 no Brasil e em São Paulo parecia crescer mais devagar até o começo da semana passada, por aí. Até então, com todas as ressalvas de praxe, parecia haver uma despiora, como vinha acontecendo em países grandes da Europa, no que diz respeito à redução do ritmo do avanço do número de casos e mortes, considerados dias equivalentes de duração da epidemia.
Desde a semana passada, embatucamos. O ritmo parou de diminuir.
O que houve? Há mais registros de casos e mortes porque há mais testes ou notificações mais rápidas? Ou há um problema na contenção da doença, programa que mal e mal parecia funcionar?
Como está claro, epidemiologistas e outros estudiosos da doença estão com dificuldades ou indisposição de avançar opiniões, que dirá análises ou projeções. Mas alguns deles dizem temer que a desordem no distanciamento social possa ter abalado a tendência de despiora no ritmo de avanço da doença. Mas esperariam mais uma semana, pelo menos, antes de assinar o comentário.
As medições disponíveis de isolamento caíram, cidades reabrem a atividade econômica ou jamais as fecharam de fato, há propaganda federal contra o isolamento. Pessoas mais pobres, sem auxílio, procuram meios de ganhar vida, as pessoas em geral começam a se cansar do isolamento e fogem. Para piorar, ainda estamos muito longe de ter um sistema amplo e ágil de rastreamento de doentes e possíveis contaminados.
Temos ainda problemas com os dados mais elementares. Não sabemos quando as pessoas ficaram doentes (com sintomas) ou morreram. As notificações diárias são de confirmações de casos que podem ter ocorrido faz dias.
O problema vai, pois, muito além da subnotificação, que sempre há e haverá. E subnotificação do quê? De infecções em geral, de doentes leves, de casos hospitalares, de mortes? De resto, uma subnotificação mais ou menos constante permite que se acompanhe o ritmo da progressão da doença, embora não o nível do número de casos.
Há agora uma corrida para saber da subnotificação _é útil, ajuda a pressionar os governos a fornecerem dados melhores. Vários dados indicam subnotificação, mas não dizem muito mais do que isso.
No estado de São Paulo, o número geral de mortes em março de 2020 superou a média dos últimos quatro anos em 1.481. O número oficial de mortes por Covid-19 naquele mês foi de 731, mas várias mortes ainda estavam pendentes de confirmação ainda em abril (os dados de mortalidade de abril ainda são imprestáveis, por vários motivos).
O que podemos concluir? Nada além do óbvio. Existem mais casos, não se sabe bem quantos, quando e em que ritmo de notificação ou sub.
Além do risco do fetiche do número da subnotificação, falta qualidade nos dados elementares da doença. Parece que o país se cansou de falar no assunto, saiu de moda, embora o problema esteja explodindo. Ainda não temos informação precisa de UTIs, ventiladores, testes, detalhamento da gravidade dos casos e da evolução desses números.
Compramos mais, produzimos mais, temos mais equipamentos?
Deveria haver equipes supervisionando isso com precisão, de modo a tentar evitar mais desgraça. Que essas informações não existam ou que os governos se recusem a divulga-las, COMO TEM FEITO, é um escândalo que deveria ser objeto de campanha, talvez campanha do Ministério Público.
É uma zorra criminosa.
Vinicius Torres Freire
Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).
STF abre inquérito contra a aberração sociopata Weintraub por crime de racismo
STF abre inquérito contra Weintraub por crime de racismo
Mônica Bergamo
Mônica Bergamo
O ministro Celso de Mello, do STF (Supremo Tribunal Federal) determinou a abertura de inquérito para investigar o ministro da Educação, Abraham Weintraub, pelo crime de racismo.
Em abril, Weintraub usou o personagem Cebolinha, da Turma da Mônica, que troca a letra "r" pela "l", para fazer referência ao sotaque chinês e insinuar que o novo coronavírus atenderia a interesses do país que teve o primeiro foco da pandemia.
"Geopoliticamente, quem podeLá saiL foLtalecido, em termos Lelativos, dessa crLise mundial? PodeLia seL o Cebolinha? Quem são os aliados do BLasil do plano infalível do Cebolinha paLa dominaL o mundo?", ironizou Weintraub.
Tuíte do sinistro Weintraub provocando a China
A China reagiu por meio do embaixador no Brasil, Yang Wanming, que chamou o ministro de racista. Depois disso, Weintraub apagou a postagem de seu perfil no Twitter.
O Ministério Público Federal pediu a abertura da investigação alegando que o comportamento do ministro da Educação "configura, em tese, a infração penal prevista na parte final do artigo 20 da Lei 7.716/1989, que define os crimes resultantes de preconceito".
Celso de Mello afastou a possibilidade de o inquérito correr sob sigilo. E também a oportunidade que o MPF queria dar a Weintraub de depor em dia e hora previamente acertado com os procuradores. Segundo o ministro, apenas autoridades que são vítimas ou testemunhas gozam desse privilégio.
"Não custa rememorar, tal como sempre tenho assinalado nesta corte, com apoio na lição de Norberto Bobbio ("O Futuro da Democracia, 1986, Paz e Terra), que os estatutos do poder, numa República fundada em bases democráticas, não podem privilegiar o mistério, pois a prática do poder, inclusive a do Poder Judiciário, há de expressar-se em regime de plena visibilidade".
terça-feira, 28 de abril de 2020
A penúltima âncora
Claudio Guedes
A crítica de Trump a Bolsonaro relativa à condução errada deste no combate à COVID19 é mais um sinal do isolamento crescente do presidente brasileiro no mundo.
Sobra agora a Bolsonaro, como apoio irrestrito, apenas o Premier de Israel, o truculento Benjamim Netanyahu.
O isolamento internacional de Jair Bolsonaro supera até mesmo a solidão dos malquistos presidentes generais da ditadura.
Brasil bate recorde de mortes em 24 h, chega a 5.017 e passa China
O Ministério da Saúde anunciou hoje que subiu para 5.017 o número de mortes pelo novo coronavírus no Brasil — 474 óbitos confirmados nas últimas 24 horas, maior número registrado no período desde o início da pandemia. Com os dados atualizados, o país ultrapassou a China, que registra oficialmente 4.643 mortes por conta da covid-19.
No total, são 71.886 casos oficiais no país, segundo os dados mais recentes do Ministério, com 5.385 novos diagnósticos de ontem para hoje. Segundo a pasta, ao menos 34.325 pacientes estão em acompanhamento e mais de 32.544 já se recuperaram. 1.156 óbitos seguem em investigação.
Os Estados Unidos já acusaram o governo chinês de esconder relatórios sobre a doença no país, onde teve início a pandemia. A Organização Mundial de Saúde (OMS) registra que a China teve 84.347 diagnósticos de covid-19.
Já Brasil tem subnotificação de casos e óbitos, indicam estudos recentes. Pesquisas brasileiras apontam que os casos aqui podem ser de 12 a 15 vezes maiores do que os reportados pelo Ministério.
A taxa de letalidade — que compara os casos totais pelos números de óbitos confirmados — no Brasil é de 6,8%, segundo a atualização do governo.
O anúncio de hoje, no entanto, não significa necessariamente que 474 pessoas morreram nas últimas 24 horas. Desde o início da pandemia, o Ministério da Saúde tem somado ao balanço diário mortes ocorridas dias atrás, mas com confirmação de covid-19 no último dia.
No total, as mortes em decorrência do coronavírus confirmadas em cada estado são:
Acre (16); Alagoas (36), Amapá (26); Amazonas (351); Bahia (86); Ceará (403); Distrito Federal (28); Espírito Santo (64); Goiás (27); Maranhão (145); Mato Grosso (11); Mato Grosso do Sul (9); Minas Gerais (71); Pará (129); Paraná (77); Paraíba (53); Pernambuco (508); Piauí (21); Rio Grande do Norte (48); Rio Grande do Sul (42); Rio de Janeiro (738); Rondônia (11); Roraima (6); Santa Catarina (44); São Paulo (2.049); Sergipe (11); Tocantins (2).
Secretário de Vigilância em Saúde, Wanderson de Oliveira declarou nesta tarde que o período de maior incidência de vírus respiratórios, como o caso da covid-19, é previsto para iniciar em duas semanas.
A declaração foi dada em entrevista coletiva concedida pelo Ministério da Saúde. Segundo Oliveira, o Brasil inicia a 18ª semana desde que iniciou os boletins a respeito da situação do coronavírus no país.
Projetando o pico de casos de outras infecções respiratórias que já acometeram o Brasil, ele apresentou o levantamento.
"Estamos na semana epidemiológica de número 18. O período de maior incidência de vírus respiratórios ocorre em torno da 20ª, 22ª, 27ª semana. Em alguns anos ela se antecipa, em outros isso é prorrogado", observou.
O bolsonarismo está nu
Ranier Bragon
Sob a máscara de Jair Bolsonaro sempre esteve Jair Bolsonaro
O bolsonarismo raiz, fanatizado, sempre tentou esconder seu verdadeiro rosto. Essa gente que tem aversão a pobres, exala ódio, ignorância, racismo, misoginia, homofobia, xenofobia, autoritarismo e um sem-fim de ignomínias sabia que não podia sair ao sol com sua pavorosa face sem algum manto de cobertura.
Com isso, pilantras os mais variados, que não pensariam duas vezes em embolsar o troco a mais no caixa de supermercado, passaram a propagar a sua arenga anticorrupção.
Todos de braços dados no conhecido último refúgio dos canalhas, em uma orgia verde e amarela de uma devoção tão incontida à pátria que só lhes faltava deitar ao chão e enfiar torrões de terra goela adentro. E, nesse teatro, os canastrões da própria vida buscavam convencer o mundo e a si mesmos da sua nobreza de sentimentos.
Mas agora a pornografia está explícita. Bolsonaro está nu. E o bolsonarismo terá que defender seu asqueroso modo de pensar a vida sem a desculpa esfarrapada de que quer um Brasil livre de corrupção.
A mamata acabou. Não necessariamente pela saída de Sergio Moro. O xerife da Lava Jato tem sérias contas a prestar com a história por ter pulado na nau bolsonarista logo após a eleição, quando nenhum adulto com mais de três neurônios poderia alegar inocência sobre quem era Jair Bolsonaro e o que ele representava.
Refiro-me especialmente a dois outros fatores: o primeiro, a aliança que o capitão busca agora com o centrão, que há anos ele tratou como coisa mais suja do que pão que o diabo amassou com o rabo. Velha política corrupta. Agora querem ser um só. Saem os bonecões infláveis de Moro super-homem e entram os de Roberto Jefferson, o vingador. O segundo, a escancarada tentativa de manietar a Polícia Federal em nome de interesses inconfessáveis.
Outra vez recorro a João Montanaro e sua charge em que Scooby-Doo e sua turma revelam a real face do presidente. Sob a máscara de Jair Bolsonaro sempre esteve Jair Bolsonaro. Todos sabiam disso.
Charge de João Montanaro de 27.abr.2020. - João Montanaro
O Brasil real
Bolsonaro era o PIOR candidato que um país poderia ter, é o PIOR presidente do planeta, e todo mundo que o elegeu SABE disso. Mas é precisamente por desejar o pior que o povo o elegeu.Por Victor Tufani
Através de Vinícius Carvalho
1 - Se a gente fosse "analisar" a sociedade brasileira de colherada, como tem sociólogo de Twitter fazendo, supondo que seja possível abarcar uma sociedade tão complexa em 140 caracteres de frase pronta, a única conclusão possível seria a ortodoxa: O Brasil não dispõe de uma classe trabalhadora organizada, nem sequer organizável, dispõe de uma massa de lumpemproletários sem a menor capacidade nem de exigir o direito de ficar vivo. Se nem isso conseguimos, exigir que nos mantenham VIVOS, que dirá o resto.
2 - Só existe outro abismo tão profundo quanto aquele entre ricos e pobres neste país: É o abismo no seio da própria classe média, entre a classe média com capital cultural e a camada remediada, que ascendeu pelo trabalho e não pela educação. A gente pode brincar que uma gosta de sertanejo universitário e a outra de Caetano e Chico Buarque, ambas morando no mesmo condomínio, mas o estereótipo tem raízes graves na realidade, e essa distinção tem feito a diferença entre quem apoia cientistas e quem está nas carreatas e aglomerações se oferecendo ao coronavírus. É uma diferença absoluta, entre a preservação de vidas e o suicídio coletivo.
3 - Bolsonaro, se tiver 30% de fanáticos na sua base eleitoral, tem o apoio incondicional de 15 milhões de pessoas, é MUITA coisa. Elas só não fazem o que ele manda porque ele não tem nada ainda a oferecer. Não pode oferecer nem imunidade contra as leis, que dirá dinheiro, cargos e estabilidade. A grande diferença entre ele e os fascistas que conhecemos no passado é que ele não pode formar suas unidades de assalto e seus exércitos. É perigoso, mas tem que comer muito feijão pra ser Mussolini.
4 - A única coisa que nos protege do Bolsonarismo PRA VALER no momento é pacto federativo, o fato de termos presidente, e não rei. A possibilidade de governadores ouvirem secretários de saúde e cientistas e tomarem medidas por conta própria preveniram centenas de milhares de mortes até agora, por mais que a gente saiba que Witzel, Doria e outros são canalhas. Se o Bolsonarismo fosse a lei, chegaríamos em meses a mais de um milhão de mortos, teríamos agora centenas de milhares de caixões, e estaríamos num caos que ainda não experimentamos.
5 - Não existe esquerda no Brasil. Existe eu, você, cidadãos esquerdistas, mas esquerda de fato não tem. E só terá quando os partidos e organizações que se dizem a esquerda hoje compreenderem que o buraco em que nos enfiamos é consequência, não da ingenuidade e da falta de instrução, mas de um DESEJO profundo do povo brasileiro, que não soube lidar emocionalmente com a movimentação das bases sociais, das placas tectônicas, depois de 500 anos de massacre, escravidão e miséria. Foi demais pro espírito da maior parte da população, e a resposta foi justamente demonizar a esquerda e eleger os maiores canalhas e assassinos possíveis em todas as prefeituras e estados, até o assassino mor pra presidente. Bolsonaro era o PIOR candidato que um país poderia ter, é o PIOR presidente do planeta, e todo mundo que o elegeu SABE disso. Mas é precisamente por desejar o pior que o povo o elegeu. No dia em que a esquerda souber admitir isso, que existe algo venenoso no sangue do povo brasileiro, que algo se corrompeu gravemente e que é DISSO que a gente precisa ir atrás, com energia, e provavelmente com alguma dose de autoritarismo e violência, existirá esquerda e algum horizonte de justiça social, quem sabe socialismo. Até lá vamos ficando com as notinhas de repúdio.
Magno Malta poderia ter salvado o governo Bolsonaro
Razões do fracasso
Ruy Castro
Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues.
Não basta desligar o aquecedor da piscina. O importante é escolher bem o ministérioRuy Castro
Um dia, se indagado por que o governo de Jair Bolsonaro saiu-lhe pela culatra, eu direi que tudo se deveu à ingratidão que ele cometeu contra um aliado, apaixonado e capacho: o ex-senador, cantor de pagode gospel e pastor evangélico baiano Magno Malta, a quem ele deve de certo modo a vida.
Você se lembra. Bolsonaro foi esfaqueado num comício em Juiz de Fora. Mal arrancada a faca de Bolsonaro, Magno Malta já estava ao seu lado no quarto, resfolegando sobre sua cicatriz e, como se ele estivesse morto, orando sofregamente por sua ressurreição. O fato de Magno Malta ter adentrado o recinto cercado de aspones, um dos quais gravando o ágape para veiculação nacional, não invalida o caráter tocante da cena. Via-se claramente que Magno Malta, pelas ordens que dava a Jesus Cristo em sua prece, tinha grande influência no além. E Ele não o desapontou —Bolsonaro salvou-se e se elegeu. Quem decepcionou Magno Malta foi Bolsonaro, ao negar-lhe o ministério —qualquer um — de que ele se julgava credor.
Foi um erro de Bolsonaro. Magno Malta teria sido um verdadeiro coringa em seu ministério --apto a assumir qualquer pasta. Afinal, não é mais analfabeto do que vários dos atuais titulares. E, sabe-se agora, seria mais leal do que muitos.
Como ministro da Saúde, por exemplo, Magno Malta teria enfrentado a Covid-19 como Bolsonaro gostaria, sem essa história de gente trancada em casa e lojas fechadas —quem morresse, morresse, paciência, é a vida. Sem falar na liberação geral da cloroquina, que Bolsonaro, travestido de garoto-propaganda ou camelô, tentou vender como se fosse óleo de cobra.
E, como ministro da Justiça, Magno Malta teria franqueado a Bolsonaro passar o rodo nas investigações da Polícia Federal que perigam expor as sujeiras de seus filhos. Magno Malta, que nunca deixou de lhe abrir o coração, o teria ajudado até a desligar o aquecedor da piscina.
Ruy Castro
Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues.
segunda-feira, 27 de abril de 2020
Influencers
A internet era, em meados dos anos 1990, a anunciação de um admirável mundo novo onde a intercomunicação pessoal direta e o acesso irrestrito ao conhecimento nos elevariam a uma nova era. Parecia, por assim dizer, uma interface perdida do socialismo real resgatada dos escombros daquela década feroz do Consenso de Washington, da primeira onda do neoliberalismo, no Brasil. Não existiam, naquele nascedouro digital, influenciadores. Cada internauta – era assim que se chamavam – era um pioneiro, um intermediador.
Naquela fase utópica, estávamos tão cegos e animados que não percebemos que a captura da internet pela sociedade de consumo acabaria, no rastro das novidades virtuais e na consolidação do e-commerce, no abandono completo da leitura e, ato contínuo, da transmissão da cultura por meio de filtros de reflexão e crítica. Quando nos demos conta, o mundo não estava mais discutindo grandes autores, artigos, contos, teses, romances. Primeiro pelos blogs, depois pelo YouTube, uma geração inteira de jovens passou a viver a reboque das ideias de influenciadores digitais.
O grande problema é que esses sábios das montanhas digitais formam uma esmagadora maioria de repetidores de clichês de autoajuda, dondocas versadas em modinhas, patricinhas cheias de positividade e filhinhos de papai regurgitando estilos de vida inerentes a uma classe média enquadrada exatamente na definição da filósofa Marilena Chauí: uma abominação política, por fascista; uma abominação ética, por violenta; e uma abominação cognitiva, por ignorante.
O caso de Gabriela Pugliesi é altamente ilustrativo. Ela é o que se chama de “blogueirinha” de estilo de vida. Branca, magra, rica, passa os dias gravando vídeos falando bem dos produtos de beleza e de roupas que recebe de marcas famosas e descoladas. De quebra, dá conselhos sobre a vida para seus milhões de seguidores, que acabam replicando as baboseiras que aprendem, mesmo que elas não façam nenhum sentido e sejam resultado de um profundo vazio existencial.
Nesse mundo de fantasia, Gabriela, positiva para a Covid-19, fez disso um “case” para os fãs e, na semana passada, achou por bem fazer uma festa com amigos, em plena pandemia, e postar a tertúlia no Instagram. De uma hora para outra, a blogueirinha aprendeu, na marra, como funciona o capitalismo: uma dezena de patrocinadores que, por meio dela, enfiavam de pipoca gourmet a carne vegana goela abaixo do público, cancelou contratos com ela. De uma só vez, a influenciadora perdeu 100 mil seguidores.
Mas para cada Gabriela que cai, outras dez se levantam, no mundo da superficialidade e da lacração. Das três finalistas do Big Brother Brasil 20, duas são influenciadoras. Uma delas, Manu Gavassi, é uma máquina de clichês, lágrimas, maquiagem para os olhos e sapatos plataforma. A outra, Rafaella Kalimann, estrela de videoclipes sertanejos, também se diz missionária na África, onde costuma ir para postar fotos no Instagram e passar mensagens humanitárias como a que postou, desde Moçambique, com um recém-nascido no colo:
“Essa delícia perdeu a mamãe no ciclone com 7 dias de vida.. Eu esmaguei muuito ele.. de presente ele fez xixi na Tia Rafa. Meu útero coça!!! Queria levar pra mim!”.
Ótimas influências, como se pode notar.
Grandes humoristas do Brasil
Eu outro dia estava vendo uma entrevista com o Karnal e me dei conta do motivo do meu interesse: o Karnal é o maior humorista brasileiro. Vou tentar explicar. Não há uma pergunta que lhe seja dirigida que ele não tenha a resposta na ponta da língua.
E na mesma pegada vão outros intelectuais midiáticos, como o Pondé e o Cortella. Parece até uma corporação. A questão ali é a sedução. O pensamento se torna vitrine. A retórica tem que ser agradável e que possa te levar ao encantamento até às raias do riso.
Está eliminado o silêncio, até porque o minuto na televisão é caro. E está eliminado, sobretudo, a dúvida, o desconhecimento, a questão.
Comuna-vírus (aka Cian Brabosa)
Uma grande diferença entre o discurso intelectual e a retórica do coaching. Reconhecer que não se sabe e partir da dúvida como um método é exercer a radicalidade da filosofia de procurar melhores perguntas. Vender frase de auto-ajuda não é filosofia.
Diante dos nossos intelectuais midiáticos é como se estivéssemos diante de máquinas bem azeitadas, que precisam estar funcionando muito bem, caso contrário, são substituídas.
Longe de mim questionar o conhecimento que adquiriram ao longo dos anos. O que questiono é a função desses intelectuais, e que me parece estar em conexão íntima com o sistema que os absorve.
É nesse sentido que a universidade continua sendo um campo de resistência como salientado por Gumbrecht. O fato dos nossos intelectuais midiáticos exercerem a cátedra em universidades, não muda em nada o papel perverso por eles exercido.
Na minha vida acadêmica passei por muito professores imbuídos dessa mesma filosofia: aula-show. Tudo se torna entretenimento.
A desbolsonazificação do Brasil levará anos
Fernando Horta
Na Alemanha foram necessários mais de 20 anos para o processo de "desnazificação".
Na Alemanha foram necessários mais de 20 anos para o processo de "desnazificação".
Até 1965 em todas as políticas públicas implementadas vinha um ou outro parágrafo relembrando os "valores" do governo e negando ideias fascistas e nazistas. E isto que os aliados resistiram ao plano original que era afastar, prender e processar TODOS os que tivessem apoiado ou participado do nazismo.
No fim, no Brasil vamos ter que tomar atitudes semelhantes. Prender, processar, ou até fazer pior para esta escumalha que se amontoa nas ruas para defender o fascismo.
Eles são tão alucinados que o filho morre de COVID e os pais ameaçam médicos no hospital para "trocar a causa morte" para "não prejudicar bolsonaro", os pais morrem em casa sem atendimento e os fascistas seguem defendendo o fim do SUS. Moro virou "comunista, abortista e defensor dos gays" em 24 horas, e as cidades com maior número de casos confirmados de COVID são as que votaram em massa no fascista e mais desrespeitam a quarentena.
Apoiador de bolsonaro é tão criminoso quanto ele, e teremos que lidar com esta gente se quisermos desentortar o Brasil.
Brasil tem 338 mortes confirmadas em 24 horas; total chega a 4.543
Do UOL, em São Paulo
O Ministério da Saúde anunciou hoje que subiu para 4.543 o número de mortes pelo novo coronavírus no Brasil — 338 óbitos confirmados nas últimas 24 horas. Até ontem, eram 4.205 mortes registradas.
No total, são 66.501 casos oficiais no país, segundo os dados mais recentes do ministério, com 4.613 novos diagnósticos de ontem para hoje. Segundo a pasta informou ontem, ao menos 27.531 pacientes estão em acompanhamento e mais de 30.152 já se recuperaram. 1.322 óbitos seguem em investigação.
A taxa de letalidade — que compara os casos totais pelos números de óbitos confirmados — é de 6,8%, segundo o governo.
O anúncio de hoje, no entanto, não significa necessariamente que 338 pessoas morreram nas últimas 24 horas. Desde o início da pandemia, o Ministério da Saúde tem somado ao balanço diário mortes ocorridas dias atrás, mas com confirmação de covid-19 no último dia.
No total, as mortes em decorrência do coronavírus confirmadas em cada estado são:
Acre (14); Alagoas (34), Amapá (26); Amazonas (320); Bahia (76); Ceará (390); Distrito Federal (27); Espírito Santo (57); Goiás (26); Maranhão (125); Mato Grosso (10); Mato Grosso do Sul (9); Minas Gerais (62); Pará (114); Paraná (75); Paraíba (50); Pernambuco (450); Piauí (20); Rio Grande do Norte (45); Rio Grande do Sul (42); Rio de Janeiro (677); Rondônia (10); Roraima (4); Santa Catarina (43); São Paulo (1.825); Sergipe (10); Tocantins (2).
Doria também faz parte da história brasileira do horror
O grau de psicopatia no estulto instalado no Palácio do Planalto é tão grande que a gente acaba esquecendo de cobrar os governadores e prefeitos. Mesmo aqueles que se mostram supostamente mais sensatos.
Mais sensatos em relação a quê? Em relação a um presidente desprovido de escrúpulos, fora da curva, uma vergonha mundial.
Em situação normal, por que não, deveríamos estar chamando Doria de genocida. E Zema (esse está totalmente alinhado com o sociopata) e Witzel e quase todos os governadores.
Porque eles também acenaram e acenam para o mercado em detrimento da vida.
Falemos de Doria. Por que os assassinos que comandam as carreatas contra o isolamento não foram presos? Fossem estudantes ou professores ou moradores da periferia teriam sido, não?
Por que esse combate tímido à redução assassina do isolamento? Ora, essa diminuição pode custar mais algumas dezenas de milhares de vidas, nada menos. (Especificamente em São Paulo.)
***
A dor de milhões de pessoas neste país também tem motivações políticas, não apenas biológicas. E cada charlatão que se utiliza da política para fins pessoais, e não para o interesse público, deve ser nomeado como agente ativo dessa violência.
(Nesse sentido, vale assinalar que especialistas isentões não ajudam a entender a pandemia como um fenômeno social. Nem a parte biológica nem a estatística — muito menos esta — são desprovidas de aspectos políticos.) ((É a política, Átila. É sempre a política.))
Tudo isso vale para qualquer Unidade da Federação e cada município deste país, este país que só não podemos dizer que está sem comando porque está sob o comando de um carrasco, de um promotor sistemático da morte.
*****
Como moro em São Paulo, fica aqui minha ênfase no governador de plantão. (E convido a todos a discutir também a política local, prefeituras inclusive.)
Doria não ser tão ostensivo como Bolsonaro em suas omissões e pulsão pela morte significa apenas que ele não é tão orgulhoso de suas violências como Bolsonaro. (Observem como a polícia de São Paulo está matando, com crueldade, os excluídos de sempre.)
A infâmia também se veste de verniz.
A TV Cultura, por exemplo, deveria estar totalmente voltada para a cobertura da pandemia. USP, Unesp e Unicamp, sob pressão, não deveriam estar a fingir que as aulas estão sendo dadas de forma adequada, com o semestre sendo oferecido como se os estudantes não estivessem sob um trauma.
Em maio e junho teremos o horror instalado no estado mais populoso do país. Somos 44 milhões de almas sem um líder de fato. Enquanto Doria faz suas continhas políticas (em relação ao governo federal e à elitezinha que o sustenta), o vírus faz contas maiúsculas.
Ele e cada político dessa laia também entrarão na história brasileira do horror.
São bem maiores as chances de afastamento de Bolsonaro pelo STF do que pelo Congresso
Começa a semana pós-Moro no governo Bolsonaro. No programa de hoje Tereza Cruvinel conversa com Paulo Emílio sobre o inquérito que deve ser aberto hoje pelo ministro Celso de Mello sobre a denúncias do ex-ministro da Justiça, as poucas chances do impeachment e as vantagens da via judiciária. E ainda sobre o racha na extrema direita bolsonarista e a instabilidade do ministro da Economia, Paulo Guedes, que inquieta sua equipe e o mercado.
A música mais bonita já feita na Terra
Adaptação. Declarações desse tipo são temerárias, podem ser contestadas em um minuto e liquidadas em dois, mas eu declaro sem medo: a música mais bonita já feita na Terra é o adágio do concerto para oboé e cordas em ré menor de Alessandro Marcello. Não fui eu que descobri a beleza do adágio, claro, mas durante muito tempo ela foi ignorada e a própria existência do Alessandro, confundido com seu irmão mais conhecido Benedetto Marcello, não era certa. Talvez por Alessandro ter sido filósofo, poeta, fidalgo veneziano e muitas outras coisas antes de ser compositor. E, para complicar ainda mais, ter composto algumas das sua obras usando um pseudônimo, Eterio Stinfalico. Hoje o concerto para oboé faz parte do repertório de muitas orquestras e o adágio brilha. E se ainda for preciso reforçar meu voto, convoco do passado o testemunho de ninguém menos que Johann Sebastian Bach, autor de uma adaptação para cravo do adágio que ele também amava. Bach fazia arranjos de obras de outros compositores, principalmente dos italianos, e o concerto para oboé do Alessandro devia fazer parte de algum lote de partituras, nada indicando que Bach, de tanto admirá-lo, resolvera ficar com o adágio como se fosse dele. Se bem que – fofoca – numa das poucas cópias publicadas do concerto a única assinatura que aparece é “JSB”.
Assinar:
Postagens (Atom)