domingo, 28 de fevereiro de 2021
Elio Gaspari descobre, finalmente, que enganou-se com a Lava Jato
Folha de S. Paulo defende publicação de fake news com informações que podem causar mortes em nome da "liberdade"
Mas vale qualquer coisa na publicidade? Sobre o assunto, o diretor comercial da Folha, Marcelo Benez, diz que o jornal defende a "liberdade de expressão comercial", segundo a qual todos que têm uma mensagem a ser divulgada têm o direito de fazê-lo, desde que ela não viole a lei."O anúncio em questão pode estar errado do ponto de vista científico, mas não quebra nenhuma lei". O jornal, afirma Benez, respeita rigorosamente a separação entre Redação e Publicidade, garantindo independência às áreas.Mas e quando o anúncio prejudica a imagem da Redação?Não é razoável esperar que o jornal confirme a veracidade de todo anúncio que publica —mandamento que rege a notícia. Isso porque a publicidade lida também com a fantasia.
Flavia Lima
Só a Folha tem Flávia Lima para dizer ao jornal, nas suas próprias páginas, que "liberdade de expressão comercial" para disseminar, em plena pandemia, anti-ciência que mata, não tem nada a ver com liberdade de imprensa, nem com qualquer noção de liberdade.
Luiz Frias |
Desonestidade intelectual é atributo essencial dos liberais
Elena Landau diz à Folha que a ameaça à democracia começou no governo Lula, pois havia ataques à imprensa e "você tinha os blogueiros progressistas".
Sim, blogueiro progressista, essa grande ameaça à democracia.
Pergunta honesta, vocês conseguem me apontar um único liberal que não se paute pela desonestidade intelectual? Eu nunca vi. Para sair do registro da canalhice, teriam que admitir que gostam mesmo é de ter empregada barata e gente passando fome para regular o exército industrial de reserva.
Folha cria cátedra na USP de jornalismo de esgoto e de programa
A Folha criou uma cátedra na USP com o intuito de "desenvolver estudos sobre jornalismo, democracia e diversidade".
Tentativa óbvia de fazer uma faxina na imagem, no momento em que a empresa volta a se posicionar como paladina da democracia - e o passado, bem presente, de golpismo renitente a assombra.
Mas a jogada falha quando se olha para os coordenadores da cátedra.
Um deles é simplesmente dono de um currículo magro e sem noção, em que lista, entre "prêmios e títulos" recebidos, o fato de ser o "primeiro Livre-Docente da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP) com defesa de tese por meio de videoconferência" (informação tão importante que aparece duas vezes seguidas) e que "segundo dados do Google Acadêmico (Google Scholar), desde 1999 diferentes obras minhas foram citadas cerca de 82 vezes, em diversas publicações".
"Cerca de" 82 vezes é ótimo. Se está arredondando para 82, é porque foram, na verdade, 81,7 citações?
Mas o outro é o notório Claudio Tognolli, aquele que divulgou a tomografia de dona Marisa Letícia, em 2017, e, no ano seguinte, o número do celular do desembargador Rogério Favreto, que determinara a soltura de Lula quando estava como plantonista do TRF-4.
O que ele pratica se chama intimidação e assédio. Espantoso é que a USP não tenha tomado providências para excluir de seus quadros alguém tão obviamente destituído dos requisitos morais básicos para exercer seja o jornalismo, seja a docência.
Quando ele cometeu a indignidade contra dona Marisa Letícia, eu fui ao currículo do sujeito, que era bizarro. Continua o mesmo, apenas com o acréscimo da frase "é idealizador e um dos responsáveis pela cátedra Otavio Frias Filho, a operar no Instituto de Estudos Avançados da USP , com inauguração a 18/02/2021 (sic), data em que o Grupo Folha completa 100 anos" - o que compromete a Folha ainda mais.
Quanto ao resto, reproduzo o apanhado que fiz anos atrás: "No resumo, ele cita a vendagem de seus livros (uma defesa de Romeu Tuma Junior e uma biografia de Lobão) e termina com essa pérola: 'Tognolli está listado como escritor na Livraria do Congresso dos EUA' (seguido do link). Uma vez que a Library of Congress (que não é uma livraria, é uma biblioteca, como sabe qualquer estudante de inglês básico) é uma das maiores bibliotecas do mundo e lista "como escritor" qualquer um que tenha uma obra no seu catálogo, não é muito difícil estar lá. (Eu estou lá, na companhia de Michel Temer, Benito Mussolini, Saddam Hussein, Romero Britto e milhões de outros, e jamais me passaria pela cabeça considerar que isso seria um item de currículo.)"
A epidemia armada
Estapafúrdio produzido por Bolsonaro e apoiado por generais tem a ver com intenções definidas
A incógnita mais expressiva, dentre as muitas atuais, é simples como formulação e inalcançável na resposta. Dado que estão explicitados os indícios de golpismo e a incompetência espetaculosa dos militares no governo, o que fará o Exército na possível transformação da pandemia em tragédia de massa, um país sufocado pela peste, carente de tudo menos de morte?
A marca de um ano exato do primeiro caso de Covid-19 no Brasil encontrou os estados em desespero com o recorde de casos e a ausência de leitos, vacinas, pessoal e outros recursos. Uma antevisão das previsões e alertas que as vozes mais competentes estão fazendo, inclusive a Organização Mundial da Saúde, caso persista o incentivo de Bolsonaro e do seu governo à calamidade.
O já célebre depoimento do general Eduardo Villas Bôas sobre a ameaça que fez ao Supremo, em nome do Exército, é claro na desmistificação da conversão desses militares ao Estado constitucional de Direito e à democracia.
Ressalva a fazer-se é a ausência até de mera informação aos comandos da Marinha e da FAB sobre a ameaça, como dito pelo entrevistado. Risco de discordância, é claro. E isso, não sendo certeza, pode ser indício de promissora evolução na Marinha e na FAB, oficialidades muito mais dotadas de preparo geral, para civilizar-se, do que no Exército.
Já é bem difundida a impressão, ou a convicção, de que todo o estapafúrdio produzido por Bolsonaro e apoiado pelos generais tem a ver com intenções definidas. Há bastante coerência nos atos amalucados, que são bem aceitos pelos generais também por uma comunhão não declarada nem gratuita.
A propaganda do falso tratamento com cloroquina cedo se mostrou como objetivo. Não só para desacreditar as recomendações científicas. Também para ações de governo que custaram milhões ao dinheiro público —e aí estava o Exército a fabricar quantidades montanhosas da droga enganadora.
O próprio Ministério da Saúde, o mais militarizado setor civil da administração pública, foi posto como indutor da droga ineficaz. Bolsonaro continua condenando as máscaras e estimulando aglomerações. E, sobre tudo o mais, a sabotagem a vacinas excedeu a incompetência. É muito mais e muito pior.
Por trás disso houve e há algo. Esse desatino não resistiria, para chegar à dimensão que alcançou, sem um propósito a sustentá-lo.
Não faz sentido o envolvimento, sem motivações especiais, de um governante em propaganda de remédio e em combate ao conhecimento científico provado e comprovado. Com esse meio de disseminar a morte, porém, combina-se um outro de fim idêntico.
No seu primeiro ato pela difusão da posse de arma, Bolsonaro alegou direito da cidadania de se defender. Sucessivos agravamentos dessa facilitação à criminalidade chegaram, agora, ao desmentido definitivo do propósito apresentado por Bolsonaro: novos decretos permitem até 15 armas para o cidadão comum, 30 armas para quem se apresente como caçador, 60 armas para quem se registre como atirador, munição a granel. Arsenais sem relação alguma com defesa pessoal. Mas não sem objetivo de quem os libera e dos militares, em especial do Exército, que dão o apoio.
As intenções inconfessas que enlaçam as atitudes de Bolsonaro, em temas como a pandemia e o armamento de civis, têm corrido sem dificuldade. Mas alguma coisa mudou nas últimas semanas. O Supremo mudou. Por quanto tempo e se para ser supremo sem temor e sem prazo, no momento, importa menos. Aproveite-se enquanto dure, que a necessidade do país é extrema.
Quando quatro ministros do STF decidiram trabalhar nas férias de dezembro e janeiro, a boa novidade foi noticiada como precaução contra propensões do recém-eleito presidente Luiz Fux. Revelou-se muito mais do que isso.
De Ricardo Lewandowski vieram, e continuam vindo, decisões que enfrentam desvios na política antivacinas do governo, o mesmo quanto às mais recentes revelações de ordinarices judiciais, políticas e policiais na Lava Jato, e outras de mesmo peso.
Alexandre de Moraes encarou, e não tem cedido nem milímetros, as ameaças ao Supremo, as patifarias nas redes, os indícios que recaem na Presidência da República.
Rosa Weber deu ao governo cinco dias, expirados ontem, para justificar o pacote das armas. Edson Fachin tomou a defesa verbal do Estado de Direito. E vai o Supremo por aí, ou parte dele, mudado, posto de pé e cabeça erguida.
Os negociantes do Congresso continuam negociando. O poder econômico, idem. Se a defesa da democracia não vier do Supremo, talvez só tenhamos resposta para a incógnita de Bolsonaro sob a forma de fato consumado. E a pandemia, como se agrava aqui, facilita.
Mercado permanece otimista com atoleiro sem fim da economia
Otimismo econômico resiste, apesar de Mito, lockdowns e dólar caro
Baderna política e chilique nas finanças dos EUA são ameaças
Amanhã vai ser outro dia, canta a maior parte dos relatórios econômicos, escritos pelos departamentos de futurologia de bancos e da finança em geral. “Amanhã” quer dizer junho. Depois de uma recaída no primeiro trimestre e uma convalescença no segundo, a vida recomeçaria a voltar ao normal, como parecia acontecer até novembro de 2020.
Mas o que temos para hoje? Variantes avacalhadas de lockdowns. O medo renovado da doença, que provoca enclausuramentos voluntários. Uma epidemia descontrolada, não se sabe bem se por causa da selvageria do Carnaval ou também porque há vírus mutantes. Há ainda chiliques no mercado financeiro americano, que já tiveram efeito por aqui —podem ser mero paniquito, mas sacudida semelhante ajudou a baquear a economia brasileira em 2013, o ano em que tudo começou a acabar.
Nada disso ainda está considerado nas contas dos economistas animados. Na hipótese otimista, o país volta a andar em meados do ano desde que: 1) os grupos de risco estejam vacinados até maio ou junho, como previsto no cronograma oficial; 2) Jair Bolsonaro e o Congresso não estourem as contas do governo. Isto é, que limitem o auxílio a quatro meses e que aprovem medidas que pelo menos evitem o estouro do teto de gastos nos próximos três ou quatro anos.
“Otimismo” quer dizer crescimento de uns 3,5% neste ano. Isto é, atividade econômica parada no mesmo nível de novembro do ano passado, por aí, mas na média superior a 2020. Sem mudança maior, para os próximos anos, não há perspectiva de o Brasil andar em ritmo melhor do que 2018 ou 2019, um Temer atolado em Bolsonaro.
Para falar da vida miúda, quando o novo auxílio chegar, em março ou abril, valerá bem menos do que em abril de 2020, em termos de comida, com perda de poder de compra de uns 15%. O número de pessoas ocupadas no país é ora 8 milhões menor que em fevereiro de 2020. Chutes informados otimistas dizem que neste 2021 o número de empregados aumentaria em 3 milhões. O buraco ainda seria enorme. Pode haver gritos de auxílio até o fim do ano, pois.
Em quase todos os estados há decretos de lockdowns. As restrições de movimento e comércio não são rígidas o bastante para merecer tal nome. Além do mais, a maior parte das atividades econômicas aprendeu a lidar com as restrições (que, no entanto, afetam muito restaurantes, atendimentos pessoais e entretenimento). Mas haverá estrago.
Na conta do prejuízo é preciso incluir as bolsonarices. Ao “meter o dedo” na Petrobras e no Banco do Brasil e causar alerta de outros danos, Bolsonaro aumentou o descrédito de empresas e do governo.
Concretamente, encareceu o custo de financiamento de dívidas e investimentos, que ficou maior também por causa do sururu financeiro americano destes dias (alta de juros no mercado, basicamente, o que afetou “emergentes” em geral, Brasil em particular). O dólar tende a continuar caro até o fim do ano, ruim para inflação e juros.
Fevereiro foi um mês desperdiçado por causa do chilique estatizante, dos decretos armamentistas e do vomitório golpista do deputado “Daniel de Quê?”, um ferrabrás bolsonariano, que levou a Câmara a se ocupar de fugir da polícia, com a PEC da Imunidade.
Bolsonaro volta a fazer propaganda maciça contra a prudência sanitária. Seu governo não consegue comprar vacinas além daquelas do Butantan e da Fiocruz. Algum financista engraçadinho precisa criar um “Mitômetro” a fim de medir quanto de PIB ou de emprego vai para o vinagre a cada vez que Bolsonaro joga sujeira no ventilador.
Brasil não produz anticorpos contra vírus Bolsonaro e Pazuello
Proliferam mortes da Covid, mas país se prostra perante exibicionistas, corruptos e sociopatas
Transmissão da Covid deve persistir em várias regiões do mundo por anos
A dificuldade de erradicação não significa que as mortes e o isolamento continuarão na escala atual
sábado, 27 de fevereiro de 2021
Representante dos EUA ameaça Brasil em nome da preservação da Amazônia
Cartum de 1905 mostra o presidente Ted Roosevelt usando sua “Nova Diplomacia” |
“Sem Amazônia intacta, Acordo de Paris é impossível”
Em reunião da Concertação pela Amazônia, negociador americano diz que EUA terão regras para impedir a entrada de produtos ligados a desmatamento
Por Daniela Chiaretti — De São Paulo
A mensagem do chefe dos negociadores americanos no Acordo de Paris foi clara: “Não é possível, é virtualmente impossível, alcançar as metas do Acordo de Paris, que nós, Estados Unidos, Brasil e todas as nações do mundo endossamos, sem manter a Amazônia intacta. É um fato da vida”, disse Todd Stern. “É verdade que o presidente Biden, em sua abordagem internacional e doméstica, ofereceu uma mão de amizade para abordar estes temas (a preservação e o desenvolvimento sustentável da Amazônia) de maneira positiva”, seguiu, falando a uma plateia de empresários, ambientalistas, indígenas, cientistas e políticos. “Mas os EUA, no fim das contas, irão fazer o que for necessário para proteger os interesses legítimos do povo americano.”
O advogado que chefiou os negociadores americanos de 2009 a 2016 foi convidado a abrir a plenária da Concertação pela Amazônia, rede de lideranças de vários setores da sociedade brasileira preocupados em preservar e desenvolver a região. Falou sobre os planos domésticos e internacionais climáticos do presidente democrata. Anunciou que “um grande plano verde de investimentos virá logo, seguindo o slogan do presidente Biden de ‘construir de novo melhor’ diante das dificuldades econômicas em função da covid”.
Stern lembrou que Biden, durante a campanha, prometeu mobilizar US$ 20 bilhões de fontes públicas e privadas para parar o desmatamento, buscando incentivos e estabelecer parcerias. “Prometeu ampla gama de acordos comerciais e esforços diplomáticos”, seguiu. Descreveu os quatro pilares do Plano para a Amazônia que um grupo de ex-ministros e ex-negociadores climáticos, ele incluído, entregou em janeiro ao presidente Biden e ao Congresso: financiamento, comércio, cadeias de fornecimento e diplomacia.
Para mobilizar os US$ 20 bilhões, os EUA buscarão contribuições de outras grandes economias na Europa e no Japão. “A razão para isso é bem clara: a necessidade de tornar a conservação viável para os países e as pessoas da região amazônica que precisam crescer, desenvolver e ter chance de prosperar como todo mundo. Temos que tornar a conservação viável.”
O segundo ponto é garantir salvaguardas contra o desmatamento nos acordos comerciais. “Isso não acontece agora. Não há barreiras nos EUA para cultivos que crescem ilegalmente em áreas desmatadas na Amazônia”. Seguiu dizendo que os EUA têm que limpar as cadeias de fornecimento de commodities como soja e carne. Empresas americanas terão que fazer procedimentos de “due diligence”, para garantir cadeias de fornecimento livres de desmate. Por fim, os EUA usarão toda a força da diplomacia para conseguir atingir a meta - parar o desmatamento.
“Deixem-me dizer algumas palavras sobre, talvez, o elefante na sala, o governo Bolsonaro”, disse Stern. “Entendemos onde Bolsonaro esteve na questão climática, porque ele se alinhou a seu ex-melhor amigo, Donald Trump, em falas em que a mudança do clima seria uma farsa. E que até hoje não tem se interessado em ofertas de apoio à Amazônia”.
Stern, que se declarou otimista em relação ao que pode ser feito para proteger a Amazônia, deu outros recados claros: “Em primeiro lugar, há muitas nações na região, incluindo Colômbia e Peru, que querem proteger a Amazônia e vão precisar de ajuda internacional. Em segundo lugar, como vocês sabem, há muitos campeões na Amazônia: Estados amazônicos, povos indígenas, comunidades locais, líderes da sociedade civil. E empresas brasileiras que querem ter certeza que manterão seu acesso aos mercados internacionais”.
No terceiro ponto para explicar seu otimismo, Stern disse que “governos do Brasil quase sempre buscaram boa relação com os EUA, e vice-versa. Porque somos grandes atores no hemisfério ocidental. Não acho que essa lei tenha sido reescrita pelo atual governo do Brasil. Eu esperaria que exista interesse do lado deles em ter uma relação produtiva com os EUA, assim como nós temos grande interesse em ter uma relação produtiva com o Brasil.” Seguiu: “Há muitas oportunidades para respeitar completamente a soberania nacional e os interesses do Brasil na Amazônia”.
Stern foi o arquiteto, do lado americano, do acordo histórico celebrado entre os presidentes Barack Obama e Xi Jinping que deu impulso para que o Acordo de Paris acontecesse. Foi depois que os dois maiores emissores mundiais haviam se comprometido com metas climáticas que outros os seguiram.
“A Ciência está dizendo claramente que precisamos parar o desmatamento globalmente nesta década. O desenvolvimento descontrolado e o desmatamento ilegal na Amazônia não podem ameaçar a segurança e o bem-estar das pessoas no Brasil e no mundo”, seguiu
Foi ouvido atentamente por 155 pessoas, o maior público desde a criação da Concertação em 2020. Na plateia estavam os empresários Guilherme Leal e Pedro Passos (fundadores da Natura), José Roberto Marinho (Fundação Roberto Marinho), Denis Minev (Bemol), o apresentador da TV Globo Luciano Huck, o economista Arminio Fraga, executivos como Pedro Wongtschowski (Grupo Ultra), Marina Grossi (Cbdes) e Marcello Brito (Abag), ambientalistas e pesquisadores como Ana Toni (iCS), Adriana Ramos (ISA), Tasso Azevedo (MapBiomas) e o arqueólogo Eduardo Neves, indígenas como a deputada federal Joenia Wapichana e políticos como o ex-senador Jorge Viana (PT-Acre) e o governador Flávio Dino (MA-PCdoB).
A infâmia
O presidente é solitariamente o indivíduo que mais contribuiu para a encrenca em que o Brasil está metido, à beira de um colapso sanitário
A tragédia foi anunciada há um ano. Desde fevereiro de 2020 sabia-se que a pandemia de coronavírus deveria ser tratada com todo rigor pelas autoridades, nas três instâncias de poder, e pelos brasileiros, em cada um dos cantos da Nação. Foi já neste começo que percebemos que não dava para contar com a contribuição do presidente do Brasil. Jair Bolsonaro fez graça e piada sobre a “gripezinha” e desafiou a ciência ao propor tratamento alternativo inteiramente ineficiente. Jamais respeitou o distanciamento social recomendado e quase nunca usou máscara para se proteger e proteger os demais.
O exemplo do principal líder do país repercutiu de maneira devastadora. Bolsonaristas passaram a usar a mesma retórica, os mesmos argumentos do mito, deixaram as máscaras em casa e se aglomeraram. O Ministério da Saúde, seguindo as instruções absurdas do presidente, instrumentalizou a Anvisa, deixou de comprar vacinas, torpedeou o quanto pôde o Instituto Butantan e receitou cloroquina para quem sentia falta de ar e não dispunha de oxigênio para se socorrer.
O fanatismo de Bolsonaro foi de tal ordem que ele chegou agora ao ponto de atacar o uso de máscaras. Citando estudo de uma universidade alemã que não identificou, disse que máscaras são prejudiciais porque podem irritar e desconcentrar as pessoas, além de causarem dor de cabeça. Pode? Não pode. Sob qualquer ângulo que se observe, a afirmação do fanático é estúpida. No mesmo dia em que ele pronunciava a barbaridade, 1.582 brasileiros morriam em consequência da doença.
Fora um ou outro, governadores e prefeitos Brasil afora não caíram imediatamente na falácia presidencial. Em alguns casos, corretamente, decretou-se lockdown nos momentos mais agudos da crise no ano passado. Os resultados foram positivos, nenhuma dúvida. Mas, do lado de fora, Bolsonaro torpedeava os que endureciam acusando o desarranjo que o fechamento produziria na economia. Aos poucos, a contaminação tomou também a consciência de alguns mandatários em estados e municípios.
No Rio, por exemplo, hospitais de campanha foram fechados prematuramente e ambientes propícios à aglomeração, como shoppings, bares e restaurantes, foram reabertos muito rapidamente. Morrem quase 200 pessoas a cada dia no estado. Nas últimas duas semanas foram registrados 30 mil novos casos por aqui. As praias estão abertas e os calçadões fechados no domingo para que o carioca possa se divertir e se aglomerar tranquilamente. Aliás, por que as praias do Rio continuam abertas?
A fantástica aglomeração observada no Palácio do Planalto no dia da posse do novo ministro João Roma foi mais um exemplo de como os homens que ocupam o poder se lixam para a doença. O que viu foi de causar inveja até mesmo nas noites mais quentes da Dias Ferreira. Nem a garotada desgarrada da Zona Sul do Rio consegue superar o capitão. Só os fins de semana de sol em Ipanema, Copacabana e Leblon aglomeram tanta gente.
A infâmia produzida em escala nacional por Jair Bolsonaro gera crias estaduais e municipais que ampliam seu poder deletério. O presidente é solitariamente o indivíduo que mais contribuiu para a encrenca em que o Brasil está metido, à beira de um colapso sanitário. Mas seus filhotes, espalhados por todos os lados da organização do Estado nacional, ajudam muito no esforço do capitão para solapar os brasileiros.
Se está sobrando...
De acordo com levantamento do Tribunal de Contas da União, 6.157 militares das três Forças Armadas servem em postos civis no governo Bolsonaro. Destes, 3.029 são da ativa, segundo o Ministério da Defesa. Com o contingente desviado de função, dá para montar uns cinco ou seis batalhões de infantaria do Exército. Se esse volume de gente não faz falta às Forças Armadas, não seria o caso de reduzir o tamanho do aparato todo e economizar recursos? Olha uma oportunidade aí, Bittar.
O corpo como o derradeiro lugar da escrita
Li: 'Descoberta frase que Anitta tatuou no ânus.' Ri, convencido de que o meu espírito perverso estava me iludindo, e fui à procura dos óculos
Enquanto o golpe não vem
Vacinas, valores e velórios
Não teríamos mais do que 8 mil óbitos até o fim da pandemia, mas atingimos a marca de 250 mil
Já estava me preparando para ser vacinado quando as vacinas acabaram. Foi aí que descobrimos que, na estupefaciente gestão do general Placebo no Ministério da Saúde, a vacinação é regida por dois calendários, como o tempo já foi em priscas eras. Pelo calendário juliano, quando há vacinas disponíveis, e pelo calendário gregoriano, quando elas acabam e ainda não têm data para chegar. Daí a máxima romana “sine vaccinus, sine die”, cunhada antes da invenção da primeira vacina.
E assim as vacinações no Rio foram jogadas para as calendas. Ainda bem que para as calendas romanas, não para as gregas. Será que nas calendas de março saberemos quando, pelo calendário gregoriano, levaremos nossa redentora picada?
Pior do que essa espera, possivelmente passageira, e as justificadas incertezas relativas à segunda dose foi tomar conhecimento das descaradas mentiras sobre a performance de Bolsonaro durante a pandemia que a ministra Damares e o chanceler Ernesto Araújo tentaram vender na ONU. Ficaram só na tentativa porque ninguém lá fora acredita mais em nada que diga, faça ou prometa fazer de bom o ogro que nos governa, exaspera, envergonha, e concentrou no extermínio seu mais eficaz programa de corte de gastos na Previdência.
Não menos desalentadora foi a constatação de que a Bolsa de Valores se sensibiliza muito mais com uma troca no comando da Petrobrás pelo presidente da República que seus investidores ajudaram a eleger do que com as ininterruptas e recordistas altas na contagem de mortos e infectados pela covid, no País. Não teríamos mais do que 8 mil óbitos até o fim da pandemia, basofiou o capitão negacionista em abril do ano passado. Atingimos a marca de 250 mil mortos esta semana; 50 mil só nos últimos 48 dias – e vacinamos apenas 3% da população.
Se alguma coisa o presidente sabe fazer, e bem, é mentir e tirar o dele da reta. “Não sou coveiro”; “Não sou profeta”; “Não compro seringas”. Pilatos ao menos lavava as mãos. O capitão nem sequer usa máscara.
A fulminante queima de ações da BR também veio corroborar a teoria de que a matança em curso, se não faz parte de um maquiavélico projeto político e econômico do bolsonarismo, como a aniquilação da cultura e da educação, desmoralizou em definitivo o chavão de que “as nossas instituições estão funcionando”. Se estivessem, ou pelo menos o STF estivesse, a pleno vapor, o nosso Napoleão de hospício já estaria na ilha de Elba da nossa imaginação.
Verdade que o ministro Alexandre de Moraes se tem comportado com o destemor que seu cargo exige, mas Dias Toffoli, Luiz Fux e Gilmar Mendes, conforme salientou na terça-feira o comentarista político Bernardo de Mello e Franco, facilitaram o serviço para a chicana que culminou com a anulação das quebras de sigilo bancário e fiscal de Flávio Bolsonaro, no inquérito das rachadinhas. Toffoli e Fux travaram a investigação por cinco meses, e Mendes abriu a gaiola para Fabrício Queiroz, o factótum da familícia.
Comprado o Legislativo, cooptadas e neutralizadas as Forças Armadas mediante cargos, subsídios, promessas, leite condensado e claque em formaturas de cadetes, pergunto: quais instituições ainda funcionam normalmente nestas bandas?
Por encarnar e afiançar a “ultima ratio” de qualquer país que as possua, as Forças Armadas (sim, mais de dez nações sobrevivem sem o seu concurso) deveriam preservar-se de aventuras como foram os golpes de que participaram desde a Proclamação da República. O que pretendia impedir a posse de Juscelino Kubitschek, em 1955, foi só uma (ou a) exceção à regra justamente porque um oficial do Exército, o marechal Henrique Teixeira Lott, e sua excalibur da legalidade melaram a tempo a conjura udenista.
Quando vejo, leio ou ouço alguém lamentar a escassez ou mesmo ausência, hoje, de políticos e outros figurões civis de alto nível, sempre me vem à lembrança a figura do marechal. Com ele, nenhum golpista tirava farofa. Que reação lhe provocaria um confesso autogolpista como Bolsonaro? Que atitude teria face à fascistoide ameaça do general Villas-Boas ao STF, em abril de 2018?
O ator, humorista e cronista Gregório Duvivier desenvolveu uma tese que, em outras cabeças, inclusive na minha, já andou caraminholando. Ao contrário do que se pensa, o presidente não protege e prestigia além da conta os seus ex-colegas de farda, notadamente os da arma em que fez carreira, o Exército, mas, na verdade, os rebaixa e desmoraliza. Ao lhes dar emprego e funções que exigem especial capacitação, expõe-lhes a incompetência e engorda as desconfianças de que suas nomeações são menos frutos de uma ineludível promiscuidade corporativista do que das limitações sociais impostas pela vida em caserna. Azar nosso se o capitão só se dá com milicos.
Para Duvivier, Bolsonaro está se vingando do coronel que o humilhou, reprovando-o por sua “falta de lógica, racionalidade e equilíbrio”, de outro oficial que condenou sua “excessiva ambição em realizar-se financeiramente” e, acrescento eu, do general Ernesto Geisel, que o considerava “um mau militar”.
Não sei se concordo com a hipótese de que nem décadas de propaganda antimilitar da esquerda causaram mais estrago na imagem do Exército do que a sanha empregatícia do presidente, mas é possível que sim. Já a suspeita de que só agora, com meio século de atraso, o capitão cumpre uma missão que lhe teria sido delegada pelo capitão Carlos Lamarca, não é, como toda blague, para ser levada a sério. É para rir.
Ria, enquanto o golpe não vem.
O clube dos cafajestes
É como se chamava um grupo de ricaços boêmios do Rio nos anos 50
O 1% que nem está aí para pandemias
É revoltante ver 'formadores de opinião' posando em ilhas paradisíacas, hotéis de luxo, fazendas aconchegantes, 'a salvo do vírus'
Inércia de Bolsonaro obriga 10,5 milhões a pagar Imposto de Renda
Uma das promessas de campanha eleitoral do mandatário era a correção da tabela do Imposto de Renda da Pessoa Física, caso isso fosse feito essa parcela da população estaria isenta do imposto
Jornal GGN – A falta de comprometimento de Jair Bolsonaro (Milícia-RJ) com uma de suas promessas de campanha deve afetar o bolso de 10,5 milhões de brasileiros neste 2021. Segundo o mandatário sua intenção era corrigir a tabela do Imposto de Renda da Pessoa Física, caso isso fosse feito essa parcela da população estaria isenta do imposto.
A omissão da tabela representa um novo aumento dos impostos e, a cada ano, mais brasileiros são obrigados a pagar IR. Além disso, quem já presta contas ao leão paga cada vez mais.
Segundo informações do Uol, caso houvesse a correção da tabela, o cálculo é que 10,5 milhões de brasileiros estariam isentos do imposto.
Hoje, a isenção do imposto só vale para quem ganha até R$ 1.903,98 por mês (menos de dois salários mínimos). Mas, se a tabela fosse corrigida ao menos pela inflação, a isenção deveria valer para todos que ganham até R$ 4.022,89.
Triste Brasil, que tem um verdugo nefasto como chefe de Estado
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021
O canalha
Existem canalhas no mundo. Nós, e tanto iguais a nós, com mais de seis décadas de vida sabemos muito bem disso. Fomos, por mais que buscássemos estar cercados de virtuosos e generosos, obrigados muitas vezes a conviver com eles: degenerados, estúpidos, canalhas em síntese.
Mas existe Bolsonaro.
Um canalha singular, ímpar na canalhice.
O país atravessando uma pandemia cruel, brutal, que ceifa, no momento, mais de 1.500 pessoas por dia, que já levou a óbito mais de 251 mil brasileiros, e ele, com as prerrogativas e benesses do cargo incentiva o NÃO uso da máscara e promove aglomerações com centenas de pessoas em eventos públicos que poderiam e deveriam ser adiados.
Os sistemas hospitalares no Amazonas, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul (estes três últimos estados não por coincidência onde o presidente possui mais seguidores) em colapso. E na mesma direção vai a Bahia e São Paulo. Fora centenas de municípios já sem vagas para atendimentos em UTIs.
A canalhice do presidente da República do Brasil desafia qualquer parâmetro. Espero que venha a ser, no futuro breve, um caso a ser julgado por uma Corte Internacional de Direitos Humanos.
Não tem jeitinho numa guerra. Estamos diante de um desastre épico, incalculável, bíblico
Efeitos ‘sincronizadores’, como o carnaval, fizeram com que a alta de contágio abalasse todas as regiões, num efeito dominó, diz especialista
Com 1.582 mortes por Covid-19 em 24 h, Brasil bate recorde de óbitos na pandemia
Sete dos dez dias com mais mortes no país ocorreram em 2021; dia também registrou recorde de média móvel de óbitos
Um ano depois do primeiro caso de Covid-19, o Brasil registrou o maior número de óbitos pela doença em 24 horas em toda a pandemia. Nesta quinta-feira (25), foram registradas 1.582 mortes de brasileiros pela Covid. Com expansão da doença em diversos locais, os dados apontam que o país vive o pior momento da pandemia.
O recorde anterior de mortes (1.554) tinha ocorrido em 29 de julho do ano passado, seguido por 4 de junho, com 1.470 óbitos. O ranking, porém, já é dominado por 2021. Sete dos dez dias com mais mortes na pandemia ocorreram em 2021.
Com as mortes registradas nesta quinta, o país chegou 251.661 óbitos.
A média móvel de mortes pela Covid foi recorde, pelo segundo dia consecutivo. O valor chegou a 1.150, nesta quinta, com crescimento de 7% em relação ao dado de 14 dias atrás, o que representa uma situação de estabilidade. Na quarta, o valor era de 1.129. Essa média é recurso estatístico busca dar uma visão melhor da evolução da doença, pois atenua números isolados que fujam do padrão. A média móvel é calculada somando o resultado dos últimos sete dias, dividindo por sete.
O país também completa 36 dias seguidos de média móvel acima de 1.000.
Além do elevado número de mortes, o Brasil também registrou 67.878 casos de Covid. Com isso, o país soma 10.393.886 pessoas infectadas pelo Sars-CoV-2 desde o início da pandemia.
Foram aplicadas no total 8.088.918 doses de vacina (6.338.137 da primeira dose e 1.750.781 da segunda dose), de acordo com as informações disponibilizadas pelas secretarias de Saúde. Nesta quinta, foram 158.237 primeiras doses e 166.212 segundas.
As vacinas disponíveis no Brasil são a Coronavac, do Butantan em parceria com a farmacêutica Sinovac, e a Covishield, imunizante da Fiocruz desenvolvido pela parceria entre a Universidade de Oxford e a AstraZeneca.
A iniciativa do consórcio de veículos de imprensa ocorre em resposta às atitudes do governo Jair Bolsonaro (sem partido), que ameaçou sonegar dados, atrasou boletins sobre a doença e tirou informações do ar, com a interrupção da divulgação dos totais de casos e mortes. Além disso, o governo divulgou dados conflitantes.
Tragédia na tragédia: O desgoverno de Bolsonaro na pandemia
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021
50 mil mortes em 48 dias
50 mil mortes em 48 dias,
— Conrado Hubner (@conradohubner) February 25, 2021
e o cotidiano aglomerador do presidente passa ao largo da pandemia sem ser incomodado
Ainda não fomos capazes de expressar o tamanho da blindagem jurídica e política de Bolsonaro pelo homicídio em massa por negligência