Gilberto Maringoni
Escrevi ontem sobre a hipocrisia da nota lida por Renata Vasconcelos no Jornal Nacional desta sexta (19). Para atacar Jair Bolsonaro, a Globo difunde a ideia de que seu governo é o equivalente espelhado das administrações petistas, que também teriam investido pesadamente contra Míriam Leitão. Essa seria a prova da independência e equidistância da jornalista.
Além da questão moral - hopocrisia e cinismo - de difundir a "teoria dos dois demônios", há algo mais grave. É o de colocar as opções regressivas do governo do capitão como parte de uma briga entre ele e o PT, na qual o povo estaria de fora. Tudo não passaria de coisa "suja" da política.
A DIFUSÃO DESSA IDEIA seria uma das causas da passividade da população diante da batalha da reforma da Previdência. Pablo Ortellado - que está longe de ser santo de minha devoção - escreveu sobre isso em coluna recente na Folha de S. Paulo. Um colunista do mesmo jornal, no dia seguinte à aprovação da reforma da Previdência na Câmara, escreveu que o governo teria marcado um 7 a 1 sobre a oposição.
A equidistância frente a uma disputa que afeta a vida de milhões tem o condão de esterilizar enfrentamentos que se dão, na verdade, entre a minoria rentista - o capital financeiro - e a maioria da população. Ou seja, de anestesiar milhões de brasileiros para a percepção da luta de classes.
O MESMO PODE ESTAR ACONTECENDO com as denúncias do Intercept no caso VazaJato. Tudo não passaria de uma trama petista para soltar Lula e outros corruptos, em detrimento da "luta contra a corrupção". Ou seja, briga "deles".
Assim, mesmo que à primeira vista seja positivo o JN chamar Bolsonaro de mentiroso, a tentativa de equiparar suas declarações de exaltação à tortura a críticas petistas a Míriam Leitão ajudam a embaralhar o jogo político e a contribuir para a passividade e alheamento das grandes maiorias em questões que afetam diretamente seu dia a dia, como é o caso das aposentadorias.
A Globo, no meu modesto entender, não brinca em serviço.
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