GLOBO, ISENTISMO E CARA DE PAU
Gilberto Maringoni
A nota da Globo contra Bolsonaro, lida no Jornal Nacional por Renata Vasconcelos, é calhorda. Milton Temer já advertiu sobre isso. Para atacar Bolsonaro, o monopólio dispara torpemente sua artilharia contra o PT, acusando a agremiação de já ter atacado Míriam Leitão, "inclusive em sua vida pessoal".
Não há termo de comparação entre a investida de um defensor da ditadura e da tortura com críticas eventuais dos aliados de Lula.
A Globo ressuscita a teoria dos dois demônios, que em outras épocas buscava colocar no mesmo plano - com sinais trocados - nazismo e socialismo e ditadura e militantes da luta armada, sem levar em conta a existência de uma agressão preliminar e dos propósitos de cada lado da disputa. Trata-se de um paradigma liberal, muito bem formulado por Hanna Arendt em "Origens do totalitarismo". Nessa lógica, há luta de classes, não há projetos. Se os dois lados são maus, fiquemos com o status quo, apesar de todos os seus pesares.
A teoria dos dois demônios desemboca no isentismo pretensamente centrista de nossos dias. Assim, a nota da Globo poderia até ser levada em conta, não fosse um pequeno detalhe: a empresa dos Marinho apoiou o golpe.
Não apenas um, mas dois, o de 1964 e o de 2016. Daqui a trinta anos, diante da evidência do desastre, lançará uma nota, justificando tudo e dizendo que foi mal, galera, desculpaí...
A Globo é calhorda. Nunca nos esqueçamos disso.
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