Apresentador, em conversa com o então juiz, elogiou as investigações e deu dicas para melhorar a comunicação dos procuradores
Mensagens mostram 'dica' de Faustão à força-tarefa (Reprodução/VEJA)
Durante um diálogo com o procurador Deltan Dallagnol,
o então juiz Sergio Moro disse
ter sido procurado pelo apresentador Fausto Silva, que o
cumprimentou pelo trabalho da Lava-Jato e
deu conselhos para melhorar as falas dos investigadores.
A mensagem inédita faz parte do material analisado por VEJA
em parceria com o site The Intercept Brasil. Clique para ler a reportagem completa.
Só uma pequena parte do material havia sido divulgada até
agora — e ela foi suficiente para causar uma enorme polêmica. Em parceria com o
site, VEJA realizou o mais completo mergulho já feito nesse conteúdo. Foram
analisadas pela reportagem 649 551 mensagens. Palavra por palavra, as
comunicações examinadas pela equipe são verdadeiras e a apuração mostra que o
caso é ainda mais grave. Moro cometeu, sim, irregularidades.
Fora dos autos (e dentro do Telegram), o atual ministro
pediu à acusação que incluísse provas nos processos que chegariam depois às
suas mãos, mandou acelerar ou retardar operações e fez pressão para que
determinadas delações não andassem. Além disso, revelam os diálogos,
comportou-se como chefe do Ministério Público Federal, posição incompatível com
a neutralidade exigida de um magistrado. Na privacidade dos chats, Moro revisou
peças dos procuradores e até dava broncas neles.
De acordo com o relato feito por Moro a Dellagnol, Faustão
aproveitou a conversa para dar conselhos aos responsáveis pela investigação:
“Ele disse que vcs nas entrevistas ou nas coletivas precisam usar uma linguagem
mais simples. Para todo mundo entender”, escreveu o atual ministro da Justiça.
Consultado por VEJA, o apresentador confirmou o teor da conversa.
Nota da redação: procurados por VEJA,
Deltan Dallagnol e Sergio Moro não quiseram receber a reportagem. Ambos
gostariam que os arquivos fossem enviados a eles de forma virtual, mas,
alegando compromissos de agenda, recusaram-se a recebê-los pessoalmente, uma
condição estabelecida por VEJA. Mesmo sem saber o conteúdo das mensagens, a
assessoria do Ministério da Justiça enviou a seguinte nota: “A revista Veja se
recusou a enviar previamente as informações publicadas na reportagem, não sendo
possível manifestação a respeito do assunto tratado. Mesmo assim, cabe
ressaltar que o ministro da Justiça e Segurança Pública não reconhece a
autenticidade de supostas mensagens obtidas por meios criminosos, que podem ter
sido adulteradas total ou parcialmente e que configuram violação da privacidade
de agentes da lei com o objetivo de anular condenações criminais e impedir
novas investigações. Reitera-se que o ministro sempre pautou sua atuação pela
legalidade”.
Colaboraram Leandro Demori, Victor Pougy, Nonato Viegas e
Bruna de Lara
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