domingo, 31 de janeiro de 2021

Acabou a corrupção

Corrupção contra impeachment

Na véspera da eleição mais corrompida da Câmara desde o golpe de 2016, a análise indispensável de Janio de Freitas. 

Janio de Freitas 

A visão de que o impeachment não tem base pública peca por superficialidade

A numerosa compra de parlamentares com verbas e cargos públicos, praticada por Jair Bolsonaro e sua tropa para conduzir as eleições internas de Câmara e Senado, viola a Constituição no princípio básico da independência entre os Poderes. Mas o objetivo maior desse ataque ao regime, definindo amanhã quem serão os novos presidentes da Câmara e do Senado, não é a propalada aprovação de reformas. É o bloqueio dos requerimentos de impeachment, os cerca de 65 relegados (até a sexta-feira em que escrevo) e os vindouros.

Bolsonaro, ao fim de reunião com deputados a meio da semana, ofereceu a confissão que, no entanto, não suscitou a defesa da Constituição pelos Poderes disso incumbidos. “Vamos, se Deus quiser, participar, influir na [eleição da] presidência da Câmara.” O que já ocorria e, no Senado, começava a acelerar-se. Nos dois plenários, a venalidade do atual MDB consagrou-o como “partido da bocona”. E o DEM de ACM Neto voltou por uma rachadura ao comércio de tóxicos sob a forma de votos. O DEM de Rodrigo Maia ainda respira, mas enfraquecido por várias facas nas costas.

A escolha de Bolsonaro para chefiar a sua guarda pessoal na Câmara foi por ele explicada com grande antecedência, quando se referiu ao que forma o centrão: “é a nata do que há de pior no Brasil”. Material que ele conhece. Arthur Lira (PP-AL) vem de lá, e com posição de liderança. Um trunfo para escapulir da Lei Maria da Penha e, se não de outras marias, por certo de outras leis.

Bolsonaro supõe comprar uma fortaleza inexpugnável anti-impeachment. É, de fato, um esquema bem nutrido a cifrões e carniça. Seu histórico pessoal no governo, porém, não é menos forte para servir aos críticos. E ainda haverá sua nova produção a cada dia, com os adendos dos pazuellos e demais sequazes.

Nenhum obstáculo deterá o embate entre o jogo pesado de Bolsonaro e a necessidade do impeachment. Só duas eventualidades poderiam impedi-lo: o golpe militar, difícil sem a improvável adesão de Marinha e Força Aérea, ou a retração dos conscientes da terrível situação nacional.

A visão de que o impeachment não tem base pública peca por superficialidade excessiva. As as evidências disponíveis já são bem nítidas. Não é à toa que 380 líderes religiosos —bispos, padres, pastores, bispos, frades de diferentes segmentos cristãos— juntam-se em eloquente pedido de impeachment. Hoje são ex-procuradores do alto escalão da Procuradoria-Geral da República que o fazem. Juristas já o fizeram. A Comissão Arns. Uma quantidade inumerável de artigos, comentários em TV, entrevistas qualificadas, pronunciamentos, diários todos e crescentes na presença e na ênfase.

As limitações pela Covid impedem passeatas eloquentes, mas grupos menores não se privam de sair com os seus “Fora, Bolsonaro”. E, para encurtar, há, sim, valiosa demonstração do eleitorado, por meio de índices colhidos pelo Datafolha. Há uma semana, 53% não aprovavam o impeachment, ao menos agora, e 42% o desejavam. Quase meio a meio. E, observação essencial, a opinião favorável a Bolsonaro é proveniente, em parte volumosa, do recebimento de auxílio pandemia e da expectativa de tê-lo outras vezes. É comum, entre os recebedores, atribuir a Bolsonaro o auxílio dado, na verdade, pelo Congresso.

Como complemento ainda mais revelador do ambiente, apenas nos 30 dias entre 20 de dezembro e 20 de janeiro a avaliação ótimo/bom de Bolsonaro caiu de 37% para 31%; a regular caiu de 29% para 26%; e a de ruim/péssimo subiu de 32% para 40%. Se isso nada demonstra, voltemos a dormir o sono do nosso pesadelo, e pronto.

O argumento de que a eventual substituição de Bolsonaro por Mourão nada mudaria até parece um desatino bolsonarista. Ser mais inteligente e preparado do que Bolsonaro não é vantagem, Mourão já exibiu os componentes goriliformes da sua formação no Exército, mas não é procedente, nem justo, descê-lo ao nível de Bolsonaro. Ao contrário, tudo indica ser o mais inteligente e preparado dos generais instalados na cúpula do governo. Não justifica esperança, mas não é provável que fizesse coisas como matar incautos com a recomendação de cloroquina.

Este país já de 220 mil mortes figura como o de pior desempenho antipandemia no mundo. Prova-se que o projeto autêntico de Bolsonaro é vitorioso. E por isso mesmo deve ser eliminado, para sobrevivência menos indigna do país e mais digna dos brasileiros.

Carapuça



Bolsonaro é o grande responsável pela disseminação da epidemia no Brasil

Drauzio Varella

Não é por acaso que somos o segundo país com o maior número de mortes

A explicação é que não há como explicar.

A formação em ciência exige humildade para analisar opiniões e ideias opostas às nossas, o contraditório é parte intrínseca do pensamento científico. Não fosse assim, até hoje acharíamos que a Terra é plana e que o Sol foi criado para girar em torno dela.

Em janeiro do ano passado, quando o novo coronavírus atormentava apenas os chineses, tive a impressão de que os casos de maior gravidade ficariam restritos aos mais velhos. Para boa parte dos especialistas a doença teria mortalidade semelhante à das gripes.

Hoje, eu me penitencio por ter feito essa avaliação apressada. Lembrar que ela foi influenciada por uma palestra do doutor Anthony Fauci, uma das maiores autoridades em moléstias infecciosas dos Estados Unidos, não me consola.

Foi em fevereiro, quando a doença semeou o terror nas UTIs da Itália, que o mundo entendeu a gravidade da ameaça. Imediatamente, os países adotaram medidas rígidas para reduzir a movimentação nas cidades e insistiram na necessidade do uso de máscaras protetoras.

No Brasil, o presidente da República contraindicou com veemência essas recomendações. O argumento foi o de que elas destruiriam a economia e matariam de fome um número maior de brasileiros, do que a doença seria capaz de fazê-lo.

Achei que ele estava errado. Primeiro, porque não havia dados para estimar o impacto de uma improvável epidemia de fome na mortalidade da população; depois, porque a história das epidemias nos mostra serem elas as responsáveis pelas repercussões negativas na economia, não o isolamento social. Enquanto circula um agente infeccioso potencialmente letal, é impossível convencer as pessoas a gastar dinheiro para estimular o crescimento econômico.

Considerei, no entanto, a possibilidade de que o empenho presidencial na defesa de estratégias para manter os empregos pudesse ter alguma lógica, hipótese abandonada quando o vi pela primeira vez sem máscara promovendo aglomerações, para delírio de apoiadores fanáticos. Se estivesse interessado em proteger a economia, de fato, qual o sentido de incentivar a adoção de comportamentos que disseminam o vírus? Por que razão não diria aos brasileiros: saiam de casa para trabalhar, mas usem máscara e evitem aglomerações?

Para enfrentar o medo de contrair o vírus repetiu à exaustão que não deveríamos acreditar nas “conversinhas” dos jornalistas, que a doença só matava os “bundões”, que deixássemos de ser “maricas” e que contávamos com a cloroquina, remédio milagroso quando administrado nas fases iniciais da doença. Não faltaram médicos que não têm o hábito de estudar ou formação científica suficiente para avaliar a qualidade dos trabalhos publicados, para lhe dar razão e preconizar a distribuição do inacreditável kit Covid.

A queda de dois ministros da Saúde que se negaram a adotar a cloroquina como política de combate à epidemia não bastou para evitar que a farmácia do Exército fosse obrigada a investir recursos preciosos na importação da droga, a preços inflacionados. A cegueira foi de tal ordem que deixamos o ex-presidente dos Estados Unidos desovar aqui os milhões de comprimidos encalhados que os médicos americanos se recusaram a prescrever, para não correr o risco de processos por más práticas.

Quando o mundo entendeu que estávamos próximos da obtenção das primeiras vacinas e os países iniciaram a corrida para comprá-las, o Brasil não estava entre eles.

Pelo contrário, o presidente se empenhou em afirmar que não seria vacinado, que ninguém era obrigado a fazê-lo contra a vontade e que os efeitos colaterais poderiam ser “terríveis”. Contra a visão dos economistas —inclusive a de seu ministro— de que a vacinação é a única forma de reativar a economia, insistiu em boicotar a imunização em massa com argumentos de fazer inveja aos grupos antivacina mais ignorantes.

Esse boicote sistemático justifica mais de 220 mil óbitos? Ele é o único culpado? É claro que não, a culpa é de muitos, especialmente dos egoístas estúpidos que se aglomeram sem máscara nos bares e nas festas. No entanto, pela natureza do cargo que ocupa, os absurdos que fala e a indignidade dos exemplos que dá, o presidente da República tem sido o grande responsável pela disseminação da epidemia. Não é por acaso que somos o segundo país com o maior número de mortes.

Brasil arrisca virar uma imensa Manaus

Marcelo Leite 

Quem ainda apoia Bolsonaro responderá pelas muitas mortes que vieram e virão da Covid

Estamos metidos numa enrascada. Dados comprovam sem margem para dúvida que temos o governo com pior desempenho no enfrentamento da Covid. Todos sabemos, porém, que fatos, números, veracidade e coerência não valem mais nada neste país.

Se valessem, Jair Bolsonaro não ficaria impune mentindo a torto e a direito sobre a “gripezinha” que matou mais de 220 mil no Brasil e 2,2 milhões no mundo. O médico (!) e deputado Osmar Terra (MDB-RS), que previu 800 óbitos por Covid, já estaria cassado ou banido da classe por pouca vergonha.


Só resta aos desconsolados iluministas repisar as evidências. Não há como renunciar à esperança de que a repetição abra fissuras no monumento de desfaçatez no Planalto ainda escorado pelo oportunismo de parlamentares venais e empresários imorais.

O Instituto Lowy da Austrália pôs o Brasil na 98ª e última colocação em ranking de eficiência das medidas para controlar a epidemia do novo coronavírus, com base nas informações do levantamento Our World in Data. Não com pouca razão.

Nem seria preciso ir até à coleção de dados para enxergar que temos 10% das mortes mundiais, proporção evidente na coincidência numérica (220 mil/2,2 milhões) de três parágrafos atrás. Só abrigamos 2,7% da população do planeta, nunca é demais reiterar.

Continuando com as mortes ponderadas pela população: o Brasil não é ainda líder nesse campeonato de óbitos corridos. Suas 1.042 vítimas por milhão de habitantes o deixam em melhor posição que vários países desenvolvidos, como Reino Unido (1.522), Itália (1.445) e EUA (1.308).

Não será surpresa se os atropelarmos antes do apito final na pandemia (se é que haverá). O número de casos novos já cai de modo acentuado nos EUA, e o de mortes em breve recuará também por lá.

No Brasil, os casos registrados estão em alta acelerada. Somam 8,9% do total mundial, proporção menor que a de vítimas fatais. De duas, uma: ou nossa letalidade está acima da média de todas as nações, ou não identificamos todos os doentes com Covid. Ou, pior ainda, as duas coisas.

Assim como nunca fizemos lockdown, nem distanciamento social decente, nem rastreamento e isolamento de infectados, jamais testamos em quantidade suficiente para afastar o espectro da subnotificação. Nosso escore está em 110 testes por mil habitantes, contra 978 no Reino Unido, 857 nos EUA e 518 na Itália.

O governo federal capitaneado por Bolsonaro apostou tudo na charlatanice do “tratamento precoce” com cloroquina e quejandos, até que o governador paulista, João Doria (PSDB), lhe aplicou um rabo de arraia com a Coronavac. Agora, o presidente se declara sem vergonha amigo do Zé Gotinha desde criança.

O ritmo da imunização sob tal comando é piada de mau gosto equivalente à sua preferência sobre o que fazer com leite condensado. Em duas semanas, mal chegamos a vacinar 1% dos habitantes. Para comparação: Israel 53%, Reino Unido 12%, EUA 8%, Itália 3%.

Na sexta-feira (29) a Janssen anunciou vacina de dose única e refrigeração usual (2ºC a 8ºC) com 66% de eficácia para prevenir casos moderados e graves na América Latina e 72% nos EUA. A farmacêutica projeta fabricar 1 bilhão de doses por ano e já conta com acordos para fornecer 1,25 bilhão de unidades —nenhuma, até agora, para o Brasil.

Não temos vacina nem para metade dos brasileiros. Você que votou em Bolsonaro, ainda lhe dá apoio e acha inoportuno o impeachment sabe bem quem tem culpa pelo risco de o país virar uma imensa Manaus.

O Carnaval dos imbecis

Antônio Prata 

Não me surpreenderia ver, em fevereiro, blocominions dominando as cidades

Dizem que, por conta da pandemia, não haverá Carnaval. Errado. É justamente por conta da pandemia que haverá Carnaval. Não será a festa a que estamos acostumados, manifestação popular que sacode o Brasil de norte a sul. Revanche gloriosa de ex-escravizados transformando banzo e raiva em alegria e beleza. Uma fresta de poucos dias que nos faz vislumbrar um país diferente, inclusivo, revolucionário. Dois mil e vinte e um celebrará o Carnaval dos ogros. A festa do avesso verá seu avesso: sai a turma do Joãozinho 30, entra a milícia do Zero Três.

Se tem que usar máscara, eles não usam. Se não adianta usar cloroquina, eles distribuem. Se tem que ficar em casa, vão pra balada. Se existe vacina, eles não compram —e fazem campanha contra. Se o Carnaval está cancelado pelas pessoas sensatas que ainda existem no Brasil, não me surpreenderia ver, em fevereiro, blocominions dominando as cidades.
Ilustração de Adams Carvalho para coluna de Antônio Prata 

Será o oposto d’“A banda”, do Chico Buarque. “Estava à toa na vida e o capitão me chamou/ Pra ver a banda marchar, gritando coisas de horror”. A concentração, imagino, será diante dos hospitais, para dificultar o trabalho dos profissionais de saúde, o sono dos doentes, zombar do sofrimento das famílias. Não lembram o buzinaço, ano passado, na frente do Hospital das Clínicas?

(Que narrativa esdrúxula leva pessoas a buzinarem para um hospital lotado de pessoas sob risco de vida? O que pensam estes dementes? Que aqueles doentes todos simulam estar com Covid porque foram comprados pela China, pelo PT, pelos homossexuais e maconheiros, por Bill Gates e George Soros para derrubar o governo Bolsonaro? Que todos os médicos e enfermeiros e demais funcionários do hospital, arriscando suas vidas há quase um ano para salvar as nossas, participam do mesmo teatro?).

O Carnaval dos imbecis provavelmente não terá pandeiro, surdo ou cuíca, mas carros de som tocando alguma dance music tosca da década de 90. Tipo “This is the rhythm of the night”, da banda chamada, vejam só, Corona. Pitboys tomando Red Bull contaminarão as falsas loiras de camiseta da seleção.

Famílias tirarão selfies com PMs e huskies siberianos com bandanas alviverdes latirão para os pretos esquálidos que passam por entre os bombados e as bombadas catando latinhas pelo chão.

No Rio, formarão o “Cordão do Bola Branca”, “Misoginia é mais que amor”, “Cordão do Ratatá”, “Minionbloco”. Senhoras entrevistadas na folia, sem máscaras, dirão ao jornal do SBT estar muito impressionadas: “Só cidadão de bem! Nem parece o Brasil! Parece a Fête de la music, em Paris! Se bem que em Paris até tem uma gente diferenciada. Árabe, africano, esses problemas de lá. Aqui não, ó! Só gente normal!”.

Bolsonaro talvez surja nesses blocos com um abadá de caveira. Talvez suba num deles e esbraveje à multidão: “Dois anos atrás, no que tange à questão aí de bloco de Carnaval, o que tinha era golden shower e ideologia gay, talquei?! Agora acabou! Tá tudo dominado! Brasil acima de tudo! Deus acima de todos!”. E o telecoteco que se ouvirá não será dos tamborins, mas dos tiros para o alto, dados pelos necrófilos.

Soa a loucura, como tudo o que estamos vivendo nos últimos anos, mas será apenas mais uma volta do parafuso num país que parece ter decidido suicidar-se coletivamente. Estamos indo bem. Já passam de 220 mil mortos —e contando. Somos os melhores do mundo em matar por Covid, segundo o Lowy Institute, de Sydney. Parabéns aos envolvidos! Ratatatá! Telecoteco! Zirigui-bala-dum-dum!

sábado, 30 de janeiro de 2021

Conversa com Bia e Mau - ESPECIAL PALMEIRAS CAMPEÃO DA AMÉRICA

Ainda não é hora


Sessão Coincidência

Lançado em 1.973
Lançado em 1.975

Dilema


Vivo um dilema: como considerar como ser humano alguém dotado de instrução que embalou um notório defensor da tortura, racista, homofóbico, misógino? Na mesma situação, colegas que abraçaram em seus veículos a indefensável teoria dos "extremos opostos".

O tsunami no Brasil se aproxima

Com novas variantes do coronavírus, tsunami no Brasil se aproxima

A questão não é se esse tsunami vai se espalhar pelo Brasil, é quando isso vai acontecer, qual a intensidade, e se vamos estar preparados.

Fernando Reinach

Tudo indica que um tsunami vai atingir o Brasil. A Europa e Manaus já estão sofrendo com novas cepas do Sars-CoV-2 que se espalham rapidamente. Elas são difíceis de controlar, aumentam o número de mortes por 100 mil habitantes, e conseguem ludibriar parcialmente o sistema imune dos já infectados e vacinados. A solução na Europa tem sido trancar a população em casa e vacinar em questão de semanas todo o grupo de risco com as vacinas da Pfizer e Moderna. E na falta destas, com a vacina da AstraZeneca. A questão não é se esse tsunami vai se espalhar pelo Brasil, é quando isso vai acontecer, qual a intensidade, e se vamos estar preparados.

Para sentir o perigo basta entender um dos trabalhos publicados esta semana sobre as novas cepas. Escolhi o estudo feito pelo grupo de David Ho. Ele é um cientista que você pode descrever em uma frase: Ho transformou a AIDS de uma sentença de morte em uma doença crônica controlável por um coquetel de antirretrovirais. Foi dele a ideia de evitar o aparecimento de novas cepas de HIV usando combinações de drogas. São os coquetéis que usamos até hoje.

O trabalho possui uma quantidade enorme da dados coletados usando uma versão da metodologia que descrevi semana passada. Utilizando técnicas de engenharia genética o grupo de Ho é capaz de construir e testar as propriedades das mais diferentes cepas do SARS-CoV-2. Cada cepa contém uma ou mais das mutações da Inglaterra (B.1.1.7) e da África do Sul (B.1.351). Para a cepa inglesa, além da original que já circula, os cientistas construíram cepas contendo cada uma das 8 mutações mais importantes. Para a cepa da África do Sul, além da própria, foram construídas cepas com cada uma das 9 mutações. De posse dessa coleção, os cientistas mediram sua capacidade de invadir células humanas. Essa medida foi feita na presença e na ausência de anticorpos gerados contra o SARS-CoV-2 original. Esse experimento permite determinar a capacidade de cada anticorpo de bloquear a entrada de cada cepa em células humanas. Anticorpos que evitam a entrada (chamados de neutralizantes) devem proteger a pessoa. Os que não evitam a entrada não devem proteger.

Num primeiro estudo foi averiguada a capacidade de 18 anticorpos monoclonais (como os utilizados para tratar Donald Trump) de neutralizar cada uma das cepas. São 324 experimentos distintos. Em seguida os cientistas repetiram o experimento usando os anticorpos presentes no soro de 20 pacientes que se recuperaram de casos graves e leves de covid-19 causado pelo SARS-CoV-2 original. Isso gerou outra tabela com 360 resultados. Finalmente repetiram os experimentos usando os anticorpos presentes no soro de 22 pessoas que haviam sido imunizadas com a vacina da Pfizer (10 pessoas) e da Moderna (12 pessoas) para verificar se essas cepas conseguiam escapar dos anticorpos gerados por essas duas vacinas. São mais 396 resultados.

Os cientistas conseguiram determinar quais anticorpos neutralizam qual cepa. A primeira conclusão é que a inglesa, B.1.1.7, não é neutralizada por nenhum dos anticorpos dirigidos para a região N-terminal da proteína Spike do SARS-CoV-2 original. Entretanto ela é parcialmente bloqueada pelos anticorpos que se ligam na região que o vírus usa para entrar na célula. Mais importante, a cepa B.1.1.7 é três vezes mais resistente aos anticorpos presentes nas pessoas que tiveram covid-19 causada pelo SARS-CoV-2 original e duas vezes mais resistente aos anticorpos presentes nas pessoas vacinadas. Ou seja, não somente ela se espalha rapidamente, mas parece possuir características que a ajudam a despistar a resposta do sistema imune.

Já a cepa da África do Sul, B.1.351, é muito mais preocupante. Ela não é bloqueada pelos anticorpos monoclonais, é de 11 a 33 vezes mais resistente aos anticorpos presentes no soro de pessoas previamente infectadas e de 6,5 a 8,6 vezes mais resistente que o vírus original aos anticorpos gerados pelas vacinas da Pfizer e Moderna.

A conclusão é de que essas duas cepas, que estão se espalhando pelo mundo, podem tornar inúteis os anticorpos monoclonais que estão sendo desenvolvidos como tratamento e devem ameaçar de forma significativa a eficácia das vacinas. É por esse motivo que a Pfizer e a Moderna já anunciaram que estão desenvolvendo novas versões de suas vacinas.

Esse estudo não analisou a nova cepa de Manaus (semelhante à cepa sul-africana), e não analisou a capacidade das três cepas (Inglaterra, África do Sul e Manaus) de burlar as defesas criadas pelas vacinas Cononavac e AstraZeneca. Ou seja, não sabemos ainda as propriedades da cepa de Manaus nem como as vacinas que dispomos vão se comportar diante dessas novas cepas.

É uma questão de tempo a disseminação dessas cepas pelo Brasil, mas muito provavelmente elas vão chegar antes de vacinarmos uma fração significativa da população. Nos EUA se acredita que elas serão dominantes nas próximas semanas.

Desculpem o pessimismo, mas é melhor apertar os cintos e nos prepararmos para o pior. E lembrem: no início de 2020, quando o coronavírus demorou um pouco mais para chegar ao Brasil, muitos acreditavam que ele não chegaria por aqui.

O último Silveira

Poucos colegas me inspiraram tanto respeito e reverente temor quanto o gaúcho Zé

Perdi mais um amigo de covid. Virou rotina. Cismei de contabilizar as perdas que mais intensamente me atingiram nos últimos 10 meses, e só me lembrei de três exceções ao flagelo virótico: Nirlando Beirão, Pete Hamill e Zuza Homem de Mello, abatidos por outras enfermidades. No início da semana, o vírus nos levou José Silveira, um dos últimos moicanos da era de ouro do jornalismo.

Não conheci ninguém que não o admirasse como profissional, e daria para contar nos dedos os que não têm ao menos uma história divertida com ou sobre ele dentro de uma redação ou fora dela. Em todos os jornais por onde andou – Última Hora, Correio da Manhã, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo, além do Estadão – muito ensinou até a quem acreditava já saber tudo sobre como fechar uma edição, encontrar o melhor título para uma reportagem, limpar as impurezas de um texto e cortar uma foto para dar mais realce gráfico à primeira página.

Secretário de redação incomparável, uma de suas mais decantadas proezas – reduzir um artigo de oito laudas de Antonio Houaiss a duas, sem deixar nada de fora – entrou para o folclore do jornalismo, com ajuda suplementar de Paulo Francis, que adorava relembrá-la, até porque achava Houaiss verborrágico e rebuscado além da conta.

Tive o privilégio de conviver com três Silveiras memoráveis: o editor de livros Ênio Silveira (1925-1996) e os jornalistas José e Joel Silveira, que não eram parentes e até hoje são vez por outra confundidos por quem não é do ramo. O gaúcho Zé Silveira, que morreu quatro dias atrás, aos 87, não foi o “melhor repórter da imprensa brasileira em todos os tempos” conforme exaltado e pranteado por mais de um internauta, no meio da semana. O repórter aludido era o sergipano Joel, que se foi com um ano a mais de idade, em agosto de 2008.

Nunca soube se os dois chegaram a ser amigos. Conheci ambos na mesma época, começo dos anos 60, mas, no Correio da Manhã, convivi apenas com o Zé Silveira, que, levado por Jânio de Freitas, chefiou por alguns meses o copy desk do jornal. Reencontrei-o, pouco tempo depois, no Jornal do Brasil e, em 1981, a ele e Jânio, na sucursal carioca da Folha.

Poucos colegas me inspiraram tanto respeito e reverente temor quanto ele. E eu nem trabalhava no copy; receava-o a distância. Suas observações, com frequência irônicas, eram microlições de sabedoria e acuidade jornalística.

Ele era o manual de redação antropoide do JB. Corrigia palavras que, nos textos, sobravam ou descabiam. Em seu índex abundavam as banalidades e os chavões consagrados pela imprensa como “via de regra”, “abordado pela reportagem”, “morreu ao dar entrada no hospital”, “o morto deixou mulher e filhos”. Embora pudesse dizer que “via de regra é vagina”, como outros já haviam dito, apenas comentava: “As mulheres sabem do que se trata”.

Para o “Seu Silveira”, repórter não aborda, os piratas sim; e as pessoas só morrem na entrada do hospital se nela houver uma guilhotina. “Mulher e filhos nunca são deixados pelo marido ao morrer; eles é que não quiseram ir com ele de jeito nenhum”, esclarecia, em tom quase professoral.

Chefiado por Alberto Dines, ele ajudou a bolar aquela histórica primeira página sem manchete e sem foto, só com um texto corrido sobre a morte de Allende, em setembro de 1973. A Censura do general Médici proibira a publicação de manchetes e fotos sobre o golpe no Chile. Sem desobedecer à ordem dos milicos, o JB logrou chegar às bancas com uma primeira página dez vezes mais impactante.

Seu parônimo sergipano glorificou-se como repórter, o melhor de sua geração. Comandou algumas redações, mas se esbaldava mesmo era gastando a sola dos sapatos e esquentando as orelhas ao telefone, na trilha de uma reportagem. Até o final da vida, lamentou haver desperdiçado a chance de entrevistar Hemingway e nunca haver descoberto o que Tancredo Neves, tão logo eleito presidente, foi conversar, sigilosamente, com o general Ernani Ayrosal, um dos esteios do golpe de 1964, em seu apartamento (dele, Joel), em Copacabana. Pior: em seu quarto de dormir.

Joel cobriu a Segunda Guerra para os Diários Associados, por escolha pessoal de Assis Chateaubriand, impedido pela ditadura do Estado Novo de enviar para o front o repórter Carlos Lacerda. Seus relatos da campanha na Itália têm momentos de alta ficção e podem ser lidos até hoje, em livros antológicos, entre os quais destaco O Inverno na Guerra, com um tocante desfecho cinematográfico.

Por conta, sobretudo, de duas brilhantes reportagens sobre hábitos e extravagâncias da elite burguesa paulistana, publicadas na revista Diretrizes, de Samuel Wainer, Joel acabou justamente consagrado como o pioneiro entre nós do que se convencionou chamar de “jornalismo literário”.

Nunca apurei por que, mas sempre que me encontrava, abria os braços e exclamava: “Flor do Lácio!”, como se fosse mais um apelido do que um elogio. Era uma víbora, no sentido de maledicente, traço que Chateaubriand talvez tenha sido o primeiro a perceber e exaltar como sua segunda maior virtude. Adorava Beethoven e execrava turistas, alpinistas, “tocadores de cavaquinho gordos” – e João Gilberto.

Dos colaboradores do Pasquim, ninguém enviava mais notas para a seção de Dicas. Não dava para publicar todas; mas ele jamais se queixou da seleção que eu, como editor da seção, era obrigado a fazer. Se não tinha a quem pichar, mandava um pau, o mais das vezes gratuito, no seu Bei de Túnis, João Gilberto. Mas é claro que não foi por isso que o prenderam sete vezes durante a ditadura militar.

Bolsonaro e a PQP

Cristina Serra 

"Previsão do tempo: Tempo negro. Temperatura sufocante. O ar está irrespirável. O país está sendo varrido por fortes ventos. Máx.: 38º, em Brasília. Mín.: 5º, nas Laranjeiras". Com essa previsão do tempo, publicada na primeira página do Jornal do Brasil em 14 de dezembro de 1968, o jornalista Alberto Dines (1932-2018) tentava driblar a censura para noticiar o AI-5, que deu poderes de exceção aos generais para reprimir opositores da ditadura.

Naqueles dias, atitudes como a de Dines poderiam resultar em prisão, tortura e morte. Transposta para o Brasil hoje e guardadas as diferenças históricas, a alegoria meteorológica é de assombrosa atualidade. Sob Bolsonaro, doentes morrem por falta de ar. As instituições sufocam. Ele e sua súcia de bandoleiros semeiam tormentas toda vez que ameaçam com golpe.

Escumalha da ditadura, Bolsonaro, se pudesse, mandaria todos os jornalistas para a "ponta da praia". Nesta semana, contrariado com uma publicação, o boca-suja do Planalto despejou seu vocabulário de espelunca contra a imprensa, mais uma vez. Aos gritos, o presidente-sem-decoro da República mandou o jornalismo brasileiro para a pqp e que os jornalistas enfiassem latas de leite condensado "no rabo".

A grande imprensa, em geral, aceitou os xingamentos da maior autoridade do país sem reação que não o silêncio e a cabeça baixa. Quem cala consente, rebaixa sua dignidade e deixa portas abertas para coisa pior. A perplexidade não pode ser individual nem ficar restrita às redes sociais. Os grandes veículos deveriam se juntar às entidades representativas do setor para exigir, no mínimo, uma reparação judicial.

Na campanha de 2018, a imprensa naturalizou Bolsonaro, dando-lhe o benefício de uma falsa equivalência entre dois "extremos" inexistentes. Seus ataques ao jornalismo não podem ser naturalizados. A reação a eles requer coragem e inteligência. O exemplo de Dines mostra que já fomos capazes disso. E em momentos mais difíceis.

Bolsonaro não é um presidente — é um atentado ao pudor



Vivemos tempos ruins. Tão ruins que a expressão cavalheiro conservador virou um oxímoro. Quando eu era jovem (ainda sou, mas passei à clandestinidade. Agora só eu sei disso), essa mesma expressão era quase uma redundância. Naquela época, pessoas de esquerda colecionavam palavrões, alguns deles, entretanto, extintos (juntamente com os cavalheiros conservadores), talvez na ilusão de que dessa forma seriam mais facilmente aceitas pelas chamadas massas populares. E também, é claro, para horrorizar a burguesia — pour épater la bourgeoisie, dizíamos, outra expressão que caiu em desuso. Entretanto, a burguesia transformou o espanto em adereço.

Eu próprio só comecei a dizer palavrões depois que, no furor da adolescência e da revolução, me juntei à extrema esquerda da extrema esquerda. Costumava praticar sozinho, no banheiro, diante do espelho, receoso de que os meus palavrões soassem artificiais. Soavam sempre. Nas assembleias de estudantes esperava ansiosamente o momento certo para soltar um novo impropério, afirmando assim a minha opção de classe e o meu desprezo pela burguesia. Invariavelmente, seguia-se um silêncio constrangido. Até hoje não sei se eu errava na pronúncia, na escolha dos palavrões ou na convicção. O fato é que não tinha talento para arruaceiro.

Fui educado por um genuíno cavalheiro conservador, que até hoje me corrige quando uso a palavra “chato” — “Chato não”, repete: “aborrecido.” Quando alguém lhe provoca desmedido horror e se enfurece, é capaz de soltar um áspero: “Esse indivíduo é um canalha!”. É verdade que aquele “canalha”, dito por ele, tem o peso de um soco de Muhammad Ali.

Eu tinha quase 40 anos e uma namorada carioca quando, visitando o pai dela, antigo campeão de Fórmula 1, vi numa das paredes do apartamento a enorme fotografia de um sujeito que não reconheci. Quis saber quem era. “É o Fangio” — foi a resposta. Era Juan Manuel Fangio, o famoso piloto argentino. Até esse instante eu julgava que Fangio fosse um palavrão, o único que meu pai utilizava sempre que, no trânsito, algum motorista fazia uma ultrapassagem perigosa. Passei a infância insultando os colegas, na escolinha, de “seu grande Fangio!”, para descobrir, tantos anos depois, que aquilo não era um palavrão. Estava mais para elogio.

Tudo isto vem a propósito da última torrente de obscenidades despejada por Jair Messias Bolsonaro — presidente do Brasil. Não conversei com o meu pai sobre o assunto e espero sinceramente que ele não tenha escutado aquela inacreditável demonstração de grosseria. Receio que sofresse um infarto. No mínimo vociferaria: “Esse indivíduo é um canalha!”.

Bolsonaro não é um presidente — é um atentado ao pudor. Que o próprio se proclame cristão e conservador, e seja levado a sério por tanta gente, é algo que nunca deixará de me surpreender.

O jovem *** ******** é hoje, no Brasil, aquilo que mais se parece com um velho conservador — embora sem a a cultura e o brilho dos velhos conservadores. Ouvi-lo exigir a destituição de Bolsonaro me dá, devo confessar, certa esperança e alento. Sou um sujeito de esquerda que acredita na importância de ter, em democracia, uma direita tradicional, séria, honesta e que se saiba se comportar à mesa. Tudo o que Bolsonaro não é.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Nomes aos bois que puxaram a carroça para o gado

Hildegard Angel 

Só pra lembrar nomes da mídia que com seus artigos, suas colunas, textos de opinião, crônicas, telejornais e programas de TV nos empurraram pra esse precipício. Cada um diz dois nomes. Contando com a memória de vocês.

Jô Soares e Sardenberg 

Vamos dar os nomes aos bois que puxaram a carroça para o gado:

  • Danilo Gentilli e Marcelo Tas
  • William Bonner e Renata Lo Prete
  • Noblat e Fiuza.
  • Valdo Cruz e Mirian Leitão.
  • Lima Duarte e Ari Fontoura
  • Reinaldo Azevedo e Eliane Cantanhede
  • Miriam Leitão e Merval Pereira
  • Gabeira e Maria Beltrão
  • Marco Antonio Villa e Merval Pereira
  • Josias de Souza e José Nêumanne Pinto
  • Neymar e Felipe Melo
  • Datena e Marcelo Resende
  • Siqueira Jr e Luciana Gimenez
  • Dora Kramer e Clóvis Rossi
  • Arnaldo Jabosta e Merdal Pereira.
  • Xico Graziano e Lilian Witte Fibe
  • William Waack e Diogo Mainardi
  • Cristiane Lobo e Gerson Camarotti
  • Regina Duarte e Suzana Vieira
  • Ratinho, Boris Casoy, Rachel Sheherazade.
  • Fernando Gabeira e Luciano Huck.
  • Sérgio Reis e Zezé de Camargo
  • Samuel Rosa e Dinho Ouro Preto
  • Leda Nagle e Ernesto Lacombe
  • Marcelo Tas e Ratinho
  • Faustão e Emílio Surita
  • Ruy Castro e Reinaldo Azevedo
  • Alexandre Garcia e Arnaldo Jabor.
  • Marcelo Tas, Cora Ronai e Vera Magalhães
  • Ariel Palacios e Guga Chacra

Discurso do excelentíssimo senhor Presidente da República


Adão Iturrusgarai

Sertanojo miliciano



Moisés Mendes

A esquerda que ouve esses novos e já velhos sertanejos insuportáveis sustenta bolsonaristas. E tem muita esquerda ouvindo esse lixo.

Não tem essa de música popular, de respeito ao que o povo gosta. Não venham com a conversa de discriminação e com a repetição infantil de que não podemos generalizar.

Não raciocinem pelas exceções. Esses caras da sofrência são hoje a claque mais importante de Bolsonaro.

Waldick Soriano era luxo ao lado desse lixo. Quem ouve essas figuras financia o bolsonarismo.

Esses caras são os Romeros Britos da gritaria neosertaneja. Eles cantam com falsestes grotescos os hinos dos bolsonaristas da Barra da Tijuca, da Paulista, do Moinhos e também das periferias.

Eles pagaram o churrasco de ontem, quando Bolsonaro atacou a imprensa com palavrões. É uma vasta chinelagem que une Bolsonaro, pelo reacionarismo, e a Globo, pelo dinheiro.

Novas definições para Bolsonaro

Ruy Castro 

Outros 146 substantivos e adjetivos que têm sido aplicados a ele 

Na quarta-feira (27), arrolei 24 epítetos para definir Jair Bolsonaro, recolhidos por mim nos mais diversos veículos. Alguns leitores acharam a lista insuficiente. Um deles, meu amigo João Augusto, grande produtor musical, me mandou sua própria lista, que ele começou a compilar já no dia da posse de Bolsonaro. Eis:

Abjeto, abominável, abutre, achacador, acintoso, alimária, amoral, animal, asno, asqueroso, assassino, atroz. Babaca, baderneiro, belicista, beócio, besta-fera, biltre, boçal, boca-suja, bosta, brega, bronco, bufão. Cabotino, cafajeste, cafona, canalha, canastrão, cancro, capadócio, carbonário, cascavel, catastrófico, cavalgadura, charlatão, chulo, cínico, complexado, contagioso, crasso, cruel. Daninho, dantesco, debochado, degenerado, degradante, delinquente, demagogo, depravado, desbocado, desequilibrado, desleal, déspota, desprezível, desqualificado, destrutivo, desumano, doente.

Ególatra, embusteiro, energúmeno, estafermo, esterco, estúpido, execrável. Falso, fanfarrão, farsante, frio, funesto. Grotesco. Hediondo, hiena, hipócrita, histérico, horroroso. Ignóbil, imbecil, imoral, ímpio, indecente, indecoroso, indefensável, indigno, inescrupuloso, infame, iníquo, insano. Jerico, Judas, jumento. Lesivo, lixo, lunático. Malévolo, malfeitor, mesquinho, mitomaníaco, monstruoso, mula sem cabeça. Narcisista, nauseabundo, necrófilo, nefasto, néscio, nojento.

Obsceno, obscurantista, odioso, oportunista. Paranoico, parasita, pária, parvo, patife, peçonhento, pernicioso, perverso, pilantra, pornográfico, primário, pulha, pústula. Rastaquera, recalcado, reles, repelente, réprobo, repulsivo. Safado, selvagem, sociopata, sórdido. Tétrico, tirano, torpe, tosco, traíra, trambiqueiro. Ultrajante. Vândalo, vigarista, vulgar. Xarope. Zoilo.

Com o perdão dos assassinos, necrófilos, bestas-feras e quaisquer categorias que se sintam ofendidas.

Novos xingamentos contra Bolsonaro

Desde sua posse, Jair Bolsonaro já foi chamado de cretino, grosseiro, despreparado, irresponsável, omisso, analfabeto, homófobo, mentiroso, escatológico, cínico, arrogante, desequilibrado, demente, incendiário, torturador, golpista, racista, fascista, nazista, xenófobo, miliciano, criminoso, psicopata e genocida. Os autores dessas desqualificações são cidadãos comuns que escrevem mensagens para os jornais, produzem memes e entopem as redes sociais. Está tudo registrado e seria divertido ver o governo processar tal multidão.

Nenhum outro governante brasileiro foi agraciado com tantos epítetos, a provar que a língua é rica o bastante para definir o pior presidente da história do país. Mas é inútil, porque nada ofende Bolsonaro. Ele se identifica com cada desaforo.

Afinal, foi quem rebaixou o Brasil ao nível de estrebaria de quartel, ao inundar os lares com um vídeo sobre golden shower, chamar um jornalista para a briga (“Minha vontade é encher a sua boca de porrada!”) e ejacular mais palavrões numa reunião ministerial do que em todas as reuniões ministeriais somadas desde 1889.

Seus seguidores absorvem tudo isso porque ainda acreditam que ele livrou o Brasil da corrupção. Não se perturbam com o fato de que Bolsonaro subverte as leis para impedir que seus filhos se sentem no banco dos réus —por corrupção. E não percebem que ele é que é, ao contrário, o grande corruptor —da Justiça, do Exército, da diplomacia, do meio ambiente, da saúde. É o Midas do terror. Ao seu toque, tudo ganha cheiro de vela e se decompõe.

Nos últimos dias, Bolsonaro ganhou dois novos epítetos populares. Um, o de covarde, ao jogar a culpa por seus crimes nos ministros que ele mesmo escolheu e doutrinou.

Outro, e que só agora começa a ser percebido por seu próprio público, o de traidor, ao se pôr de quatro diante dos países, pessoas e instituições que ele ordenou odiar.

Ruy Castro

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Com 1.439 óbitos em 24 h; Brasil tem 3º dia com mais mortes da pandemia


Ricardo Espina 

Colaboração para o UOL, em São Paulo

Nesta quinta-feira (28), o Brasil teve o terceiro maior número de novas mortes por covid-19 registradas em um intervalo de 24 horas de toda a pandemia. De ontem para hoje, foram notificados 1.439 novos óbitos causados pela doença no país.

Também é o oitavo dia consecutivo que o país apresenta média de mortes acima de mil: a média é de 1.064 óbitos nos últimos sete dias. As informações foram levantadas pelo consórcio de veículos de imprensa do qual o UOL faz parte, baseado nos dados das secretarias estaduais de saúde.

A diferença de óbitos em 24 horas é a maior desde 29 de julho, quando foi registrado o recorde de novas mortes entre um dia e outro: foram 1.554. O segundo número mais alto foi computado em 4 de junho, com 1.470. Isso não indica quando as mortes de fato ocorreram, mas, sim, a data em que passaram a constar dos balanços oficiais.

A média de mortes nos últimos sete dias, 1.064, também é a maior desde 4 de agosto, quando foi de 1.066. É o oitavo dia seguido em que o país apresenta média móvel de mortes acima de mil.

A variação na comparação com 14 dias atrás foi de 10%, o que representa estabilidade, ainda que em números muito altos.

A última vez na qual o país teve uma sequência tão longa na média foi entre 3 de julho e 2 de agosto (31 dias). Neste período, foi computado o pico de 1.097 óbitos em média, em 25 de julho.

Das regiões, não há nenhuma em queda. Norte (74%) e Centro-Oeste (28%) apresentaram aceleração. Nordeste (3%), Sudeste (-2%) e Sul (8%) registraram estabilidade.

Dos estados, 13 mais o Distrito Federal tiveram estabilidade. Oito apresentaram aceleração e cinco tiveram queda.

O Brasil também completou hoje três dias seguidos com registro de mais de mil novas mortes causadas pela covid-19. Na terça (26) e na quarta (27) houve 1.206 e 1.319 óbitos, respectivamente, elevando o total de mortes para 221.676.

De ontem para hoje, houve 60.301 diagnósticos positivos para o novo coronavírus; são 9.060.786 infectados desde o começo da pandemia.

O país também atingiu a marca de 1,5 milhão de vacinados contra a covid-19. No total, 1.509.826 pessoas já foram imunizadas até o momento, de acordo com informações fornecidas pelas secretarias de saúde de 22 estados e do Distrito Federal.

O primeiro ditador de verdade





O Brasil viveu períodos de governos autoritários, democracias de fachada e uma rara brecha liberal, entre o fim da Segunda Guerra Mundial e o golpe de 1964. Após o regime militar, sob pesada vigilância do imperialismo norte-americano, o país assistiu à construção da nova ordem internacional que exclui a possibilidade de soberania, isto é, controle da moeda, da ordem pública, das riquezas naturais  e mediação no conflito social.

Os anos de governo do PT revelam, com seus ganhos espetaculares, o custo dessa falta de autonomia e, ao mesmo tempo, como é impossível recobrar a pátria estando o controle efetivo da economia e da sociedade nas mãos de quem presentemente as domina – oligarquias, quadrilhas e corporações que se dão bem  com as altas finanças globais.

Uma coisa é certa: não tivemos, a bem dizer, ditadores, governantes absolutos, senhores únicos do bem e do mal. Teremos agora.

Getúlio Vargas representou grupos articulados de inteligência política: os tenentes, inicialmente, com suas contradições; e o segmento de intelectuais orgânicos que, regendo esses conflitos,  formularam o projeto de nação embutido no Estado Novo. Pode-se odiar Oliveira Viana, Francisco Campos ou Azevedo Amaral – todos eles mal vistos nos registros imediatamente posteriores da História; pode-se fazer pouco de um Gustavo Capanema, desprezar um Goes Monteiro ou um Eurico Gaspar Dutra. Nenhum desses se equipara à constelação de tolos emproados que hoje ocupa Brasília: Dutra, por exemplo, saibam disso, ou tinha excelente assessoria ou argumentava bem por escrito.

Também no regime militar não havia ditadores no sentido clássico: era uma ditadura do comandos militares, em que segmentos conservadores com vernizes civilizados e a soldadesca brava treinada com reflexos condicionados – a linha dura – negociavam as decisões importantes. Assim, tanto Castelo Branco em seus sucessivos recuos, quanto Costa e Silva, no projeto frustrado de “uma constituição democrática”, cederam espaço a tresloucado comando que se expandiria sem freios no contexto continental da Operação Condor,  no governo omisso e vaidoso de Garrastazu Medici.

Ernesto Geisel, um conservador patriota típico, tentou dar rumo à nau insensata, mas enfrentou forte oposição dessa gente que agora segue caninamente o comando insensato de Jair Bolsonaro.

Este, sim, cercado de fanáticos, puxa-sacos e militares de rasa compreensão da realidade, apresta-se a ser o primeiro ditador de verdade do Brasil. Controlará áreas de autonomia técnica, como a gestão de saúde ou educação; o Supremo Tribunal Federal; as duas casas do Congresso: a nova religião oficial do país. Senhor do poder absoluto, não precisará prestar  ouvir ninguém ou oferecer qualquer projeto á nação.

O miliciano liquidante governará aos palavrões.

Xico Graziano, um canalha sem igual

O capitalismo vai destruir o planeta. Só não vê quem não quer.




Não sei se vocês estão acompanhando o que está acontecendo na bolsa de valores dos EUA com as ações da GameStop, uma cadeia de lojas especializadas em games, mas é algo muito interessante. E instrutivo. 

Vou tentar resumir: um subgrupo do Reddit que reúne pessoas interessadas em ações e na bolsa de valores (mas não ligadas a nenhum grande fundo de investimentos) decidiu investir nas ações da GameStop como uma ação conjunta e passaram a comprá-las loucamente. 

Eles escolheram a GameStop por dois motivos: 1) (e isto é suposição) por simpatia pela empresa; e 2) (isto é fato) porque ao valorizarem as ações da franquia, eles trariam um prejuízo bilionário a grandes investidores e fundos de investimentos. 

Como fizeram isso? Bom, como é fácil imaginar, muitos investidores passaram a encarar a GameStop como uma empresa com imenso potencial para afundar - não só por causa do comércio online, mas porque as lojas da franquia, situadas em shoppings, estão fechadas por causa da Covid. 

E aí os especuladores fizeram o que especuladores fazem: decidiram apostar CONTRA a empresa, fazendo o que em inglês chamam de "shorting" as ações. Se vocês viram A Grande Aposta (e recomendo, pois é excelente), sabem do que se trata. Mas basicamente é o seguinte: 

Você pega as ações de uma empresa "emprestadas" e as vende pelo preço de mercado naquele momento. Depois, quando as ações caem, você as compra de volta, devolve e fica com a diferença entre o preço que vendeu e comprou. 

É uma jogada obviamente arriscada, porque se der errado, não há limite para o tanto que você pode perder. Se você compra ações de modo normal e elas afundam, você perde "só" o dinheiro que investiu; no caso do short selling, porém, você perde mais à medida que as ações sobem. 

E como há contratos que determinam o prazo de "devolução" das ações, você é obrigado a recomprá-las pelo preço que estiverem sendo vendidas naquele momento, seja qual for. Em teoria, você pode ter vendido por mil esperando que fossem cair e acabar tendo que comprar por um milhão. 

Tenho certeza de que há várias nuances que me escapam, mas em resumo é isso.

Pois bem: acontece que vários fundos de investimento haviam apostado muito dinheiro que as ações da GameStop iriam cair (o tal "shorting"). Mas graças ao subreddit, elas começaram a subir. 

Um dos fundos já teve que receber um influxo de dinheiro de mais de um BILHÃO de dólares para cobrir as perdas. Mas parece que amanhã vencem os contratos de outros que fizeram essa "aposta" e aí é que se terá uma noção exata da escala do estrago. 

Enquanto isso, os caras que participam do subreddit continuam a comprar ações e a levar o preço pra cima. É uma compra organizada, sistemática, pensada com estratégia.

E está ferrando os grandes investidores. 

Aí, claro, os donos da bola começam a ficar com raiva porque não têm mais controle da narrativa - e alguns querem pressionar pela regulamentação do que ações coordenadas como esta podem ou não fazer, querendo CONTROLAR um fórum de internet. Boa sorte com isso. 

A ironia é que esses grandes fundos, quando apostam contra uma empresa, estão contando justamente que a APOSTA EM SI garantirá que as ações cairão - e muitos fazem apresentações públicas defendendo por que acham que as ações cairão. Ou seja: ELES podem; os outros, não. 

Isto deixa claro como o "mercado" lida não com bens reais, com coisas tangíveis, mas com especulação pura e simplesmente. Não interessa se a GameStop é viável como empresa ou não, se afundar ou salvar a empresa terá efeitos sobre seus funcionários; interessa a ESPECULAÇÃO. 

Este é um dos inúmeros motivos que me fazem desprezar aqueles que veem o "mercado" como guia da economia de um país: ele nada mais é do que uma banca de jogos pra gente rica. Que acaba brincando com as vidas reais por trás de suas especulações. 

E sempre que esta brincadeira dá errado, quem é que tem que correr pra SALVAR os ricaços? Pois é, o povo. Os pobres. Através de pacotes de ajuda oferecidos pelo Estado. Porque o "mercado" não pode parar, imagina. 

Exatamente como agora: esses canalhas são contra regulamentação, querem poder jogar livremente com as vidas alheias, mas quando um grupo de pessoas se organiza por um fórum de internet para ferrá-los, AÍ QUEREM REGULAMENTAÇÃO URGENTE disso. 

(Aliás, já que mencionei A Grande Aposta, sabem o investidor vivido por Christian Bale naquele filme, Michael Burry? Que previu o colapso de 2008 muito antes de acontecer? Pois é, ele tem ações da GameStop e acabou ganhando outra fortuna com essa jogada do subreddit.) 

Mas não vou ser ingênuo como muitos e achar que o que está acontecendo foi uma ação "espontânea" num subreddit. É ÓBVIO que tem gente por trás disso (alguns falaram até do próprio Burry). Porém, como tem bilionários se fodendo, vou aplaudir. 

Dito isso, vamos ver outra notícia que pode parecer não estar relacionada ao lance do GameStop, mas ESTÁ. E aí, sim, deve preocupar todo mundo: há poucos dias, Wall Street passou a aceitar que a ÁGUA se torne um commodity (como o petróleo) e seja comercializada na bolsa. 

E por que isso tem a ver? Porque, como ficou claro com o GameStop (digo: pra quem ainda não via isso), o mercado de ações está à mercê de sociopatas, de gente que trata o ganha-pão alheio como um jogo de roleta. O valor "real" não importa; importa a PERCEPÇÃO. 
E o que faz as ações de uma commodity subirem?

Escassez.

Agora pensem nisso: no que significa a ÁGUA passar a ser "commodity".

Primeiro, isso escancara que se trata de algo que o mercado JÁ SABE que vai se tornar cada vez mais raro. 
E segundo, que os especuladores, os grandes fundos de investimento, agora terão um MOTIVO para "torcer" (e nunca fica só no "torcer"; sempre há ação por trás) para que o valor da água suba. Por demanda ou por escassez.

E repito: o mercado é dominado por sociopatas. 

O capitalismo vai destruir o planeta. Só não vê quem não quer. 

Brasileiros fazendo brasileirices

Vende-se tigre.



Faturamento de shoppings centers no Brasil cai 33,2% em 2020 e regride 11 anos


Valor

Os shopping centers no Brasil registraram a maior queda de sua história em 2020, com retração de 33,2% no faturamento dos lojistas instalados nos empreendimentos, informou nesta quinta-feira a Abrasce, a associação do setor.

O montante atingiu R$ 128,8 bilhões, patamar próximo ao registrado em 2009. A taxa de vacância dobrou e o número de postos no setor caiu 9%.

“Considerado uma análise mais sensata, acredito que levaremos cerca de três anos para conseguir retornar aos níveis de venda pré-pandemia”, disse Glauco Humai, presidente da entidade em entrevista a jornalistas nesta manhã.

Para 2021, a projeção da associação é de um aumento de 9,5% nas vendas, mas essa estimativa pode ser revista ao longo do ano. “Há uma série de questões, como desemprego em alta, o auxílio emergencial e a pressão inflacionária. Ainda há também a própria capacidade de o setor reagir, como um aspecto positivo, então iremos voltar a analisar essa projeção nos próximos meses”, disse ele.


Sem o impeachment, afundaremos na desordem e no arbítrio



FORA BOLSONARO!


 
O “Fora Bolsonaro” só pode realizar-se mediante o impeachment, a alternativa constitucional de que dispõe o presidencialismo.

Impeachment não é mera decisão político-jurídica. Antes de tudo, compreende movimento social poderoso, alcançando todos os segmentos da opinião nacional. No fundo, trata-se de reação da soberania popular traída pelo cometimento de crimes de responsabilidade.

 O ápice do movimento é a homologação pelo Congresso. Na formalidade jurídica do impeachment, o parlamentar cumpre seu papel premido entre vantagens que podem auferir do governante ameaçado e a preservação de sua própria legitimidade política.

Quando, em 1992, Ibsen Pinheiro pautou o impeachment de Collor de Mello, a opinião da sociedade estava formada. A constitucionalidade, no caso, podia ser discutível, mas o Presidente já não governava, aguardava a consumação do rito congressual.

O caso de Dilma Rousseff ilustra ainda melhor o processo. A mandatária foi cassada sem crime de responsabilidade. O Congresso dobrou-se à bem sucedida campanha golpista que objetivava condenar a esquerda. O mandato de Dilma teria sido preservado, caso não estivesse desvalida de apoio de massas.

O impeachment é viabilizado nas ruas e termina no julgamento do Senado. Entre os pontos de partida e de chegada, há uma travessia que se faz ao caminhar: o movimento cria sua própria amplitude e  legitimação.

Hoje, o pleito do impeachment, ou o “Fora Bolsonaro”, é palavra de ordem aglutinadora de uma indisposição social crescente. Crimes de responsabilidade se acumulam, mas o que conta é o fato de parcelas consideráveis da sociedade repudiarem o governo genocida e não se conformarem com sua permanência.

Um conjunto minoritário e decrescente apoia Bolsonaro baseado em crenças desarrazoadas, promovidas pelo ativismo obscurantista, predisposto a negar a realidade. Mobilizado pelo apóstolo do caos, este conjunto opera em favor do confronto sangrento. Alguns têm como horizonte a guerra civil sonhada pelo Presidente. Amparado por homens armados, o genocida não hesita em sabotar os laços da união nacional.

 A maioria dos brasileiros vive no desassossego, no medo e na incerteza desmobilizadora. Teme a peste e sofre a dor de perdas irreparáveis; sufoca em lágrimas o grito de revolta.

Os mais pobres não têm como como driblar a fome. Abatidos e atônitos, pais e mães de família perdem a esperança de encontrar trabalho.

 Os pequenos e médios empresários vivenciam o pavor do encerramento de seus negócios. Servidores públicos assistem indefesos às ameaças de cortes de salários.

A sociedade mergulha na desesperança paralisante enquanto os pouquíssimos beneficiados com a política de desmonte do Estado, dos direitos sociais e da proteção ambiental acompanham apreensivos os rumos do país. Sabem que a fúria popular tem seu preço. Observam matreiros as propensões sociais medindo o tempo de validade do Presidente.

Alguns relutam em retirá-lo partindo de um raciocínio amoral: “deixa o governo sangrar para que seja mais facilmente derrotado!”. O repugnante desta forma de pensar é o menosprezo pela vida dos brasileiros. É raciocínio de criminoso.

Outros, julgam que o impeachment seria a concretização de diabólico planejamento militar: os descalabros e sandices do Presidente teriam o efeito de provocar o caos para em seguida a ordem ser reposta pelas fileiras. Pela enésima vez os soldados salvariam a pátria. Esta é uma possibilidade que merece consideração.

É necessário pensar em impeachment imaginando tanto o processo em si quanto o dia seguinte, notadamente em virtude de o substituto constitucional do titular não merecer confiança. O atual Vice não reproduziria as atitudes grosseiras e apelativas do titular, mas endossaria, assim como os seus fiéis colegas de farda, as linhas gerais do governo. A rigor, constituem o próprio governo.

Ocorre que a mobilização popular pelo impeachment pode condicionar o dia seguinte. O Fora Bolsonaro só será inconsequente caso não aponte  mudanças de teor na condução do governo. Não basta mandar Bolsonaro para casa ou para a cadeia. Cabe derrotar politicamente as forças que o patrocinam, entre elas, militares que, subvertendo a Ordem, atuam como atores políticos em detrimento de suas funções institucionais. 

Substituindo Bolsonaro, Mourão terá que respeitar os desígnios de uma sociedade mobilizada pela defesa da vida e do próprio Estado. Os quartéis se dobrarão à vontade social mobilizada. Saberão que passou o tempo de salvar a pátria em nome do povo bestificado.

O impeachment precisa significar o fim da curatela castrense e o estabelecimento de um acordo entre forças políticas que garanta a governabilidade segundo um programa emergencial básico. Do contrário, o ruinoso quadro brasileiro será agravado.

No processo de impeachment as teses sobre os rumos do país irão se firmando e se impondo. As múltiplas demandas serão explicitadas. Haverá confrontos programáticos, porém, não mais reservados ao pequeno número de dirigentes partidários e os donos da riqueza.

O pleito do impeachment será o imã que agregará as variadas aspirações de nossa sociedade. Hoje, contrapor-se ao impeachment é apostar na paralisia e no caos. Defende-lo é lutar pela ordem democrática, pela dignidade nacional, pela defesa da sociedade e pela retomada do desenvolvimento.

Sem o impeachment, afundaremos na desordem e no arbítrio.

Fora, Bolsonaro!


Brasil é o país que pior lidou com a pandemia, aponta estudo que analisou 98 governos


Nova Zelândia foi classificada como a melhor gestão da crise sanitária no mundo 

Rafael Balago

O Brasil foi o país que teve a pior gestão pública durante a pandemia, apontou um estudo feito pelo Lowy Institute, centro de estudos baseado em Sydney, na Austrália.

O país ficou na última posição entre 98 países avaliados. México, Colômbia, Irã e Estados Unidos também tiveram notas muito baixas.

Na outra ponta da lista, a Nova Zelândia foi apontada como país que melhor lidou com a crise sanitária. Vietnã, Tailândia e Taiwan também aparecem entre os melhores exemplos. A Nova Zelândia praticamente erradicou o vírus com fechamentos de fronteira precoces e drásticos, entre outras ações.

O estudo levou em conta seis critérios: casos confirmados, mortes, casos e mortes por milhão de habitantes, diagnósticos em relação à proporção de testes e exames feitos a cada mil pessoas. A pesquisa se concentra nos dados registrados nas 36 semanas seguintes após a confirmação do 100º caso em cada país.

O levantamento aponta que países da Ásia e do Pacífico, na média, tiveram maior sucesso ao conter a pandemia. E aponta que a Europa teve bom desempenho ao conter a primeira onda, mas acabou sucumbindo à segunda alta de casos, no fim de 2020, em parte por conta da facilidade de deslocamento entre os países do continente.

Já nas Américas, o patamar de casos se manteve elevado ao longo dos meses, com altas a partir da reta final de 2020. Os países da região tiveram nota média de 33,8 no combate à pandemia, sendo que o Brasil teve nota de 4,3, em uma escala que vai até 100.

O índice das Américas ficou abaixo de todas as outras. África e Oriente Médio tiveram média 49. A Europa, 51, e a Ásia-Pacífico, 58,2.

O Brasil registra mais de 220 mil mortes por coronavírus, e é o país com mais mortes atrás dos Estados Unidos, que teve 429 mil vidas perdidas até agora.

Os dois países mais populosos do continente americano tiveram em comum governos de líderes populistas —Jair Bolsonaro e Donald Trump— que minimizaram ativamente a ameaça da Covid-19, ridicularizaram o uso de máscaras, opuseram-se a confinamentos e fechamentos, e foram pessoalmente infectados pelo vírus.

A China —onde o vírus foi detectado pela primeira vez, no final de 2019— não está incluída na lista por falta de dados de diagnóstico disponíveis ao público, segundo os autores.

De acordo com os autores do estudo, Pequim tentou agressivamente manipular a percepção pública de como estava lidando com a epidemia para provar que seu sistema autoritário é superior a governos democráticos.

O Lowy Institute afirma que não há um vencedor claro quando se trata de saber qual sistema político administrou melhor a pandemia, porque, em praticamente todos os países analisados, a resposta foi ruim. “Alguns países administraram a pandemia melhor do que outros, mas a maioria deles se destacou apenas por seu desempenho insatisfatório”, observa o estudo.

“Em geral, os países com menos populações, sociedades mais coesas e instituições bem treinadas têm uma vantagem comparativa quando se trata de lidar com crises globais como a pandemia”, revela o estudo, sobre paises com menos de 10 milhões de habitantes.

Em todo o planeta, mais de 100 milhões de pessoas foram infectadas com o vírus e quase 2,2 milhões morreram por conta dele desde dezembro de 2019, segundo os dados oficiais.

O Menino Miliquinho


Vacinação em massa


Augusto Bier

O hora dos oportunistas

Claudio Guedes

O governo do ex-capitão é um desastre no varejo e no atacado. Diante da crise econômica provocada pela pandemia a única ação concreta foi o auxílio emergencial, que foi importante, mas nada tem de criativo, significa apenas abrir o cofre da União e distribuir dinheiro. 

No combate à pandemia todas as iniciativas foram erradas. A reboque acabou "engolindo" as iniciativas de terceiros, notadamente as tomadas pelo governador de São Paulo e pelos cientistas/médicos do Butantã e Fiocruz.

A nova (sic) política de Bolsonaro & filhos transformou o governo num balção de negócios com os parlamentares eleitos na onda conservadora de 2018 - um Congresso onde medíocres e safados superam o que de pior já tínhamos visto no país nas últimas décadas. No mundo, Bolsonaro & Araújo (o alucinado) transformaram o Brasil num pária. 

O ambiente é fértil para oportunistas. É a hora deles. 

É possível que Bolsonaro faça os presidentes das casas do legislativo federal. Os rachas no DEM, no PMDB e nos partidos de oposição (na esquerda, em particular) deverão fortalecer as maquinações fisiológicas do ex-capitão. 

A hora é dos oportunistas e dos que se lambuzam de pão cacetinho com leite condensado.

O desastre vai se aprofundar. 

O governo Bolsonaro é o governo da destruição nacional. De positivo, a sociedade civil está acordando e as manifestações de repúdio ao governo, pelo impeachment e de repulsa ao desqualificado que despacha no Planalto crescem dia-a-dia. Poderão se transformar em uma onda irresistível. É uma esperança.