sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Respondendo aos leitores

Exatamente

Tati Bernardi
Respondendo a alguns leitores deste jornal que me escrevem semanalmente
Cara colunista, ao dizer que não respeita quem votou no Bolsonaro, você está querendo dizer que, contra tudo o que prega a democracia que tanto defende, você não aceita um voto diferente do seu? 

Exatamente. Nesse caso específico, votaram contra a democracia, e quem o faz não merece ser respeitado democraticamente.

Mas, ao dizer que não tolera quem votou no Bolsonaro, sobretudo em tempos violentos como os nossos, não estaria você fomentando brigas?

Exatamente. Sou adepta de muita briga. No espaço virtual, no elevador, nas festas, nas reuniões, nas universidades (se restar alguma) e, sobretudo, nos almoços em família.

Para garantir um país sem armas e agressões físicas, a fim de assegurar uma vida menos desgraçada para, por exemplo, mulheres, pobres, negros e LGBTs, é preciso, quem diria, quebrar o pau. Reclamar, escrever, discutir.

Quando escreve que considera ignorante, mal-intencionado ou perverso quem segue apoiando esse governo, não estaria você se julgando melhor que os outros?

Exatamente. Eu acho isso mesmo. Eu não tenho maturidade, bondade no coração e espiritualidade suficientes para pensar diferente.

Se você apoia o governo do preconceito, do racismo, da ignorância, das milícias, da perseguição a professores, do fim da cultura, do fim da ciência, do nazismo, me desculpe, mas ou você não entendeu nada e lhe falta leitura ou você entendeu tudo e lhe falta humanidade ou você se considera acima do bem e do mal (e, portanto, as leis civilizatórias não lhe servem).

Tati, metade dos meus amigos gosta do Bolsonaro e eles não são idiotas. Eles fizeram GV!

Exatamente! Eles fizeram GV e são idiotas! Que absurdo, né?! Para você ver que fazer GV não salva ninguém de ser imbecil. Nem USP nem mestrado nos Estados Unidos. 

Mas, Tati, você acharia melhor que o PT continuasse no poder?

Exatamente. Eu votei no Ciro no primeiro turno da eleição passada. E votaria até no PSDB se fosse para tirar o atual governo.

Eu também tenho bode do PT, porém apoiar esse governo é um crime contra a moralidade e a decência. E moralidade e decência, na minha opinião, nada têm a ver com religião e conservadorismo.

Tati, lembra de mim? A gente era primo de primeiro grau até 2018. Você sumiu, te chamei para a festa dos gêmeos no buffet Mickey Amigão e você não apareceu. Anda ocupada ou tudo isso é só porque eu votei no Bolsonaro? 

Exatamente. Perceba em minhas redes sociais: eu vou a restaurantes, viajo, leio, faço novos amigos e tatuagens.

Tentei na terapia e na meditação, mas meio que você morreu para mim em algum lugar muito profundo, ancestral e primitivo. Beijo nas crianças (e coitadas delas!).

Tatiana, você deve ter faltado mesmo às aulas de história. Você segue se recusando a discutir o que é o fascismo.

Exatamente. Faltei a algumas por motivo de putaria. Eu peguei geral na época da escola e no período da faculdade e até bem pouco tempo atrás. Putaria é um troço maravilhoso.

Alguém avisa a Damares que não faz sentido parar de transar antes do casamento porque é justamente durante o casamento que a gente para de transar.

Fascismo não se discute, tampouco se pondera. Ou é fascista ou não é. Se você insiste em debater se um governo fascista é fascista, sinto muito, não falo com fascistas. E meu nome é Tatiane.

Cronista da Foice de SP, estou cansado de você só escrever palavrão e papo furado de esquerda.

Exatamente, eu também estou. Contudo, até que pessoas como você entendam a merda em que nos metemos e como estamos fodidos, eu vou ter que continuar com essa porra.

Tati Bernardi
Escritora e roteirista de cinema e televisão, autora de “Depois a Louca Sou Eu”.

Mentes que brilham


John Wetton



John Kenneth Wetton (12 de Junho de 1949 – 31 Janeiro de 2017)

Red / Book Of Saturday / Easy Money / Starless

Live 2003

Profissionalismo é isso aí


Nelson Motta

Ninguém sabe o autor, mas algum machista debochado cunhou a célebre máxima da falta de profissionalismo dos brasileiros: “É o país onde puta goza e cafetão tem ciúmes”.

Mas hoje a pergunta é: qual o problema se elas conseguem unir o útero ao agradável? O cliente só tema ganhar, em prazer e orgulho de sua virilidade.

E o que impediria um cafetão de se apaixonar por uma agenciada? Ou só elas podem se apaixonar por eles, como no velho clichê de bas-fond?

Com a explosão da cocaína e do tráfico no Rio nos anos 80, foi acrescentada à lista de falta de profissionalismo nacional mais um item: “onde o traficante é viciado”.

E Tim Maia completou: e pobre é de direita.

Atualizando. É onde o presidente diz que o nazismo era de esquerda. E um secretário de Cultura queria criar um nazicristianismo tropical. E 11 milhões de cidadãos acreditam que a Terra é plana. E outros milhões que a ditadura foi boa para o Brasil.

Acada novo governo muda a História do país. Até para trás. Aqui até o passado é incerto, ensina o professor Pedro Malan.

É onde os bandidos querem julgar os juízes e prender os xerifes. E juízes perdem o juízo. E muitos deles ganham, e outros também querem, ganhar muito mais que o presidente da Republica.

E o castigo de juízes corruptos condenados é aposentadoria com salário integral.

E funcionários têm aumentos e vantagens por tempo no serviço público, quinquênios, decênios, licença-prêmio, como se fosse um esforço extra, quando só estão cumprindo seu contrato de trabalho. E qualquer aspone tem carro com motorista.

Agora chegamos a novos patamares, com um ministro da Educação sem educação, que só deseduca com seus erros de português e suas mentiras bisonhas e sempre desmentidas. O seu exibicionismo canhestro lembra o sábio provérbio rural mineiro :“Macaco que muito mexe quer chumbo .” E o Abraham sai sempre chamuscado. Mas esse já está pela bola sete.

Millôr Fernandes, sempre ele, disse tudo : “O Brasil é o único país em que os ratos põem a culpa no queijo.”

A crise é acima de tudo estética


Vinícius Carvalho

Em Porto Alegre, um cara de 24 anos de idade matou uma família inteira com tiros na cabeça, pai, mãe e filho, por causa de uma discussão de trânsito.

O cara é um evangélico neopentecostal chamado Dionatha (a crise é acima de tudo estética, eu digo), idolatra coisas militares, fotos em motos, carros e, pesquisando suas redes sociais, adivinha em quem ele votou e fez campanha apaixonadamente?

Pois é.

É sério gente, eu estou pouco me fodendo se vocês acham que generalizar é errado, mas eu generalizo sim. E nem vou pedir desculpas não, acho que todo bom samaritano que fica repetindo "ain, o povo não é facista, ele só está confuso", "ain, a gente não pode achar que todo bolsomion é canalha", pra mim é um otário e eu quero distância.

Quando eu digo que a vitória do Bolsonaro, foi muito mais que a vitória de um campo político, foi a vitória de um campo cultural, eu não tô de brincadeira.

*Em tempo

Eu sou muito apegado à estética cultural, o que confundem com vaidade. Não tem nada a ver uma coisa com a outra. Eu não ligo para roupas, marcas e afins. Uma estética cosmopolita, urbana, minimalista, que tenta negar e se afastar de excessos, de gourmetização, de breguice, de exageros é outra coisa, ôtro patamá. É a negação de um estilo de vida hiper consumista que desemboca num apego ao neoliberalismo, a humanidade em segundo plano e, automaticamente, é gerador de violências e perpetrador de pautas políticas estúpidas e reacionárias.

Dito isto, se eu conheço alguém que se chama DIONATHA, eu já me afasto. Porque não é possível que alguém que tenha sido batizado de Dionatha não tenha passado por severas questões educacionais e culturais dentro de casa.

Eu hein.

O realismo mágico na América do Sul

Nossas cores



Incompetência, autoritarismo e desvario ideológico


Apagão gerencial

Editorial da Folha de S. Paulo

Parece não ter fim a desastrosa saga do Enem sob o governo Jair Bolsonaro. A pressa em retificar os erros nas notas de milhares de alunos que prestaram a prova fez com que o Inep, órgão do MEC a cargo do exame, deixasse de cumprir uma das etapas do processo de correção. 

Ainda que o desempenho dos estudantes tenha, de fato, sido reavaliado após a falha vir à tona, não se recalculou, a partir dos novos índices de acerto, os parâmetros que balizam os pesos das diferentes questões do exame, conforme revelou reportagem desta Folha.

Tal aspecto afigura-se crucial, pois o Enem adota uma metodologia na qual o nível de dificuldade das perguntas é definido pelo desempenho dos alunos. O resultado final depende tanto do número de acertos como de quais questões foram assinaladas corretamente.

Promover essa recalibragem da prova, avaliam técnicos do MEC ouvidos pela reportagem, poderia produzir alterações nas notas capazes de modificar a lista de aprovados nos cursos mais concorridos.

O procedimento, contudo, tornaria mais longo o tempo de reanálise dos resultados, que obrigaria o governo a atrasar o cronograma do Sisu, o sistema que seleciona alunos para as universidades federais pela nota do exame.

Ou seja, para transmitir uma imagem de controle da situação e evitar um vexame ainda maior, o MEC produziu potencialmente novas injustiças nos resultados do Enem.

Por mais que haja divergências a respeito dos impactos da decisão do Inep, a falta de transparência do ministério já produziu uma espessa nuvem de desconfiança sobre o principal instrumento de acesso ao ensino superior público no país.

Não há, portanto, como não concordar com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, quando ele chama de desastrosa a gestão de Abraham Weintraub à frente do MEC. A inépcia governamental, contudo, não traz somente prejuízo aos estudantes que buscam uma vaga nas universidades. 

Ela também aumenta a probabilidade de que pessoas morram ou percam suas casas em tragédias climáticas, como se viu nas copiosas chuvas que se abateram sobre Minas Gerais e Espírito Santo, devido à não utilização das verbas previstas para desastres naturais.

Inferniza a vida de mais de 1 milhão de brasileiros que aguardam uma resposta do INSS para seus pedidos de aposentadorias e auxílios-doença. Subtrai a única renda de uma multidão de miseráveis que se viram excluídos do Bolsa Família ao longo do ano passado.

A incompetência, em suma, vai grassando na máquina pública e se convertendo, ao lado do autoritarismo e do desvario ideológico, em mais uma forte marca da administração federal.

Rodízio na frigideira

Neste governo, quem não pertence ao clã Bolsonaro pode cair em desgraça da noite para o dia. Até durante as férias.
Bernardo Mello Franco

O governo Bolsonaro inventou o rodízio de fritura política. Na semana passada, o presidente chamuscou o ministro da Justiça, Sergio Moro. Agora é a vez do chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni.

O ministro foi torrado nos últimos dias de férias. Pelo Twitter, Bolsonaro comunicou a demissão de seus dois auxiliares mais próximos. Além disso, transferiu o Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) para o Ministério da Economia.

Onyx frequenta a frigideira desde o sexto mês de governo, quando o presidente entregou a articulação política ao ministro Luiz Eduardo Ramos. Deputado de cinco mandatos, perdeu o posto de negociador para um general recém-chegado a Brasília.

As mudanças de ontem esvaziam de vez a Casa Civil, que já foi a pasta mais poderosa da Esplanada. “É a pá de cal”, resume um dirigente do DEM. Ele explica que o poder de um ministro da área política se mede pela influência sobre o Orçamento e sobre as nomeações federais. “O Onyx ficou sem as duas canetas”, sentencia.

A nova fritura foi detonada pelo caso de Vicente Santini, que usou um avião da FAB para ir à Índia. Na terça-feira, Bolsonaro disse que a atitude era “completamente imoral” e demitiu o aliado de Onyx. Na quarta, cedeu a um pedido dos filhos e decidiu recontratá-lo como assessor especial. Ontem Santini levou outro cartão vermelho, o segundo em 48 horas.

O episódio mostra como o presidente é sensível aos humores das redes sociais. Ao notar a decepção dos apoiadores, ele recuou do próprio recuo. A conta sobrou para Onyx. Agora ele terá que escolher entre duas opções incômodas: engolir a humilhação no palácio ou reassumir o mandato de deputado.

O ministro comprou as ações do capitão na baixa. Foi um dos primeiros políticos a estimular sua candidatura ao Planalto. Como recompensa, ascendeu do baixo clero da Câmara à chefia da Casa Civil.

Sua fritura reforça uma lição que já foi aprendida por outros bolsonaristas. Neste governo, quem não pertence ao clã Bolsonaro pode cair em desgraça da noite para o dia. Até durante as férias.

A incompetência assombrosa de Weintraub


Luis Felipe Miguel

A incompetência na gestão do MEC é assombrosa, mesmo para os padrões elásticos do atual governo. O que Weintraub oferece - destruição de toda a educação pública, vantagens para grupos privados - outros também estariam dispostos a entregar, mantendo uma fachada mais limpa. Por que, então, o ministro não cai?

Meu palpite é que ele pratica uma forma de manipulação sobre Bolsonaro - primária, como as duas personagens envolvidas. É seu destempero verbal que o mantém no cargo: Bolsonaro não quer que pareça que está demitindo alguém pelas "virtudes" que ele mesmo apresenta, como grosseria, estupidez, incivilidade.

Matéria da Folha de hoje fala da "rixa" de Rodrigo Maia com Weintraub. A alturas tantas, cita a medida provisória lançada na véspera do Natal, que altera a escolha de reitores e outros dirigentes das universidades e dos institutos federais, destruindo qualquer possibilidade de democracia interna e ampliando de forma quase indiscriminada a possibilidade de intervenção do MEC, e diz que ela "corre o risco de ser deixada de lado" - isto é, perder validade por não ter sido apreciada pelo Congresso no prazo de 120 dias.

Ora, a não-aprovação da MP 914/2019 é absolutamente insuficiente. Afinal, até lá ela estará vigente, tumultuando processos eleitorais em curso em várias instituições. Lembrando que o prazo só conta a partir do reinício do trabalhos legislativos, isto é, dia 2 de fevereiro.

O correto é que a medida provisória seja devolvida pelo presidente do Congresso, senador Davi Alcolumbre, dada sua flagrante inconstitucionalidade.

Uma inconstitucionalidade dupla, aliás. Quanto à forma, uma vez que não cumpre os requisitos do artigo 62 da Constituição Federal, que exige relevância e urgência para a emissão de tais medidas pelo Poder Executivo. E quanto ao conteúdo, já que agride frontalmente o artigo 207 da carta de 1988, que garante às universidades "autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial".

As universidades e os institutos federais já têm suas atividades comprometidas pelos ataques incessantes do atual governo. A MP 914/2019 lança mais uma sombra sobre o nosso dia a dia. Devolvê-la ao Executivo, interrompendo sua vigência de imediato, é absolutamente necessário.

Ausência presente

Luis Fernando Verissimo

Vem aí outro carnaval, trazendo lembranças de outros carnavais, que trazem lembranças de outros, que lembram outros que, por sua vez, lembram outros, e assim por diante - ou para trás, até o primeiro tamborim. O carnaval deste ano vem carregado de memórias especiais, e não foi preciso ir muito longe para evocá-las. Basta lembrar a Mangueira do ano passado, a Mangueira do belo samba-enredo História para Ninar Gente Grande, da Manu da Cuíca e do Luiz Carlos Máximo, e do inesquecível clipe do samba gravado para a TV pela Cacá Nascimento. A Mangueira política, a Mangueira campeã. O começo - imaginaria você - de um levante, ou coisa parecida, contra o esquecimento que ameaçava apagar a Marielle Franco da memória nacional, não como um estorvo, mas como alguém que nunca existiu. 

O samba-enredo da Mangueira de 2019 citava Marielle entre outras guerreiras brasileiras, mas uma das alas do desfile incluía grandes retratos dela, aplaudidos pelo público. Não se espera que uma escola de samba tenha o poder de denunciar assassinos e cobrar justiça a céu aberto, mesmo com um samba empolgante, mas o que desfilou na avenida aquele dia foi a ausência da Marielle, ao som de “Marielle presente” gritado da arquibancada. A ausência presente de Marielle já dura muito. Dura desde o outro carnaval! 

Quem matou Marielle? Quem mandou matar Marielle? Doutor Moro, é com você. Como vai a investigação sobre a morte de Marielle? Alguém sabe? Alguém se interessa em saber? Não é uma vergonha para a nação esse grande silêncio em meio à batucada? Já ouvi o samba da Mangueira deste ano. Fala de um Jesus favelado. É bom, é forte, já está dando briga. Só espero que ninguém se esqueça de, volta e meia, dizer “Marielle presente”. Talvez só o que esteja faltando nas manifestações da avenida seja a insistência.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

Macaquices na Monção...


Saída do ministro Weintraub virou um clamor nacional

No fundo, todo liberal é um canalha


Vinícius Carvalho

Eu sabia que me arrependeria do dia em que saí em defesa do Porta dos Fundos contra os ataques que eles sofreram.

E este dia chegou. Eu só achava que ia demorar um pouco mais...

No fundo, esse novo humor brasileiro (que por sinal não tem graça, se vocês me mostrarem um vídeo engraçado do Porta dos Fundos, eu lhes provo que galinha tem dentes e, mais ainda, corro pelado toda a Avenida Rio Branco), mesmo tentando limpar a biografia, é diretamente co-responsável pelo neofascismo tupiniquim. Vocês podem me achar chato, arrogante e insuportável, mas é que quem cresceu ouvindo Gangrena Gasosa, Moreira da Silva, assistindo Hermes e Renato e morando mal, no meio de um monte de fodido hilário, não consegue achar graça em humor de branco do Leblon, de porto alegrense do Moinhos de Vento e de paulistano de Higienópolis. É humor de otário, de paga lanche, de piá de apartamento.

É igual botar o Foo Fighters, rock que mamãe gosta, pra competir contra o Suicidal Tendencies. É óbvio que o Suicidal Tendencies vai botar o Foo Fighters pra mamar. Foi que nem o UFC que rolou no Aeroporto do Galeão entre o Chorão e o Marcelo Camelo, é lógico que o CHEROLAINE da Baixada Santista vai dar um socão no mendigo chic da PUC-Rio.

Você pega o Pânico, o Pretinho Básico e o Porta dos Fundos e tem a certeza que aquilo é humor para cachorros paralíticos e com microcefalia.

Pois bem, dito isto, foi curioso ver aquele rapaz carioca rosado, mimoso e afetado, que atende pela alcunha de Fabio Porchat, no programa de outro jornalista medíocre, um rato de esgoto, emocionado, fracassado e de extrema-direita, Rica Perrone, equiparando e formando uma simetria entre Lula e Bolsonaro, e, pior, vendo saldo positivo no governo Bolsonaro por este ter tirado o PT do poder.

É burro, masoquista e merecedor de toda a violência ideológica que ele a sua horda de humoristas frustrados e sem graças sofrem. E eles só tem relativo sucesso por serem filhos de bacanas do RJ, porque talento não possuem, e pelo fato de nossa sociedade beirar a demência de dar views para aquele lixo.

Aí toma-lhe papai bancando as aventuras dos pimpolhos pra lá e pra cá.

Inclusive, um dos participantes do Porta dos Fundos, é um ex-dirigente do Flamengo, do continuísmo dessa mesma diretoria de extrema-direita e bolsonarista que está aí. Essa mesma que homenageia ditadores, militares e os deputados que quebram a placa da Marielle, e recusam homenagens ao Stuart Angel, ex-atleta do mesmo Flamengo, assassinado "na ponta da praia" pela ditadura militar após dias de tortura e asfixiado por fumaça de diesel com a boca introduzida no cano de descarga de um jipe. Esse mesmo participante é um notório reacionário, entusiasta do Partido Novo e Instituo Milenium e dono de um site de "humor" conhecido por plagiar os outros. Seus plágios inclusive viraram verbo, "kibar".

Não obstante, quando bandidos de sua torcida mataram um torcedor do Botafogo com um espeto de churrasco, ele foi correndo para o twitter contemporizar os assassinos, e, após uma passada de pano homérica e vergonhosa sobre um assassinato oriundo de uma briga de torcida estúpida, ele termina com a frase, "Flamengo, somos todos menos alguns". De fato, naquele dia, foi menos um torcedor do Botafogo.

Olhem como o Partido Democrata do Leblon e o Partido Nazista do Morumbi, no frigir dos ovos, se tocam. Um dos roteiristas e participantes do Porta dos Fundos, que sofreu ataque da extrema-direita integralista é, também, um entusiasta do extremismo direitista e inclusive divide a cama no seu clube de coração, o Flamengo, com homenageadores de gente que fuzilou a Marielle.

O 69 que deve rolar entre o Gregório Duvivier e o Antonio Tabet, virando menáge quando o Fábio Porchat entra no quarto, deve ser uma coisa dantesca, de dar inveja ao cineasta italiano Pier Paolo Pasolini quando o filmou o clássico "Saló - 120 dias em Sodoma". O problema é que a cropofagia aqui, ou seja, o ato de comer fezes por prazer, fica sob responsabilidade dos telespectadores.

É curiosa a lógica de preconceito de classe, de raça (contra nordestinos) e de ódio gratuito de Porchat. Mesmo após seu séquito de arrombados sofrerem ataques motivados por uma ideologia que prega o extermínio, ele, sentado no sofá de um neofacista, traça uma simetria entre um democrata nato de centro-esquerda, com um ex-militar terrorista e de extrema-direita.

No fundo, todo liberal é um canalha. Não é a toa que Mises defendeu Mussolini e Hitler contra a União Soviética. E aqui, Porchat e esses progressistas da Praça São Salvador fariam o mesmo.

Chico Buarque fala sobre Democracia em Vertigem e diz que o Brasil é governado por loucos





“O que a gente vê ali assistindo as cenas hoje, dá impressão de que estavam brincando com a democracia.. o resultado está aí: temos hoje um país governado por loucos.”

Orvalho de Cavalo diz que Bill Gates criou o coronavírus

Esta besteira não está relacionada com o material abaixo (só que sim).

Olavo culpa Bill Gates por coronavírus no Brasil
Polemista Astrólogo compartilhou vídeo que atribui a chegada do vírus ao fundador da Microsoft


Olavo de Carvalho foi mais rápido do que o Ministério da Saúde em detectar as suspeitas de coronavírus no Brasil e o culpado é... Bill Gates.

O polemista compartilhou em suas redes sociais um vídeo de um youtuber que atribui a patente do vírus ao criador da Microsoft.

"O Bill Gates patenteou o coronavírus e tudo isso tem um objetivo: redução populacional", diz o autor do vídeo, sem explicar a relação entre uma coisa e outra.


Negação e descaso agravam impacto do clima no Brasil

Governos locais e federal ignoram chuvas que voltam a cada ano, agora com intensidade crescente
Marcelo Leite

Os 54 mortos e 46 mil desalojados em Minas Gerais, até a manhã desta quarta-feira (29), são vítimas da pior chuva no estado em 110 anos para os quais há dados. Nunca se registrou tanta água em Belo Horizonte.

De quinta para sexta-feira (23/24) foram 172 mm, mais da metade da média para todo o mês de janeiro (330 mm). Na noite de terça (28), a capital mineira enfrentou novo temporal, quando se despejaram sobre sua região centro-sul 176 mm, a maior parte no intervalo de meras três horas.

Fenômenos de precipitação assim intensa se encaixam com perfeição no conceito de eventos climáticos extremos tais como previstos nas projeções dos efeitos do aquecimento global, ou efeito estufa agravado pelas emissões de carbono das atividades humanas. Há outros, como ondas de calor, secas e incêndios florestais a assolar a Austrália.

É uma questão de física. A energia de origem solar adicionada à atmosfera por um cobertor mais grosso de gases do efeito estufa que impedem seu retorno ao espaço, como o dióxido de carbono resultante da queima de combustíveis fósseis, intensifica a evaporação, a produção de nuvens poderosas e o choque entre massas de ar, produzindo tempestades ciclópicas.

Encaixar-se no conceito não prova causalidade. Mas há indicação abundante de que eventos extremos se tornam mais frequentes, como nas duas tormentas seguidas em BH. A incerteza que persiste na ligação entre uma coisa e outra não justifica deixar de agir sobre a informação segura que já existe sobre vulnerabilidade a tais cataclismos.

A capital mineira conta, há mais de uma década, com uma carta de áreas de inundação para orientar prioridades de seu Plano Diretor de Drenagem Urbana, datado de 1999. Como justificar que, em tanto tempo, não se tenham feito os piscinões e obras de desimpermeabilização do solo para represar ou dar passagem livre às águas?

Chuvas de verão flagelam todos os anos moradores empobrecidos das áreas de risco para enchentes e deslizamentos. A previsão de que temporais se agravem com a crise do clima só constituiria razão adicional para os governantes adaptarem as cidades e suas redes de drenagem para isso, mas a maioria prefere pôr a culpa em São Pedro a cada desastre.

Pior ainda quando o mau exemplo vem de Brasília, onde se instalou pelo voto popular um governo de negacionistas do aquecimento global. O Plano Nacional sobre Mudança do Clima adotado em 2007 (governo Lula) dorme em alguma gaveta do Planalto, se é que não foi parar na lata do lixo.

Coincidência ou não, o gasto do governo federal com prevenção de desastres em 2019, sob o presidente Jair Bolsonaro, foi o menor em 11 anos, como noticiou a Folha quarta-feira (29). Uma dotação que já foi de R$ 4,2 bilhões em 2012 (governo Dilma) caiu para R$ 306 milhões (recuo de 93%), e desse valor empenhado menos de R$ 100 milhões foram efetivamente liquidados.

O país ainda vai pagar muitas vezes —e bem caro, em vidas e tormento de gente pobre— por tanta imprevidência. De pouco vale as instituições funcionarem e a economia reagir, como dizem, se o Estado não consegue prover o mais básico para a população.

Deus é Fiel

CNPJ: falso
Endereço: errado. O número 420 não existe nesta rua.
Jogo Grêmio x Inter: confere
A frase "Deus é Fiel" é fotochopagem legítima, perfeitamente alinhada num papel amassado...

Suposto estabelecimento
Suposta localização do suposto estabelecimento:



Fonte da suposta informação

Teremos eleições em 2022 se, e somente se, a esquerda não tiver nenhuma chance de ganhar

Esquerdas discutindo se é Haddad, Lula ou Dino na cabeça de chapa enquanto o autoritarismo se consolida. Sinto que se houver alguma possibilidade de que algum deles possa ganhar, não haverá eleição. E que assim, focar no processo eleitoral em uma realidade onde não ha mais Estado de Direito é um grande erro! 
Rafael R. Ioris

Este é um conceito de difícil compreensão para quem "torce" para que o Bozo faça um bom governo fascista, mas é claro como água. Não se investe bilhões de dólares numa mudança radical de regime para correr o risco de devolver o governo aos que foram afastados criminosamente poucos anos depois e com mais legitimidade e força ainda. Em nenhuma hipótese haverá eleições presidenciais se a esquerda tiver chance de ganhar. Mesmo com o mais moderado dos candidatos, com o mais moderado dos programas de governo. Nenhum regime fascista jamais foi afastado do poder por eleições regulares, isto é ridículo. O mínimo necessário para derrubar o atual regime, não somente o Bozo, é um movimento de massas enorme, nunca visto no Brasil, que leve os escravagistas liberais a entregar os anéis para para salvar os dedos. Fora disso, é vinte ou trinta anos disso que está aí.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

Heavy metal


Leitor da Folha de S. Paulo acusa Duvivier de crime gravíssimo


"Quando os brasileiros..serem infectados"

Ensaio sobre a cegueira


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O que acontece em Belo Horizonte?


José Silva

Pra quem não é de BH:

Belo Horizonte é uma cidade repleta de rios. Mas nós não vemos eles.

Não vemos porque a cidade é regida por uma lógica urbanista completamente suicida, que entende que é necessário "civilizar" a cidade e torná-la mais atraente para carros e prédios.

O que isso significa?

Significa que todos os rios da cidade foram transformados em ruas. Canalizados e tampados com concreto.

BH é uma cidade de rios invisíveis. Já o é há décadas, e a cada projeto de "revitalização" da cidade, mais rios eram varridos pelo asfalto.

Acontece que os rios estão lá. Sempre estiveram lá. Estão lá desde muito antes de João Leite da Silva Ortiz, traficante de escravos, dizer que essas montanhas eram agora seu curral d'el rei. Estarão lá quando Lacerdas, Kalils e Zemas já forem pó das eras.

Essa cidade não é do asfalto, dos carros, dos viadutos ou dos mafiosos das empresas de ônibus. Essa cidade é dos rios.

E agora eles estão tomando ela de volta.


Zé de Abreu para Regina Duarte: “Eu sei o que fizemos na sua casa na Barra da Tijuca”


Revista Fórum

O ator Zé de Abreu desafiou a colega, Regina Duarte, através de suas redes sócias, nesta quarta-feira (29), para um debate público: “Topa, apoiadora de fascista? Ministra- nem isso – secretária!”.

O ator disse ainda à Regina Duarte, recém convidada pelo presidente Jair Bolsonaro para ocupar a Secretaria Nacional de Cultura: “Eu sei o que fizemos na sua casa, na Barra da Tijuca. Eu sou artista, assumo meus vícios e me libertei deles. Mas você, assumindo um cargo público, vai ter que prestar conta deles”.

Zé evocou ainda, em seu desabafo, para que Regina Duarte se lembre “de quantos gays lhe tiraram rugas? Coloriram seus cabelos brancos? Criaram figurinos para esconder suas banhas?”, e completou: “Você está cagando na cabeça deles! Eles me ligam, desesperados, com sua postura! Tenha vergonha nessa cara!”.

O ator ainda conclui: “Vou até o fim. REGINA DUARTE, vou lhe desmascarar! Assuma seu cargo de apoiadora de fascista se tiver coragem. E aguente as consequências. Outra coisa, EU NÃO ESTOU SÓ! Arrisco minha carreira para impedir que uma colega minha se atire num poço sem fundo”.

Modelo urbano brasileiro é desastroso, não as chuvas


Históricos são os erros da nossa urbanização e não as chuvas deste janeiro de 2020

Raquel Faria

O volume inédito de água caindo do céu só exacerbou o problema, não o criou. Enchentes e alagamentos ocorrem há décadas no início do ano em Belo Horizonte e vários outras cidades, mineiras e brasileiras. Os danos e as vítimas variam a cada ano conforme o índice pluviométrico, mas nunca deixaram de existir; são previsíveis, fatídicos. Por que? Qual cidade do porte de BH em outra parte do mundo que alaga todo período chuvoso? É óbvio que o problema resulta da ação humana. Históricos são os erros da nossa urbanização e não as chuvas deste janeiro de 2020.

O modelo urbano que adotamos é anti-ambiental; nossas cidades agridem a natureza. Brasileiro cimenta terreiro para não ter o trabalho de limpá-lo; prefere asfalto à pedra para rodar melhor de carro; constrói até prédios à margem de cursos de água; joga lixo nas vias pública sem a menor vergonha; tem verdadeira adoração por concreto, que vê como solução para tudo, inclusive para canalizar rios e ‘dominar’ a natureza. Via de regra a cidade brasileira é pouco permeável à infiltração da chuva no solo, acumula lixo nas saídas de água e tem edificações em áreas de risco. Nossas cidades são feitas para alagar.

Por que insistimos num modelo de urbanização que causa tragédias ano após ano? Por que é tão difícil romper, mudar o padrão de urbanização?

O brasileiro comum não percebe mas o nosso modelo urbano se destaca pelo nível absurdo de verticalização e adensamento. No Brasil, até cidades pequenas se enchem de prédios; as aglomerações de torres pipocam por todas as regiões de todos os estados, inclusive em plena Amazônia. Difícil apontar um país no mundo que tenha tantas cidades com ‘selvas de pedra’ no centro. E haja concreto, cimento.

Essa paixão brasileira pela verticalização é fruto da profunda divisão social no país e da insegurança crônica que ela gera. As pessoas buscam torres de apartamentos para isolamento social e proteção contra violência urbana. Mas, independente das razões, o modelo de urbanização que se desenvolveu aqui tem raízes no preconceito e no medo que há séculos formam um fosso entre os mais ricos e os mais pobres. Por isso é tão difícil mudar.

E rasguem-se os véus da hipocrisia. Enchente é tragédia típica de pobre; raramente afeta famílias com dinheiro para se precaver delas. E como pobre não tem prioridade no poder público, o problema se eterniza. A classe média que determina as políticas do Estado não se dispõe a romper o modelo urbano da exclusão social para evitar a tragédia anual de pobres.

A comoção e indignação diante das imagens chocantes dos estragos das águas são de praxe na mídia e redes sociais, tão recorrentes como as próprias enchentes. Vão embora junto com as chuvas. No carnaval, se o tempo ajudar, tudo já estará esquecido. E todos continuarão concretando e cimentando, espalhando lixo e entulho, até as próximas chuvas e enchentes. É um círculo vicioso. Hoje, infelizmente, sem um fim à vista.

Marcelo Adnet imita o o marreco de Maringá


A muleta da conspiração

Bolsonaro tem um caso antigo com as teorias da conspiração. Agora elas o ajudam a distrair a plateia e esconder os vexames do governo
Bernardo Mello Franco

Jair Bolsonaro tem um caso antigo com as teorias da conspiração. Desde que virou deputado, em 1990, ele descreve o Brasil como um país à beira do comunismo. O fantasma vermelho nunca existiu, mas o ajudou a acumular sete mandatos.

No Planalto, o capitão continuou a combater inimigos imaginários. Ao enfrentar as primeiras dificuldades no Congresso, ele insinuou que haveria um complô para derrubá-lo. Ao ser criticado pelas queimadas na Amazônia, acusou o ator Leonardo DiCaprio de participar de uma trama contra a floresta.

Ontem Bolsonaro voltou a investir na ficção. Ao chegar da viagem à Índia, ele declarou que os problemas do Enem podem ter sido fruto de sabotagem. Na mesma entrevista, levantou suspeitas sobre a auditoria que não identificou fraudes no BNDES. “Tem coisa esquisita aí”, garantiu. Em ambos os casos, o presidente não apresentou nenhum fato concreto para sustentar o que disse.

A tese de um conluio para melar o Enem não para em pé. A lambança é de responsabilidade do Ministério da Educação, que permitiu a troca de gabaritos e demorou a reconhecer a extensão do problema.

Se houve sabotagem, ela foi promovida pelo próprio governo. Bolsonaro disse que escolheria todos os ministros por critérios técnicos, mas entregou o MEC a dois seguidores de Olavo de Carvalho. Ao nomear Ricardo Vélez e Abraham Weintraub, premiou a incompetência a serviço da guerra ideológica.

No caso do BNDES, o discurso conspiratório ajuda o presidente a disfarçar um vexame. Desde a campanha, ele prometia abrir a “caixa-preta” do banco. A tal auditoria custou R$ 48 milhões e não encontrou nenhum sinal de corrupção.

Bolsonaro não parece acreditar nas próprias cascatas, que usa como muletas para desviar a atenção de problemas. Mesmo assim, suas "teorias" ainda convencem muita gente. Segundo pesquisa do Instituto da Democracia, 45% dos brasileiros não confiam na contagem de votos do TSE. O presidente é o primeiro na fila para desacreditar as urnas eletrônicas.

Com o fiasco do Enem, só resta aos jovens transar o ano inteiro


Gregorio Duvivier
Damares, se você quiser que o povo não transe, talvez seja melhor parar de falar em Deus. Esse papo de pecado dá uma vontade danada de cometer. Abstinência gera desejo.
Jovem, aperte seu cinto de castidade: o governo não quer que você transe. Em pleno 2020, o Brasil quer promover políticas de abstinência sexual. “Escolhi esperar”, diz o movimento, que ironicamente faz muito sucesso em países atrasados, onde esperar virou um hábito. Afinal, pra quem espera há 500 anos por reforma agrária, o que é que custa esperar uns aninhos por um boquete?

Não é a primeira vez que esse governo quer controlar seus órgãos. Primeiro, Bolsonaro tentou controlar seu intestino, pedindo que você fizesse cocô dia sim, dia não. Bolsonaro propôs uma alternativa mais barata ao saneamento básico: a abstinência de cocô. Agora é a vez da abstinência de pinto e de pepeca, uma alternativa barata às aulas de educação sexual.

O argumento, devo admitir, faz algum sentido: “A única maneira realmente segura de não engravidar é não transar”. Devo alertar, no entanto, que há controvérsias sobre a eficácia do método. Maria, por exemplo: não transou. Olha no que deu.

Todo cristão deveria saber que a abstinência não funciona. Se funcionasse, a gente não estaria em 2020, mas em 5780, sem comer porco e fazendo babyliss no cabelo ao redor das têmporas. Todo o cristianismo deve sua existência ao fato de que Deus não respeita o hímen de ninguém. Se ele quiser te engravidar, amigo, babau. Não precisa nem ter útero. “Me dá aqui uma costela. Pronto.”

Damares, se você quiser que o povo não transe, talvez seja melhor parar de falar em Deus. Os países que têm menos gravidez na adolescência são, também, os mais laicos. Esse papo de pecado dá uma vontade danada de cometer. Abstinência gera desejo. Pra quem tá de jejum, farinata é Amandita. Pra quem tá com sede, água da Cedae é cerveja.

Dizer que “Deus tá vendo”, de alguma maneira, atiça o pessoal —todo mundo capricha mais quando tem uma webcam. Pior ainda é a ideia de que Ele “está no meio de nós”. Qualquer rapidinha vira um ménage.

Tem coisas, no entanto, que broxam. O Estado devia investir em fomentá-las. Por exemplo: longas horas de estudo. A escolaridade de um povo é inversamente proporcional à taxa de gravidez na adolescência.

Quer que o pessoal pare de transar? Põe todo mundo na faculdade. Mas vai ter que conversar com o Weintraub. Com o fiasco do Enem, não sobrou alternativa a essa juventude senão transar o ano inteiro.

Defeitos de fabricação do governo Bolsonaro são cada vez mais evidentes


Bruno Boghossian 
A falta de planejamento, comunicação e articulação já foi vendida como item de série.
Ao anunciar a saída do chefe do INSS, o governo disse esperar "que não haja descontinuidade" nas atividades do setor. Seria um sinal de autoconfiança se não fosse a fila de 1,3 milhão de pedidos de aposentadoria encalhados no órgão. A equipe de Jair Bolsonaro age como se pudesse trocar uma peça e deixar o calhambeque rodando ladeira abaixo.

Os burocratas alegam que uma falha no sistema da Previdência acabou represando a concessão de benefícios. É mais honesto afirmar que esse é mais um dos defeitos de fabricação deste governo. A falta de planejamento, comunicação e articulação já foi vendida como item de série.

O governo tratou a reforma das aposentadorias como prioridade, mas não preparou as agências do INSS para a aplicação das novas regras. Encomendou planos megalomaníacos para dar nova cara ao Bolsa Família enquanto deixava cidadãos miseráveis na fila de espera. Bateu bumbo para a realização do Enem, mas não conseguiu garantir uma correção precisa de todas as provas.

Dez dias depois de admitir falhas no exame, o Ministério da Educação ainda não convenceu os estudantes de que os erros foram reparados. Nem o presidente foi capaz de dar um voto de confiança total ao chefe da pasta. Bolsonaro não quis responsabilizar o boquirroto Abraham Weintraub, mas emendou que ele continua no cargo "por enquanto".

Com tanta desordem, ineficiência e falta de controle, não é surpresa que tantos integrantes do governo pareçam estar pendurados por um fio —de um secretário de Comunicação em flagrante conflito de interesses ao presidente do BNDES.

Foi o presidente, aliás, quem reafirmou as dúvidas sobre um contrato de auditoria ampliado pela cúpula do banco. "Parece que alguém quis raspar o tacho", disse, chamando o chefe da instituição de "o garoto lá".

Bolsonaro talvez tenha passado a reconhecer os problemas do governo depois de alguma revelação espiritual durante sua viagem à Índia. Algumas coisas simplesmente não têm como dar certo.

O STF inventou o ministro contramajoritário, que joga contra a maioria da corte



Conrado Hübner Mendes
Falta palavra para classificar liminar monocrática que passa por cima de outra liminar monocrática
Uma suprema corte tem função indispensável na democracia. Impor contrapeso a eventuais arroubos de maiorias eleitorais e legislativas, preservar a institucionalidade e proteger valores constitucionais acima do conflito político cotidiano são papéis delicados. Para que sobreviva como instituição que se respeita e se obedece, precisa investir na fina construção e manutenção de sua autoridade.

O STF se autoliberou desse penoso exercício.

Prefere um tribunal libertino, leve e solto. Presume que sua autoridade brota da natureza, ou das palavras da Constituição, pouco importa o que ministros fazem ou deixam de fazer dentro ou fora da corte. A libertinagem procedimental põe em risco a liberdade de todos nós, à esquerda e à direita. Não descobrimos isso em janeiro de 2020, mas o mês inovou.

A figura do “juiz das garantias”, aprovada pelo Congresso um mês atrás, determina divisão de trabalho entre o juiz que conduz produção de provas e o juiz que toma a decisão final. Inspirada em outras cortes do mundo, o modelo tenta potencializar as condições não só para uma decisão imparcial, mas para a imagem de imparcialidade. Gerou gritaria pública, sobretudo em entusiastas do selo Lava Jato de combate à corrupção.

Você pode ser contra ou a favor do juiz das garantias. Há argumentos dignos do nome dos dois lados, ainda que uns sejam mais convincentes que outros (debate que fica para outra coluna). Mas você não pode apoiar a arbitrariedade judicial só porque ela atende sua opinião hoje. Amanhã o afetado por manobra monocrática poderá ser você. Atenção aos métodos, não só aos resultados.

Liminar de Toffoli durante o recesso judicial ampliou prazo legal para implementação do juiz das garantias de 30 para 180 dias. Fux, outro plantonista do recesso, revogou a decisão de Toffoli e suspendeu, sem prazo definido, esta e diversas outras disposições do “pacote anticrime”. Ressaltou que tomava essa decisão com “todas as vênias possíveis” a Toffoli.

É provável que esse caso não volte mais à pauta do tribunal nessa geração. Afinal, desde 2012 esperamos que a gaveta de Fux solte para plenário o julgamento dos penduricalhos de juízes fluminenses (que a lei chamou de “fatos funcionais”); desde 2014, sua gaveta sonega do plenário o caso do auxílio-moradia. Para ficar em dois exemplos. A história não tem registro de voto de Fux que contrarie a magistocracia.

Foi um “descalabro” que “desgasta barbaramente a imagem do STF”, nas palavras do ministro Marco Aurélio. Para Gilmar Mendes, Fux “deveria entregar a chave do Parlamento” à equipe da Lava Jato. Soa bem, mas sabemos o que Marco Aurélio e Gilmar Mendes fizeram em verões passados.

Liminar é decisão de urgência. Justifica-se à luz do risco de a demora judicial causar prejuízo irreversível.
Num tribunal, liminar deve ser concedida pelo colegiado. Apenas por razão excepcional, pode ser tomada de forma monocrática.

Em controle de constitucionalidade, nem por razão excepcional (a lei 9.868 não autoriza, mas o STF a ignora). Apenas por razão excepcionalíssima, pode ser tomada dentro do recesso judicial. Liminar monocrática em recesso, portanto, é decisão triplamente qualificada.

Fux rompeu a barreira. No glossário dos abusos judiciais, falta palavra para classificar liminar monocrática que passa por cima de outra liminar monocrática, ambas dentro do recesso.

O pensamento constitucional emprestou o mito de Ulisses para simbolizar a tarefa de cortes. Democracia que se sujeita a limites agiria como Ulisses. No mito, Ulisses se amarrou ao mastro para resistir ao canto das sereias. Na política moderna, democracias se amarraram às barreiras constitucionais. No STF, Fux não resistiu e se amarrou às sereias. “O mastro às favas”, poderia ter dito.

Uma suprema corte também se diz “contramajoritária” porque busca represar impulsos de maiorias. O STF inventou o ministro contramajoritário: aquele que joga contra a maioria do STF. Isso só se conhece no STF. Não é jabuticaba, pois a saborosa fruta não merece ser metáfora de nossos vícios e patologias. É aberração mesmo.

Conrado Hübner Mendes
Professor de direito constitucional da USP, é doutor em direito e ciência política e embaixador científico da Fundação Alexander von Humboldt.

terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Sir Bozo vs. Sir Conje


O Merval da Folha de S. Paulo

Esculpido em peroba

Luis Felipe Miguel

Jogo dos 7 erros

Ontem, Vinicius Mota - o Merval da Folha de S. Paulo - publicou coluna para lamentar a "caça aos bilionários". Os pobres bilionários, como se sabe, sofrem bullying dos pobres. Felizmente sempre tem algum jornalista de bom coração disposto a defendê-los.

Ele apresenta dois hipotéticos jovens de 24 anos. O rapaz "acaba de se formar em medicina numa universidade de alta reputação e não tem nenhum bem". A moça, "que não fez faculdade, herdou dois imóveis do pai, avaliados em R$ 1 milhão ao todo".

O ponto do colunista é que o rapaz é o rico da dupla, já que sua formação lhe dará um alto salário, ao passo que a herança da moça, "aplicada em papéis seguros do Tesouro", não renderá nem R$ 3 mil mensais.

No entanto, ela é vista como possuindo patrimônio e ele, não. Isto é injusto, diz Mota, lembrando que a redução nas taxas de juros tem prejudicado muito os rentistas.

(Anoto, en passant, que a coluna serve de ilustração perfeita para a leitura neofoucaultiana do neoliberalismo como ideologia que reduz cada pessoa a um suporte de capital humano.)

E daí, numa série de triplos carpados lógicos, o jornalista impugna toda a pesquisa sobre a ampliação das desigualdades no capitalismo contemporâneo, de Piketty e outros, e bombardeia as propostas de taxar o patrimônio dos bilionários.

E conclui: "a ideia, cultivada por populistas à direita e à esquerda, de que bilionários envenenam a democracia [...] é uma hipótese que até pode se mostrar verdadeira, mas ainda é mal estudada e está muito longe de ser comprovada".

É tanto disparate que é difícil crer que o autor realmente acredita no que escreveu.

Só de partida, dá para identificar 7 erros.

(1) Ainda que se possa (e se deva) discutir o valor relativo a diferentes tipos de ofício especializado e não-especializado, a remuneração dada ao trabalho recompensa um serviço prestado à sociedade ou a outras pessoas. Já a remuneração da propriedade privada é de outra natureza, baseada na exploração do trabalho alheio ou na especulação.

(2) Na narrativa fictícia de Mota, uma tem patrimônio, o outro tem formação universitária. Ou seja, é um mundo de desigualdades "desalinhadas". No mundo real, vantagens e desvantagens tendem a se acumular em polos opostos. Escolarização e patrimônio familiar, por exemplo, apresentam alta correlação.

(3) Na narrativa fictícia de Mota, a esmagadora maioria da população - aqueles que nem herdam apartamentos, nem se tornam médicos em universidades de elite - não existe. É fácil desinflar a importância da desigualdade material apagando a existência dos pobres.

(4) Na narrativa fictícia de Mota, a minoria mais relevante para o caso também desaparece: os muito ricos. Como é que ele chega na defesa dos bilionários tendo como exemplo uma moça que herdou dois imóveis de classe média? Em que sentido essa moça poderia ser vista como representante dos muitos ricos? Toda a coluna é a ilustração daquele meme: o sujeito que é contra o imposto sobre grandes fortunas porque tem um Gol 2015.

(E é ilustração, também, daquilo que o velho Marx chamava de "robinsonada": uma análise da sociedade que ignora o mundo social e sua história, preferindo construir contos de sujeitos isolados, como se estivessem numa ilha deserta.)

(5) Redesenhando a narrativa da coluna de forma mais realista e incluindo, de um lado, um Jorge Paulo Lemman, com seus 23 bilhões de dólares, e de outro um dos 50 milhões de brasileiros que vivem abaixo da linha da pobreza, como fica sua defesa do fair play entre patrimônio e "capital humano"? Se o jornalista sair na rua e tiver olhos para ver a aberrante desigualdade de um país em que miséria e ostentação convivem à luz do sol nas ruas das cidades, com certeza precisará mudar de discurso.

(6) Não se trata apenas de uma diferença quantitativa. Os grandes proprietários têm influência determinante no bem-estar de todos e no funcionamento do Estado, já que controlam as decisões de investimento e são também credores do poder público. Justamente por isso, exercem grande poder político. Não é o caso, certamente, da herdeira de dois imóveis ou do médico recém formado.

(7) Só muita ignorância ou má-fé permitem dizer que os efeitos nefastos da concentração de renda para a democracia não foram bem estudados e comprovados. Mesmo autores liberais, como Yascha Mounk, admitem que entre as causas da crise atual da democracia está o empobrecimento de uma grande parcela da população, o hiato crescente entre ricos e pobres e a influência desmedida do que ele chama de "elites econômicas" sobre o processo decisório.

As boas notícias da Folha de S. Paulo

Moisés Mendes

BOIS E ARMAS

Uma notícia dos nossos tempos tenebrosos, com chamada na capa da Folha:

Fogo na Austrália pode favorecer carne brasileira.

O país dos incendiários da Amazônia vai ganhar dinheiro com exportações para o país devastado por incêndios naturais.

Os criminosos brasileiros queimam a floresta para expandir campos de criação de gado e plantio de soja e são recompensados pelo crime com a compra de carne pelos que perdem seus rebanhos numa tragédia.

O bolsonarismo dá lucro para destruidores de matas (e de educação e cultura) e para vendedores de armas.

A mesma Folha mostra que professores da USP, alarmados com perseguições e desencantos provocados pelo golpe e pelo fascismo, estão pedindo exoneração ou licença não remunerada.

A universidade atacada, depreciada e invadida deixou de ser um lugar de trabalho e também de resistência para muita gente.



O número de professores que pedem para sair da mais prestigiada universidade do país deu um salto nos últimos três anos.

De 2017 a 2019, 73 docentes pediram exoneração da USP, e 70 solicitaram afastamento não remunerado, mostram dados obtidos pela Folha após pedido feito com base na Lei de Acesso à Informação.

Nos três anos anteriores a esse período (2014 a 2016), foram 47 demissões a pedido e 23 licenças do mesmo tipo.

Depois de uma breve escala na Alemanha nazista, o governo Bolsonaro agora nos leva para o século 13


Hélio Schwartsman

De volta ao século 13
Novo presidente da Capes defende criacionismo em contraponto à teoria da evolução
Depois de uma breve escala na Alemanha nazista, o governo Bolsonaro agora nos leva para o século 13. Como o leitor já deve ter adivinhado, falo da nomeação de Benedito Guimarães Aguiar Neto para a presidência da Capes, o órgão responsável pela pós-graduação no país.

Aguiar Neto é evangélico. Até aí, nenhum problema. Existem excelentes cientistas religiosos. Um bom exemplo é o do geneticista Francis Collins, cristão devoto que dirigiu o Projeto Genoma Humano e agora comanda o NIH, a agência dos EUA responsável pela pesquisa biomédica. Collins, apesar de já ter escrito um livro religioso, não permite que suas convicções pessoais interfiram em seu trabalho científico.

Aguiar Neto, que é engenheiro eletricista, não segue o exemplo de Collins. Ele defende que o design inteligente (DI) seja ensinado nas escolas “como contraponto à teoria da evolução”. Os proponentes do DI, vale recordar, tentam refutar o darwinismo afirmando que a vida é complexa demais para ter surgido por acaso. Como “prova”, apresentam modelos matemáticos alimentados com parâmetros escolhidos por eles mesmos e dizem que certas estruturas como o olho ou o flagelo bacteriano são “irredutivelmente complexas”, isto é, teriam uma organização tão intricada que só poderiam ser obra de um projetista inteligente. O DI fracassa na maioria dos critérios de demarcação do método científico. Não é difícil ver aqui a volta dos velhos criacionistas, mas brandindo a calculadora em vez da Bíblia.

Ex-reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Aguiar Neto criou ali um núcleo de DI. Faz tanto sentido quanto fundar um departamento de alquimia ou a cátedra de astrologia, mas o Mackenzie é uma instituição privada e confessional. Se quer passar ridículo perante a comunidade científica, é problema seu. Já a perspectiva de o poder público impingir à garotada criacionismo travestido de ciência esbarra em graves questões éticas e constitucionais.

Hélio Schwartsman
Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…" e votou no Bolsonaro.