Tati Bernardi
Respondendo a alguns leitores deste jornal que me escrevem semanalmente
Cara colunista, ao dizer que não respeita quem votou no Bolsonaro, você está querendo dizer que, contra tudo o que prega a democracia que tanto defende, você não aceita um voto diferente do seu?
Exatamente. Nesse caso específico, votaram contra a democracia, e quem o faz não merece ser respeitado democraticamente.
Mas, ao dizer que não tolera quem votou no Bolsonaro, sobretudo em tempos violentos como os nossos, não estaria você fomentando brigas?
Exatamente. Sou adepta de muita briga. No espaço virtual, no elevador, nas festas, nas reuniões, nas universidades (se restar alguma) e, sobretudo, nos almoços em família.
Para garantir um país sem armas e agressões físicas, a fim de assegurar uma vida menos desgraçada para, por exemplo, mulheres, pobres, negros e LGBTs, é preciso, quem diria, quebrar o pau. Reclamar, escrever, discutir.
Quando escreve que considera ignorante, mal-intencionado ou perverso quem segue apoiando esse governo, não estaria você se julgando melhor que os outros?
Exatamente. Eu acho isso mesmo. Eu não tenho maturidade, bondade no coração e espiritualidade suficientes para pensar diferente.
Se você apoia o governo do preconceito, do racismo, da ignorância, das milícias, da perseguição a professores, do fim da cultura, do fim da ciência, do nazismo, me desculpe, mas ou você não entendeu nada e lhe falta leitura ou você entendeu tudo e lhe falta humanidade ou você se considera acima do bem e do mal (e, portanto, as leis civilizatórias não lhe servem).
Tati, metade dos meus amigos gosta do Bolsonaro e eles não são idiotas. Eles fizeram GV!
Exatamente! Eles fizeram GV e são idiotas! Que absurdo, né?! Para você ver que fazer GV não salva ninguém de ser imbecil. Nem USP nem mestrado nos Estados Unidos.
Mas, Tati, você acharia melhor que o PT continuasse no poder?
Exatamente. Eu votei no Ciro no primeiro turno da eleição passada. E votaria até no PSDB se fosse para tirar o atual governo.
Eu também tenho bode do PT, porém apoiar esse governo é um crime contra a moralidade e a decência. E moralidade e decência, na minha opinião, nada têm a ver com religião e conservadorismo.
Tati, lembra de mim? A gente era primo de primeiro grau até 2018. Você sumiu, te chamei para a festa dos gêmeos no buffet Mickey Amigão e você não apareceu. Anda ocupada ou tudo isso é só porque eu votei no Bolsonaro?
Exatamente. Perceba em minhas redes sociais: eu vou a restaurantes, viajo, leio, faço novos amigos e tatuagens.
Tentei na terapia e na meditação, mas meio que você morreu para mim em algum lugar muito profundo, ancestral e primitivo. Beijo nas crianças (e coitadas delas!).
Tatiana, você deve ter faltado mesmo às aulas de história. Você segue se recusando a discutir o que é o fascismo.
Exatamente. Faltei a algumas por motivo de putaria. Eu peguei geral na época da escola e no período da faculdade e até bem pouco tempo atrás. Putaria é um troço maravilhoso.
Alguém avisa a Damares que não faz sentido parar de transar antes do casamento porque é justamente durante o casamento que a gente para de transar.
Fascismo não se discute, tampouco se pondera. Ou é fascista ou não é. Se você insiste em debater se um governo fascista é fascista, sinto muito, não falo com fascistas. E meu nome é Tatiane.
Cronista da Foice de SP, estou cansado de você só escrever palavrão e papo furado de esquerda.
Exatamente, eu também estou. Contudo, até que pessoas como você entendam a merda em que nos metemos e como estamos fodidos, eu vou ter que continuar com essa porra.
Tati Bernardi
Escritora e roteirista de cinema e televisão, autora de “Depois a Louca Sou Eu”.