Não é querer jogar água fria na fervura mas... numa caçamba virada na Paulista no choque de manifestantes "PróDemocracia" contra a polícia picharam: ACAB (acrônimo inglês All Cops Are Bastards), emulando as manifestações anti-racismo de Mineápolis, e "2013 VIVE"... movimentos espontâneos de organizadas de futebol pela democracia?... na mesma tarde em que o exército divulga no Twitter que está preparando militares para operações de Garantia da Lei e da Ordem"... modus operandi das jornadas de junho (GUERRA HÍBRIDA) para criar cenário que justifique finalmente o Golpe?... pauta genérica ("Defesa da Democracia), manifestação supostamente espontânea, grande mídia relembrando 2013... sei não...
domingo, 31 de maio de 2020
Brasil tem 514.849 casos confirmados de Coronavirus e 29.314 óbitos
Aumento de 16.409 casos e 480 óbitos.
Domingo as mortes "caem" por falta de gente trabalhando nas secretarias municipais, estaduais e no ministério da saúde para relatar.
Múltiplas tendências da direita dominam totalmente o Brasil
Orlando Calheiros
Um dos maiores equívocos é acreditar que a redução da base de apoio popular bolsonarista aos 30% representa a derrocada da ultradireita e até do próprio bolsonarismo. E uma expansão de alas mais "progressistas" (palavra que odeio).
Para começar, existe um dado bastante complexo que aparecem em algumas pesquisas (inclusive na minha), pessoas que não gostam da atual gestão mas que, dependendo do candidato, votariam novamente no presidente. PT e PSOL costumam ser muito citados como exemplos malditos.
E isso, me parece, é
(1) sintoma da própria maneira como as esquerdas se colocam de forma reativa no debate político - especialmente desde meados de 2015/16 -, limitando-se a reagir, denunciar e expor o outro lado.
(2) Sobretudo, da relativa ou completa ausência das esquerdas em alguns territórios mais afastados dos Centros (periferias, favelas, subúrbios...). Digo isso desde 2016, fake news sobre políticos florescem, sobretudo, no vácuo ocupacional.
Segundo, que existe uma base que rejeita Bolsonaro não pela sua posição extrema, mas por esta não ser extrema o suficiente ou por não ser eficaz. A rejeição a aliança com o centrão e até a ruptura com Moro tendem a entrar nessa régua.
Existem intervencionistas e intervencionistas. Alguns estão com Bolsonaro (especialmente os olavistas), outros não. Inclusive, é interessante ver que alguns debates clássicos da esquerda sobre reformismo versus revolução aparecem entre eles.
Alguns eleitores conservadores, especialmente os mais tradicionais, também já abandonaram o barco. Lavajatistas idem, liberais à brasileira também. Sempre bom lembrar, quando a base começou a diluir, Olavo fez um apelo pela criação de uma militância exclusivamente bolsonarista.
Eles sabem que a diluição da base se dá entre as múltiplas vertentes da direita, quase não há - se é que há - transferência significativa para a esquerda. A gente só existe enquanto fantasma para eles.
Em uma nova eleição essa base diluída pode muito bem se organizar novamente ao redor de um candidato à extrema-direita, inclusive, ao redor do próprio Bolsonaro.
Infelizmente, eu diria que essa é a tendência atual.
Frente Ampla da Globo contra Bolsonaro é tão ampla que inclui Bolsonaro
GLOBO QUER APOIO DE BOLSONARO AO MOVIMENTO PARA DERRUBAR BOLSONARO
Um amigo otimista ligou cedo para celebrar o editorial do Globo que ele entendeu como uma adesão do jornal ao "Somos 70%", proposta de formação de uma frente ampla para superar o bolsonarismo.
Li, agora, e também identifiquei no longo texto o apoio a uma aliança abrangente pela democracia. Será a primeira vez que este jornal - a empresa também, por certo - participará de um movimento politico legitimo e constitucional com o qual se identifica a maioria da população. O fecho do editorial é claro:
"É preciso reaprender com a História e voltar a costurar o entendimento entre forças democráticas — mesmo com nuances —, como na década de 70 e início dos anos 1980, desta vez para proteger a Constituição de 1988, que tem garantido anos de estabilidade, sem a qual o Brasil se tornará um pária no mundo."
Quase comovente, desde que não se tenha lido, em parágrafos anteriores, que para O Globo o "Somos 70%" deve ser tão amplo, mas tão amplo, que pode incluir até Bolsonaro. O jornal quase convida Bolsonaro a derrubar Bolsonaro. Ou apoia a frente, mas já avisa que pode abandoná-la. Eis o convite do Globo ao presidente que atrai a insatisfação de dois terços dos brasileiros:
"Esta via política não deve excluir Bolsonaro, que, por sua vez, precisa fazer um gesto pelo entendimento, a melhor alternativa também para ele e seu governo. Com a pacificação, o presidente abrirá espaços de negociação no Congresso, para além do centrão, a fim de executar sua agenda, paralisada, como tudo, devido à crise política. E continuará assim com o fim da epidemia, se este momento não for superado."
Mais jabuticaba do que isto impossível.
A saída armada
Janio de Freitas
Obsessão armamentista de Bolsonaro é necessária para conflagração contra perda do poder
Não vai acabar bem, não há como —começo, forçado pelas circunstâncias, com esta frase jornalisticamente velha, que ainda antes da posse de Bolsonaro gravei para o importante site de Bob Fernandes e aqui pôde ser encontrada nos primórdios do atual governo. Não era previsão, era só uma obviedade de que muitos olhares preferiram desviar, por diferentes motivos, desde temores talvez inconscientes à ganância já rica.
Situações com muitos componentes da tensão levam à imprevisibilidade intransponível, ou quase, sobre seu desfecho. Consegue-se formular umas poucas hipóteses, mas as variações imprevistas são sempre mais numerosas. É diante de hipóteses inumeráveis que estamos.
Bolsonaro, seu filho Eduardo e outros desatinados fizeram, contra o Supremo Tribunal Federal, novas ameaças golpistas. Os generais Hamilton Mourão, Augusto Heleno, Luiz Eduardo Ramos e Braga Netto puseram nos seus currículos sucessivas negações de risco de golpe. Declarações de Augusto Heleno, porém, estão com sua autoridade moral cassada pelo próprio, que tanto ameaça com "consequências imprevisíveis" como diz que risco de golpe é só invenção da imprensa.
Apesar de que mentir em depoimento processual seja falta grave e punível, Luiz Eduardo Ramos e Braga Netto foram inverdadeiros nos depoimentos sobre a reunião vergonhosa, pretendendo proteger Bolsonaro. Condutas são mais eloquentes do que palavras.
As de Bolsonaro, mesmo quando restritas a uma gravata com figurinhas de fuzis —como o fotógrafo Joédson Alves, da EFE, percebeu e O Globo publicou—, bastam para sabermos o que e quanto nos ameaça. O seu berro de "acabou!", referindo-se à liberdade do Supremo para decidir contra o bolsonarismo, não foi reação momentânea e isolada.
Seu empenho em desmoralizar o tribunal revela-se como um plano de ação na escalada desde a campanha eleitoral. Com o "cabo e um soldado" suficientes para fechar o tribunal, por exemplo, ou com os prometidos dez integrantes a mais, como desqualificação dos 11 atuais. O que há hoje é uma investida mais coerente com ameaça. Por força do momento.
Esse avanço está em relação direta com outra escalada, a das armas para a população, também iniciada na campanha. Vai agora ao paroxismo como sua companheira, e pelos mesmos motivos.
Bolsonaro tem ciência e domínio, tanto quanto seus filhos maiores, dos comprometimentos que os põem sob riscos judiciais extremos. Sabem desses riscos desde as investigações da estrutura negocista de Sérgio Cabral e do assassinato de Marielle Franco. Este, para agravar os riscos, com implicação de milícias.
As relações e práticas que sujeitam Flávio Bolsonaro a inquéritos criminais foram herdadas de seu pai, eleito para a Câmara Federal quando o filho ocupava seu lugar na Assembleia Legislativa fluminense. Não seria correto, portanto, que o interesse das investigações terminasse em Flávio.
O estado de exasperação constatável em Bolsonaro corresponde à sua situação crítica. Agir, em tal caso, é a sua urgência. Desmoralizar o Supremo, com o decorrente enfraquecimento do Judiciário; dominar o Ministério Público, valendo-se das ambições do procurador-geral da República; submeter a Polícia Federal para conduzi-la, comprar apoiadores parlamentares com cargos públicos e benesses, são providências que marcham, aceleradas, para a primeira frente de combate defensivo de Bolsonaro. A frente desarmada.
A outra é a única explicação possível para a obsessão armamentista, há pouco agraciada com duas medidas tratadas sem a atenção merecida: uma, a liberação da compra de munições; em seguida, o fim da já duvidosa fiscalização, pelo Exército, da posse de armas militares. Essas medidas, como as liberações anteriores e as esperadas para breve, são partes do necessário para uma conflagração contra a perda do Poder. A defesa final.
Ainda não se sabe a favor de quem o tempo corre. Mas não há dúvida de que, contra a insegurança opressiva que nos subjuga, está faltando um grande exemplo de dignidade.
Bolsonaro tem encontro marcado com o TSE
Elio Gaspari
Weintraub fez mais uma
O ministro da Educassão, Abraham Weintraub, comparou a operação contra os financiadores da máquina de mentiras do bolsonarismo à “Noite dos Cristais” de 1938, quando os nazistas queimaram centenas de sinagogas, destruíram milhares de lojas e mataram pelo menos 90 judeus. Weintraub tomou contravapores da embaixada de Israel, do Comitê Judaico Americano e da Confederação Israelita, por banalizar o antissemitismo que desembocou no Holocausto. Comparar as duas situações é confundir hemorroida com hemograma.
Nos seus delírios, o ministro pratica uma ignorância seletiva. Na tétrica reunião do Ministério de 22 de abril ele ouviu seu colega Paulo Guedes dizer que conhece “profundamente, no detalhe, não é de ouvir falar”, diversos programas de reconstrução econômica, entre eles os da “Alemanha na Segunda Guerra e na Primeira, com o Schacht.”
Para uma mente sensível como a de Weintraub, a lembrança de Guedes tinha um aspecto politicamente tóxico. A Primeira Guerra terminou em 1918 e Hjalmar Schacht assumiu a presidência do Reichsbank em 1923. Nesse cargo ele estabilizou a moeda alemã. Em 1930, quando a dívida do país estrangulava sua economia, ele avisou que “se o povo alemão tiver que passar fome, teremos muitos Adolf Hitler”. Não deu outra e, em 1933, Hitler assumiu o governo. Quindim da banca, Schacht era um coletor do Caixa Dois dos nazistas e um ano depois, quando o ministro das Finanças reclamou da perseguição aos judeus, ele o substituiu. Soltou dinheiro para obras públicas e para o rearmamento do Reich.
Ele deixou o comando da economia antes da Noite dos Cristais, mas continuou como ministro sem pasta até 1943. (A Solução Final do extermínio dos judeus foi decidida em 1942).
Schacht foi um alemão emblemático de sua geração, que não sabia o que estava acontecendo. Ele começou a vida no Dresdner Bank, da família Gutman, e não moveu um dedo quando ela começou a ser perseguida. A baronesa Louise morreu em Auschwitz e seu marido, Fritz, foi assassinado no campo de Theresienstadt. Schacht foi absolvido pelo tribunal de Nuremberg, que enforcou uma parte da cúpula civil e militar do nazismo, e morreu em 1970, aos 83 anos. Sua mulher usava um broche, uma suástica de rubis e brilhantes.
Encontro marcado
Jair Bolsonaro está encrencando com o Judiciário (“Temos que botar limites” ou “Chega!”) porque acordou para o fato de que tem um encontro marcado com o Tribunal Superior Eleitoral no julgamento dos pedidos de cassação de sua chapa com o vice Hamilton Mourão. Os processos são seis, dois podem morrer em poucos dias, mas quatro persistirão. Todos eles se referem aos disparos de notícias falsas na rede, tema da investigação conduzida pelo ministro Alexandre Moraes.
Pelo andar da carruagem, o TSE julgará o caso ainda este ano. É a crise da vida anunciada.
Deixando-se de lado a lógica constitucional da cassação de uma chapa no segundo ano de seu mandato, precisará ficar provado que os disparos das mentiras na rede foram praticados com recursos ilegais e que tenham influenciado de forma decisiva o resultado da eleição. A investigação determinada pelo ministro José Antonio Dias Toffoli pode ter uma origem escalafobética, mas as conclusões do trabalho de Alexandre de Moraes serão um fato em si. Pelo que já se sabe, desagradarão os Bolsonaro. Eles têm alguns meses para criar um clima capaz de convencer a população de que o Judiciário que mutilar o Executivo.
Uma coisa é certa: ameaçando a Justiça com a hipótese de um golpe de generais no meio de uma pandemia e no início de uma recessão, Bolsonaro entroniza-se como encarnação da instabilidade política, econômica e sanitária.
Quando ele diz que “ordens absurdas não se cumprem” e oferece cadeiras no Supremo Tribunal como se fossem chuchu de feira confirma que antes de chegar à metade do mandato, tornou-se um criador de problemas. Afinal, quem decide que uma ordem é absurda? Aquele cabo que pode fechar o Supremo?
O correto Queiroz
Outro dia, respondendo ao governador Wilson Witzel, o senador Flávio Bolsonaro lembrou, a troco de nada, que “você ficava ligando para o Queiroz para correr atrás de mim na campanha. Sabia que o Queiroz estava do meu lado. Um cara correto, trabalhador, dando sangue por aquilo que acredita.”
Desde o final de 2018, esta foi a primeira vez que o 01 louvou a figura de Fabrício Queiroz, faz-tudo do gabinete de seu pai.
De vez em quando, Queiroz queixa-se de abandono, pois já temeu que os procuradores tenham um objeto “do tamanho de um cometa para enterrar na gente”.
Falta explicar por que o senador demitiu o “cara correto, trabalhador” que dá o “sangue por aquilo que acredita” pouco antes da realização do segundo turno da eleição presidencial. No mesmo dia, Jair Bolsonaro demitiu a filha de Queiroz, lotada no seu gabinete da Câmara dos Deputados.
A sorte de Witzel
O governador Wilson Witzel é um homem de sorte. A Polícia Federal varejou o palácio onde ele vive e o apartamento onde morou, sem dar um só tiro.
Uma semana antes, numa operação em São Gonçalo, sua polícia, numa operação da qual participou a Polícia Federal, entrou numa casa, deu 72 tiros e matou o menino João Pedro Mattos Pinto, de 14 anos.
Fábulas fabulosas
Antonio Prata
A palavra 'instituições' soou tão bela que fez com que preás rolassem na relva
Você conhece a velha fábula chinesa sobre os preás e a serpente? Pouco provável, porque acabei de inventar a velha fábula chinesa sobre os preás e a serpente.
A história é assim, desde o século 11, faz dez minutos: um belo dia estavam os sino-preás aquecendo-se na relva sob o sol primaveril quando avistaram ao longe uma serpente. Um preá mais precavido alertou: “comunidade preática, eis ali uma serpente!”.
Os outros preás desdenharam: “calma, nóia, tá longe”. O precavido preá ponderou: “tá longe, mas tá vindo, uma hora chega”. Os outros relevaram: “chega, mas demooooooora”. O aflito preá insistiu: “e quando chegar?”
Os outros preás seguiram ao sol, girando de um lado pro outro, gozando o prazer de coçar a pança na grama e de comer frutas silvestres: “no futuro, quando a serpente chegar”, disseram, “talvez já nem seja mais serpente. Talvez os caminhos do bosque a amadureçam, o roçar das raízes na pança façam-na mais fiel às instituições”.
E a palavra “instituições” soou tão bela que fez com que os preás rolassem e rolassem e rolassem despreocupados na relva.
O preá desesperado já estava quase gritando, tuitava e mandava mensagens de zap o dia todo: “como vocês não percebem?! Ela nasceu serpente! Cresceu serpente! Manteve-se serpente há décadas! Nunca disse que deixaria de ser serpente! O que leva vocês a achar que ela moderará sua serpentice?!”.
Um preá descolado e blasé, de aros grossos e metido a sabichão, disse que o medo dos preás era mimimi, vitimismo, vontade de conseguir cota em universidades e dinheiro da Lei Preáunet.
Disse que se a serpente não aprendesse nada no caminho, a sólida comunidade de preás serviria para civilizá-la e pronunciou uma frase que tinha um poder ainda mais encantatório do que “instituições”: “freios e contrapesos”.
E todos os outros preás, ouvindo as palavras mágicas “freios e contrapesos”, entorpecidos por um climinha mezzo Founding Fathers americanos, mezzo Montesquieu, fizeram um high-five e voltaram a rolar na relva. Daí, a serpente chegou e comeu todo mundo.
Há também uma linda lenda quirguistã, relatada pelo sábio Burslandin, no século 13. Sob o reinado de Birsludin, no território de Ashtar, houve uma grande seca. Todos padeciam da fome e da sede. A cada dia que passava, era menor a quantidade de comida e bebida ao alcance de cada súdito do reino.
Então, quando a coisa ficou preta, Birsludin decretou que todos aqueles que punham o papel higiênico na parede de forma que a folha saísse por baixo, não por cima, eram inimigos do reino. Birsludin condenou todos estes à morte por empalamento.
Então metade da população morreu. E com metade da população morta, a seca não castigou tão violentamente a outra metade.
O comércio reabriu rapidamente. Havia momentos em que alguém sofria, saudoso, pensando num ente querido. Mas bastava morder um caqui e a dor passava. Porque, afinal, a generosidade não resiste a uma barriga vazia.
E tem também aquela história da Venezuela, né? Onde eles elegeram um facínora pra acabar com o PT e deram todo o poder pro facínora acabar com o PT, daí o facínora armou as milícias e destruiu as instituições e deu um golpe e torturou e matou todos os que ele achava que tinham a ver com o PT, o que incluía qualquer cientista, artista, operário, autônomo, esportista, negro, gay ou tantos outros que compunham basicamente 70% da população e ponto final.
Antonio Prata
Escritor e roteirista, autor de “Nu, de Botas”.
Constância e adiamento
O Brasil em crise constante, melhor vista de longe, e o sonho do meu pai, adiado por 50 anos de panamericanismo, de conhecer a Europa.
Meu pai admirava os Estados Unidos. Quando aceitou o convite para conhecer o país pela primeira vez foi para visitar a América cuja cultura admirava, e a democracia que na época se mobilizava para enfrentar o fascismo em expansão no mundo. Outra razão para aceitar o convite era que aqui também vivíamos uma “época”, a da ditadura filofascista do Estado Novo, que meu pai abominava.
Foram dois convites do Departamento de Estado para o jovem escritor brasileiro que, da primeira vez, foi sozinho e depois contou sua experiência no livro Gato Preto em Campo de Neve. Só quando arquivos do Departamento de Estado americano, que tratavam da “política da boa vizinhança” entre Brasil e Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial, foram publicados, ficamos sabendo que a escolha do visitante não fora muito tranquila. Existe até uma correspondência entre um Rockefeller do Departamento de Estado e o J. Edgar Hoover, do FBI, sobre a conveniência de se convidar um notório comunista para conhecer a terra deles.
Na segunda ida do pai aos Estados Unidos patrocinada pelo Departamento de Estado (dois anos na Califórnia, entre São Francisco e Los Angeles, lecionando literatura brasileira), a família foi junto. Eu, guri, impressionado com o noticiário e a propaganda da Segunda Guerra, comecei a matar alemães e japoneses imaginários com tanto entusiasmo que tiveram que me levar a um médico para me acalmar. O médico me aconselhou a deixar a guerra para os profissionais. Fui um neurótico de guerra precoce, mas também vem daí meu pacifismo radical.
Voltamos para o Brasil em 45 – fim do Estado Novo, fim (era o que se pensava) do Getúlio Vargas, começo de outra “época” conturbada no País que, pensando bem, continua até hoje – mas ainda iríamos mais uma vez para o exílio voluntário: Washington, onde o pai dirigiria o Departamento Cultural da União PanAmericana durante quatro anos.
Estou contando tudo isso para dizer que, nas idas e vindas da família ao exterior, houve uma constante e um adiamento: o Brasil em crise constante, melhor vista de longe, e o sonho do meu pai, adiado por 50 anos de panamericanismo, de conhecer a Europa. Fui testemunha da realização do sonho. Chegamos a Veneza num fim de tarde pintado para nós pelo Canaletto, completado por uma lua cheia sobre a Praça de San Marcos. Olhei para o meu pai. Meu pai estava emocionado. O Brasil nunca estivera tão longe.
sábado, 30 de maio de 2020
Brasil passa França em mortes e registra maior número de casos em 24h
Do UOL, em São Paulo
Com 956 mortes confirmadas entre ontem e hoje, o Brasil chegou a 28.834 óbitos pelo novo coronavírus e se tornou o quarto país com mais vítimas pela doença em todo o mundo, ultrapassando a França (28.717 óbitos, segundo balanço da Universidade Johns Hopkins).
O País, de acordo com as últimas atualizações do Ministério da Saúde, ainda registrou 33.274 novos diagnósticos de covid-19 nas últimas 24 horas e agora soma 498.440 casos confirmados. É o maior balanço diário já verificado no Brasil, superando o recorde de ontem (26.928).
Ao longo desta semana, o Brasil apresentou, durante quatro dias consecutivos, a marca diária de mais de mil mortes por coronavírus contabilizadas. Até então, o único país a manter a confirmação de óbitos acima de mil em 24 horas havia sido os EUA.
O número de recuperados é de 200.892. O País também tem 3.862 mortes em investigação.
Ceará ultrapassa Amazonas
O estado que mais contribuiu para o recorde do Brasil foi o Ceará, que registrou 8.111 casos nas últimas 24 horas e chegou a 46.506, ultrapassando o Amazonas (40.560). Hoje ele perde apenas para São Paulo (107.142) e Rio de Janeiro (52.420) na contagem.
Nem o estado mais populoso do Brasil registrou tantos diagnósticos quanto o Ceará. Ainda de acordo com o Ministério da Saúde, foram 5.586 novos casos confirmados pelos paulistas de ontem para hoje.
Quanto às mortes, no entanto, SP segue na liderança, com 7.532 óbitos. Rio de Janeiro (5.277), Ceará (2.956), Pará (2.900) e Pernambuco (2.740) vêm logo em seguida.
Entenda como é feita a contagem da Saúde
A confirmação de óbitos e diagnósticos apresentada pelo governo entre um dia e outro não necessariamente ocorreu nas últimas 24 horas.
O Ministério da Saúde explica que a fila de testes provoca atrasos nos registros feitos pelas secretarias. Com isso, muitas das ocorrências podem ser de outras datas.
O UOL já identificou atrasos de mais de 50 dias para a oficialização de mortes.
Não somos nem perto de 70%!
Fernando Horta
Não somos 70%!
Levanta hashtag aí que eles fazem cartas de repúdio lá, e o fascista continua bebendo leite e arrotando na nossa cara ...
Somos um monte de merdas.
Não somos 70%!
Não somos nem perto disto. Dispostos a ir acampar na frente do palácio como os tais "trezentos" fazem? Dispostos a ir para a frente da casa de ministro chamar ele de FDP? Dispostos a sair no soco com policial pela defesa do que acreditamos? Dispostos a invadir o Congresso caso eles continuem a proteger o fascista??? Não somos nem 10% e é esta toda a diferença.
Somos um monte de merdas.
Hermenêutica da hemorroida
José Eduardo Agualusa
Até hoje, ninguém havia conseguido juntar numa mesma frase, com um mínimo de coerência, os conceitos de liberdade, verdade e hemorroidas
Como milhões de pessoas ao redor do globo, o discurso do senhor Jair Bolsonaro perante os seus ministros provocou em mim violenta comoção. Considero-o uma das mais extraordinárias peças de retórica jamais produzidas por um chefe de estado — sóbrio ou totalmente embriagado.
A bem dizer aquilo nem foi um discurso: foi um atentado. Jair Bolsonaro fez-se explodir, em meio a todas as excelências do seu governo, detonando com ele as convenções burguesas, a moral cristã e, de caminho, o sólido prestígio da instituição militar.
Bolsonaro é, afinal, um revolucionário anarquista infiltrado na ultradireita cristã. Não acredito que os partidos representantes da direita brasileira, as igrejas neopentecostais e o exército se recomponham alguma vez dos estragos causados pela explosão sacrificial do camarada Bolsonaro.
Ao institucionalizar a obscenidade, Bolsonaro corrompe a instituição, num genial gesto anarquista, que Proudhon, onde quer que esteja, deve estar aplaudindo de pé. A eficácia desta subversão revolucionária pode avaliar-se pela condescendência com que pastores e generais aceitaram o discurso de Bolsonaro, e pela tímida tentativa de alguns ministros ao tentarem acompanhá-lo na produção de palavrões, semeando o cupim da desordem nos instáveis alicerces da democracia burguesa. Bolsonaro, portanto, é o messias que os anarquistas radicais há tanto tempo aguardavam.
Contudo, o que mais me surpreendeu e vem inquietando é aquela misteriosa referência às hemorroidas: “O que os caras querem é a nossa hemorroida! É a nossa liberdade! Isso é uma verdade”, afirmou Bolsonaro, firme e enfático. Até hoje, ninguém havia ainda conseguido juntar numa mesma frase, com um mínimo de coerência, os conceitos de liberdade, verdade e hemorroidas.
Os céticos dirão que também na frase de Bolsonaro falta coerência. Houve até quem sugerisse, maldosamente, que o grande estadista teria trocado hemorragia por hemorroida, por desconhecer o exato significado de ambos os termos. Pura calúnia! Só um profundo pensador, um imenso escritor, seria capaz de uma ousadia assim, misturando o sagrado e o profano, o sublime e o infame, criando uma imagem de tremendo impacto, que se prende ao cérebro como um carrapato — perdoem-me a rima incauta.
Confesso-me, contudo, incompetente para decifrar a hermenêutica da hemorroida. O que simboliza? E quem serão os obscuros sujeitos que atentam contra “a nossa hemorroida, a nossa liberdade”?
Esperei que o filósofo Olavo viesse a público esclarecer-nos, tanto mais que ao longo dos anos se revelou um especialista em tudo que diga respeito à extremidade do intestino. Deve ser, aliás, o filósofo que mais atenção dedicou a essa parte da anatomia humana.
Esperei em vão. Olavo, no seu remoto exílio americano, permaneceu em silêncio.
Assisto, entretanto, ao triunfo do projeto bolsonarista de demolir a moral e os bons costumes através da generalização da grosseria. Vejo, nas redes sociais, os seus seguidores insultando tudo e todos, com feroz ódio e uma imparável torrente de palavrões. Infelizmente, até nos palavrões demonstram fraca criatividade e conhecimento da língua. Sugiro que leiam o “Dicionário de insultos”, de Sérgio Luís de Carvalho. Também na boçalidade se exige um mínimo de conhecimento e elegância.
Grupos que apoiaram o golpe, prisão de Lula e eleição de Bolsonaro agora querem apoio das vítimas sem nem sequer pedir perdão
Não dá para esperar muito de manifestos políticos amplos - em geral são peças retóricas tão grandiloquentes quanto vazias. Mas o tom do "Juntos", nome de fantasia do novo esboço de Frente Ampla, que inclui entre os signatários muita gente que eu respeito, me parece particularmente equivocado.
É um chamamento para que "partidos, seus líderes e candidatos agora deixem de lado projetos individuais de poder em favor de um projeto comum de país". Em seguida: "Como aconteceu no movimento Diretas Já, é hora de deixar de lado velhas disputas em busca do bem comum". E a cereja do bolo: "Esquerda, centro e direita unidos para defender a lei, a ordem" etc.
O paralelo histórico é mentiroso. As Diretas Já foram um movimento amplo em busca de um objetivo pontual, a volta das eleições diretas para presidente, que visava alargar e democratizar a disputa política, não escondê-la em nome de um elusivo "projeto comum de país".
O manifesto faria melhor se afirmasse que o objetivo é retirar Bolsonaro da presidência da República, em vez de afetar uma unidade de projeto que é enganosa e que, a gente sabe, se traduz concretamente no silenciamento das demandas da classe trabalhadora.
Ao final, está escrito: "Com ideais e opiniões diferentes, comungamos dos mesmos princípios éticos e democráticos".
Quer dizer que as pessoas que eu respeito e admiro que assinam o manifesto têm os mesmos "princípios éticos e democráticos" que Fernando Henrique Cardoso, Cristovam Buarque, Roberto Freire, Luciano Huck e Joel Pinheiro da Fonseca, entre outros, que também estão entre os signatários?
Eu, hein? Felizmente sei que são só palavras ao vento, senão ficaria seriamente preocupado.
Um Führer farsesco
Luis Felipe Miguel
Parece bem estabelecido que a tal performance dos copos de leite foi uma piscadela para os grupos de supremacia branca no Brasil.
Desde o começo do governo, Bolsonaro e seu círculo têm emitido esses sinais. Nos últimos tempos, eles têm se tornado mais frequentes.
É claro que ele não vai colocar uma suástica no seu gabinete no Planalto. Mas está cada vez mais dependente de uma base ultra-radicalizada à direita.
Ele precisa dessa base mobilizada, agressiva, de preferência armada, para ameaçar o país com desordem e violência caso ocorra o que cada vez mais se impõe como urgente: sua destituição da presidência.
O que espanta é a passividade com que soi-disant democratas, instalados no poderes da República, assistem a essa escalada.
Mas Bolsonaro é neonazista?
Tendo a crer que, em suas convicções, ele não passa de um oportunista autoritário, com inclinações racistas, misóginas e homofóbicas. Mas as conveniências o levam a namorar, para usar uma de suas metáforas preferidas, com grupos extremistas mais ideológicos, cuja vinculação com o neonazismo é mais ou menos explícita.
Esses grupos decodificam, entendem o gesto dos copos de leite. Para o restante do gado, que ainda não é capaz de assumir tal discurso, é fácil desconsiderar tal interpretação como fantasia malévola da esquerda.
E assim, pouco a pouco, o "mito" vai vestindo a fantasia de Führer tropical.
Um Führer farsesco, dirão alguns.
De minha parte, nunca gostei da famosa frase de Marx sobre a História que ocorre uma vez como tragédia, depois como farsa. Parece-me uma frase de efeito, circunstancial, que foi indevidamente alçada à condição de lei histórica. Uma lei apriorística, metafísica e idealista, em completo desacordo com o materialismo histórico que o próprio Marx fundou.
E, como nós estamos vendo, a farsa pode ser bem trágica para quem a sofre.
Países muito mais pobres que o Brasil se saem bem melhor na pandemia
Autocomplacência pandêmica
Hélio Schwartsman
Hélio Schwartsman
É claro que um país pobre, repleto de favelas e com uma população pouco instruída como é o Brasil não poderia ter se saído muito bem no enfrentamento da Covid-19. Há algo de autocomplacente nesse raciocínio.
É verdade que alguns fatores pesam contra nós. O alto índice de informalidade da economia dificulta manter as pessoas dentro de casa. Muita gente se vê compelida a sair para conseguir renda para alimentar os filhos, que ficaram sem a merenda escolar. A grande densidade demográfica das favelas e suas condições precárias transformam o isolamento de doentes em um experimento natural de contaminação dos familiares.
Não são dificuldades pequenas. O fato, contudo, é que países muito mais pobres que o Brasil estão se saindo bem melhor.
Um caso modelo é o do Vietnã. Com uma renda per capita que é menos de 1/3 da brasileira e pouca disponibilidade de leitos hospitalares, o país asiático foi capaz de identificar rapidamente os doentes e isolá-los. No dia 29 de maio, contava com apenas 327 casos e nenhuma morte. Sua receita foi fazer um “lockdown” forte logo no início e testar ostensivamente. O Vietnã desenvolveu seu próprio sistema de teste, que já exporta para outros países.
"Ain, mas o Vietnã é uma ditadura comunista e sua população é asiaticamente obediente", dirá o cínico. Verdade, mas alguns países da América Latina e da África, onde se temia uma catástrofe, também estão em melhor posição que nós, apesar de Estados fracos e populações indisciplinadas.
A pandemia é uma maratona, não uma corrida de 100 metros. Até que tudo tenha acabado, é preciso cuidado com as comparações entre países. Ademais, fatores difíceis de ponderar, incluindo o acaso, exercem grande influência. Mas acho que já dá para afirmar que o Brasil cometeu erros graves. Seria bom tentar entendê-los, para evitar que se perpetuem ao longo dos meses ou anos em que ainda teremos de conviver com o vírus.
O bicho tá pegando na sede do Império
Gente, o bicho tá pegando FEIO em Minneapolis até agora, ao vivo, e se alastrando por todo país.
E não é apenas pela morte do Floyd. Esse foi o estopim.
A sensação que passa é que, a despeito do que acham dos Estados Unidos, como a democracia capitalista ideal, a realidade é muito diferente.
Estados Unidos também é um país desigual, com uma população pobre MASSACRADA pelo neoliberalismo, com um presidente PALHAÇO e debochado assim como o nosso.
A saúde pública praticamente inexiste, sem estado social, em meio a mais de 100 mil mortos pela COVID, sendo que dessas vítimas, 70% são negras e latinas.
Tem muita revolta represada por lá. Quando essa barragem estourar...
A gente tem falado aqui nesse perfil, o caldo está entornando por lá já faz tempo. A guinada progressista nos Estados Unidos é concreta e o que a impede ainda é o seu sistema eleitoral. Mas Estados Unidos vem "pendendo" à esquerda - seja culturalmente, seja politicamente - de forma estranha há um bom tempo.
Só que a desigualdade não vai esperar as urnas.
A Supremacia Branca
O LEITE COMO DISCURSO
Em um ajuntamento de jegues (para uma base social de asnos), a comunicação não-verbal é um elemento de grande importância. Os caras querem ser de direita, mas faltam-lhes os conceitos, a gramática e o léxico organizados em um discurso racional e coerente. Então, nada melhor que a imagem e os simbolismos para substituir o deserto intelectual da tigrada.
Vocês tem notado que o tenente - nas lives - anda exibindo copos de leite? E a cada tanto sorve a bebida em gestos lentos e estudados - tão cabotino quanto canastrão.
Pura macaquice. O tenente está copiando/imitando os supremacistas brancos dos USA. Segundo estes supremacistas/racistas/nazis, a "raça" branca não apresenta intolerância à lactose, por esse motivo trivial (sem nenhuma garantia científica quanto a tese tão exdrúxula) os brancos seriam superiores às demais etnias que compõem a raça humana.
Vejam o primarismo desta gentalha: o leite representa o critério da verdade acerca da supremacia/superioridade dos brancos.
Acabo de ver o vídeo do tal Allan Santos bebendo um copo de leite para assumir que o copo de leite do chefe era, sim, um ato simbólico de apoio à supremacia branca. Sequer vou entrar no mérito de que, num grupo original de supremacia branca, Allan Santos não conseguiria beber o copo de leite porque antes de ele dar bom dia seu pescoço já teria sido quebrado no meio-fio com uma pisada de coturno. Ele não consegue beber o leite. Derrama tudo na bancada. Nem o leite aguenta ele. O leite literalmente foge do copo do Allan Santos. Supremacia meu cu, seu Plinio Salgado de várzea. Estou espumando demais de ódio pra fazer muito sentido e conseguir ser racional, vou parar por aqui.
Vou me apropriar por um minuto da semiótica de Leni Riefensthal para defender que Freud não explica tudo, mas ajuda muito. Um desses dois homens brancos brasileiros heterossexuais acredita em supremacia branca. Adivinhem qual?
sexta-feira, 29 de maio de 2020
Um ministro da Educação desqualificado, analfabeto e covarde
AS QUALIDADES DE UM COVARDE
Pela manhã, Weintraub recebeu a comenda do Mérito Naval, concedida por Bolsonaro.
À tarde, foi chamado de desqualificado por Rodrigo Maia.
É um condecorado com desqualificação.
Deve ser o primeiro denunciado publicamente como desqualificado que é homenageado com medalha pela Marinha.
Como à tarde não teve coragem para reafirmar a frase sobre os ministros do Supremo que chamou de vagabundos, ao depor à Polícia Federal, além de desqualificado Weintraub é covarde.
Um ministro da Educação desqualificado, analfabeto e covarde.
Brasil mantém mais de mil mortes em 24 horas e passa Espanha em óbitos
Do UOL, em São Paulo
Com 1.124 mortes confirmadas entre ontem e hoje, o Brasil atingiu a marca de 27.878 óbitos pelo novo coronavírus e tornou-se o quinto país com mais vítimas pela doença em todo o mundo, ultrapassando a Espanha no total de mortes (27.121 óbitos).
Segundo o balanço mais recente do Ministério da Saúde, o Brasil registrou 26.928 novos diagnósticos nas últimas 24 horas e agora soma 465.166 casos confirmados de covid-19 em todo o território. Os novos casos representam a maior diferença entre um dia e outro desde o início da pandemia. Até então, o maior número de confirmações de casos havia sido o de ontem: 26.417.
Os dados da Universidade Johns Hopkins apontam o país atrás de apenas outros quatro no total de mortos pela covid. São eles: França (28.717), Itália (33.229), Reino Unido (38.243) e Estados Unidos (102.516).
Ao longo desta semana, o Brasil apresentou, durante três dias consecutivos, a marca diária de mais de mil mortes pela doença. Até então, o único país a manter a confirmação de óbitos acima de mil em 24h foi os EUA.
Ainda segundo a pasta, 247.812 casos seguem em acompanhamento. Cerca de 189.476 pacientes já se recuperaram da doença.
Novo marco de casos de covid no mundo
Ontem o mundo bateu o recorde negativo de 117,2 mil novos diagnósticos em um dia, de acordo com a Johns Hopkins. Partiu do Brasil a maior quantidade de novos casos (26.417), seguido pelos EUA (23.051).
Ainda segundo a universidade, foi a quinta vez que o índice diário global ultrapassou os 100 mil infectados em 24h.
Entenda como é feita a contagem da Saúde
A confirmação de óbitos e diagnósticos apresentada pelo governo entre um dia e outro não necessariamente ocorreu nas últimas 24 horas.
O Ministério da Saúde explica que a fila de testes provoca atrasos nos registros feitos pelas secretarias. Com isso, muitas das ocorrências podem ser de outras datas.
O UOL já identificou atrasos de mais de 50 dias para a oficialização de mortes.
O UOL já identificou atrasos de mais de 50 dias para a oficialização de mortes.
Depoimento completo do valentão Abraham Weintraub na PF
Reconstituição do depoimento do valentão Abraham Weintraub na Polícia Federal depois de pedir prisão do que ele chama de "vagabundos do STF" pic.twitter.com/sIVggDOt9E— Rogério Tomaz Jr. (@rogeriotomazjr) May 29, 2020
O essencial nunca muda
Imprensa Internacional
Em 2015, por ocasião dos protestos ocorridos em Baltimore, EUA, devido à morte do cidadão afro-americano Freddie Gray pelas mãos da polícia, a revista TIME publicou uma capa que procurava chamar a atenção para os protestos de 1968 depois a morte de Martin Luther King Jr. e estabelecer um vínculo histórico entre os dois.
Com a morte, há alguns dias, de outro cidadão afro-americano, George Floyd, também pela polícia, os protestos que eclodiram em Minneapolis forçam a extensão desse período de violência de 1968 a 2020.
A sexta-feira da vergonha
Ignácio de Loyola Brandão
Menores de 100 anos deveriam ter sido poupados da reunião do dia 22 de abril
Quando crianças, os adultos nos mandavam para fora da sala, porque não devíamos ouvir conversa de gente grande. A expressão era: tem gente descalça.
Pois a reunião de 22 de abril dos ministros brasileiros devia ter sido poupada a menores de 100 anos. Jamais vi tanta semvergonhice junta, tanta grossura exposta, conversa de boteco, total descalabro.
Se houve a Noite de São Bartolomeu, se houve o Baile da Ilha Fiscal, também aconteceu a Farra dos Guardanapos, houve igualmente a Sexta-Feira dos Sem-Vergonhas. Ali só faltaram Waldemar da Costa Neto e Roberto Jefferson, medalhas de ouro das indecências.
Mário Souto Maior, folclorista pernambucano da mesma estirpe de Câmara Cascudo, celebrado até por Gilberto Freyre, poderia processar o governo por direitos autorais, uma vez que todos os palavrões constantes de seu ótimo Dicionário do Palavrão e Termos Afins (tenho a edição da editora Guararapes, do Recife, lançada em 1980) foram ditos e repetidos pelo presidente. Desde o usual, sonoro, FDP ao modesto e quase ignorado prexeca, órgão sexual feminino em Goiás.
Souto Maior definiria aquele bando de ministros (porque é um bando, aglomerado, quadrilha, gangue) como Filhos-de-Guarda Noturno, para não dizer FDP, uma vez que, segundo Jan, filho de Mário, o pai nunca disse um palavrão.
Difícil escrever sobre palavrões sem poder nomeá-los explicitamente para não parecer mal-educado.
O que acharam as mães - se é que eles as têm -, filhas, tias, avós, mulheres e irmãs daquela máfia de desclassificados? Falta de pu- dor, diriam, de compostura, respeito, de vergonha na cara, pura grosseria, achincalhe, rusticidade, enfim, a maior alarvaria, se me entendem.
Enfim, Mário Souto Maior definiria aquele conjunto de ministros como um bando de cheira fundo, que ele definia como "chaleira, capacho, pessoa sem personalidade". O sinônimo é pior: "Cheira-rabo". Para não dizer outra coisa.
É o que se viu. Achei curioso é que nenhum diretor, gerente, caixa, funcionário do Banco do Brasil se preocupou com o desclassificado Posto Ipiranga da Economia dizer que o BB é puro estrume.
O Supremo Tribunal Federal então fez como se não fosse com ele. Todos aceitaram serem chamados de vagabundos. O que há minha gente? Todo mundo dopado?
Tudo pode resolver-se exceto a morte
Tudo pode resolver-se exceto a morte
Três dias seguidos com mais de mil mortes. Já são mais de 26.750 brasileiros que perderam a vida pela Covid19. E as previsões são de mais algumas dezenas de mortes.
E o presidente desqualificado disse que seriam no todo não mais que 800 e classificou a pandemia de "fantasia". E o ex-capitão Jair Bolsonaro, durante a tragédia, dedicou-se a jogos do poder demitindo ministros da Saúde, a receitar - ele um crasso ignorante - medicamentos e a brigar com governadores e prefeitos que tentavam defender suas populações.
Não devemos esquecer.
Não podemos perdoar.
STF está vencendo batalha contra o bolsonarismo
O STF visivelmente está vencendo a guerra de atrito com o bolsonarismo. Já formou uma maioria, talvez a totalidade pela continuidade no inquérito de fake news. A tentativa de envolvimento de Aras, na PGR e do MJ, com Mendonça, tentando salvar Weintraub e os acusados fracassou e pior, passaram a impressão de serem advogados particulares, advogados baratos de porta de cadeia dos fakenewszistas dos Bolsonaros, agora em crise ampliada. A fala de Eduardo bananinha invocando outro golpe também não foi bem recebida. O desespero levou Bolsonaro a chorar para Alcolumbre ao invés de dar uma garrucha velha para Heleno, Roberto Jefferson e Sara Winter defendê-los da forte crise. Neste ritmo o impeachment se aproximará e os bolsonaristas estão encurralados.
Supremo tem o direito de errar por último
Democracia é o regime dos erros sucessivos
Faz bem o Supremo Tribunal Federal em impor limites a Jair Bolsonaro e a seus asseclas. Eles já deram repetidos sinais de que, deixados livres, não se deteriam diante de nada em seu intento de transformar o país em uma monarquia terraplanista.
A trupe bolsonarista tem o estranho dom de desmoralizar tudo de que se aproxima. Em alguns casos, o movimento é voluntário, como se vê nos esforços do grupo para erodir instituições como Legislativo, imprensa e o próprio Judiciário.
Em vários outros, a perversão não é pretendida, mas fruto de incompetência. É disso que foram vítimas a saúde pública, as perspectivas para a economia, que só pioram, e a própria Presidência da República, rebaixada a enredo de filme pastelão na reunião ministerial a que tivemos acesso por decisão do STF.
Institucionalmente, o ideal seria que fossem a PGR ou o Congresso a cortar-lhes as asinhas. Como Aras e Maia se acovardam, só resta mesmo o STF. Daí não decorre que o processo ocorra sem asperezas.
O chamado inquérito das fake news, que atinge em cheio a máquina de propaganda bolsonarista, surgiu como um teratoma, que desafia as melhores práticas do direito e caminha perigosamente perto de criminalizar opiniões. Ainda assim, é um expediente legal e válido. Por quê? Porque o STF diz que é.
De forma um pouco cínica, dá para definir a democracia como o regime dos erros sucessivos. O primeiro a errar são os eleitores, que tendem a escolher desqualificados para governá-los. Em seguida, vêm o Executivo, que invariavelmente faz enormes besteiras, o Legislativo, que só piora as coisas, e, por fim, o Judiciário, detentor da “ultima defaecatio”.
A democracia funciona porque assegura a paz social. E a paz social só é possível quando todos os agentes concordam que a palavra final nas disputas é a do STF. Na democracia, não existe hipótese de desobedecer ao Supremo. É ele que tem o direito de errar por último.
quinta-feira, 28 de maio de 2020
Pelo 3º dia seguido, Brasil tem mais de mil mortes confirmadas em 24 h
País tem maior nº de mortes diárias no mundo; foram registrados 1.156 novos óbitosCarolina Marins e Juliana Arreguy
Do UOL, em São Paulo
Pelo terceiro dia consecutivo, o Brasil registrou mais de mil mortes por covid-19 em 24 horas e mantém, desde segunda, a maior quantidade diária de óbitos pela doença no mundo.
Apenas os Estados Unidos apresentaram, até o momento, mais que três dias seguidos com óbitos superiores a mil entre um dia e outro. Desde ontem, o Ministério da Saúde contabilizou 1.156 novas mortes — no total, o país soma 26.754 óbitos pelo novo coronavírus.
O balanço mais recente do Ministério da Saúde, divulgado hoje, aponta 438.238 diagnósticos da doença em todo o território nacional, sendo 26.417 casos confirmados entre ontem e hoje; o aumento foi o maior registrado pelo país desde o início da pandemia. Até então, o maior marco do Brasil havia sido registrado em 22 de maio, com 20.803 novos diagnósticos em 24h.
Embora ainda seja o sexto país com maior quantidade de mortes do novo coronavírus, o Brasil pode ultrapassar, em breve, a Espanha — que teve 27.119 mortes contabilizadas até hoje, segundo levantamento da universidade Johns Hopkins.
Ainda segundo o balanço da Saúde, o país tem 233.880 casos em acompanhamento e 4.211 óbitos em investigação. Cerca de 177.604 pessoas já se recuperaram da doença.
Apesar de aumento, estados planejam reabertura
Os estados passam pelo período de aceleração da doença, em especial as grandes capitais, como São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza e Manaus. São Paulo é o estado que concentra o maior número de casos e óbitos, com mais de 6.980 óbitos confirmados hoje.
Com medidas de isolamento e a decretação de um mega feriado, o governo estadual vê uma contenção na curva de crescimento e já ensaia uma abertura lenta.
O Rio de Janeiro teve uma explosão de casos, começando a semana com mais de 37 mil notificações e caminhando para determinar perto das 50 mil. As mortes também aumentaram significativamente no mês de maio.
Porém, além do avanço da doença esse crescimento também pode ser atribuído ao aumento da capacidade de testagens no estado, que dobrou segundo a secretaria de saúde.
O Ceará é o terceiro estado em casos e mortes, que também passa pelo período de aceleração e se consagra como epicentro na região nordeste. Ainda assim, o governo estuda um plano de reabertura gradual semelhante aos moldes de São Paulo.
O Amazonas é um estado que chama atenção, por já ter sofrido um colapso do sistema de saúde e funerário em sua capital, Manaus, mas que atualmente aparece em quarto em casos e mortes.
A cidade tem uma explosão de mortes sem confirmação para a covid-19, o que aponta para uma possível subnotificação que esteja jogando os números do estado para baixo. O governo estadual também planeja uma abertura, que recebeu a reprovação do prefeito da capital.
A região com os menores números é o Centro-Oeste, liderado pelo Distrito Federal. No entanto, há também a possibilidade de subnotificação na região, que pode ser observado nos baixos dados de mortos reportados diariamente. O Mato Grosso do Sul não reportou novas mortes durante dias, ficando apenas com 17. Enquanto o Mato Grossa reporta poucos óbitos diários, geralmente 2 ou 3.
Em um mês, doença mais que quadruplicou
Somente no mês de maio, o Brasil saltou de 91,6 mil casos para mais de 400 mil confirmações da covid. Mais da metade dos novos diagnósticos ocorreu nas duas últimas semanas. Num intervalo de 26 dias, pouco mais de três semanas, houve um aumento de mais de 320 mil infectados em todo o território nacional.
Abaixo, um compilado de datas ao longo do mês que mostram o aumento de casos:
01/05 - 91.604 casos e 6.354 mortes
03/05 - 101.227 casos e 7.044 mortes (país ultrapassa 100 mil casos)
14/05 - 202.918 casos e 13.993 mortes (país ultrapassa 200 mil casos)
21/05 - 310.087 casos e 20.047 mortes (país ultrapassa 300 mil casos)
27/05 - 411.821 casos e 25.598 mortes (país ultrapassa 400 mil casos)
O aumento de diagnósticos, no entanto, não reflete a maior testagem da população. Muitos casos continuam subnotificados pela baixa capacidade de realizar exames.
Apesar de o governo ter anunciado que aumentaria a quantidade de testes, anteontem o Ministério da Saúde admitiu ter analisado somente 9,6% dos 4,7 milhões de testes moleculares para detecção da doença. Significa que, apesar de ter mais testes, o país não tem, ainda, maior capacidade para testar, com filas nos laboratórios
Notificações podem não ser só das últimas 24h
A confirmação de óbitos e diagnósticos apresentada pelo governo entre um dia e outro não necessariamente ocorreu nas últimas 24 horas.
O Ministério da Saúde explica que a fila de testes provoca atrasos nos registros feitos pelas secretarias. Com isso, muitas das ocorrências podem ser de outras datas.
O UOL já identificou atrasos de mais de 50 dias para a oficialização de mortes. Do total de óbitos divulgados pelo ministério hoje, 539 ocorreram nos últimos três dias.
Bengaladas
Luis Fernando Verissimo
É preciso lembrar que, do jeito que as coisas vão ou não vão no país, estamos à beira de uma guerra civil
Andei caindo, ou caí andando. Cara no chão, joelhos esfolados, mas nada grave. Uma das simpáticas enfermeiras que me atenderam na emergência do hospital se chamava Verlaine. Só vi os seus olhos, por cima da máscara. Um dos efeitos colaterais dessa maldita pandemia é que nos obrigou a migrar, de uma civilização de rostos inteiros para uma civilização só de olhos. Os rostos perderam os recursos de comunicação que tinham, como o beicinho e o muxoxo e, principalmente, o sorriso. Agora os olhos precisam fazer trabalho dobrado, o trabalho de um rosto inteiro. A máscara nos roubou o rosto. Não posso dizer nada sobre o sorriso da Verlaine. Mas foi diferente ser atendido por uma enfermeira com nome de poeta.
Não foi minha primeira queda adulta, e não foi a primeira vez que ouvi a sugestão de passar a andar com uma bengala, para restabelecer o prumo perdido. Há quem diga que a bengala mais atrapalha do que ajuda quem precisa de uma terceira perna, e tropeçar na própria bengala é uma ocorrência que se repete, para divertimento geral. Outros dizem que a bengala não ajuda nem atrapalha, é apenas uma maneira de parecer inglês sem necessariamente ser inglês, uma exigência desumana. Existiriam tipos diferentes de cabos de bengala, dependendo do tipo e do caráter de quem as usa. Cabos com uma forma sensual feminina proporcionariam aos cavalheiros o prazer de uma bolina interminável, eximindo-o de bolinar sua mulher, ou cabos de guarda-chuvas usados como bengalas —três utilidades em uma! E, claro, cabos ocos, com espaço para um bom conhaque.
Mas é preciso lembrar que, do jeito que as coisas vão ou não vão no país, estamos à beira de uma guerra civil. O presidente Bolsonaro & Filhos já anunciou que quer armar a população brasileira para eliminar comunistas como o kal7xp0t!! do João Doria e tem sua própria polícia, o Primeiro Filho Flávio Bolsonaro tem, notoriamente, contatos com gente da milícia, e o Exército brasileiro se dedica ao seu papel constitucional, que é o de mal governar o país enquanto os outros poderes se xingam mutuamente. Nós precisamos ter lado nessa briga. Bengalas, gente!
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