Para Deltan e “Robito”, amanhãs gloriosos; para a população,
terror e medo
Por Reinaldo Azevedo, deste blog e do programa "O É
da Coisa", e Leandro Demori, do site The Intercept Brasil:
Como vocês viram, na conversa em que o procurador Deltan
Dallagnol pede a Sergio Moro dinheiro para finalizar a produção de uma peça
publicitária que seria veiculada pela Globo, há o envio de dois PDFs.
Um deles é esse que se vê no alto: trata-se do orçamento
enviado pela produtora, que, obviamente, não comete crime nenhum e está
apresentando o que lhe foi encomendado. Certamente Deltan há de reconhecer a
sua autenticidade, não é mesmo?
O outro documento traz o roteiro do filmete, cuja imagem
segue abaixo. Transcreve-se o texto na sequência.
TRANSCRIÇÃO DO ROTEIRO
Dez Medidas Contra a Corrupção
Roteiro 30″
"Engravatado"
Cena de madrugada, numa casa de família de classe média.
O silêncio deixa claro que a família está dormindo. O trinco da porta da
cozinha se mexe e um homem de terno e gravata entra na casa.
Ele mexe na geladeira e começa a jogar fora toda a comida
da família. Ouvimos a locução em off:
– A corrupção atinge a sua vida de tantas formas que você nem percebe,
Se dirige ao banheiro e pega vários frascos de remédios,
jogando-os fora também. Corta para imagem do casal, que dorme sem perceber
nada.
– desviando recursos que deveriam ir para a saúde,
O homem entra no quarto das crianças, que dormem quietas.
Ele pega os livros nas mochilas delas e rabisca todos eles, rasgando as páginas
também.
– para a educação
Ele segue para o quarto do casal, que continua dormindo.
Antes de entrar, engatilha um revolver.
– ou para a segurança.
O homem entra, a porta do quarto se fecha e a tela fica
escura.
– É hora de acordar.
Na tela preta entra o lettering: 10 Medidas Contra a
Corrupção.
– Ajude a campanha 10 Medidas Contra a Corrupção a virar lei.
Telas de assinatura com logo e site: www.combateacorrupcao.mpf.mp.br/10-medidas
– Acesse o site, conheça as medidas e assine o projeto que pode acabar com a
corrupção no país.
Fica apenas a marca do projeto:
– Não desista do Brasil.
A ESTÉTICA DO TERROR
Como vocês podem perceber, Deltan Dallagnol e sua turma podem ser bem mais
solares e divertidos quando tratam de meios para ganhar dinheiro com a Lava
Jato, conforme revelou reportagem da Folha e do site The
Intercept Brasil neste domingo.
No diálogo entre Deltan e "Robito" — o também
procurador Roberson Pozzebon —, há até certo clima de galhofa. Este chega a
dizer que, caso a empresa a ser constituída pelas respectivas mulheres de ambos
para receber os "lucros" das "palestras e aulas" chame a
atenção dos críticos, então é porque ambos estarão sendo bem-sucedidos nas
artes de ganhar o vil metal — "vil metal" é expressão destes
escribas, claro!
Vale lembrar trecho do diálogo travado no dia 14 de
fevereiro de 2019, quando Deltan fala sobre a conveniência de o quarteto se
associar a uma empresa de palestras chamada "Star", de propriedade de
Fernanda Cunha:
Roberson
21:42:13
Gostei da ideia, Delta!
21:42:37
E se falássemos pra ela que a divisão seria por 5 (20% cada um)
21:42:44
Vc acha que ela toparia?
Deltan
21:44:59
Ela ganha 20% sobre palestrantes sem fazer muito esforço… e aqui ela faria toda
a organização… acho que os 20% não vão servir de estímulo, mas posso ver com
ela
21:45:04
posso propor sim
21:50:55
só vamos ter que separar as tratativas de coordenação pedagógica do
curso que podem ser minhas e do Robito e as tratativas gerenciais que precisam
ser de Vcs duas, por questão legal
21:51:21
é bem possível que um dia ela seja ouvida sobre isso pra nos pegarem
por gerenciarmos empresa
Roberson
21:57:08
Assim vai funcionar, Delta. Ótima ideia
21:59:07
Se chegarem nesse grau de verificação é pq o negócio ficou lucrativo mesmo
rsrsrs
21:59:11
Que veeeenham
DE VOLTA
Notem que há uma pegada de euforia desafiadora: "Que veeeenham".
A certeza de que eles podem qualquer coisa é de tal sorte que, como se
verifica, vão ficando ousados. Não custa lembrar que Deltan, "Robito"
e suas respectivas mulheres — Fernanda e Amanda — estão tratando da criação de
uma empresa, que ficaria em nome das "conges", para que a dupla de
procuradores, que fala a linguagem pública do jacobinismo inflamado, possa
haurir seus "lucros" em razão do que Deltan chama "networking e
visibilidade".
A Lava Jato, como se vê, já era um negócio.
TERRORISMO COM O PÚBLICO
Com o público, com o pagador de impostos, com os que ficaram desempregados,
com os que viram as empreiteiras a demitir mais de 300 mil pessoas até o ano
passado, com os justamente indignados com a corrupção — e qualquer pessoa moral
e decente defende que seja combatida —, a linguagem é bem outra.
Aí trata-se da terapia de choque, da estética do terror, da
lógica do medo, da paralisia pelo susto.
E, como se nota, o público alvo é a classe média.
Foi assim que a Lava Jato seduziu e mantém apartadas da
razão milhões de pessoas. A lógica implícita é esta: "Se a corrupção
existe, então tudo é permitido para combatê-la".
As agressões à ordem legal estão sendo reveladas de maneira
miserável e irrespondível.
Enquanto os senhores procuradores viam engordar sua conta
bancária — Dallagnol diz a sua mulher que o ano de 2018 deve fechar com R$ 400
mil líquidos oriundos das atividades paralelas —, os brasileiros eram
convidados a experimentar o clima de terror, medo e desesperança.
Para os protagonistas da Lava Jato, o futuro sorria, certos
de que nada poderia lhes pôr um freio, uma vez que imprensa, Supremo Tribunal
Federal, Conselho Nacional de Justiça e Conselho Nacional do Ministério Público
pareciam rendidos e no papo. E estavam mesmo!
E se alguém reclamasse? Robito tinha a resposta: "Que
veeeenham".
Nos diálogos publicados por Folha/The Intercept Brasil no
domingo, fica claro que, no dia 25 de fevereiro de 2015, faltando alguns dias
para a Lava Jato completar um ano (começou no dia 17 de março de 2014), Deltan
já estava bravo com críticas que se ouviam à sua desenvoltura para conceder
palestras. Escreveu:
"Estou a favor de maior autonomia, mas não me encham o saco, pra
usar sua expressão, a respeito de como uso meu tempo."
Entenderam?
Não encham o saco de Deltan!
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